Título: A Importância da Revolução Espanhola
Subtítulo: Breve seleção de textos de diversos autores.
Notas: Edição original: La importância de la Revolução Espanhola. Ediciones grupo TEA. Federação Anarquista Ibérica - 1996. Tradução e diagramação: Barricada Libertária 2012.

Este folheto é dedicado a todas as pessoas que em sua vida puderam realizar a revolução pela qual tanto lutaram.

Desde os grandes nomes da militância libertária: Monteseny, Garcia Oliver, Durruti, Santillán... até os anônimos militantes da CNT e do resto do Movimento Libertário tem sua homenagem com estas páginas.

Não pode ser extenso como queríamos, nem com todos os textos pré-selecionados. Acreditamos que o interessado da Revolução Espanhola de 36 à 39 do século XX poderá encontrar uma enorme fonte de exemplos que uma vez por todas termine com a imagem de uma UTOPIA anarquista e veja a realidade que ocorreu em nossa terra.

A revolução não é uma coisa do passado, nem um bonito sonho. Quando o ser humano se encaminha a ela não faz com o animo de destruir, mas por uma construção do mundo novo que nos espera em cada momento. A geração de homens e mulheres que a realizaram não merecem o esquecimento.

O grupo editor (TEA-FAI). Setembro de 96

A Importância da Revolução Espanhola

Fidel Moreno

A morte não só trás dor e lágrimas por aqueles que não foram, também deixa com o corpo começa a apodrecer, a certeza de que a vida é única e irrepetível. Ao ser consciente, um homem, da fronteira que delimitam e definem sua existência, sua vida não será mais uma sucessão de anedotas no tempo, será um viver de experiências com a intensidade do momento que talvez seja o último.

Diante da ameaça de um possível triunfo do levantamento de 18 de Julho, o trabalhadores das cidades e dos campos reagiram, com mais ou menos exito dependendo do lugar, coletivizando a terra e as fábricas na intenção de acabar com a injustiça social que haviam sofrido até então e que prometia agravar-se se o fascismo chegasse a triunfar na Espanha. Durou pouco, mas o suficiente para saber que não é somente necessário, mas com possível.

Ser conscientes da oportunidade de ter nascido nos leva a nível coletivo em buscar formas que permitam o livre desenvolvimento de todos. A anarquia, para mim, é isso, uma organização social que soluciona os problemas materiais da espécie de maneira justa e permite assim ao indivíduo desenvolver espiritualmente. Matizaria também que só a organização autogestionária impregna de nobreza o espirito do ser humano, pois nestas circunstâncias no lugar de desenvolver a competitividade, por exemplo, desenvolveria a solidariedade e o apoio mútuo.

Isto do que falamos supõe uma autêntica revolução e se deu em 36: homens e mulheres foram por um momento donos de sua vida, deixando de estar nas mãos de outros socialmente diferentes que os empregavam e empregam para um benefício que nem sequer lhes devolve felicidade. Lastimável que esse vampiros acabaram com o intento vital revolucionário de desviar a história de sua fúnebre caminho. Pela vida e anarquia ante a morte e a injustiça!

O Primeiro Ensaio Urbano Ecológico Igualitarista na Catalunha

Eduardo Masjuan

As condições excepcionais surgidas a partir do golpe militar de Julho de 1936, aceleram o processo revolucionário que ao largo do período republicano burgues o movimento anarquista havia impulsionado mediante o não pagamento de rendas sobre a terra, de taxas urbanas, greves revolucionárias dos trabalhadores, ocupações de fazendas.

Na Catalunha, a partir desse momento, o movimento anarquista, que majoritariamente, é quem sufoca a intentona golpista, reorienta de acordo com as expectativas revolucionárias de transformação social existentes, o Plano Urbanístico Regional de 32. Por ele se inicia o estudo das bases e condições requeridas para planificação regional, a reconstrução urbana e o uso do espaço e do território a partir dos critérios científicos naturais da época.

Assim começado por confeccionar o regulamento do que devia constituir o primeiro inventário dos recursos do solo e do subsolo catalão, ao mesmo tempo se elaborou um verdadeiro plano de educação comunal urbano e rural, um plano de higiene urbano, e do debate com outras forças políticas sobre a coletivização do solo. Todas estas iniciativas e debates são os elementos que o ideal urbanístico social anarquista na Catalunha havia forjado ao largo do primeiro terço do século para conseguir a igualdade e a estabilidade entre campo e cidade, o reequilíbrio e a reabilitação regional o qual implicava, a sua vez, a descentralização e descongestionamento das áreas metropolitanas do então antigo regime capitalista.

Na industria coletivizada os trabalhadores realizaram notáveis inovações técnicas como foi o caso da empresa de “La electricidadm E.C.” de Sabadell, na qual se desenhou um novo modelo de turbina conhecida como de “Pelton” para o aproveitamento da energia natural por motores hidráulicos.

Também em Março de 1937 os anarquistas impulsionaram a Conferência para o aproveitamento industrial das riquezas naturais da Catalunha, CAIRN, dessa conferência constitui um intento sem precedentes pelo que se refere ao uso do território, e a utilização racional dos recursos naturais existentes, com os critérios naturalistas do momento.

É oportuno recordar o trabalho do geólogo Alberto Carsi, do sindicato de profissões liberais da CNT, sobre a irrigação da Catalunha. É um estudo exaustivo sobre as águas subterrâneas e a canalizações. O valioso estudo hidrológico de Carsi responde a um autêntico plano pensado para a Reabilitação e o Reequilíbrio territorial de Catalunha pois seu objetivo era o de “... remediar um grande mal, atualmente incurável; nos referimos ao desequilíbrio de habitantes existentes entre o campo e as cidades”.

É necessário precisar que foi uma cidade, um projeto anarquista, com uma síntese rural-urbana de cidades pequenas organicamente vinculadas no entorno rural. Existiu o urbanismo alternativo, contrário da expressão “mancha de óleo” pela periferia. Martinez Riso publicou em 1932 um folheto intitulado “A urbanística do porvir”, no que resumia claramente a teoria da Cidade-Jardim e dos cinturões agrários.

A Experiência Espanhola

Gastón Leval

O ideal tem sido realizado na Espanha, durante a revolução libertária de 1936-1939. Tem consistido na expropriação de todos os grandes proprietários e a adesão de todos os pequenos proprietários, o que foi chamado de coletividades aldeãs.

Estas coletividades tem funcionado como grandes cooperativas de produção. Tem sido dirigidas segundo as diretrizes acordadas pelas assembleias gerais dos coletivistas, que incluíam o pequenos proprietários que haviam aportado suas terras, suas ferramentas, e seu gado, e todos os trabalhadores assalariados, todos reunidos em plano de igualdade.

Para aplicação destas diretrizes, se nomeava uma comissão. Incorporava, em cada coletividade, um delegado por especialidade – agricultura, fruticultura, gado, cultivo de arroz, produção de azeite ou de laranjas, cultivo de hortas, etc. – Este delegado que trabalhava meia jornada ou completa, conforme a importância de suas atividades, coordenava, com os delegados das equipes de sua especialidade, os trabalhos a realizar. Por exemplo, na zonas de vários cultivos, se procedia a lavoura conforme o escalonamento dos modos de cultivo, as necessidades de cada produção, a localização das terras. Trigo, uvas, olivais, laranjas, tubérculos, beterrabas, diversos legumes, as equipes se distribuíam de acordo com o delegado geral, e cumpriam suas tarefas. Os trabalhos mais duros se reservavam aos jovens e fortes. Os trabalhos menos duros, aos homens que tivessem mais de cinquenta. Os anciãos tinham sua vida assegurada, em iguais condições que os outros membros da coletividade, e se dedicavam a ocupações que sendo úteis, mas não obrigatórias, constituíam para eles um passatempo.

Os produtos obtidos pertenciam a coletividade, geralmente composta pelo povo inteiro, quase todo. Se depositava nos armazéns comunais. O delegado do abastecimento organizava as trocas com as regiões industriais.

Enviava os produtos agrícolas excedentes em troca de tecidos, máquinas, subsídios químicos, livros, utensílios de casa, etc. O valor de cada produto se calculava em pesetas, e se procedia por uma espécie clearing, como se prática na sociedade capitalista, o que frequentemente fazia inútil o emprego de um meio monetário.

Localmente e individualmente a distribuição se realizava pelos armazéns comunais, que em alguns povos se chamava também de cooperativas. Dois procedimentos básicos existiam. Um consistia na distribuição de produtos cuja escala estava fixada de acordo com o número de membros das famílias, pela assembleia da coletividade. Não havia sistema monetário e todo mundo estava liberado desse obsessão, “se tu não tens dinheiro, não comes”.

O outro procedimento era o emprego de uma moeda as vezes improvisada, na maioria das vezes, oficial. Se estabelecia um salário familiar, conforme a população de cada local. As vicissitudes da guerra e as dificuldades inerentes a uma situação complexa, onde os partidos políticos criavam numerosos obstáculos, impediram unificar os dois sistemas em um só, mas os resultados obtidos, frequentemente em poucos meses, foram decisivos.

Primeiro, a melhora da produção, entendendo que o uso das terras, dos pastos, da irrigação, dos diversos meios de trabalho, e do trabalho dos homens, foi muito mais racional. Antes, um proprietário possuía muitos pastos para criar vinte vacas e cem carneiros. E outro unicamente tinha terras para criar quatro vacas e possuía dez, com um baixo rendimento, portanto.

Mas adiante, semeava-se trigo onde só se servia para cabras ou carneiros, verificada a pobreza do solo: conseguia oito quintais por hectare. Os asnos, as mulas, os cavalos usados para puxar arados eram repartidos, segundo a desordem característica do sistema social vigente. Um camponês não tinha mais do que um asno para lavrar o solo duro e rochoso. Outro possuía boas mulas, que com metade seria o suficiente, para trabalhar uma terra mais fácil. Ricos proprietários se orgulhavam de um trator que trabalhava dois meses por ano, e que permanecia inativo o resto do tempo, enquanto que os campesinos pobres só dispunham de suas mãos.

As coletividades dos povos colocaram fim a toda essa confusão. Os tratores trabalhavam a pleno rendimento, as mulas robustas foram empregadas em todos os lugares onde eram necessárias e se utilizou os anos para as tarefas mais leves.

Com menos animais se fez mais trabalho, se fez melhor e se desgastaram menos. A criação de gado se repartiu segundo a produtividade do solo. Resultado interessante que se destacou foi os pastos rotatórios, implantados na França já alguns anos, e que ainda não em estão generalizados, nasceram espontaneamente na Espanha, por iniciativa coletivista. O rendimento na carne e leite triplicaram.

Estábulos comunais se organizaram fora dos povoados, assim como granjas e chiqueiros, o que se separou os seres humanos do gado e das moscas, e da sujeira resultante. As mulheres foram libertas do forcado, da carriola e do estrume. Os métodos de criação, aplicados de acordo com o plano geral, permitiram que nos chiqueiros da coletividade, os animais classificados de acordo com sua idade, eles se multiplicaram a taxas nunca antes possíveis.

Os currais coletivos dobraram em pouco tempo tempo o numero de coelhos, de galinhas, de outras aves e de ovos, que todos puderam consumir igualitariamente. Qualquer um que verificasse as terras coletivizadas e comparava a densidade de trigo que crescia nelas, com as das terras dos pequenos proprietários relutantes a coletivização, constatava que estes últimos, apesar do trabalho de suas mulheres e de seus filhos, obtinham uma densidade muito menor. Isto era irremediável visto que a organização coletiva dispõe de meios técnicos superiores que permitiam lavrar mais profundamente, dar a um cultivo, os intervalos de tempo necessários, os cuidados indispensáveis, usar e organizar melhor a irrigação, selecionar as melhores sementes ou prepará-las como convém, usar intencionalmente, graças aos conselheiros técnicos disponíveis, os implementos químicos nas terras cuja sua composição variava, e muito, de um terreno a outro.

Estas possibilidades de melhora, em Aragão, aumentar em trinta por cento a superfície semeada de trigo e o rendimento por hectare, apesar da mobilização de boa parte da juventude que devia, na frente, opor-se ao exército franquista.

Tudo isto, junto ao desaparecimento dos grandes proprietários terratenentes e dos exploradores de toda classe, resultou que dobrasse o nível médio de vida dos camponeses, quando não cresceu ainda mais.

Faz 50 anos

Federica Monteseny

(Escrito no 50º aniversário da revolução)

A partir do fim da Primeira Guerra Mundial, se produziu o fenômeno do fascismo. Teve suas origens na Itália, onde as massas de desocupados e ex-combatentes seguiram a demagogia de um antigo socialista, bom orador e sem escrúpulos chamado Benito Mussolini.

Na Alemanha se produziu, em pouco tempo depois, o mesmo fenômeno. Um pintor de paredes, dotado de certos dotes oratórios e de uma ambição desmesurada, fundou um pequeno partido, que se converteu no expoente da decepção produzida na massas pelo fracasso da Alemanha na penúltima guerra e pela crise econômica que a derrota tinha produzido.

Este pequeno partido imediatamente recolheu a adesão das grandes massas trabalhadoras, as mesmas caindo em si do sonho que havia produzido a Revolução Russa de 1917 e da multiplicação dos comunistas na Alemanha.

Será sempre inexplicável que num país onde chegaram a existir seis milhões de comunistas, estes seis milhões se esfumaçaram ou se somaram ao movimento de caráter nacionalista criado por Hitler com o nome de nacional-socialismo.

Não se pode excluir a parte de responsabilidade que na expansão do fascismo e do nacional-socialismo tiveram o capitalismo italiano e o capitalismo alemão, que esperaram criar, com esse movimento, estendido ao mundo, uma força reacionária que fizesse frente as agitações trabalhadoras que se multiplicavam em diversos países.

Eram o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão duas forças introduzidas nos países como Áustria, Bulgária e a própria França entre outros...

Espanha era uma exceção apesar do trabalho realizado pelos agentes alemães que percorriam a Península e as viagens continuas que realizavam à Itália, os assessores da direita da política espanhola.

Haviam de acabar com essa ilhota revolucionária que representava a Espanha, com uma Confederação do Trabalho com um milhão de afiliados, com uma União Geral de Trabalhadores, com uns oitocentos mil aderentes e umas forças políticas de esquerda que haviam conseguido derrubar a Monarquia e proclamar a República.

Foram precisamente os erros desta República que não soube dar satisfação as esperanças postas nela pelo povo, o que preparou o clima propicio a uma ação de força mais ou menos ligadas com o fascismo, como era a C.E.D.A (Confederação Espanhola das Direitas Autônomas), que conseguiu chegar ao poder por meio das eleições, de 1933.

Os fatos históricos foram crescendo e a pressão permanente de italianos e alemães conjuntamente com as direitas espanholas aceleraram o golpe de estado de Franco.

Porque a realidade é esta: o levantamento militar fascista não teria ocorrido sem a ajuda e a insistência dos chefes alemães e italianos que queriam que a Espanha entra-se na órbita dos fascismo.

Mas o que nem os militares espanhóis sublevados, nem as direitas espanholas, o capitalismo em suma, as forças religiosas, todo este conglomerado unido podiam esperar, era que o povo espanhol se resignasse a aceitar o que do exterior queriam impor-lhes.

Se o fascismo triunfou facilmente na Itália; se o nacional-socialismo chegou ao poder na Alemanha, traído por umas eleições; na Espanha as massas trabalhadoras anarco-sindicalistas e socialistas, os próprios homens das esquerdas, mais ou menos tíbios, não quiseram aceitar que na Espanha desaparecesse a República, a democracia e o progresso social que o povo queria e ia conseguindo.

E quando 18 de Julho de 1936, as forças capitaneadas por Franco, regulares de Ceuta, guarda civil, falangistas e o exército que somou ao levantamento, saiu a rua e pretendeu apoderar-se do centros oficiais e dos meios de comunicação, se encontrou com um povo na rua que lhe fez frente.

Em algumas cidades os governadores civis armaram aos que estavam dispostos a combater, mas na maior parte das capitais os trabalhadores foram buscar as armas onde estavam: nos paióis e quarteis.

O 19 de Julho de 1936 na maior parte da Espanha os insurretos foram vencidos e o povo havia triunfado sobre a tentativa fascista.

E não contentes com o triunfo, os trabalhadores, os camponeses, os mineiros, colocaram em marcha a produção, criando as coletivizações e demonstrando que se podia substituir o sistema capitalista por um sistema socialista libertário, onde os produtores organizavam a produção e a distribuição.

No lugar de ceder, o povo espanhol provou ao mundo que podia combater o fascismo, que se podia vencer, que se podia fazer a revolução que transformasse as estruturas sociais.

Lição dada ao mundo que o mundo não aprendeu, pois não apoiou a ação do povo espanhol, o abandonou não ajudando-o e deixando-o indefeso frente à um inimigo apoiado por grandes potências fascistas.

Por isso temos dito muitas vezes que não perdemos a guerra: perdeu o mundo que se chamava democrático e que permitiu o triunfo da reação, quando poderia evitá-lo.

Pagamos caro nossa vontade de luta. O povo espanhol foi dizimado por hordas fascistas; milhares morreram sobre os bombardeios e outros milhares Franco sacrificou fuzilando-os depois de seu triunfo.

Unamuno disse, com frase profética: “Vencerás porque tens a força, mas não convencerás porque não tens a razão”.

Venceram provisionalmente. Mas trinta e seis anos depois, a história tem feito justiça e moralmente vencidos e sacrificados ontem, temos sido e somos os vencedores de hoje.

De novo o povo espanhol está na marcha e este 19 de Julho significa que, mesmo que passado cinquenta anos, novas gerações levantam as bandeiras que momentaneamente forma abandonadas e as ideias aparentemente vencidas.

Durruti disse: “Levamos um mundo novo em nossos corações”. E nossos corações não cessam de palpitar e nossos braços e nosso pensamento não cessam de lutar por esse mundo novo que chegará a realizar-se, apesar de tudo.

A Experiência de Bujaraloz

Juan Zafón Bayo

Bujaraloz era um lugar triste e inóspito. Terra árida; dois charcos dava toda água na região: um para as pessoas e outro para os animais. A maioria do povo estava acostumada e, monotonamente seguia sua vida. Mas nas milicias catalãs pelo contrário, muitos casos de disenteria...

No povoado existiam pequenas oficinas para repara máquinas e ferrar os animais de trabalho. A agricultura era seu único recurso econômico. Até então, três quartos das terras cultiváveis eram de quatro terratenentes e se encarregava estas a um administrador, que nem se esforçava em produzir e, se fazia alguma exceção, se dirigia aos mais pobres e os retribuía miseravelmente.

O trabalho escasseava em alguns meses do ano. Em uma população de 1.300 habitantes, duzentas famílias viviam em lamentáveis condições. A maioria ansiava um pedaço de terra para cultivar o que pudessem.

Ao estalar a Revolução se organizou nesse local uma coletividade. Na Assembleia se acordou que quatro camponeses seriam os encarregados da administração geral, dois do abastecimento, dois do transporte e das trocas, um para armazenagem de água, um do controle dos milicianos que vigiavam os caminhões, um do abastecimento de leite e produtos derivados da agricultura.

Os primeiros esforços foram arar a terra para o trigo com o uso de máquinas ou animais, pertencentes aos quatro terratenentes. A terra destes quatro senhores foi confiscada e, conjuntamente com a dos pequenos proprietários, constituiu o núcleo de exploração coletiva. Se fez uma estatística da mão de obra existente com um total de 457 pessoas. Com elas se formaram distintas seções, a mais numerosa era que conduzia a cavalarias e conduzia a tarefa mais pesada, estando dividida por sua vez em grupos de dezoito homens. Com relação aos animais de carga havia dois grupos especializados que cuidavam dos estábulos; os mais fortes faziam os trabalhos mais duros, como a limpeza das baias, o abastecimento de água e lenha; outros trabalhos mais leves como a campinagem do campo, trabalho com palha, a preparação dos materiais de construção, remover ervas daninhas, etc, estavam a cargo dos que passavam dos cinquenta. Havia também um grupo de trinta pastores.

As outras ocupações e ofícios eram: cinco açougueiros, dois alfaiate, dois pedreiros, oito carpinteiros, dois garçons, dois barbeiros, quatro moleiros, dois sapateiros, seis metalúrgicos, onze trabalhadores de ofícios vários e seis motoristas.

A semeadura de trigo aumentou em 1937 em 300 cahizadas, e em igual proporção o resto dos cereais. A cahizada equivale a 11.000 metros quadrados. O gado também teve melhoras já que se utilizou cães de caça dos terratenentes para as pradarias.

A coletividade, a fim de garantir a produção necessária de carne para o consumo, comprou dez matrizes suínas e as distribuiu entre os coletivistas para seu cuidado por não terem construído os chiqueiros necessários.

A escassez de água não permitia todo o que se desejava e limitava o consumo alimentício. Se houve racionamento entre as famílias por causa da guerra, esta amenizava um normal desenvolvimento econômico da comunidade, já que no caso de Bujaraloz, estavam acampados de 1.500 a 2.000 milicianos.

Os fatos nos demonstram que houve ganho com a expropriação e que a administração das riquezas naturais nas mãos dos trabalhadores, rendia um aproveitamento maior e humanizava a sociedade.