Título: Feminismo, Classe e Anarquismo
Autor: Deirdre Hogan
Data: 2007
Fonte: Faísca Publicações Libertárias
Notas: Tradução: Alejandra Cadenasso e Eliane Neves (C) Copyleft - É livre, e inclusive incentivada, a reprodução deste livro, para fins estritamente não comerciais, desde que a fonte seja citada e esta nota incluída.

“A sociedade capitalista depende da exploração de classe. Não depende, no entanto do sexismo e poderia em teoria acomodar-se em grande medida a um tratamento similar de mulheres e homens. Isto é obvio, se observarmos que a luta pela libertação feminina conseguiu em várias sociedades ao redor do mundo nos últimos, digamos, 100 anos; melhoras radicais para a situação das mulheres e as hipóteses que subjaziam sobre quais papéis são naturais e estão bem para a mulher. O capitalismo, com o tempo, se adaptou a mudança de papel e status da mulher na sociedade.”

É muito comum hoje em dia escutar críticas ao feminismo “convencional” ou de “classe média” por parte do anarquismo ou outra esquerda revolucionária ou ainda não tão revolucionária. Em particular, as anarquistas são rápidas em criticar qualquer análise feminista que falte uma análise de classe. Este artigo argumenta que vale a pena lutar pelo feminismo em si mesmo e que terminar com o sexismo, em uma insistência em sempre enfatizar a classe, pode terminar meramente distraindo do propósito que como anarquistas necessitamos, não ser ambíguas quando se trata de apoiar o feminismo. Mais que distanciarmos de outras feministas ou buscar qualificar nosso apoio, nossa ênfase deveria mover-se a desenvolver e propagandizar nossa própria linha de anarco feminismo.

A relação entre a sociedade de classes e o capitalismo

A característica que define a sociedade capitalista é que está majoritariamente dividida em duas classes fundamentais: a classe capitalista (a burguesia), os donos de grandes negócios, e a classe trabalhadora (o proletariado), que consiste em mais ou menos todos os demais - a grande maioria da gente que trabalha por um salário. Há, claro, toda uma gama de coisas dentro desta definição de sociedade de classes, e a classe trabalhadora em si mesma não está composta por um grupo homogêneo de pessoas, mas inclui, por exemplo, trabalhadores sem especialização assim como a maioria do que comumente se denomina classe média, e pode haver, grandes diferenças em ingressos e oportunidades para diferentes setores da classe trabalhadora definida amplamente.

“Classe média” é um termo problemático já que, ainda que se use frequentemente, rara vez fica claro a quem se refere exatamente. Usualmente “classe média” se refere a trabalhadores tais como profissionais liberais, pequenos donos de negócios e empresários baixos e médios. No entanto, estas camadas médias não são realmente uma classe independente, elas não são independentes do processo de exploração e a acumulação de capital que constitui o capitalismo. Em geral estão nos limites de uma das duas classes principais, a classe capitalista e a trabalhadora.[1]

O importante de analisar a sociedade como composta de duas classes fundamentais é entender que a relação econômica entre estas duas classes, os grandes donos de negócios e as pessoas que trabalham para eles, se baseia na exploração e por fim estas duas classes têm interesses materiais fundamentais opostos.

O capitalismo e os negócios são, por natureza, movidos pelo lucro. O trabalho que um empregado realiza cria riqueza. Algo desta riqueza se dá ao empregado em seu salário, o resto fica com o seu chefe, somando-se seus lucros (se os empregados não lhe dessem lucro não os empregariam). Desta forma, o dono do negócio explora seus empregados e acumula capital. É parte de interesse do dono do negócio maximizar seus lucros e manter os custos através de salários baixos; é de interesse dos empregados maximizar seu salário e melhorar suas condições de trabalho. Este conflito de interesses e a exploração de uma classe por outra classe minoritária, é inerente a sociedade capitalista. Os anarquistas têm como finalidade abolir o sistema capitalista de classes e criar uma sociedade sem classes.

A relação entre sexismo e capitalismo

O sexismo é uma fonte de injustiça que difere do tipo de exploração de classe mencionado acima de várias maneiras. A maioria das mulheres vive e trabalha com homens, ao menos em parte de sua vida; elas têm relações próximas com homens tais como seu pai, filho, irmão, amante, companheiro, esposo ou amigo. Mulheres e homens não têm interesses opostos de uma maneira inerente; nós mulheres não queremos abolir os sexos, mas sim abolir a hierarquia de poder que existe entre os sexos e criar uma sociedade onde as mulheres e os homens possam viver livremente e juntos em igualdade.

A sociedade capitalista depende da exploração de classe. Não depende, no entanto do sexismo e poderia em teoria acomodar-se em grande medida a um tratamento similar de mulheres e homens. Isto é obvio, se observarmos que a luta pela libertação feminina conseguiu em várias sociedades ao redor do mundo nos últimos, digamos, 100 anos; melhoras radicais para a situação das mulheres e as hipóteses que subjaziam sobre quais papéis são naturais e estão bem para a mulher. O capitalismo, com o tempo, se adaptou a mudança de papel e status da mulher na sociedade.

O fim do sexismo, portanto não levará necessariamente ao fim do capitalismo. Da mesma maneira, o sexismo pode continuar depois de ter sido abolida a sociedade de classes. O sexismo é, possivelmente, a forma de opressão mais antiga que existe, não só precede ao capitalismo; há evidência que o sexismo também precedeu a formas mais antigas da sociedade de classes[2] . À medida que as sociedades foram se desenvolvendo a exata natureza da opressão às mulheres, a forma particular que ela tomou, foi alterada. Sob o capitalismo a opressão às mulheres tem suas características próprias e particulares, onde o sistema tomou vantagens desta histórica opressão à mulher para maximizar seus lucros.

Mas, quão realista é o fim da opressão à mulher sob o capitalismo? Há muitas formas de opressão às mulheres como sexo na sociedade atual - economicamente, ideologicamente, fisicamente, etc. - e, é provável que continuem as lutas feministas que levarão a novas melhorias na condição da mulher. No entanto, ainda é possível ver com a luta, que vários aspectos do sexismo vão perdendo força, há aspectos do capitalismo que fazem muito pouco provável a total igualdade econômica de mulheres e homens no capitalismo. Isto, porque o capitalismo se baseia na necessidade de aumentar seus lucros em um sistema tal que as mulheres estejam em uma desvantagem natural.

Na sociedade capitalista, a habilidade de dar a luz é um defeito. O papel biológico da mulher implica que (se têm filhos) tenham que receber alguma licença remunerada de seu trabalho. Seu papel biológico também a faz em última instância responsável por qualquer criança que traga ao mundo. Em consequência, a licença-maternidade, a licença para cuidar de filhos doentes, creches gratuitas e serviços de atenção infantil, etc., serão sempre especialmente relevantes às mulheres. Por esta razão, as mulheres são economicamente mais vulneráveis que os homens no capitalismo: fechamento de creches, permissão de ausência de apenas um pai, etc. afetarão sempre desproporcionadamente mais a mulher que o homem. No entanto, sem plena igualdade econômica é difícil ver um fim as desiguais relações de poder entre mulheres e homens e a ideologia associada ao sexismo. Então, ainda podemos dizer que o capitalismo podia acomodar-se a igualdade do homem e da mulher, a realidade é a realização total desta igualdade será muito pouco provável alcançada no capitalismo. Isto simplesmente, porque há uma penalização econômica relacionada a biologia da mulher, que faz que a sociedade capitalista, movida pelo lucro, seja inerentemente parcial contra a mulher.

A luta pela emancipação da mulher nos movimentos da classe trabalhadora

A grande melhoria no status da mulher é um dos melhores exemplos de, como lutar pela mudança, pode trazer mudanças reais e duradouras na sociedade, como direitos e qualidade de vida que a luta pela liberdade da mulher atingiu em muitos países ao redor do globo. Sem esta luta (que eu ligo ao feminismo embora nem todos aqueles que lutam contra a subordinação da mulher tenha se identificado como feminista), as mulheres claramente não teriam feito os enormes ganhos que foram feitos. Historicamente, a luta pela emancipação da mulher foi evidente no movimento anarquista e de outros socialistas. No entanto, no seu conjunto, estes movimentos têm tendência a ter um relacionamento com pouca ambígua liberdade da mulher e da vasta luta feminista.

Embora sempre tenha sido central ao anarquismo, a ênfase para a abolição de todas as hierarquias de poder, o anarquismo tem suas raízes na luta de classe, na luta para derrubar o capitalismo, com o seu objetivo de criar uma sociedade sem classes. Como a opressão das mulheres não está tão intimamente ligado ao capitalismo como luta de classe, a liberação feminina tem sido historicamente vista, em grande medida continua a ser vista, como um objetivo secundário para a criação de uma sociedade sem classes, não tão importante nem tão fundamentais como a luta de classes.

Mas a quem é insignificante o feminismo? Certamente, para a maioria das mulheres no movimento socialista na suposição de que uma transformação profunda nas relações de poder entre homens e mulheres era parte do socialismo, foi vital. No entanto, existe tendência a ser mais homens que mulheres ativas nos círculos socialistas e os homens desempenharam um papel dominante. As demandas das mulheres foram marginalizadas por causa do primado da classe, e também porque, enquanto os problemas que afetaram os trabalhadores do sexo masculino também afetaram as mulheres que trabalham de forma semelhante, o mesmo não foi verdade para temáticas particulares da opressão das mulheres como gênero. A igualdade social e econômica da mulher, às vezes, foi vista como algo que gerava conflito com os interesses materiais e conforto dos homens. A igualdade das mulheres exigia profundas mudanças na divisão do trabalho, tanto no lar e no trabalho, bem como alterações em todo o sistema social da autoridade masculina. Para conseguir a igualdade da mulher, uma reavaliação de auto-identidade também teria de ter lugar em que “os homens de identidade” já não poderiam depender de serem vistos como mais fortes ou mais capazes do que as mulheres.

As mulheres faziam a ligação entre a emancipação política e a pessoal, esperando que o socialismo poderia fazer novas mulheres e novos homens por democratizar todos os aspectos das relações humanas. No entanto, achei muito difícil, por exemplo, convencer os meus próprios companheiros de que a desigualdade da divisão do trabalho dentro da casa era uma questão política importante. Nas palavras de Hannah Mitchell, ativa socialista e feminista de princípios do início do século 20 na Inglaterra, em sua dupla jornada de trabalho fora e dentro do lar:

“Mesmo os domingo de tempo livre se foram, quando descobri que, grande parte do discurso socialista sobre a liberdade, era só discurso e que estes jovens homens socialistas esperavam jantares de domingo e chás com enorme bolos caseiros, patês de carnes e tortas exatamente como seus companheiros reacionários.”[3]

As mulheres anarquistas na Espanha, na época da revolução social em 1936, tinham queixas semelhantes ao encontrar que a igualdade homem-mulher não se levava bem com as relações pessoais íntimas. Martha Ackelsberg escreve no seu livro Free Women of Spain que, embora a igualdade entre homens e mulheres fora aprovada oficialmente pelo movimento anarquista espanhol, logo em 1872:

“Praticamente todos os meus informantes lamentaram que não importa quão militante forem nas ruas, mesmo os anarquistas mais comprometidos esperavam ser ’mestres’ em suas casas - uma queixa que ecoou em muitos artigos escritos em jornais do movimento e revistas durante este período.”

O sexismo também ocorreu na esfera pública, onde, por exemplo, as mulheres militantes, às vezes, não eram tratadas a sério e nem com respeito pelos seus companheiros do sexo masculino. As mulheres também enfrentaram problemas na sua luta pela igualdade, no seio do movimento sindical nos séculos 19 e 20, onde a situação desigual de homens e mulheres no trabalho assalariado era uma questão embaraçosa. Os homens, nos sindicatos, alegaram que as mulheres reduziam os salários dos trabalhadores organizados e alguns acreditavam que a solução era excluir totalmente as mulheres do trabalho e elevar o salário do sexo masculino, para que os homens pudessem sustentar as suas famílias. Em meados do século 19, na Grã-Bretanha, um alfaiate resumiu o efeito do trabalho feminino como segue:

“Na primeira vez que comecei a trabalhar neste ramo [de tomada de colete], havia muito poucas mulheres empregadas na mesma. Uns poucos coletes brancos eram dados sob a ideia de que as mulheres os limpariam melhor que os homens... Mas desde o aumento dos sistemas a vapor, amos e capatazes têm buscado por todas as partes por mãos que possam fazer o trabalho por menos que do normal desejado. Daí a mulher foi feita para competir com o marido, a filha com a esposa ... Se o homem não vai reduzir o preço do seu trabalho como a mulher, deve permanecer desempregado”[4].

A política de excluir as mulheres de decisões sindicais foi, muitas vezes, determinada pela diminuição dos salários mais que a ideologia sexista, embora também tivesse um papel a desempenhar. Na indústria do tabaco e no início do século 20, em Tampa, nos Estados Unidos, por exemplo, um sindicato anarcosindicalista, La Resistencia, que era compostos na sua maioria de cubanos emigrantes, tentou organizar todos os trabalhadores em toda a cidade. Mais de um quarto dos seus membros era constituída por mulheres que dichavavam o tabaco. Este sindicalista foi denunciado como anti-masculino e anti-americano por um outro sindicato, a União Industrial de Fabricantes de Cigarros que prosseguiu estratégias exclusivas e que “muito relutantemente organizava as mulheres trabalhadoras em uma seção separada e secundárias do sindicato”[5] .

A força impulsionadora da libertação da mulher foi o feminismo

É geralmente bem documentado que, a luta pela emancipação da mulher não tem sido apoiada e que historicamente, as mulheres têm enfrentado dentro das organizações pela luta de classe. Os ganhos inquestionáveis na liberdade das mulheres que se conquistaram são graças a esses homens e mulheres, dentro das organizações de luta de classe, bem como sem esta, que desafiaram o sexismo e brigaram por melhorias na condição da mulher. É o movimento feminista em toda a sua diversidade (de classe média, classe de trabalho, socialistas, anarquistas ...) que tem liderado o processo de libertação feminina e nos movimentos focalizados sobre luta de classe. Saliento o ponto, porque embora hoje o movimento anarquista como um todo é apoiar um fim à opressão às mulheres, continua uma desconfiança do feminismo, com anarquistas e outros socialistas, por vezes distanciando-se do feminismo, porque muitas vezes carece de uma análise de classe. Ainda é o mesmo feminismo que temos de agradecer por cada avanço real que as mulheres têm feito.

Quão relevante é a classe quando se trata de sexismo?

Quais são as abordagens comuns para feminismo pelas anarquistas que levantam a luta de classes hoje? Sobre uma extrema reação contra o feminismo, temos o ponto de vista absolutamente reduzido à classe: Apenas importa a classe. Essa visão dogmática tende a ver feminismo como divisionista [certamente o sexismo não é mais divisor que o feminismo?] e uma distração da luta de classes e sustenta que não existe qualquer sexismo que não irá desaparecer automaticamente com o fim do capitalismo e a sociedade de classes.

No entanto, uma abordagem mais comum do anarquista ao feminismo é a aceitação de que existe sexismo, não vai desaparecer automaticamente com o fim do capitalismo e precisa ser combatido aqui e agora. Sendo assim, conforme anteriormente mencionado, as anarquistas sofrem para se distanciarem do feminismo “convencional” devido à sua falta de análise de classe. Em vez disso, salienta-se que a experiência do sexismo é diferenciada por classe e que portanto, a opressão das mulheres é uma questão de classe. E certamente que a riqueza, em certa medida, atenua o efeito do sexismo: É menos difícil, por exemplo, fazer um aborto se você não tem que se preocupar em juntar dinheiro para a viagem ao estrangeiro; questões de quem faz a maior parte dos afazeres domésticos e o cuidado com as crianças se tornam menos importante se pode dar ao luxo de pagar alguém para ajudar. Além disso, dependendo do seu histórico socioeconômico terá diferentes prioridades.

Todavia, nesta constante enfatização sobre a experiência do sexismo é diferenciada por classe, os anarquistas parecem não dar importância ou ignorar o que também é verdadeiro: a experiência de classe é diferenciada por sexo. O problema, a injustiça, do sexismo é a existência de relações desiguais entre homens e mulheres no seio da classe trabalhadora e, aliás, em toda a sociedade. As mulheres sempre estão em desvantagem dos homens de sua própria classe.

Para um maior ou menor grau, o sexismo afeta as mulheres de todas as classes; ainda uma análise feminista que não salienta a classe muitas vezes alvo de críticas. Mas é relevante a classe para todos os aspectos do sexismo? Como é relevante à classe na violência sexual, por exemplo? Certamente, a classe não é sempre o ponto mais importante en todos os casos. Às vezes, há uma insistência em tornar uma análise de classes para todas as posições feministas como se necessita dar credibilidade ao feminismo, para validar isso como uma luta digna para os anarquistas que levantam a luta de classes. Mas essa atitude não considera o ponto principal que é, sem dúvida, que somos contra o sexismo, é seja qual for a sua maneira de vestir, quem lhe está a afetar? Se uma pessoa é espancada até a morte em um ataque racista, precisamos saber a classe da vítima antes de expressar indignação? Será que estamos despreocupados sobre o racismo, se a vítima é um membro bem pago da classe dominante? Da mesma forma, se alguém é vítima de discriminação no trabalho por motivos de raça, sexo ou orientação sexual, se essa pessoa é um limpador ou um professor universitário, sem dúvida, em ambos os casos, é errado e é errado pelas mesmas razões? Claramente, a libertação da mulher é, em seu próprio direito, algo porque se vale a pena lutar, em geral, a opressão e a injustiça são coisas que se vale a pena lutar, independentemente da classe do oprimido.

Mulheres e homens do mundo unidos contra o sexismo?

Dado que a coisa que as mulheres têm em comum através das classes e das culturas é a opressão, até certo ponto, nós, mulheres anarquistas, podemos como gênero chamar as mulheres (e homens) do mundo a unirem-se contra o sexismo? Há interesses de classe opostos que fariam inútil tal estratégia?

Certamente podem aparecer os conflitos de interesse entre as mulheres da classe trabalhadora e as ricas de classe média ou da classe dominante. Por exemplo, na França, em uma conferência feminista em 1900 as delegadas se dividiram diante do tema de pagar 1 salário mínimo para as empregadas domésticas, algo que golpeou os bolsos daqueles que podiam pagar empregadas. Hoje, os direitos de licença-maternidade ou os serviços de creche enfrentam a oposição dos patrões que não querem reduzir seus lucros. O feminismo não é bom para a geração de lucros em curto prazo. As lutas pela igualdade econômica com os homens na sociedade capitalista necessariamente incluíram uma luta contínua e permanente por reivindicações - essencialmente uma luta de classe.

Então, os diferentes interesses de classe podem às vezes colocar obstáculos a unidade feminista em um nível prático. É de toda maneira muito mais importante para os anarquista acentuar a conexão com o mais amplo movimento feminista que enfatizar as diferenças. Depois de tudo, as classes dominantes estão em minoria e a vasta maioria de mulheres na sociedade compartilha de um interesse comum em ganhar a igualdade econômica com o homem. Muitas temáticas feministas não estão afetadas por tais conflitos de interesse baseados na classe, mas implicam a todas as mulheres em graus distintos. Não tem a ver com os direitos reprodutivos, por exemplo, os anarquistas na Irlanda estiveram e continuam fechados em grupos pró-escolha [pela legalização do aborto] ao lado dos partidos capitalistas sem comprometer nossas políticas porque, quando se trata da luta contra o sexismo que nega as mulheres o controle de seus próprios corpos, esta é a melhor tática.

Finalmente, vale a pena também notar que o rechaço contra o “feminismo de classe média” vem dos mesmos anarquistas/socialistas que a abraçam a definição marxista de classe (dada no início deste artigo) que localizaria a maioria das pessoas da classe média na categoria da ampla classe trabalhadora.

Reformas, não reformismo

Existem dois enfoques que podemos tomar para o feminismo: nós podemos distanciar outras feministas focando-nos na crítica ao feminismo reformista ou podemos apoiar totalmente a luta pelas reformas feministas enquanto permanentemente dizemos “Queremos mais!” Isto é importante especialmente se queremos fazer o anarquismo mais atrativo às mulheres (uma enquete recente do Irish Times mostrou que o feminismo é importante para mais de 50% das mulheres irlandesas). Na visão anarco-comunista de uma sociedade futura com seu princípio principal, a cada qual seguindo suas necessidades, de cada qual seguindo suas possibilidades, se a parcialidade institucional contra a mulher como há no capitalismo. Os benefícios tanto para as mulheres quanto para homens no anarquismo tem muito a oferecer as mulheres em particular, a liberdade sexual, econômica e pessoal de forma profunda e o anarquismo oferece mais que qualquer igualdade precária que pode ser alcançada sob o capitalismo.

PS: Agradecimentos especiais a Tamarack e José Antonio Gutiérrez pela receptividade e sugestões.

[1] Esta descrição de classe média foi tomada de Wayne Price. Ver £Por qué la clase trabajadora? Em http://www.anarkismo.net/newswire.php?story_id=6488

[2] Ver, por exemplo, os artigos em Toward an Anthropology of Women, editados por Rayna R. Reiter.

[3] Hannah Mitchell, citação tomada de Women in Movement (p. 135) por Sheila Rowbotham.

[4] Citação retirada de Women and the Politics of Class (p. 24) por Johanna Brenner

[5] Ibidem (p.93)