Título: Amor Livre
Autor: Diana Sibaja
Data: 2008
Fonte: pt.scribd.com
Notas: Original em espanhol publicado em La Libertad, Ano III, n. 8, junho-julho 2008. Costa Rica.

“Se você persegue um fim, se encadeia ao sofrimento. Se tudo o que faz você realiza como se fosse um fim em si mesmo, se liberta.” - Silo

Quando ouço “Amor Livre”, penso no mais abstrato do abstrato, em antipatriarcado, em unidade interna, em intuições criativas, em não-violência ativa, penso em extasiar-me com liberdade absoluta. Considero que esse amor livre, como o desenha Emma Goldman (feminista anarquista), é a expressão mais livre do anarquismo porque lubrifica liberdades que se aplicam desde a interação de coletivos até a experiência espiritual-sexual no individual. Ele se fundamenta em intenções internas e manifestações externas de compartilhar em casal, de amar e ser amado(a) com liberdade absoluta, onde a abundante criatividade se expressa em afetos, desejos, fantasias e o compartilhar intenso.

Acompanhar e ser acompanhado(a) pela vida significa gerar formas criativas: de encontros socioafetivos que crescem sem os efeitos nocivos do patriarcado, ou seja, sem permitir hierarquias violentas, dependências desprovidas de sentido, com equidades; se fossem dados espaços para uma autêntica espontaneidade e expressões do ser de cada um, este seria mais resolvido de amor em formas, cores e sabores distintos, caberiam cargas mais liberadoras e extremas de prazer.

Penso que este amor não discrimina se prefiro a monosexualidade, se sou “queer”, poliamoroso, intersexo, assexual, bissexual ou gay. Desta forma, vive-se o amor da maneira mais profunda, na qual cada um decide em comunicação, consenso, coerência, respeito, lealdade e erotismo, dando isso passo a expressões e caminhos diversos do surgimento de prazeres.

O amor livre pode ser vivido sozinho ou acompanhado. Assim como na diversidade está o prazer, na unidade interna e na coerência (menção humanista de coerência: pensar, sentir e agir na mesma direção) está o prazer de ser livres. Vamos nos encontrar mais saudáveis se parto das minhas ideias liberadoras e minha convicção busca espaços ou momentos coerentes, encontro uma congruência entre meus desejos/fantasias e pensamentos; no entanto, se fosse tomada uma ação contrária à que me agradava fazer, só confrontaria a contradição e insatisfação entre o que penso e o que faço; sensações e dissabores que não acredito rimem com amor. Na coerência vive-se um amor que não pode ser patriarcal ou com vestígios de suas prisões, não manifestaria situações degradantes contra um sexo ou gênero; em um amor tão precário nos tomaria mais trabalho, desgaste de energias e, claro, menos forças para seguir na luta.

Por que considerar um amor livre no seio da prática anarquista? Porque o amor só coexiste na liberdade, porque o amor é a máxima expressão libertária. Porque considero que é a manifestação e essência da minha libertação. Porque dá o passo para dilucidar a utopia.

Como reagiria o poder ao se encontrar com Amor Livre?

O amor livre é desestruturador e desconcertante para o Estado. O que aconteceria se as ações diretas se baseassem em amor livre? Na existência do amor livre, podem-se observar diferentes impactos na consciência, na canalização do amor libertário, suas segregações são amplamente diversas.

Para que a vida flua com normalidade, casamento não monosexual

Suspeito que o casamento é para procriar e proteger crianças, para contribuir à sociedade produtiva e capitalista, não para nos organizarmos em sustentabilidade ambiental, nem qualquer situação que se assemelhe ao prazer. A monotonia e o controle a que nos submete o Estado não sobrevivem sem instituições como o casamento; as uniões civis acreditam cônjuges, famílias, ditam seus papéis e proteções, além de legados, autoridades e propriedades; e é assim como essa união perpetua com materialismo as relações “amorosas”, as controla e valida para seu feliz exército preto e branco, sem cinzas, muito menos diversos.

Intuo que com o desencontro de duas pessoas, a imposição e a repetição monótona se está mais perto do medo e do ressentimento que do amor. Será difícil realizar mudanças, criar novas realidades, chamando amor a prisões que te asfixiam lentamente; o exercício do amor livre dá passo a vidas cheias de humanidade onde se estenderão com formas espontâneas como construir maternidades ou paternidades prazerosas.

Sugere-se na Costa Rica que se legalizem as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, projeto apoiado por partidos de esquerda, que gera muitas expectativas à luta lésbico-gay e manifestações alarmantes para outros. Mas por que apenas casamento homossexual-monogâmico? Na realidade, tenho muitas dúvidas, porque o interesse desses atores e atrizes, será que aproveitar-se de setores vulneráveis é buscar com moda a igualdade de condições? Uma conquista de direitos se torna parte de um jogo político, para ver quem é mais “inclusivo” mas excludente ao mesmo tempo.

Muitos(as) consideramos que o respeito não se ganha com uma lei, talvez a tolerância sim, mas esta não basta para o livre exercício saudável da homossexualidade, ajuda mas a custa de quem? Dos setores excluídos que não querem submeter-se a um marco legal que não pretende compreender o amor. Talvez tantas cores diversas não caibam em seu marco monocromático.

Entendo que a acreditação dessa união não é exatamente para exercê-la com todas as de lei, requer-se porque têm existido problemas não só com bens materiais, mas também de saúde, cuidado, etc.; então, por que não ter uma proposta mais diversa e inclusiva? Por que se joga com políticos que querem mais adeptos e relegar outras necessidades? Qual é o sentido?

Para sociólogos como Richard Stith e José Pérez Adam, seria um pouco perigoso que se lograsse burocratizar em excesso nossa vida privada, seu controle seria tão vasto como lograr várias etiquetas ou de “indefinida”. Desta forma, o Estado poderia – em sua monótona existência – burocratizar a diversidade sexual. Quantas regras se deveriam aplicar ao conceder o cuidado de crianças a um casamento entre uma pessoa “queer” e dois bissexuais? Este não seria um desafio exatamente, nem mesmo seria uma opção para o Estado.

Com mais liberdade

O amor é livre, sem domínio, sem casamento, posto que ninguém é dono(a) do amor. Instantes de amor livre? Companheiros, os momentos sociais são muitos. Neste instante precisamos de expressões e interações antipatriarcais e saciar-nos de diversidade sexual – BLGTTTIHQ (bissexuais, lésbicas, gays, transexuais, transgêneros, travestis, heterossexuais, queer). Proponhamos construir uma luta coerente juntos(as), livre e emancipatória. Penso que vale agir com amor livre. Então, a liberdade advém da unidade e coerência interna, que deve ser coletiva.

Sugiro que possamos compartilhar a carga e intuir certezas coletivamente. Formemos expressões afirmativas de arte, estética e visibilização. Temos as ferramentas para apontar a uma resposta diferente, com o que quiser, ações diretas não-violentas, com feminismos, queer, com o que nascer.

Quem quer amar?

Porque o exercício do amor livre me parece muito certo e coerente como uma intuição libertadora.

Porque quero liberdade para gritar meu corpo,
liberdade para saltar minha liberdade,
liberdade para não ser heterossexual,
liberdade para decidir sobre meu corpo,
liberdade para a unidade,
liberdade para viver sem prisões genéricas,
liberdade para agir.
Porque quero com liberdade, criatividade e solidariedade recíproca poder agir.
Não quero relegar mais.
Construamos antipatriarcado e diversidade sexual!
Construamos Amor Livre!