#cover a-b-alexander-berkman-o-grande-jogo-1.jpg #title O grande jogo #author Alexander Berkman #SORTauthors Alexander Berkman #SORTtopics Teatro, Arte #date 1916 #source The Blast, San Francisco, Estados Unidos, 29 de janeiro de 1916. #lang pt #pubdate 2020-02-14T12:52:32 #notes A peça “O grande jogo”, de Alexander Berkman, traduzida por Natalia Montebello e publicada na Revista Verve, número 14, em 2008.
* Nota de tradução Alexander Berkman: Imigrante russo que se tornou proeminente anarquista nos EUA. Cometeu um atentado contra um industrial durante uma greve operária e passou 14 anos na prisão. Em 1919, devido a contundentes manifestações contra a guerra, foi deportado para a Rússia junto com vários anarquistas, inclusive Emma Goldman, sua companheira na vida amorosa e política. Depois de dois anos, deixaram o país e lideraram a crítica libertária aos rumos autoritários da Revolução Russa e das ações do Partido Comunista. Gravemente doente, Berkman morreu aos 66 anos, na França, em 1936. * A peça Personagens: Eu (industriais e capitalistas) Você (operários) Negra Figura (Lei) (Abrem-se as cortinas) Eu ― Desçam ao interior da terra. Tragam a luz o carvão e o ouro, o ferro, a prata e as pedras preciosas. Você ― Considere feito. Eu ― Construam fabricas e maravilhosas ferramentas e modelem o mundo em jubilo e beleza. Você ― Considere feito. Eu ― Muito bem, meus homens. Maravilhoso! Quanta abundancia! Quantas riquezas! Todas minhas. Algumas vozes ― Suas? Por quê? Nós fizemos tudo! (Comoção no palco) Mais vozes (enfurecidas) ― São nossas! Nós as fizemos. Eu ― Silêncio! Eu não mandei que o fizessem? Vozes ― Mas é nosso. Nós o fizemos. Eu ― Chamemos a Lei! (Entra a Negra Figura, vestida de preto, levando uma Bíblia em uma mão, a espada desembainhada na outra. As duas mãos com luvas) (Um silêncio solene quando fala a Lei) Negra Figura ― É seu. Assim está decretado. A integridade de nossas justas e livres instituições deve ser mantida. (Todos reverentemente ajoelham-se diante da Negra Figura) (Sai a Negra Figura) Eu (orgulhosamente jubiloso) ― É meu, por Lei. Você ― Nós somos pobres. Nossas esposas precisam de comida, nossas crianças têm fome. Eu ― Eu darei a vocês as coisas de que precisam. Você ― Nos dê! Nos dê! Eu ― Em troca de mais trabalho. Venderei as coisas que vocês fazem e lhes darei um salário por isso. Você ― Salários! Bons salários? Eu ― Sim, um salário justo. Você ― Tome, tome! Um salário justo! Eu ― Entregarei a vocês comida e roupa em troca de seus salários. Você ― Um amo carinhoso! Tome, pegue nossos salários! (Eu pega os salários e entrega escassas rações de comida) (Você, depois de ter devorado a comida, em pé com as mãos vazias, com semblante satisfeito) Eu (com profunda auto-satisfação) ― A indústria e a economia são a coluna vertebral de nossa grande prosperidade nacional. Você ― Mas nós não obtivemos nada. Eu ― Elejam-me para o ministério e aprovarei uma lei para abrir cozinhas populares para aqueles dentre vocês que merecerem minha generosidade. Você ― Viva! Viva! Nosso candidato! (Um desfile com tochas) (Fecham-se lentamente as cortinas)