Federação Anarquista do Rio de Janeiro - FARJ
Um Ano Igual aos Outros
Ao fazer uma análise desse primeiro ano de Lula na presidência, o ex-capa preta petista Cid Benjamin afirmou que o governo atual, como os anteriores, é escravo de uma macroeconomia de curto prazo, que se alimenta do próprio fracasso, ou seja, um modelo econômico perverso que se justifica pela necessidade de gerir uma crise que ele mesmo ajuda a eternizar. Enquanto o “cachorro vai mordendo o próprio rabo”, os ideólogos governamentais tentam nos fazer acreditar que o único rumo possível é este, e que a aposta na continuidade desse projeto (neoliberal) deve ser sempre dobrada, pois sempre alguma coisa ainda poderá ser feita para que o cachorro, finalmente, siga em frente.
O PT, ao tomar o poder, jogou fora a máscara e finalmente assumiu seu lugar de direito ao lado dos outros partidos políticos burgueses, conforme demonstrado em documento internacional assinado por grandes nomes da luta social de vários países, entre os quais o pensador e ativista libertário Noam Chomsky. Parte de seus militantes, aqueles que um dia acreditaram na construção de um “partido socialista, democrático e de massas” (lembram disso?), seguem atordoados e incrédulos, do mesmo jeito que os comunistas marxistas-leninistas ficaram após o muro de Berlim ter caído na cabeça deles.
Antes de completar um ano no poder, o partido em uma reunião que custou R$150.000,00 em um hotel 5 estrelas, expurgou dos seus quadros os tão inconvenientes radicais. Mas que radicais são esses que propunham tão somente um capitalismo mais eficiente, onde o Estado investisse mais em infra-estrutura e serviços; que as taxas de juros fossem inferiores aos ganhos na produção, ou que houvesse melhores condições para que os empresários gerassem mais empregos?
Pois é, aquele partido que nos início dos anos 80 se dizia a “ferramenta para a organização da classe trabalhadora”, comeu do melado, se lambuzou e gostou. Jogou na latrina a sua antiga “utopia socialista” e aceitou sem sequer ficar enrubescido as regras da economia de mercado internacionalizada e o “nosso” capitalismo dependente e atrasado.
É de se notar que se com os assim chamados radicais, prepondera todo o rigor do centralismo “democrático”, ou seja, todo o centralismo e nenhuma democracia, no melhor estilo leninista-stalinista, com os mais legítimos representantes dos interesses das mais corruptas oligarquias (Sarneys, Calheiros, etc) e burguesias (Maluf) a conversa já é outra, sendo a flexibilidade total, com a promessa de futuros cargos no governo.
Muita gente começa a constatar que não vem ocorrendo apenas a continuidade do modelo neoliberal que arrastou a América Latina para o buraco, mas um aprofundamento deste. Desde o início de 2003, bem mais que 1 milhão de pessoas ficaram desempregadas e a renda média real dos trabalhadores despencou em mais de 15%. Foram taxados os aposentados e arrochados ainda mais os servidores e os trabalhadores em geral, através das reformas da Previdência e Tributária. Enquanto isso, o mesmo governo que colocou no Banco Central o ex-presidente do Banco de Boston, paga mensalmente mais de US$12 bilhões de juros sobre a dívida pública, subsidia as multinacionais que compraram as empresas privatizadas e trata o FMI com a mesma deferência que o governo anterior o fazia.
Mas seríamos injustos ao afirmar que o governo PT nada fez para conter o desemprego. Fez sim! Arrumou algumas dezenas de milhares de “boquinhas” e “sinecuras” para os seus quadros e militantes na máquina estatal.
Na área social, o que vimos foi muito marketing e pouco investimento. O Fome Zero, o mega-projeto de transferência de renda do “Tony Blair tupiniquim”, embasado numa mistura de caridade e assistencialismo, ficou só na expectativa (que não foi pouca).
Na área de meio ambiente, a grande vedete foi a medida provisória editada pelo governo, pressionado pelo poderoso setor do agro-negócio e pelas multinacionais de biotecnologia, liberando o cultivo e comercialização dos organismos geneticamente modificados. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a princípio contrária, baixou a cabeça e engoliu o sapo transgênico imposto pelo Comitê Central petista (Lula/Zé Dirceu/Palocci/Gushiken), que a despeito da transgenia política que o torna cada vez mais indistinguível do PSDB, ainda mantém intactos os genes do centralismo democrático. Mas a ministra não ficou sozinha, visto que a inexistência de um debate sobre tema tão polêmico e complexo fez toda a sociedade acompanhá-la nessa refeição indigesta.
Nós anarquistas, que nunca acreditamos na possibilidade de mudanças no sistema político-econômico vigente a partir de líderes iluminados ou de partidos políticos, mesmo aqueles ditos de esquerda, não somos profetas. De profeta já nos basta o Lula, que acredita que vai levar o povo brasileiro à terra prometida, só que, sua marcha, não sai do lugar. É uma espécie de “Moisés estacionário”.
Somos, sim, lúcidos o suficiente para afirmar que qualquer mudança nesse sistema iníquo, da mais imediata até a mais profunda e revolucionária, só virá do povo organizado, autônomo e solidário.
Organizemo-nos, pois há muito a ser feito para que este mundo velho balance e desapareça. A utopia não é algo impossível, mas, sim, algo que construiremos cotidianamente através de nossa luta.
Anarquismo é luta, ética, compromisso e liberdade!