#title Da Teoria Anarquista e as Falsas Dualidades do Movimento #author Insubordinados #LISTtitle Da Teoria Anarquista e as Falsas Dualidades do Movimento #date 2025 #source https://medium.com/@insubordinadoszine/da-teoria-anarquista-e-as-falsas-dualidades-do-movimento-981859326dcd #lang pt #pubdate 2025-08-14T22:00:00 #authors Insubordinados e Guilherme Henrique C. #topics história global do anarquismo materialismo crítica auto-crítica organização #notes Todas citações diretas das versões em inglês das obras de Max Stirner, The Ego and His Own e Stirner Critics. O anarquismo, assim como seu conflituoso “irmão”, o marxismo, nunca foi um movimento unitário. Dentro dele inúmeros conceitos, ideias, concepções foram sendo apropriados, assim como táticas, estratégias e visões de mundo, o que de forma nenhuma significa que o “núcleo duro” da teoria foi abandonado, ou que seus princípios essenciais tenham sido questionados (algo que pode ou não ser verdade dentro do pós-anarquismo, mas isso é outro assunto). No geral, a maior parte dos anarquistas do mundo, independente de como sejam ou se denominem, defendem um projeto bastante parecido, mesmo que os meios as vezes sejam tão diferentes que podem até mesmo parecer conflitantes ou completamente estranhos um para o outro. A verdade é que essa multiplicidade e variedade é inclusive parte da própria origem do movimento. É possível dizer que o anarquismo enquanto doutrina política (entenda doutrina como conjunto de ideias, não como dogmas ou percepções metafísicas/ontológicas) se iniciou com o programa dualista da aliança da democracia socialista e com as ideias gerais de Bakunin, que mesmo de maneira esboçada, criou uma metodologia que em é materialista (focada nos fenômenos reais e sociais, do trabalho, da cultura) naturalista (uma busca de conciliar homem e natureza, entendendo a geografia e a formação das sociedades como essencial pra entender o humano, algo que Réclus e Kropotkin mais tarde refinariam) e também dialético, aqui contrapondo a já famosa ideia de um “sociologismo” bakuninista, ou “materialismo sociológico”, uma vez que Bakunin não buscava de forma alguma uma mera análise reflexiva da sociedade, mas sua transformação, compreendendo as questões materiais de forma parecida com a metodologia de seu grande rival Marx. Ainda assim, se considerarmos esse como o período de nascimento do anarquismo, acabamos cometendo o erro de desconsiderar as concepções pré-anarquistas dos chamados socialistas utópicos (como Fourier e William Godwin) que ainda que sejam historicamente superadas, contribuem pro movimento indiretamente (lembremos que Proudhon foi o primeiro a fazer uma crítica científica ao capital dentro do socialismo francês, com forte influência em Bakunin) ou ainda o comunismo libertário dos primórdios, de figuras como Dejácque, os Enráges e o padre revolucionário Jacques Roux, ou ainda Babeuf. Tais ideias mais tarde seriam retomadas e modernizadas pela seção italiana da AIT com Malatesta, Cafiero, Fabbri e outros. Assim, podemos dizer que como fenômeno complexo, nascido das agitações da luta de classes na europa, o anarquismo não se fechou em alguma escola oficial, diferente do que fez o marxismo, que acabou por ser deformado e vilipendiado pela II internacional, dando origem a contra revolução mundial, seja na Europa ocidental com Kautsky, seja na Europa oriental com Lenin. Assim, no desenvolvimento histórico do anarquismo, este manteve seu núcleo primal, ainda que tenham surgido inúmeras “correntes” que ao recorrerem ao pensamento libertário, adaptaram concepções diferentes para momentos e contextos diferentes. A única delimitação que parece ser corretamente histórica do anarquismo é a questão do comunismo. (que falaremos a seguir) sendo as outras concepções frutos de disputas, ideias correntes ou mesmo de autocrítica constante dos movimentos. Justamente por isso vemos que o anarquismo está longe de ser um credo absoluto, uma regra fiel a ser seguida de forma rígida e invariante, mas sim uma doutrina da práxis, fielmente alicerçada na luta anti-autoritária, e fazendo parte, mas não limitada, ao movimento operário. Assim, nosso objetivo é esclarecer e retirar algumas nuvens de fumaça e falsas concepções, tipicamente do pensamento moderno que não aceita nada mais nada menos que 8 ou 80, sim e não, e concepções fechadas e limitadas em falsas dualidades. Tentaremos mostrar aqui como o anarquismo é um movimento diverso, cheio de potencialidades e ainda assim, unido filosoficamente numa mesma concepção. Para isso, adotamos uma metodologia materialista e dialética, e porque não, naturalista e dialética (concepção consagrada e elaborada por Bookchin, mas que encontra suas bases em Bakunin e Kropotkin) já que entendemos que o princípio “unidade na diversidade” serve para explicar diversos fenômenos e isso inclui a história e desenvolvimentos internos do anarquismo. 1. SINTETICAMENTE: O QUE É ANARQUISMO? É um tanto triste termos ainda que lutar por essa definição, tendo em vista que tantos muito mais gabaritados que nós se dedicaram a definir o que o anarquismo, como Cafiero e Erich Mühsam tão bem expuseram em suas concepções. Para nós, hoje em dia, anarquismo é essencialmente anarquismo comunista. Historicamente, podemos entender que apesar de sua origem, definidamente coletivista, o anarquismo se desenvolveu mundialmente como uma doutrina comunista, sendo desde suas origens, é uma forma de socialismo que se baseia não nas ideias de sujeitos individuais ou pensadores, mas de todo o conjunto do movimento operário que em diversas concepções criava para si organicamente movimentos e lutas próprias. A burguesia e a modernidade tentaram taxar o anarquismo como mero niilismo autodestrutivo, ou um rótulo de um anti autoritarismo difuso, negando seu caráter profundamente enraizado na superação do capital e na crítica totalizante da lógica capitalista, que só poderia encontrar sua forma mais definida no comunismo, isso é, sociedade de livre associação, onde o trabalho, a mercadoria, a lei do valor, o estado e as classes foram superados. Existem os que ainda tentam se agarrar a concepções arcaicas e pré-anarquistas, como os que tentam ressuscitar o fantasma proudhoniano (a exemplo dos anarquistas de “mercado” como Tucker e Spooner, que na origem tenta criar um ecletismo de ideologias burguesas e anarquistas ou mesmo os atuais “anarco-capitalistas” que não saberiam o que é anarquismo mesmo que o anarquismo criasse uma forma humana e chutasse suas bundas!) De certa forma, o anarquismo é um desenvolvimento legítimo das lutas operárias, em diferentes formas e diferentes estratégias diante do mesmo conceito e das lutas por liberdade na história. Obviamente, que diante disso, podemos dizer que não existe anarquismo fora da luta de classes, mesmo que ele não se limite a ela, como falaremos a seguir. 2. LUTAS POR LIBERDADE E LUTAS DE CLASSE: A LIBERDADE MATERIALISTA DO ANARQUISMO. Pro anarquismo não existe essa liberdade em abstrato, imaterial, liberdade num sentido puramente fantasmagórico, como tanto sonham os liberais. Bakunin já havia definido muito bem o que é a liberdade num sentido materialista e anarquista: “O ser humano realiza completamente a sua liberdade individual, assim como a sua personalidade apenas através dos indivíduos que o rodeiam e graças apenas ao trabalho e ao poder coletivo da sociedade. Sem a sociedade, ele certamente permaneceria o mais estúpido e o mais miserável entre todos os outros animais selvagens […]. A sociedade, longe de diminuir sua liberdade, pelo contrário, cria a liberdade individual de todos os seres humanos. A sociedade é a raiz e a árvore, a liberdade é o seu fruto. Por isso, em cada época, o ser humano deve buscar sua liberdade não no início, mas no final da história. Pode-se dizer que a emancipação real e completa de cada indivíduo é o verdadeiro, o grande, o objetivo supremo da história. A concepção materialista, realista e coletivista da liberdade, em oposição à idealista, é esta: o ser humano torna-se consciente de si mesmo e de sua humanidade apenas na sociedade e apenas pela ação coletiva de toda a sociedade. Ele se liberta do jugo [1] da natureza externa apenas pelo trabalho coletivo e social, o único que pode transformar a terra em uma morada favorável ao desenvolvimento da humanidade. Sem essa emancipação material, a emancipação intelectual e moral do indivíduo é impossível. Ele pode se emancipar do jugo de sua própria natureza, ou seja, subordinar seus instintos e os movimentos de seu corpo à direção consciente de sua mente, cujo desenvolvimento é promovido apenas pela educação e treinamento. Mas a educação e o treinamento são preeminentemente e exclusivamente sociais […] portanto, o indivíduo isolado não pode se tornar consciente de sua liberdade.” [1] Nesse sentido, a liberdade não é um fim em si, mas algo produzido socialmente e materialmente, numa dialética entre uma emancipação individual, parcial e social, completa. Nesse sentido, os individualistas estritos, egoístas e outros, nada mais fazem que evocar uma auto consciência avançada, mas não uma liberdade significativa, pois essa liberdade só pode ser alcançada materialmente/coletivamente. O anarquismo portanto, entende que a transformação material da sociedade, através da criação de novos meios de vida (não se limitando apenas a tomada dos meios de produção) é a forma materialista de se obter a liberdade. Nesse sentido, o anarquismo vê o potencial das lutas de classes, especialmente da massa dos proletarizados, assalariados, que carregam em sua potencialidade e capacidade de negar a si mesmos enquanto proletarizados, a capacidade de criar uma vida livre com toda a potencialidade da comunidade humana real. Porém, o anarquismo não se limita a visão metafísica de afirmação proletária: acredita na potencialidade de diversos grupos sociais, como estudantes, mulheres, campesinato, etc. A divisão entre luta de classes e movimentos sociais é parcialmente falsa, como bem expôs Fabbri, em sua crítica ao texto da Plataforma de Arshinov: “Uma parte da “Plataforma” que considero errada é a seção que teria a “luta de classes” como praticamente a principal característica do anarquismo, reduzindo ao mínimo o elemento humano e o objetivo humanitário. A expressão “luta de classes” inclui um núcleo de teorias que podem, obviamente, ser compartilhadas por anarquistas, mas que não são necessariamente anarquistas. Elas são, de fato, comuns a certas outras escolas do socialismo, em particular ao marxismo e ao bolchevismo. Este não é o lugar para discutir se é ou não verdade que a história humana é determinada pela luta de classes — trata-se de uma questão científica ou de uma questão de filosofia da história que não afeta excessivamente o anarquismo. O anarquismo segue seu próprio caminho, seja essa teoria verdadeira ou falsa. A principal característica do anarquismo é a recusa de toda autoridade imposta, de todo governo; é a afirmação da vida individual e social, organizada em bases libertárias. Mas o anarquismo é acima de tudo humano, na medida em que busca realizar (para usar a expressão de Bakunin) a Humanidade mediante a destruição das divisões de classe e de Estado, e realizá-la tanto no indivíduo quanto na sociedade. A luta de classes é um fato que não pode ser negado nem pelos anarquistas nem por qualquer pessoa com cabeça no lugar, e nessa luta os anarquistas estarão ao lado das classes oprimidas e exploradas contra as classes dominantes e exploradoras. Por essa razão, a guerra de classe dos trabalhadores contra o capitalismo corresponde aos métodos e formas de ação revolucionária do anarquismo, tendo como objetivo a expropriação da classe capitalista. Essa expropriação deve ser em benefício de todos, para que os explorados deixem de ser explorados e os exploradores deixem de ser exploradores, e todos concordem voluntariamente em produzir e consumir em comum os frutos de seu trabalho comum, de acordo com suas necessidades.” (Tradução Nossa) [2] Ainda que o anarquismo moderno critique as noções muito limitadas e eurocêntricas de “humano”, é inegável que o anarquismo se coloque, como expôs Fabbri, como um tipo específico de humanitarismo radical, assumindo a postura de uma emancipação real da sociabilidade humana. Aqui para nós sabemos que alguns veem palavras como humano e humanitário como essencialmente burguesas, mas entendam aqui que o que o anarquismo busca é delimitar uma sociedade de liberdade plena ao gênero humano, entendido aqui não como um ser isolado da natureza (acima ou separado dela) ou “especial”, mas como agente ativo de sua emancipação, sendo o único capaz de libertar a si mesmo das constrições do capital e do estado. Nesse sentido, ainda reforça Malatesta, em sua fala sobre o movimento operário/sindical: “Posto isto, parece-nos claro que o movimento sindicalista não pode substituir o anarquismo, e que só pode servir como meio de educação e de preparação revolucionário se for acionado pelo impulso, ação e crítica anarquistas. Os anarquistas devem, pois, abster-se de se identificar com o movimento sindical e de considerar como fim o que não passa de um dos meios de propaganda e ação que eles podem utilizar. Devem permanecer nos sindicatos como elementos propulsores e lutar para os tornar o mais possível instrumentos de combate com mira na Revolução Social. Devem trabalhar para desenvolver nos sindicatos tudo o que pode aumentar a sua influência educativa e a sua combatividade, — a propaganda de ideias, a greve enérgica, o espírito de proselitismo, a falta de confiança nas autoridades e nos políticos, a prática da solidariedade para com os indivíduos e grupos em conflito com os amos. Devem combater tudo o que tende a torná-los egoístas, pacíficos, conservadores — o orgulho profissional e o estreito espírito corporativo, as cotas pesadas e a acumulação de capital empatado, a instituição de lucros e de seguros, a confiança nos bons ofícios do Estado, a boa camaradagem com os amos, a nomeação de funcionários pagos e permanentes. Nestas condições, a participação dos anarquistas no movimento operário dará bons resultados, mas é somente nestas condições. (…) Acautelemo-nos. O erro de ter abandonado o movimento operário fez um mal imenso ao anarquismo, mas pelo menos deixou-lhe inalterado o caráter distintivo.” [3] Aqui é possível refutar alguns anarquistas que buscam uma visão estrita de luta de classes, obreirista, ignorando que o anarquismo é uma luta pela classe trabalhadora, mas não apenas ela. Questões como o fim do racismo, fim da homofobia, transfobia, capacitismo, crítica ao positivismo e cientificismo, a luta contra a dominação religiosa e outras formas de dominação política e ideológica é tão essencial ao anarquismo como a luta de classes. Assim, o anarquismo busca o fim da dominação política, ideológica e econômica, a ser realizado de maneira social, histórica e material, não apenas com pretensões utópicas ou morais. Os anarquistas abraçam a luta de classes, mas pretendem o fim das classes, de todas elas! para só assim o advento do comunismo (sociedade sem classes, estado, hierarquias salarias e salariato em si, divisão do trabalho, etc.) ser possível. Não entendem nenhum fetichismo obreirista em classes sociais. Acreditam que a luta dos estudantes, desempregados, mulheres e donas de casa, povos indígenas e demais grupos que podem ou não estar diretamente ligadas a lógica de produção de valor e mercadorias do capitalismo sejam também capazes de potencial revolucionário, auxiliando o proletariado, a massa dos assalariados, rumo ao comunismo anárquico. Estamos com o proletariado em sua luta, mas não apenas com ele. 3. PRIMEIRA FALSA DUALIDADE: COLETIVISMO VERSUS COMUNISMO. Impossível iniciarmos esse debate sobre falsas dualidades sem falar sobre a questão econômica do anarquismo. O coletivismo proposto por Bakunin era uma maneira do mesmo se opor ao comunismo dito autoritário de sua época, aos projetos demasiado estatistas de Blanqui, Weitling e outros. Seguindo a lógica do “cada qual conforme suas capacidades, cada qual conforme seu trabalho”, o objetivo de Bakunin era criticar o que na sua época era o comunismo predominante, uma ideia totalizante que pretendia utilizar-se de meios políticos burgueses como o poder e o estado. Essa posição seria posteriormente superada nos congressos anarquistas, na AIT anti-autoritária, com o posterior entendimento de que o coletivismo ainda manteria certas hierarquias relacionadas aos ganhos e salários individuais. Assim, em oposição aos vouchers e outras medidas que ainda funcionariam como um representante do preço e do “salário”, anarquistas comunistas propuseram o princípio do comunismo pleno, através da máxima “cada qual conforme suas capacidades, cada qual conforme suas necessidades.” Entendendo que é dever da sociedade comunista o fim das hierarquias salariais, mas também que é dever da sociedade a manutenção é a qualidade de vida dos incapazes de trabalhar (aposentados, pessoas que por debilidades físicas ou psicológicas sejam impedidos de exercer atividade laboral, crianças). Assim os indivíduos não mais trabalhariam por uma parte dos ganhos da sociedade, mas poderiam retirar dela o que precisassem para viver, efetivamente superando o trabalho em si, como atividade separada e alienada. Todavia, entendemos (como alguns plataformistas entenderam a muito tempo) que a oposição entre coletivismo e comunismo é falsa. É certo que o coletivismo enquanto proposta econômica é praticamente inexistente no anarquismo (exceto alguns nostálgicos que buscam ressuscitar posições minoritárias) porém não se faz necessária uma oposição absoluta entre ambos os projetos, uma vez que o coletivismo pode ser um passo em direção ao comunismo, em sociedades e momentos onde a luta ainda não avançou o suficiente, ou provisoriamente, como uma forma de garantir as conquistas de um contexto pós-revolucionário. Também nada impede manter uma sociedade com ampla seguridade social com coletivismo econômico, até que possamos avançar para uma sociedades onde os indivíduos não sejam escravos do trabalho para satisfazerem suas necessidades. Cada sociedade, momento e condição histórica será capaz de dizer quais as medidas econômicas concretas a serem tomadas. Ainda assim, nos reservamos ao direito de acreditar no comunismo mais pleno, com planejamento feito pelas comunas e organizações (assembleias, conselhos, núcleos de produtores) dispensando qualquer “fase transitória” de organização da sociedade, visto a ampla produtividade e conexão global da sociedade atual. Chegamos a um nível de produtividade que os pensadores clássicos do século XIX sequer teriam condições de sonhar, garantindo a possibilidade de dispensar toda a parafernalha antiga de fases intermediárias. E antes que nos chamem de utópicos (não que isso seja uma ofensa) essa é uma opinião que inclusive alguns economistas burgueses acreditam ser possível, com o nível de produtividade da sociedade atual [4] Ou seja: a possibilidade de um mundo pós-escassez. Porém, só realmente o movimento real poderá definir essa questão concretamente. Mas é certo que tão logo o movimento avance, tão logo possível será superado o coletivismo provisório pelo mais pleno comunismo. 4. FILOSOFIA E METODOLOGIA: IDEALISMO? SOCIALISMO CIENTÍFICO? ORTODOXIA? Aqui esboçamos uma questão bem mais complicada, e como não nos propusemos a apresentar uma verdade crua e definitiva, nos reservamos a tratar ela com brevidade e bastante cuidado. Muitos acusam o anarquismo de ser “idealista” em parte por não saberem o que de fato idealismo é (a maioria parte dos leninistas que usam esse vocábulo dificilmente leram idealistas de fato como Kant e Hegel, para entenderem o que ele de fato é, e como ele influenciou profundamente os autores que eles se pretendem reivindicar, como Marx, Engels e Lenin) bem como por causa da rejeição do anarquismo, desde Bakunin, do cientificismo. É certo que Malatesta e Fabbri por exemplo, criticaram profundamente as conclusões materialistas históricas da social democracia de sua época e a própria ideia de um “socialismo científico”. Mas é fato que apesar de não abraçar o cientificismo, a ideia de uma sociedade que pode ser desvelada por formulas científicas frias, o anarquismo nunca deixou de apoiar a ciência. O conhecimento científico, metodológico, quando usado com crivo crítico, pode trazer emancipação individual e social, plenamente compatível com o princípio bakuniniano da educação integral. Anarquistas precisam, se quiserem ser levados a sério enquanto projeto revolucionário, um estímulo a busca do conhecimento, das ciências naturais e sociais, a filosofia, a estética, a antropologia, e urbanismo e todos os campos do saber, sem entretanto transformarem isso num positivismo dogmático, similar ao bizarro Lysenkhoismo Stalinista ou o naturalismo mecânico Engelsiano. Para isso, é importante também aos anarquistas, com óbvio crivo crítico, estudarem autores de fora de sua tradição. Bem como metodologias e ideias diversas, sem deixar de absorve-las criticamente. Alguns anarquistas se deixam levar pelas modas filosóficas acadêmicas enquanto outros simplesmente rejeitam autores por não serem “anarquistas o suficiente” sem porém de fato entenderem e lerem os pressupostos. É bizarro pensar que anarquistas devam jogar fora a grandeza do pensamento anti-prisional baseado em Foucault, do pensamento anti colonial sofisticado de Fanon, ou mesmo a crítica da economia política de um Marx ou Kurz, uma análise de formação das sociedades de um Huizinga ou Polayni, Weber e outros apenas por não ser “anarquista o suficiente”. É de se pensar ainda o quanto certos anarquistas fazem tempestade em copo d’água em cima de autores disruptivos como Stirner, Nietzsche, tornando-os inimigos declarados! ou ainda a concepções herdadas de matrizes religiosas, da psicanálise e do pós-estruturalismo, sob o risco de se criar um anarquismo abstrato, com noções demasiado difusas de poder e com um vocábulo que pode as vezes levar a certas posturas autoritárias (paranóia, cancelamentos, hierarquia de opressões, etc). A esses tipos de anarquistas, apresentamos o critério definitivo: práxis. Aqui não falamos de prática irrefletida, sem teoria, esforço intelectual, mero voluntarismo, como Bookchin bem criticou os anarquistas que acham que a anarquia já está lá, pronta, só precisando ser removida pela ação dos pretensos anarquistas. Mas uma união consciente de projeto e ação, teoria e prática, ignorando essas fraseologias burguesas de “prática como critério da verdade” entendendo que práxis é pensamento e também ação. Se o humano apenas se realiza em sua transformação de si e do seu meio, é essa ação consciente que colocamos como critério. Um idealista como Rocker, fortemente nietzscheano, uma egoísta como Emma Goldman ou Kotoko Shusui, escreveram seu nome na história do anarquismo justamente porque, independente de suas ideias individuais, não abandonaram a reflexão de seus antecessores e aliaram essas ideias com práticas coletivas. Só sendo um completo ignorante para abandonar as reflexões em forma de poesia de um Novatore ou as novelas profundamente críticas de um Tolstói, pelos mesmos não serem “materialistas o suficiente” ou qualquer outra abstração puramente ideológica. 5. SEGUNDA FALSA DUALIDADE: INDIVIDUALISMO VERSUS ANARQUISMO SOCIAL A menos que o anarquista entenda anarquia como viver isolado, em alguma ilha deserta, nenhuma anarquista que se preze é um anarquista não social. Mesmo o mais individualista mesquinho, não é nada sem a vida em sociedade, já que é a sociedade que provê a ele tudo que lhe é necessário, ainda que as relações sejam mediadas por diferentes relações mistificadas (trabalho, mercadoria, escola, estado) ele ainda precisa de um padeiro para comer seu pão de manhã, de um trabalhador que asfalte sua rua ou mesmo de fornecimento de luz e água. Infelizmente, na sociedade capitalista (e na maioria das sociedades anteriores) o individuo isolado podia pouco, ou quase nada, para realizar suas plenas convicções e potencialidades. Entendemos que apenas no comunismo (anarquista ou libertário) o indivíduo terá essa capacidade, uma vez que numa comunidade emancipada, abundante, ele não precisará lutar por sua sobrevivência numa lógica de escassez e competição, numa perniciosa luta de todos contra todos, podendo assim realizar sua individualidade ao máximo. Malatesta, em suas observações acerca do individualismo, diz: “Há quem se diz individualista por entender que o indivíduo tem direito ao seu completo desenvolvimento físico, moral e intelectual e que deve encontrar na sociedade uma ajuda, e não um obstáculo, para alcançar o máximo de felicidade possível. Mas em tal sentido somos todos individualistas e seria só questão de uma palavra mais; e nós não a utilizamos simplesmente porque, tendo outras e variadas acepções, só serviria para gerar confusão. E não somente nós, anarquistas e socialistas de todas as escolas, somos individualistas no sentido supramencionado, como o são todos os homens de qualquer escola ou partido; pois o indivíduo é o único ser senciente e consciente, e sempre que se fala de prazeres ou de sofrimentos, de liberdade ou de escravidão, de direitos, de deveres, de justiça, etc., não se tem e não se pode ter em vista senão os indivíduos viventes. Algumas vezes, portanto, trata-se de uma simples questão de palavras e não valeria a pena fazer-lhe grande caso.” [5] Se por individualismo se entende a completude do ser, na sua individualidade, seu único, entendendo que este não é senão uma possibilidade única na existência e tem pleno direito a realizar-se, inexiste qualquer oposição anarquista séria ao termo. Ainda assim, Malatesta enfatiza: “o homem tem necessidade de viver em sociedade e para isso tem necessidade de se pôr de acordo com os outros homens e cooperar com eles. Ou esta cooperação será alcançada voluntariamente, por livres pactos, e será em vantagem de todos; ou será alcançada à força, pela imposição de alguns, e será explorada em proveito particular dos que a tiverem imposto. A cooperação livre, voluntária, em benefício de todos, é a Anarquia; a cooperação forçada, em benefício principal de certas dadas classes, é o regime autoritário.” [6] Acreditamos que num primeiro momento, talvez, essa declaração faça de fato sentido, uma vez que somos de um jeito ou de outro, interdependentes, mas entendemos que conforme a sociedade evolui, é possível estender a individualidade do sujeito ao extremo, de forma que sua realização seja a mais plena possível. Mas é curioso que, mesmo o “pai” do egoísmo, Max Stirner, entende que a individualidade do sujeito se realiza de forma coletiva, ao afirmar que: “Você traz para uma união todo o seu poder, sua competência, e se faz valer; em uma sociedade, você é empregado, com sua força de trabalho; na primeira, você vive egoisticamente, na segunda, humanamente, isto é, religiosamente, como um ‘membro do corpo deste Senhor’; a uma sociedade, você deve o que tem e está vinculado a ela por dever, é possuído por ‘deveres sociais’; uma união, você a utiliza e a abandona de forma desleal e infiel quando não vê como usá-la mais. Se uma sociedade é mais do que você, então ela é mais para você do que você mesmo; uma união é apenas o seu instrumento, ou a espada com a qual você afia e aumenta sua força natural; a união existe para você e através de você, a sociedade, inversamente, reivindica você para si mesma e existe mesmo sem você; em suma, a sociedade é sagrada, a união é sua; consome você, você consome a união. No entanto, as pessoas não hesitarão em objetar que o acordo que foi concluído pode novamente se tornar oneroso para nós e limitar nossa liberdade; elas irão digamos, nós também chegaríamos finalmente a isto, que “cada um deve sacrificar uma parte da sua liberdade em prol da generalidade”. Mas o sacrifício não seria feito nem um pouco em prol da “generalidade”, assim como eu concluí o acordo em prol da “generalidade” ou mesmo em prol de qualquer outro homem; em vez disso, eu entrei nele apenas em prol do meu próprio benefício, por egoísmo. [Literalmente, “próprio benefício”] Mas, quanto ao sacrifício, certamente eu “sacrifico” apenas aquilo que não está em meu poder, ou seja, eu “sacrifico” nada.” (Tradução Nossa) [7] É bem claro para Stirner que sua “união de egoístas” é a forma de realizar seu projeto de uma individualidade plena. Stirner vai diferir de Malatesta em meio, mas não em fim. Para Stirner, a sociedade não é uma necessidade do indíviduo, mas um instrumento para ele. A sociedade potencializa o indivíduo, possibilitando a ele meios de realizar sua individualidade. Stirner não é idiota (como muitos pretensos Stirnerianos e individualistas) de achar que pode viver e se desenvolver plenamente como um sujeito isolado. A esses pobres diabos, Stirner diz: “Mas “o egoísta é alguém que pensa apenas em si mesmo!” — Seria alguém que não conhece e não aprecia todas as alegrias que advêm da participação com os outros, isto é, de pensar também nos outros, alguém a quem faltam inúmeros prazeres — portanto, um tipo pobre. Mas por que esse solitário desolado seria um egoísta em comparação com os tipos mais ricos? Certamente, por muito tempo, fomos capazes de nos acostumar a considerar a pobreza uma desgraça, um crime, e os socialistas sagrados provaram claramente que os pobres são tratados como criminosos. Mas os socialistas sagrados tratam aqueles que são, aos seus olhos, desprezivelmente pobres dessa maneira, assim como a burguesia o faz com seus pobres. Mas por que a pessoa que é mais pobre em relação a um determinado interesse deveria ser chamada de mais egoísta do que aquela que possui esse interesse? A ostra é mais egoísta que o cachorro; o mouro é mais egoísta que o alemão; o pobre, desprezado, judeu sucateiro é mais egoísta que o socialista entusiasmado; o vândalo que destrói obras de arte pelas quais não sente nada é mais egoísta do que a arte? Um conhecedor que trata as mesmas obras com grande amor e cuidado porque tem um sentimento e interesse por elas? E agora, se alguém — deixamos em aberto se tal pessoa existe — não encontra nenhum interesse “humano” nos seres humanos, se não sabe como apreciá-los como seres humanos, não seria ele um egoísta mais pobre em relação a esse interesse, em vez de ser, como afirmam os inimigos do egoísmo, um modelo de egoísmo? Aquele que ama um ser humano é mais rico, graças a esse amor, do que aquele que não ama ninguém.” (Tradução Nossa) [8] Nesse sentido somos egoístas e comunistas anarquistas, somos ego-comunistas. Demandamos tudo, a realização social e coletiva sem o sacrifício do individual. Entendemos que a organização é uma maneira de aumentar nossa individualidade, não limitá-la. E para todos que ainda insistem que em Stirner existe algum tipo de “individualismo estrito” ou “anti-socialismo” o mesmo termina afirmando: “O egoísmo, como Stirner o utiliza, não se opõe ao amor nem ao pensamento; não é inimigo da doce vida do amor, nem da devoção e do sacrifício; não é inimigo do calor íntimo, mas também não é inimigo da crítica, nem do socialismo, nem, em suma, de qualquer interesse real. Não exclui nenhum interesse. Dirige-se apenas contra o desinteresse e o desinteressante; não contra o amor, mas contra o amor sagrado, não contra o pensamento, mas contra o pensamento sagrado, não contra os socialistas, mas contra os socialistas sagrados, etc.” (Tradução Nossa) [9] Existem aqueles ainda que se dizem “individualistas” no sentido de defender mercados e outras formas de escravidão indireta e involuntária, esses por sua vez, também não escaparam da crítica um tanto quanto voraz de Stirner: “Então, a “livre concorrência” é realmente “livre”? Não, é realmente uma “competição” — ou seja, entre pessoas — como se apresenta e porque é nesse título que baseia seu direito? Originou-se, sabe, na libertação das pessoas de toda regra pessoal. É “livre” uma concorrência que o Estado, esse governante do princípio cívico, limita com mil barreiras? Há um rico fabricante fazendo um negócio brilhante, e eu gostaria de competir com ele. “Vá em frente”, diz o Estado, “não tenho objeções a fazer à sua pessoa como concorrente.” Sim, respondo, mas para isso preciso de espaço para prédios, preciso de dinheiro! “Isso é ruim; mas, se você não tem dinheiro, não pode competir.” Não deves tirar nada de ninguém, pois eu protejo a propriedade e lhe concedo privilégios. A livre concorrência não é “livre”, porque me faltam as COISAS para a concorrência. Contra a minha pessoa, nenhuma objeção pode ser feita, mas, como não tenho as coisas, a minha pessoa também deve ficar em segundo plano. E quem tem as coisas necessárias? Talvez aquele fabricante? Ora, dele eu poderia tirá-las! Não, o Estado as tem como propriedade, o fabricante apenas como feudo, como posse. “Mas, como não adianta tentar com o fabricante, vou competir com aquele professor de jurisprudência; o homem é um palerma, e eu, que sei cem vezes mais do que ele, esvaziarei sua sala de aula. “Você estudou e se formou, amigo?” Não, mas e daí? Eu entendo abundantemente o que é necessário para a instrução nesse departamento. “Desculpe, mas a competição não é ‘livre’ aqui. Contra a sua pessoa não há nada a dizer, mas falta a coisa, o diploma de doutor. E esse diploma eu, o Estado, exijo. Peça-o respeitosamente primeiro; depois veremos o que deve ser feito.” Esta, portanto, é a “liberdade” da competição. O Estado, meu senhor, primeiro me qualifica para competir. Mas as pessoas realmente competem? Não, novamente, apenas coisas! Dinheiro em primeiro lugar, etc”(Tradução Nossa) [10] 6. TERCEIRA FALSA DUALIDADE: ORGANIZACIONISMO VERSUS ANTI-ORGANIZACIONISMO A querela do individualismo é diretamente ligada a querela da organização. Organizacionistas e Anti-organizacionistas em si tem bastante dificuldade de tratar esse tema, visto que ambos costumam ser parciais nele. Os anti-organizacionistas corretamente apontam que os organizacionistas em muitos aspectos reproduzem ideias de organização que se assemelham as ideias burguesas e autoritárias, com suas expulsões, cismas, intrigas e quando não, autoridades indiretas sobre os componentes da organização. Por outro lado, esses mesmos anti-organizacionistas durante toda sua história se organizaram! Mesmo que de forma flexível e indireta (os grupos de afinidade, tão difamados pelos organizacionistas, tiveram um papel importante com a FAI e ainda outros movimentos ao redor do mundo) ou mesmo de forma quase partidária (por mais que neguem e por mais que sejam ainda formas de organização bem descentralizadas, a federação anarquista informal italiana e outras organizações similares não deixam de ser em muitos aspectos, organizações formais). Não é o caso, é claro, se falarmos daqueles que se dizem anti-organizacionistas e esperam apenas a transformação pela atuação histórica das coisas, que buscam ser “não-militantes”. A esses nada temos contra, Apenas acreditamos que estão equivocados, jogando fora o “bebê junto com a água”, entendendo que o voluntarismo é obstáculo, mas ignorando que de fato, é necessário agir em alguma instãncia. Os organizacionistas, por sua vez, muitas vezes colocam na organização um fardo a ser carregado, uma espécie de dever moral irrefreável, e realmente, assim como bem lhes atacam os anti-organizacionistas, tendem a diminuir ou apenas jogar para debaixo do tapete pequenos fracionismos e autoritarismos. Não é de hoje que ouvimos da federação x ou grupo y que rachou devido a diferenças irreconciliáveis, mesmo as que buscam um “programa unitário” capaz de unir todos pelo mesmo fim. A velha querela do militante modelo, com suas típicas bravatas sobre “disciplina” que mal percebe que, se for levado ao extremo, seu pensamento não é diferente do mais alienado maoísta. Os organizacionistas por sua vez, também não deixam de enfatizar uma verdade inevitável: organizados somos capazes de intervir na realidade com mais presteza, ter mais potencialidades, aprender mais e propagandear melhor. O capitalismo é oposto a organização, procurando uma sociedade ditada por processos impessoais, como o fantasma mercado. O comunismo anarquista, a sociedade emancipada, se quiser se realizar, precisa sim de certa dose de ordem e organização. Dito isso, alguns poréns dessa questão precisam ser enfatizados. O que vai definir o caráter e as possibilidades da organização são os momentos e conjunturas, causas e condições materiais. Muitas vezes, um sindicato anarquista com mais de mil membros não terá o poder de ação de panfletagem ou ação direta de um grupo de afinidade. Assim como um grupo de afinidade, se não tiver compromissado a encontros, palestras e trabalho social sério, acaba se degenerando em mero grupo de encontros de amigos, sem qualquer possibilidade de intervir na realidade. Organizações maiores podem por sua vez enfatizar certas práticas e táticas, buscando se tornarem mais e mais elementares na sociedade. Por outro lado, em momentos de perseguição massiva do estado, organizações menores, flexíveis e dinâmicas podem evitar qualquer problema com a autoridade e continuar sua luta. Cada momento e possibilidade terá meios de ditar qual a melhor forma a ser adotada. O mesmo pode ser dito do tipo de organização: existem aqueles que buscam fortalecer os laços e ideias libertárias no seio da sociedade (dualismo organizacional) e aqueles que por si só, buscam que sua organização de massas que seja a forma, o “rascunho” da nova sociedade (o unitarismo, como o caso do anarco-sindicalismo e o municipalismo libertário). Acreditamos que a luta concreta poderá dizer qual dessas muitas táticas possuem mais razão. Ainda que sejamos críticos do sindicalismo (entendemos que ele limita a força popular aos sindicatos formais, em geral recuados e inerentemente reformistas, como bem dizia Malatesta) entendemos que o anarco-sindicalismo moderno pressupõe sindicato como organização operária, absorvendo parte das críticas históricas dos conselhistas ao sindicato, entendendo que o objetivo é a auto-organização. O mesmo podemos falar de certos sindicalistas revolucionários, que entendem o “sindicato” como “união de trabalhadores”, favorecendo as assembleias e auto-organização nos bairros, cidades, escolas e locais de trabalho. Essa crítica ao sindicalismo também não é nova no anarquismo, vide por exemplo a crítica aos sindicatos feita pelo grupo inglês Anarchist Communist Federation, que pretendemos um dia traduzir para língua portuguesa. [11] No aspecto social, acreditamos que a organização da nova sociedade não pode ser sindical, pelo menos não meramente tomando os sindicatos formais, e reproduzindo suas hierarquias internas (como cargos oficiais e irremovíveis) nem acreditamos que a luta moderna se limita a um campo da sociedade. Entendemos a importância dos locais de trabalho, mas também das lutas urbanas. Seguimos a prescrição de Vaneigem, ao afirmar que “Quem fala dos conselhos [aqui ele se refere aos conselhos operários, mas poderíamos falar de assembleias ou comunas federadas] como organismos econômicos ou sociais separados [conselhos apenas de fábrica, assembleias apenas de bairro], quem não os coloca no centro da revolução da vida cotidiana com a prática que isso implica, deve ser tratado como um futuro burocrata e, portanto, como um inimigo presente.”[12] Dessa forma acreditamos que a organização das massas deve ser o poder unitário dentro da sociedade, como o órgão máximo da transição revolucionária, buscando a autogestão, não como uma mera gestão desse mundo (como sujeitos limitados como Gilles Dauvé insistem que autogestão queira dizer) mas como um processo de contínua transformação das relações sociais, em busca do comunismo e da anarquia, o Gemenweisen, a comunidade humana, etc. Para nós as comunas federadas, soberanas, e os conselhos de cada uma são a forma política mais avançada rumo ao comunismo anarquista. Porém não fazemos disso um dogma: apenas os proletarizados em luta (já falamos antes quem definimos como proletarizados, que vai além da velha definição de apenas assalariados) pode realizar esse projeto, descobrindo novas formas e dando novos contornos a sua auto-organização visando destruir sua condição de proletarizado. Porém, acreditamos na ideia de dualismo organizacional, ideia essa que é tão real para Malatesta, quanto para Arshinov, Volin ou Alfredo Bonanno. Anarquistas podem se organizar de forma específica buscando influenciar, seja pela participação seja pela ação direta, nos movimentos sociais e fazendo os trabalhadores cada vez mais se radicalizarem. A organização não precisa de uma forma pronta, fechada, desde que siga os fundamentos básicos do anarquismo: federalismo, autonomia individual, democracia interna ou entendimento buscando o máximo de consenso e acordo comum entre os membros. A organização é um meio, não um fim em si, e mesmo que ela ofereça vantagens muito mais significativas que a desorganização, é ingênuo rejeitar as formas dos “desorganizados”, aqueles que quer com sua propaganda, quer com sua ação no dia a dia, fazem o movimento fluir. Aqui também quebramos algumas falsas oposições, como a de anarquismo de massas versus anarquismo insurrecionário. Com exceção de alguns “anarco niilistas”, que apenas acreditam na revolta imediata a perderam a fé em qualquer possibilidade de transformação totalizante da sociedade, todos queremos que o anarquismo (ou algo análogo) infle as massas e faça com que elas possam criar órgãos cada vez mais autônomos delas mesmas. Sequer temos problema com o vocábulo “poder popular”, já que esse poder é tão diluído na sociedade que já ultrapassa essas limitações de exercício de poder, a ponto inclusive de que com essas relações e tornando tão orgânicas, esse poder comunitário já sequer seja um poder em si. Também por isso, não há porque rejeitar os insurrecionários, que diferente da caricatura (que os pintam de “aventureiristas, violentos, niilistas baratos”) enfatizam as lutas e revoltas populares e ação direta mais imediata possível como forma de luta. Não esperamos aqui esgotar esse tema, nem apresentar uma organização perfeita, infalivel, ou sugerir uma forma organizativa ideal que apenas brotou da nossa cachola. Acreditamos piamente que a maneira de melhorar sua organização é participando ativamente, derrubando as intrigas, mentiras e egos inflamados, questionando os pequenos autoritarismos cotidianos e fazendo o possível para que essa organização seja flexível, centrada nas lutas cotidianas e não apenas alienada em si mesma. E pra aqueles que não acreditam em organização, sugerimos que se unam com aqueles que pensam como vocês e atuem. Não estamos aqui pra ficar em castelos de marfim teóricos, mas pra criticar com seriedade. E não uma crítica vazia, intriguista, mas apontar os problemas e possibilidades e melhorar como pessoas e libertários ativos. 7. SÍNTESE, PLATAFORMA, PARTIDO ANARQUISTA E A QUERELA DO VANGUARDISMO Anarquistas durante a história se organizaram em partidos. Partidos de massas, partidos de quadros fechados, ou como quiserem. Isso não torna a questão do partido incontornável, e diferente das seitas leninistas, não achamos que o partido é uma forma indispensável, nem que o mesmo seja o grande demiurgo que deve esclarecer as massas. Porém, é importante enfrentar os problemas de frente, e particularmente acreditamos que o anarquismo tem um problema sério nessa questão. Bakunin por sua vez nunca deixou de usar a palavra “partido” e sequer deixou de usar termos como “estado maior” para definir sua organização secreta. Se por um lado, Bakunin corretamente entendia que a perseguição política obrigaria a criação de um grupo secreto e que acreditava que um dualismo de uma organização anarquista dentro de outra organização de massas ajudaria a radicalizar e potencializar o programa mais geral da AIT, é inegável que o mesmo ainda guardava um certo resquício autoritário digno de seus contatos com Nechayev e com os Blanquistas. Marx, por sua vez, também não deixou de exercer certo autoritarismo ao expulsar o Russo por isso, mostrando uma pena dura e um racha venenoso no movimento socialista mundial. Não somos idólatras de Bakunin, ou qualquer outro autor. Reconhecemos os limites e as vantagens de cada um. Mesmo em figuras gigantescas da história, cujo legado a emancipação nunca serão apagados, como é o caso do gigante Mikhail Bakunin. Porém, também é preciso instruir (visto que alguns anarquistas ou não sabem, ou apenas ignoram) que a concepção de “partido” dos anarquistas não é a mesma concepção moderna de partido. Malatesta resume muito bem a definição de partido anarquista: “Entendemos por partido anarquista o conjunto daqueles que querem contribuir para realizar a anarquia, e que, por consequência, precisam fixar um objetivo a alcançar e um caminho a percorrer.” [13] Tal definição é simples mas tem desdobramentos complexos, mas pra nós, ela é suficiente. Rejeitamos a ideia de partido, tal como é concebida atualmente, com todas mentiras e micro autoritarismos, sejam os partidos burgueses, sejam os partidos ditos marxistas, social democratas, com suas estruturas mofadas e mentiras. Abraçamos o partido anarquista, que para nós, não faz tanta diferença se for um grupo específico de anarquistas que se organiza em quadros fechados, uma fração ou grupo, ou a totalidade dos anarquistas em ação. Entendemos que é a ação consciente dos anarquistas que expressa a grandeza e a importância daquilo que Berneri chamou de “consciência de partido.” Aqui também evitamos abraçar uma definição muito “fechada” de partido e isso nos leva a questão das famosas discussões da forma que a organização anarquista deve assumir. Entendemos que o polêmico texto da plataforma do Dielo Truda causou uma certa confusão e debates históricos calorosos no anarquismo, assim como também vemos o anarquismo de síntese hoje em dia ser mal compreendido e ignorado, especialmente as contribuições excelentes do Nabat e Volin. Todavia ambas as propostas, no geral, não chegam a se distanciar tanto. Não apenas porque cada sociedade, em cada momento histórico, abraçou essas propostas de uma forma, seja porque, apesar da síntese rejeitar a questão da “unidade teórica” é praticamente impossível que qualquer organização minimamente coerente não crie um programa geral do qual todos os seus associados deverão acatar. Como Jeff Shantz disse em um dos seus artigos, os méritos da plataforma não são apenas para plataformistas. Rejeitamos o plataformismo, mas não negamos algumas de suas lições: unidade teórica, auto-disciplina e um programa coerente, ainda que rejeitamos qualquer tentativa de uma organização anarquista única e totalizante, ou de qualquer “comitê central” anarquista. O mesmo vale para a crítica da vanguarda. A ideia de vanguarda, expressão emprestada no meio militar significa os grupos que “tomam a frente” e “lideram” o processo. Ao mesmo tempo que pode significar aqueles que inovam, que ditam tendências, no vocabulário artístico. Ambas as concepções para nós parecem bastante equivocadas. A vanguarda se enxergam como um grupo especial, que se exporta para fora da luta de classes, que se vê como a minoria mais esclarecida. Essa concepção nega que não apenas os trabalhadores não são passivos na luta (mesmo que a chuva de ideologias do espetáculo capitalista mantenha a maioria dos trabalhadores inerte) como nega que a espontaneidade, a possibilidade aberta de ação são fundamentais para qualquer transformação social. Como Bookchin bem explicou, espontaneidade não é o inverso de organização. São basicamente posições que se complementam, uma vez que num ambiente burocrático e cheio de restrições, é impossível agir. Os vanguardistas são burocratas por natureza, se enxergam como o “cérebro” que “guia” as massas para uma transformação. Malatesta foi mais uma vez certeiro ao dizer que não queremos emancipar o povo, mas que ele por si mesmo se emancipe. Da mesma forma, Marx chegou a afirmar uma vez de que o proletariado deve andar com suas próprias pernas. Aqui entendemos haver uma dialética complementar: dois elementos que se unem sem se negarem. A espontaneidade que permite aos sujeitos agir e a organização que dá uma direção consciente. Aqueles que se dizem vanguarda tendem a se vangloriar por terem certa conhecimento teórico, que sem a inserção nas lutas de classes, não passa de exercício intelectual. Ou seja, por mais que seja uma questão fundamental esse mesmo exercício, apenas ele não te faz capaz de exercer qualquer “tomada de frente.” Não existem vanguardas auto intituladas, tampouco guias mágicos capazes de regurgitar seu programa aos proletarizados como um pássaro regurgita comida aos filhotes. O povo organizado pode ir muito além e de forma muito mais simples e orgânica que qualquer esquerdista intelectual esclarecido, não atoa, por exemplo, não foi o partido bolchevique que criou os Sovietes. Makhaiski foi certeiro em delimitar que a intelligentsia ao se colocar como separada da ação total da classe em luta, aguarda a oportunidade de criar novas formas de opressão, numa sociedade dividida em novas classes, entre uma classe de mandantes e executantes (pra utilizar aqui a divisão de Maurice Brinton). Por isso rejeitamos a concepção de vanguarda, sem porém deixar de utilizarmos o termo “minoria ativa”, muito mais coeso, e porque não dizer, muito mais próximo ao nosso ver com aquilo que o próprio Bakunin pensava, mesmo com seus limites de época e lugar. 8. MARX E MARXISMOS, BAKUNINISMOS E OUTROS ISMOS. A questão de Marx é bastante controversa no anarquismo. A maioria esmagadora dos anarquistas vê em Marx um gérmen do autoritarismo, não apenas por sua atitude (de fato autoritária) com Bakunin, mas também pelos projetos do marxismo oficial, de se projetar como os interpretes verdadeiros de Marx. Essa é uma questão confusa, que em muitos elementos, até mesmo marxistas não sabem ou discutem. Existem porém os anarquistas que ou veem Marx como uma figura ambígua (é o caso dos anarquistas que tem contato com Lucáks por exemplo) ou os que rejeitam a tese do “marx autoritário” (como bem frisaram autores anarquistas como Daniel Guérin, Abraham Guillén, dentre outros). Compartilhamos da ideia de que Marx nunca se disse Marxista. Não planejava ele criar uma escola do socialismo distante das demais, estabelecendo seu “socialismo científico” apenas como oposição as visões demasiado voluntaristas de outros socialistas. Entendemos por Marxismo o conjunto das ideias de Marx, que também são complementadas por seu fiel escudeiro Engels, esse último que teve um papel significativo em cunhar um marxismo oficial, aderindo a posições reformistas no fim da vida (e flertando com elas durante outros momentos). Entendemos que Marx era um autor prolífico e que ao mesmo tempo, tinha posições ambíguas, seria ignorante da nossa parte negar o flerte de Marx com o estado, o reformismo, etc. Mas também seria estúpido e arbitrário negar suas revisões de posição, sua crítica ao estado presente na ideologia alemã, na questão judaica e demais textos como a introdução ao manifesto comunista de 1872, a guerra civil na frança, a critica ao programa de Gotha, as diversas cartas e circulares na AIT, ou mesmo seus comentários sobre estatismo e anarquia de Bakunin. Não queremos aproximar Marx do anarquismo mecanicamente (apesar do bom esforço de Rubel) nem queremos meramente ignorar diferenças metodológicas, mas entendemos (Inclusive com um texto de Hernán Ouvrina já publicado aqui.) Marx no conjunto de sua obra, não defende posições estatistas, e apesar da ambiguidade de suas táticas e da ideia de “tomada do poder político” (termo muito mais amplo do que apenas tomada do estado) não implica em um estatismo. Apesar de não termos posições epistemológicas marxistas, é de se dar crédito ao marxismo autogestionário a correta colocação de que certas correntes (a social-democracia, o leninismo e derivados) seriam correntes filosoficamente e epistemologicamente distantes de Marx, e portanto, “pseudo-marxistas”. Ainda assim, isso não significa meramente abandonar autores que expressaram essas posições e que de alguma forma contribuem para um projeto autogestionário. Também é importante notar a influencia não apenas de Marx no anarquismo (conceitos fundamentais de mais-valia, luta de classes, fetichismo, etc) e também de correntes derivadas do marxismo (comunismo de conselhos, autonomismo, a internacional situacionista, comunização, etc) que são as que expressam de maneira mais coerente o projeto original de Marx e podem contribuir e muito para o comunismo libertário. É preciso se livrar dos dogmas. O anarquismo comunista ou comunismo anárquico é um projeto dialético, libertário, inteligente, que não se limita a um autor ou cria ídolos, mas práticas vivas. Não antagonizamos, mas rejeitamos anarquistas que tentam criar “ismos” baseados em pessoas e não em projetos. O comunismo é um projeto, o marxismo não. Da mesma forma é um tanto quanto arbitrário criar um “bakuninismo”, visto que não apenas Bakunin foi anarquista por poucas décadas, como suas contribuições, apesar de grandiosas e fundamentais, não esgotam o todo das questões materiais do presente, nem são por si só capazes de dar todas as respostas das lutas concretas, isso quando algumas questões de sua época inclusive já não foram superadas! Isto posto, anarquistas que buscam o “ovo de ouro” da teoria no autor x e y, mesmo aqueles que citamos aqui como referência tendem a repetir os mesmos fracassos do século passado, em especial porque a teoria não deve ser vista como norma, mas como ferramenta. Esses autores nos fizeram pensar coisas fundamentais, podemos voltar a eles, expandi-los, critica-los e superá-los, respeitando seu legado mas fazendo deles ação viva, continuando o projeto que eles dedicaram suas vidas para realizar. 9. A QUESTÃO ECOLÓGICA E O PRIMITIVISMO É praticamente impossível aos anarquistas hoje rejeitar a questão da emergência climática e a questão ecológica. Aqueles que sonham com projetos futuristas e fósseis do passado ligados ao “desenvolvimento das forças produtivas” ignoram que a produção mercantil predatória do capitalismo tem destruído inúmeras espécies de animais, gerado novas doenças, mudanças de climas severas, desertificação, escassez alimentar, além de toda uma questão de poluição não apenas física (o ar irrespirável das grandes cidades, o lixo acumulado) mas também mental (o excesso de gadgets, produtos, ideologias, informações, tecnologias inúteis) tem criado indivíduos mais e mais atomizados, ignorantizados, suscetíveis a ideologias e falsificações, afundados numa sociedade espetacular e simulada, devastando sua saúde mental. Essa perca existencial de um senso de proposito faz com que muitos recorram ao extremismo religioso, a ideologias fascistas, drogas e crime para escapar de sua condição miserável. O ser humano é um ser social, interconectado com outros humanos mais também com a fauna e flora, que fornecem a ele as possibilidades de vida e também não são entes separados dele. A ideia de uma natureza oca, um mero objeto a ser utilizado tem que ser rejeitada. A natureza é viva, fonte de transformação constante e possibilidades infinitas. Muitos anarquistas se deixam levar por certo niilismo derivado da questão ecológica, rejeitando uma transformação coesa acreditando que as possibilidades se esgotaram (como no panfleto Deserto [14]) ignorando o caráter mutável, regenerador e vivo da natureza. Não podemos ser ingênuos, tampouco pessimistas sobre essa questão. Um realismo consciente e otimista nos permite ver a questão de como a história é um campo aberto a possibilidades. Um niilismo pessimista e derrotista nos estagna, aprisiona, nos coloca em letargia, resignação. Seria demasiado extensivo também tecermos uma critica ao primitivismo (que Wolfi Landstreicher tão bem já fez aqui.) E toda sua idealização do passado, mas acreditamos que a crítica a civilização busca enviesar uma completude as amarras ideológicas e sociais do capital, sendo o complemento ideal de uma crítica total á realidade. Não acreditamos numa sociedade primitiva de um estado “inocente” da humanidade, nem o retorno a condição de caçadores-coletores, mas acreditamos na possibilidade de utilizarmos conscientemente a técnica, sem ser reféns dela, e que aqueles que defendem o socialismo ou anarquismo, mas defendem também suas forças produtivas irracionais, sua ideologia de progresso continuado, seus aparatos de guerra, não tem apenas um cadáver em suas bocas, mas um velho mundo morto em suas mentes e corações! Por fim, reproduzimos aqui uma perspectiva belíssima do manifesto Solarpunk: “Somos solarpunks porque o otimismo nos foi tirado e estamos tentando recuperá-lo. Somos solarpunks porque as únicas outras opções são a negação ou o desespero. Em sua essência, o Solarpunk é uma visão de um futuro que incorpora o melhor que a humanidade pode alcançar: um mundo pós-escassez, pós-hierarquia e pós-capitalista, onde a humanidade se vê como parte da natureza e a energia limpa substitui os combustíveis fósseis. O “punk” em Solarpunk é sobre rebelião, contracultura, pós-capitalismo, descolonialismo e entusiasmo. É sobre ir em uma direção diferente da corrente dominante, que está cada vez mais indo em uma direção assustadora. O Solarpunk é um movimento tanto quanto um gênero: não se trata apenas das histórias, mas também de como podemos chegar lá.” [15] Podemos dizer que aqui nesse trecho se resumem todas as nossas posições sobre tal questão. 10. CONCLUSÃO Nosso objetivo nesse texto não foi apresentar verdades atemporais, nem fundar nenhum “ismo” ou posição fechada. Aqui apenas compartilhamos reflexões para que outros possam concordar, discordar, evoluir e até mesmo ultrapassar e melhorar o que foi dito. Acreditamos que podemos defender o mesmo projeto, mesmo que em linhas distintas e ainda assim discordar. Não estamos comprando brigas, gerando confucionismos baratos ou repetindo bravatas. Tudo aqui é reflexão séria, mesmo que despretensiosa. Não somos mestres, e não queremos ser. Não espere ler aqui algum tipo de “credo esgotado” ou conjunto de verdades. Apenas queremos destacar o caráter de nossas ideias e acreditamos que as mesmas tem fundamento, goste você delas ou não. REFERÊNCIAS [1] https://bibliotecaanarquista.org/library/mikhail-bakunin-sobre-a-liberdade [2] https://theanarchistlibrary.org/library/luigi-fabbri-about-a-project-for-anarchist-organization (em inglês) [3] https://www.marxists.org/portugues/malatesta/1907/11/40.htm [4] a exemplo da opinião do economista português Pedro Gomes, da Universidade de Londres: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn7mkpggp8jo [5] https://www.marxists.org/portugues/malatesta/1897/04/19.htm [6] https://www.marxists.org/portugues/malatesta/1897/04/25.htm [7] https://theanarchistlibrary.org/library/dr-bones-the-stirner-wasn-t-a-capitalist-you-fucking-idiot-cheat-sheet#toc7 (em inglês) [8] https://theanarchistlibrary.org/library/dr-bones-the-stirner-wasn-t-a-capitalist-you-fucking-idiot-cheat-sheet#toc7 (em inglês) [9] https://theanarchistlibrary.org/library/dr-bones-the-stirner-wasn-t-a-capitalist-you-fucking-idiot-cheat-sheet#toc7 (em inglês) [10] https://theanarchistlibrary.org/library/dr-bones-the-stirner-wasn-t-a-capitalist-you-fucking-idiot-cheat-sheet#toc7 (em inglês) [11] https://theanarchistlibrary.org/library/anarchist-federation-the-union-makes-us-strong#toc19 [12] https://medium.com/@insubordinadoszine/aviso-aos-civilizados-acerca-da-autogest%C3%A3o-generalizada-220908f9ee2f [13] https://www.marxists.org/portugues/malatesta/1897/07/11.htm [14] https://theanarchistlibrary.org/library/anonymous-desert (em inglês) [15] https://theanarchistlibrary.org/library/the-solarpunk-community-a-solarpunk-manifesto (em inglês)