Título: Antissemitismo e o Pogrom de Beirute
Autor: Fredy Perlman
Data: 1983
Fonte: https://theanarchistlibrary.org/library/fredy-perlman-anti-semitism-and-the-beirut-pogrom
Notas: Título original: Anti-Semitism and the Beirut Pogrom. Traduzido por Anti-Enkidu.
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Escapar da morte numa câmara de gás ou Pogrom, ou da prisão num campo de concentração, pode oferecer a um escritor pensativo e hábil, a exemplo de Solzhenitsyn, insights profundos sobre muitos dos elementos centrais da existência contemporânea, mas essa experiência não torna, por si só, Solzhenitsyn um pensador, um escritor ou mesmo um crítico de campos de concentração; não lhe confere, por si só, nenhum poder especial. Em outra pessoa a experiência pode permanecer dormente como uma potencialidade, ou continuar eternamente sem significado, ou pode contribuir para transformar a pessoa num monstro. Em suma, a experiência é parte indelével do passado do indivíduo mas não determina o seu futuro; o indivíduo é livre para escolher seu futuro; ele é até mesmo livre para escolher abolir sua liberdade, e nesse caso ele escolhe de má fé e é um Salaud (o termo preciso usado por J.P. Sartre para descrever a pessoa que faz tal escolha [A tradução usual pro português é ‘Babaca’]).

Minhas observações são oriundas de Sartre; eu gostaria de aplicá-las não a Solzhenitsyn, mas a mim mesmo, como indivíduo específico, e aos Americanos que agem como líderes de torcida para o Estado de Israel, como escolha específica.

* * *

Eu era uma das três crianças pequenas retiradas pelos mais velhos de um país na Europa Central um mês antes dos Nazis invadirem e começarem a prender Judeus. Apenas parte da minha família estendida fugiu, o restante permaneceu e foram todos presos; desses, todos os meus primos, tios e avós morreram em campos de concentração ou câmaras de gás nazis, exceto dois tios, os quais mencionarei adiante.

Um mês mais e eu, também, seria um daqueles que foram submetidos ao extermínio científico racionalmente planejado de seres humanos, a experiência central de tantas pessoas na era de ciência e forças produtivas altamente desenvolvidas, mas eu não poderia ter escrito a respeito.

Eu fui um daqueles que escaparam. Eu passei a minha infância entre falantes de Quechua no planalto dos Andes, mas eu não aprendi a falar Quechua e eu tampouco me perguntei o porquê; eu falei com um Quechua numa língua estrangeira a ambos, a língua do Conquistador. Eu não tinha consciência de mim como um refugiado e nem dos Quechuas como refugiados na sua própria terra; eu não sabia mais a respeito dos horrores — as expropriações, perseguições e pogroms, o aniquilamento de uma cultura ancestral — vividos pelos antepassados deles do que eu sabia a respeito dos horrores vividos pelos meus.

Para mim, os Quechua eram generosos, hospitaleiros e inocentes, e eu tinha mais consideração por minha tia que os respeitava e gostava do que por uma parente que os enganava, desprezava e chamava de sujos e primitivos.

A mentira da minha parente foi o meu primeiro contato com o duplo padrão, a extorsão dos de fora para enriquecer os de dentro, a máxima moral que diz: Está tudo bem se somos Nós quem fazemos.

O desprezo da minha parente foi minha primeira experiência com o racismo, o que garantiu a essa parente uma afinidade com os Pogromistas dos quais ela escapou; sua fuga não a fez crítica de Pogromistas; a experiência provavelmente não contribuiu em nada para a sua personalidade, nem mesmo para a sua identificação com o Conquistador, considerando que esta também era compartilhada com europeus que não partilhavam da experiência da minha parente de escapar por pouco de um campo de concentração. Camponeses europeus oprimidos se identificaram com Conquistadores que promoviam uma opressão muito mais cruel sobre não-europeus antes ainda da experiência da minha parente.

Minha parente fez uso da sua experiência anos mais tarde, quando ela escolheu ser uma entusiasta pelo Estado de Israel, a essa altura ela não renunciou ao desprezo que nutria pelos quechua; pelo contrário, ela então aplicou esse mesmo desprezo contra pessoas de outras partes do mundo, pessoas que ela nunca sequer conheceu ou esteve junto. Mas eu não tinha noção do caráter da escolha dela naquele tempo; eu estava mais preocupado com os chocolates que ela me trazia.

* * *

Na minha adolescência eu fui levado pra América, o que era sinônimo de Nova York mesmo pras pessoas que já viviam na América entre os Quechuas; era sinônimo de muito mais, como eu aprenderia pouco a pouco.

Logo após a minha chegada na América, o poder estatal do país Centro-Europeu de minha origem foi tomado de assalto por uma gangue bem-organizada de igualitários que acreditavam que poderiam trazer a emancipação universal ocupando postos estatais e se tornando policiais, e o novo Estado de Israel travou a sua primeira guerra bem-sucedida e transformou uma população indígena de Semitas em refugiados internos, como os Quechuas, e refugiados exilados, como os Judeus da Europa Central. Eu deveria ter me perguntado por que os refugiados Semitas e os refugiados Europeus que reivindicavam ser Semitas, dois povos com tanto em comum, não se uniram em conjunto contra opressores em comum, mas eu estava preocupado demais tentando encontrar meu caminho na América.

Através de um amigo da escola fundamental tido como um delinquente pelos meus pais, e também por meio dos meus próprios pais, eu lentamente aprendi que a América era o lugar onde todos queriam estar, algo como o Paraíso, mas um Paraíso que permanecia inacessível mesmo após adentrar na América. Meu amigo delinquente colocava de forma simples: existem os otários e os espertos, e você tem que ser estúpido pra ser um otário. Meus pais eram menos explícitos; eles diziam: Estude muito. A motivação implícita era: Deus te proíba de virar um atendente ou um operário de fábrica! Seja outra coisa: um profissional ou um gerente. Naquela época, eu não sabia que esses outros chamados eram também da América, que a cada degrau alcançado, o Paraíso permanecia tão inacessível quanto antes. Eu não sabia que a satisfação do profissional ou mesmo do atendente ou do trabalhador não vinha da plenitude da sua própria vida, mas da rejeição da sua vida, e da identificação com o grande processo que ocorria fora de si, o processo de destruição industrial desenfreada. O resultado desse processo podia ser assistido em filmes ou jornais, embora ainda não na Televisão, que logo traria o processo pra dentro das casas de todos; a satisfação era aquela do voyeur, o espectador. Naquele momento, mal sabia eu que aquele processo era o sinônimo mais concreto para América.

Uma vez na América, eu não tinha uso para a minha experiência de escapar por pouco de um campo de concentração Nazi; a experiência não me ajudaria a subir os degraus em direção ao Paraíso e poderia até me impedir; minha subida apressada poderia ser atrasada de forma considerável ou até mesmo interrompida por completo se eu tentasse empatizar com a condição do interno de campos de trabalho que eu poderia ter me tornado, já que eu perceberia o que tornava o prospecto do trabalho fabril tão atemorizante: se diferia da condição do detento meramente pela ausência de câmaras de gás e porque o operário fabril gastava somente os seus dias da semana como interno.

Eu não estava só em não conseguir fazer uso da minha experiência Centro-Europeia. Meus parentes também não faziam uso dela. Naquela década, eu conheci um dos meus dois tios que viveram num campo de concentração Nazi. Uma vez na América, mesmo esse tio não fazia uso dessa experiência; ele queria apenas esquecer o Pogrom e tudo a ele associado; ele queria apenas escalar os degraus da América; ele queria olhar e soar e agir como os outros Americanos. Meus pais tinham exatamente a mesma atitude. Contaram-me que meu outro tio sobreviveu aos campos e foi pra Israel, apenas pra ser atingido por um carro logo após a sua chegada.

O Estado de Israel não era do meu interesse naquela década, embora eu tenha ouvido sobre. Meus parentes falavam com um certo orgulho da existência de um Estado com policiais Judeus, um exército Judeu, juízes Judeus e gerentes fabris Judeus, em suma um Estado totalmente diferente da Alemanha Nazi e como a América, meus parentes, independente das suas situações pessoais, se identificavam com os policiais Judeus e não com os policiados, com os proprietários de fábricas e não com os trabalhadores Judeus, com os Judeus espertos e não com os otários, uma identificação que era compreensível dentre pessoas que queriam apenas esquecer seu encontro próximo com campos de trabalho. Mas nenhum deles queria ir pra lá; eles já estavam na América.

Meus parentes apoiaram a contragosto a causa Sionista e ficaram perplexos — todos exceto pela minha parente racista — com o entusiasmo absoluto de Americanos da segunda à enésima geração por um Estado distante com policiais e professores e gerentes Judeus, pois consideravam que tais pessoas já eram policiais e professores e gerentes na América. Minha parente racista entendeu do que esse entusiasmo se tratava: solidariedade racial. Mas eu não estava ciente disso naquela época. Eu não era um estudante secundarista Americano muito brilhante e pensava que a solidariedade racial se restringia aos Nazis, aos Africânderes e aos Sulistas Americanos.

Eu começava a me familiarizar com os traços dos Nazis que quase me capturaram: o racismo que reduzia seres humanos a suas conexões genealógicas ao curso de cinco ou seis gerações, o nacionalismo cruzado que considerava o resto da humanidade como um obstáculo, a Gleichschaltung que arrancava a liberdade de escolha dos indivíduos, a eficiência tecnológica que convertia humanos pequenos em mera forragem para máquinas grandes, o militarismo valentão que opunha paredes de tanques contra uma cavalaria e cobrava cem vezes as perdas que sofrera, a paranóia oficial que pintava o inimigo, moradores pobremente armados de povoados e vilarejos, como uma conspiração quase onipotente de escopo cósmico. Mas eu não percebia que esses traços tinham algo a ver com América ou Israel.

* * *

Foi apenas durante a minha próxima década, como um estudante universitário Americano com um leve interesse em história e filosofia, que eu comecei a adquirir um escasso conhecimento sobre Israel e o Sionismo, não por estar particularmente interessado nesses temas mas porque eles estavam inclusos nas minhas leituras. Eu não era nem hostil nem favorável; eu era indiferente; eu ainda não fazia uso da minha experiência como refugiado.

Mas eu não permaneci indiferente a Israel ou ao Sionismo. Foi essa a década em que Israel realizou a captura espetacular e o então julgamento do Alemão Eichmann, e foi nela que Israel lançou a invasão espetacular sobre grandes partes do Egito, Síria e Jordânia numa Blitzkrieg de seis dias, uma década em que Israel era notícia pra todo mundo, não apenas para refugiados.

Eu não tinha nenhum pensamento não convencional sobre o obediente Eichmann exceto o pensamento de que ele não poderia ser tão excepcional assim pois eu já conhecia pessoas como ele na América. Mas algumas das minhas leituras me levaram a refletir sobre o racismo da minha parente Sionista.

Eu aprendi que pessoas como os antigos Hebreus, Acádios, Árabes, Fenícios e Etíopes vinham todos da terra de Sem (a Península Arábica) e que todos falavam a língua de Sem, o que fazia deles Semitas. Eu aprendi que a religião Judaica se originou entre os Semitas no antigo Estado Levantino de Judá, a religião Cristã entre Semitas nas antigas cidades Levantinas de Nazaré e Jerusalém, a religião Maometana entre Semitas nas antigas cidades Árabes de Mecca e Medina, e que pelos últimos 1300 anos a região chamada de Palestina tinha sido um local sagrado para os Semitas Islamitas que viviam por lá e nas regiões circundantes.

Eu também aprendi que as religiões de Judeus Europeus e Americanos, assim como as religiões de Cristãos Europeus e Americanos, foram elaboradas, durante quase dois milênios, por Europeus e mais recentemente por Americanos.

Se Judeus Europeus e Americanos eram Semitas em termos da sua religião, então Cristãos Europeus e Americanos também eram Semitas, uma noção que geralmente seria tida como absurda.

Se os Judeus eram Semitas em termos da língua do seu Livro Sagrado, então todos os Cristãos Europeus e Americanos eram Gregos ou Italianos, uma noção quase tão patentemente absurda quanto.

Eu comecei a suspeitar que a única conexão da minha parente Sionista ao Sião no Levante era uma conexão genealógica traçada, não por seis, mas por mais de sessenta gerações. Mas eu tinha considerado esse cálculo racial como uma peculiaridade dos Nazis, Africânderes e Sulistas Americanos.

Eu estava apreensivo. Eu pensava que certamente havia mais do que isso; seguramente aqueles que alegavam descender das vítimas de todo aquele racismo não eram portadoras de um racismo dez vezes mais intenso.

Eu sabia pouco sobre o Movimento Sionista, mas o suficiente pra começar a me sentir repelido. Eu sabia que o Movimento possuía originalmente duas alas, uma delas, a ala Socialista, eu conseguia entender pois estava começando a empatizar com as vítimas de opressão, não por meio dos insights que eu obtive a partir da minha própria experiência, mas através de livros igualmente acessíveis aos outros; a outra ala do Sionismo era incompreensível pra mim.

Os Sionistas igualitários ou de Esquerda, como eu então os entendia, não queriam ser assimilados aos estados Europeus que os perseguiam, alguns por pensarem que eles nunca seriam aceitos de fato, outros por se sentirem repelidos pela Europa e América industrializadas. O Messias, seu Movimento, libertaria Israel do exílio e a guiaria até Sião, em direção a algo completamente diferente, a um Paraíso sem espertos ou otários. Alguns deles, de forma ainda mais metafórica, acreditavam que o Messias libertaria o oprimido dos seus opressores, senão em todo lugar, ao menos então numa Utopia igualitária milenar localizada numa província do Império Otamano, e eles estavam prontos para se juntar aos residentes Islamitas de Sião contra os opressores Otomanos, Levantinos e Britânicos. Eles compartilhavam esse sonho com os Cristãos milenaristas que tentaram por mais de um milênio encontrar Sião numa ou noutra província Europeia; ambos tinham as mesmas raízes, mas eu suspeitava que os Sionistas de esquerda tinham herdado o seu milenarismo dos Cristãos.

Os Sionistas igualitários eram arrogantes por pensarem que os residentes Islamitas de Sião abraçariam esquerdistas Europeus como seus libertadores, e eram tão ingênuos quanto os igualitários que tomaram de assalto o poder estatal no país em que nasci, acreditando que o milênio começaria tão logo ocupassem postos no Estado e se tornassem policiais. Mas até onde eu pude ver, eles não eram racistas.

Os outros Sionistas, a Direita, que no momento que eu cheguei à faculdade tinham suplantado totalmente a Esquerda, pelo menos na América, eram racistas explícitos e áridos assimilacionistas; eles queriam um Estado dominado por uma Raça tão mal disfarçada como religião, um Estado que não seria muito diferente, mas exatamente o mesmo que a América e outros estados na Família das Nações. Isso eu não era capaz de entender, pois parecia pra mim que esses Sionistas, grupo que incluía estatistas, industrializadores e tecnocratas, eram não apenas racistas como também Conversos.

Os Conversos do passado eram Judeus na Espanha do século XV que, visando evitar a perseguição, descobriram que o tão aguardado Messias Judeu já tinha chegado, um milênio e meio antes, na pessoa do profeta Judeu Jesse, o Crucificado. Alguns desses Conversos então se juntaram à Inquisição e perseguiram Judeus que não fizeram tal descoberta.

Os Conversos modernos não se tornaram Católicos; Catolicismo não era o credo dominante no século XX; a Ciência e a Tecnologia eram.

Eu penso que Jesse ao menos afirmou, mesmo que apenas como vestígios, alguns traços da antiga comunidade humana, enquanto a Ciência e a Tecnologia não afirmam nada humano; elas destruíram a cultura e também a natureza e também a comunidade humana.

Parecia trágico que as especificidades tão preservadas e cuidadosamente guardadas de uma minoria cultural que recusou ser absorvida estilhaçaram-se em decorrência da descoberta de que o Estado tecnocrático era o Messias e o Processo Industrial o tão aguardado milênio. Isso tornava toda a trajetória sem sentido. O sonho desses Conversos racistas era repulsivo para mim.


* * *

Foi somente na década seguinte, quando eu já tinha mais de trinta anos, que minha proximidade ao Pogrom Nazi começou a ser dotada de significado para mim. Essa transvaloração da minha experiência passada aconteceu de forma repentina, e resultou de um encontro casual, um encontro que, também por acaso, incluía uma referência estranha ao Estado de Israel.

Essa foi a década em que a América travou sua guerra de extermínio contra um povo e uma cultura antiga do Extremo Oriente.

Aconteceu que eu estava visitando os meus parentes Americanizados na mesma ocasião em que a minha tia Andina estava com eles desde a sua separação. Essa era a tia que respeitava o povo falante de Quechua, embora não o suficiente para aprender a língua deles, e que permanecia entre eles quando os outros saíam.

A conversa entre os familiares levou a reflexões piedosas sobre o tio que tinha partido para Israel e fora morto por um carro após sobreviver aos campos de concentração Nazi.

Minha tia Andina não podia acreditar no que ouvia. Ela perguntou aos parentes se eles todos tinham enlouquecido. A história do acidente de carro foi contada para as crianças tantas vezes que os adultos passaram a acreditar nela.

O homem não tinha sido morto num acidente, ela gritou. Ele cometeu suicídio. Ele sobreviveu aos campos de concentração porque ele era um técnico empregado para aplicar a ciência química para a operação das câmaras de gás. Ele então cometeu o erro de emigrar para Israel, onde a sua colaboração passou a ser de conhecimento público. Ele provavelmente não conseguiu lidar com os olhares acusatórios; talvez ele temesse retaliação.

Minha primeira resposta a essa revelação foi a repulsa contra um ser humano que chegava ao nível de degradação moral de gasear seus próprios parentes e companheiros de cativeiro. Mas quanto mais eu pensava a respeito dele, mais eu precisava admitir que havia ao menos um pingo de integridade moral em seu ato final autodestrutivo; aquele ato não o transformava em nenhum paradigma moral, mas contrastava nitidamente com os atos de pessoas que não tinham integridade moral alguma, pessoas que retornavam do Extremo Oriente afirmando os seus feitos, na verdade, vangloriando-se das atrocidades monstruosas que infligiram aos seus semelhantes humanos.

E eu me perguntei quem os outros realmente eram, os puros que expuseram e julgaram Eichmann, o Alemão obediente.

Eu não sabia nada sobre as pessoas de Israel e nunca tinha conhecido um Israelense sequer, mas eu estava cada vez mais atento aos Americanos barulhentos que agiam como líderes de torcida para o Estado de Israel, e não haviam Sionistas de Esquerda entre eles mas meramente os outros, os amigos da minha parente racista. A esquerda tinha toda desaparecido rumo a um Limbo obscuro e sectário em que ninguém de fora conseguia penetrar, um Limbo que fedia quase tão fortemente quanto aquele que continha os herdeiros dos Messias Lenin e Stalin, com seitas distorcidas pela existência do Estado de Israel, indo desde aqueles que pensavam que a tomada do poder era tudo que era preciso para transformar o Estado de Israel numa comunidade igualitária, até aqueles que alegavam que o Estado de Israel existente já era a comunidade igualitária.

Mas os Sionistas de Esquerda gritavam apenas para si mesmos.

Eram os outros que faziam toda a barulheira, que gritavam pra todo mundo. E esses eram explícitos sobre o que admiravam no Estado de Israel; eles afirmavam isso, se vangloriavam disso, o que não tinha nada a ver com o igualitarismo da ala enfraquecida. O que eles admiravam era:

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o nacionalismo cruzado, que considerava a humanidade circundante como um obstáculo pro seu florescimento;

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a potência industrial da Raça, que foi bem-sucedida em seu projeto de desnaturar o deserto e fazê-lo florescer;

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a eficiência dos seres humanos convertidos em operadores de tanques gigantes e jatos incrivelmente precisos;

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a sofisticação tecnológica dos instrumentos próprios de morte, infinitamente superiores aos dos Nazis;

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a polícia secreta espetacularmente bem-sucedida, cuja proeza certamente não era inferior, para um Estado tão pequeno, àquela da CIA, KGB ou Gestapo;

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o militarismo valentão que opôs as últimas invenções da Ciência mortífera contra uma coleção heterogênea de armas, e cobrou cem ou mil vezes as perdas que sofrera.

Essa última característica, que expressava a moralidade de exigir centenas de olhos por um único olho e milhares de dentes por um único dente, soava particularmente repulsiva na boca de um torcedor de um Estado teocrático em que uma elite ética alegava prover orientação inspirada para assuntos morais; contudo isso apenas surpreenderá aos desinformados sobre a história das teocracias.

Ao longo dessa década, o racismo, o antissemitismo, pra ser mais preciso, desses admiradores do Estado de Israel tornou-se virulento. Os Semitas expropriados de Sião não eram mais tidos como seres humanos; eles eram Árabes Atrasados; apenas aqueles dentre eles que se transformaram em bons Israelenses assimilados poderiam ser chamados de humanos; os outros eram Primitivos sujos. E Primitivos, na definição fornecida alguns séculos antes pelos Conquistadores, não apenas não possuíam nenhum direito de resistir à humilhação, expropriação e desolação; Primitivos não tinham o direito de existir; eles apenas desperdiçavam os recursos da natureza, eles não sabiam o que fazer com os dons preciosos de Deus! Somente os escolhidos de Deus sabiam como usar os dons do Grande Pai, e eles sabiam exatamente o que fazer com eles.

Entretanto, mesmo enquanto insistiam no atraso dos expropriados, os torcedores se tornavam paranoicos e pintavam a resistência patética dos expropriados como uma vasta conspiração de incontável poder e de escopo quase cósmico.

A expressão de Sartre mauvaise foi [cuja tradução usual pro português é ‘Má fé.’] é fraca demais para caracterizar a postura adotada por essas pessoas, mas não é minha intenção cunhar uma nova expressão.

* * *

Eu sobrevivi aos meus quarenta graças, em partes, ao fato de que América ainda não exterminou a si e a todo o resto da humanidade com incinerantes de alta potência e com os venenos que estava minerando [Minerando no sentido de colocar minas explosivas, tornando a terra letal], ou melhor, destruindo as sua terras, assim como as terras dos outros povos.

Essa década combinou o que eu antes pensava que era incombinável; combinou um amontado de revelações sobre o Holocausto, na forma de filmes, peças, livros e artigos, com o Pogrom, perpetrado contra Semitas Levantinos em Beirute pelo Estado de Israel. [Escrita na metade de Agosto, essa declaração se refere à invasão de Israel em Beirute e não ainda ao Pogrom no sentido estrito do século 19 perpetrado em Setembro. (no dias 16-18 de Setembro de 1982, para ser exato)]

As revelações tocaram o Holocausto no Vietnã apenas de forma marginal; talvez duas gerações devam se passar antes que a sujeira seja retirada dos baús. As revelações eram quase todas acerca do Holocausto que eu por pouco escapara quando criança.

Pessoas que não entendem a liberdade humana podem pensar que as revelações horripilantes podem ter somente um efeito, elas invariavelmente levariam as pessoas a se levantarem contra os perpetradores de tais atrocidades, elas invariavelmente fariam as pessoas empatizarem com as vítimas, elas invariavelmente contribuiriam para a resolução de abolir a própria possibilidade de uma repetição de tais perseguições desumanizantes e assassinatos a sangue frio. Contudo, por bem ou por mal, tais experiências, independente de serem pessoalmente vividas ou aprendidas por meio de revelações, não são nada senão o campo no qual a liberdade humana sobrevoa como uma ave de rapina. As revelações sobre o Pogrom de quarenta anos foram transmutadas em justificativas para o Pogrom atual.

Pogrom é uma palavra Russa que costumava se referir, e que nos últimos anos parecem até benignos, a um ataque de homens armados com porretes contra aldeões pouco armados e portadores de traços culturais diferentes; quão mais poderoso o Estado envolvido no ataque, mais hediondo era o Pogrom. Os agressores esmagadoramente mais fortes projetavam suas próprias características de valentões sobre suas vítimas mais fracas, convencendo a si mesmos de que suas vítimas eram homens ricos, poderosos, bem-armados e aliados ao Demônio. Os agressores também projetavam a sua própria violência nas suas vítimas, inventando estórias sobre a brutalidade das vítimas a partir de detalhes retirados do seu próprio repertório de feitos. Na Rússia do século XIX, um Pogrom era considerado particularmente violento se cinquenta pessoas fossem assassinadas.

As estatísticas sofreram uma metamorfose absoluta no século XX, quando o Estado se tornou o principal agressor. As estatísticas dos Pogroms perpetrados pelos Estados Alemão e Russo e Turco são conhecidas; as estatísticas dos Pogroms no Vietnã e Beirute ainda não são públicas.

Beirute e seus habitantes já foram desolados por conta da presença do movimento violento de resistência dos refugiados expropriados e expulsos de Sião; isso se as casualidades desses confrontos forem adicionadas ao número de mortos pelo envolvimento direto do Estado de Israel no ataque — mas eu paro por aqui; não quero brincar de jogo de números.

O truque de declarar guerra contra a resistência armada e então atacar os parentes desarmados dos resistentes junto à população circundante com os produtos mais macabros da Morte-Ciência — esse truque não é novo. Os Pioneiros Americanos também foram pioneiros nisso; eles transformaram em prática padrão declarar guerra contra guerreiros indígenas e então assassinar e queimar vilarejos que continham apenas mulheres e crianças. Essa já é a guerra moderna, o que conhecemos como guerra contra as populações civis; o que também foi chamada, de forma mais honesta, de assassinato em massa ou genocídio.

Talvez eu não deva estar surpreso que os perpetradores de um Pogrom se pintem como vítimas, no caso atual como vítimas do Holocausto.

Herman Melville notou há mais de um século atrás, em sua análise das metafísicas do ódio contra Indígenas, que aqueles que faziam de sua profissão de tempo integral caçar e assassinar povos indígenas deste continente sempre apareciam, mesmo aos seus próprios olhos, como vítimas de caçadas humanas.

O uso que os Nazis fizeram da Conspiração Judaica Internacional é mais conhecido: durante todos os anos de atrocidades que desafiam a crença, os Nazis se consideravam as verdadeiras vítimas.

É como se a experiência de vítima dispensasse a solidariedade humana, como se garantisse poderes especiais, como se desse uma licença para matar.

Talvez eu não devesse me surpreender, mas eu não consigo evitar de sentir raiva, pois tal postura é a postura de um Salaud, a postura de alguém que nega a liberdade humana, que nega que escolheu ser um assassino. A experiência, independente de ser pessoalmente vivida ou aprendida por revelações, não explica e nem determina nada; não é nada senão um falso álibi.

Melville analisou a integridade moral do odiador de Indígenas.

Eu falo dos Pogromistas modernos, e mais estritamente dos que agem como líderes de torcida por Pogroms. Eu falo de pessoas que não mataram pessoalmente cinquenta nem cinco ou nem sequer um único ser humano.

Eu falo da América, onde a busca é por mergulhar no Paraíso enquanto se evita qualquer tipo de contato com seu trabalho sujo, onde somente uma minoria está envolvida na feitura pessoal do trabalho sujo, onde a ampla maioria são voyeurs em tempo integral, espectadores, professores universitários, chame do que quiser.

Entre os voyeurs, estou focando nos voyeurs de Holocaustos e Pogroms. Eu fico me referindo ao que acontece na tela porque é o que está sendo assistido. Mas minha preocupação é com o espectador, com aquele que escolhe ser um voyeur, especificamente um voyeur de Holocaustos, um líder de torcida para esquadrões de morte.

Mencione as palavras Beirute e Pogrom na mesma frase para um desses e ele vomitará toda a moralidade que tem dentro de si: ele não vai vomitar muito.

A resposta mais provável que você receberá é uma risada imbecil e um riso cínico.

Eu fico me lembrando do meu tio, aquele que não foi atingido por um carro, que ao menos teve fagulha de integridade moral de ver o que os outros viam e rejeitar, e eu contrasto meu tio com essa pessoa que ou não enxerga nada, ou que cinicamente afirma o que vê, cinicamente aceitando a sua posição.

Se ele é um intelectual, um professor universitário, ele responderá com o equivalente exato da risada imbecil ou do riso cínico mas com palavras; ele te bombardeará de sofismas, meias verdades e mentiras descaradas que são perfeitamente transparentes pra ele, mesmo quando as profere.

Esse não é um idealista imaginativo e sonhador, mas um materialista vulgar, realista e orientado para a propriedade, sem ilusões sobre o que constitui a expropriação do que ele chama de Real Estate. Ainda assim, esse homem do real estate começará a lhe dizer que a Sião Levantina é uma Terra Judaica e então ele apontará para um título de dois mil anos.

Ele chama Hitler de louco por reivindicar a Sudetenland como terra Alemã por rejeitar totalmente as regras que a enquadrariam como terra Alemã, tratados de paz internacionais estão incluídos nessas regras, expropriações violentas não.

Mesmo assim, repentinamente ele apresenta uma série de regras, que se ele realmente aceitasse, pulverizariam a totalidade do edifício da Propriedade Real. Se ele realmente aceitasse essas regras, ele estaria vendendo lotes em Gdansk para Cassubianos que retornam do exílio, terrenos extensos em Michigan, Wisconsin e Minnesota para Ojibwe que re-apropriam a sua terra natal, grandes propriedades no Irã, Iraque e boa parte da Turquia para Parses Indianos que retornam para os seus lares, e ele teria até mesmo que arrendar parcelas da própria Sião a Chineses descendentes de Cristãos Nestorianos, e pra muitos outros além deles.

Tais argumentos tem mais afinidade com a risada imbecil do que com o riso cínico.

O riso cínico traduzida em palavras seria: Nós (eles sempre dizem Nós) Nós conquistamos os Primitivos, os expropriamos e os expulsamos; os expropriados ainda estão resistindo, e no meio tempo Nós recebemos duas gerações que não possuem outro lar além de Sião; sendo Realistas, nós sabemos que podemos pôr um fim à resistência de uma vez por todas por meio do extermínio dos expropriados.

Esse cinismo sem um pingo de integridade moral pode ser realista, mas também pode ser aquilo que C.W. Mills chamou de Realismo Maluco, já que a resistência pode sobreviver e se espalhar e até mesmo durar tanto quanto a resistência Irlandesa.

Há ainda outra resposta, a resposta do valentão armado com porretes da Liga de Defesa que pensa que a ausência de uma camisa marrom o torna irreconhecível.

Ele fecha os punhos ou fortalece a pegada no seu clube e então grita: Traidor!

Essa resposta é a mais ameaçadora, por alegar que Nós é um clube no qual todos são bem-vindos, mas a filiação de alguns é compulsória.

Nesse uso, Traidor não significa Antissemita, uma vez que se destina a pessoas que empatizam com a pilhagem dos atuais Semitas. Traidor não significa Pogromista, uma vez que se destina a pessoas que ainda empatizam com as vítimas do Pogrom. Esse termo é um dos poucos componentes do vocabulário dos racistas que perdura ao longo das eras; significa: Traidor da Raça.

E agora eu chego ao único elemento que o novo Antissemita ainda não compartilha com o velho Antissemita: Gleichschaltung, a ‘sincronização’ totalitária de toda atividade política e expressão. Toda a Raça deve marchar junto, no mesmo ritmo; todos devem obedecer.

A singularidade do condenado Eichmann é reduzida a uma diferença nos rituais festivos.

Parece-me que esses valentões não são mantenedores das tradições de uma cultura perseguida. Eles são Conversos, mas não ao Catolicismo de Fernando y Isabela; eles são Conversos à prática política do Fuehrer.

O longo exílio acabou; o refugiado perseguido finalmente retorna a Sião, mas depois de tantas cicatrizes ele se encontra irreconhecível, ele se perdeu completamente; ele retorna como Antissemita, como Pogromista, como assassino em massa; as eras de exílio e sofrimento ainda estão inclusas na sua maquiagem, mas meramente como autojustificativas, e como um repertório de horrores pra impor nos Primitivos e mesmo na própria Terra.

Penso que já mostrei que a experiência do Holocausto, independente se vivida ou assistida, por si só, não leva um indivíduo a ser crítico de Pogroms, e também não confere poderes especiais nem dá a alguém uma licença pra matar ou ser um assassino em massa.

Mas eu ainda nem sequer toquei na questão mais ampla que tudo isso suscita: Posso começar a explicar por que alguém escolhe ser um assassino em massa?

Penso que posso começar a responder. Sob o risco de plagiar o retrato de Sartre sobre o velho Antissemita, eu posso ao menos tentar apontar pra um ou dois dos elementos no campo de escolha do novo Antissemita.

Eu posso começar por notar que o novo Antissemita não é realmente tão diferente de qualquer outro espectador de TV, e que assistir TV se encontra em algum lugar central a essa escolha (eu incluo jornais e filmes sob a abreviação de ‘tell-a-vision’).

O que o espectador assiste na tela são alguns dos feitos ‘interessantes’, filtrados e censurados, do conjunto monstruoso que ele desempenha um papel trivial mas cotidiano. A atividade central mas pouco televisionada desse vasto conjunto é o trabalho industrial e clerical, o trabalho compulsório, ou simplesmente só trabalho, o Arbeit que macht frei. [‘O Trabalho Liberta’: um slogan presente na entrada de campos de trabalho escravo Nazi.]

Solzhenitsyn, nos múltiplos volumes do seu Arquipélago Gulag, oferece uma análise profunda do que tal Arbeit faz na vida interna e externa de um indivíduo humano; uma análise comparavelmente profunda sobre a administração que ‘sincroniza’ a atividade, as instituições treinadoras que produzem os Eichmanns e Químicos que aplicam meios racionais na perpetração dos fins irracionais dos seus superiores ainda deve ser formulada.

Eu não posso resumir as descobertas de Solzhenitsyn; seus livros devem ser lidos. Num espaço curto eu posso apenas dizer que a parte da vida gasta no Arbeit, a trivialidade da existência num mercado de mercadorias como vendedor ou consumidor, trabalhador ou cliente, deixa um indivíduo sem parentesco ou comunidade ou significado; desumaniza-o, deixa-o vazio; não deixa nada dentro dele exceto as trivialidades que compõem o seu exterior. Ele não possui mais a centralidade, a significação, os auto-poderes conferidos a todos os membros das comunidades antigas que não mais existem. Ele nem mesmo possui a centralidade falsa das religiões, que preservavam uma memória das qualidades antigas enquanto conciliavam as pessoas a mundos onde essas qualidades estavam ausentes. Até mesmo as religiões foram esvaziadas, reduzidas a rituais vazios cujo significado fora há muito perdido.

O vazio está sempre lá; é como fome: machuca. Nada parece ser capaz de preenchê-lo.

Ah, mas existe algo que o preenche ou pelo menos leva a crer; pode ser serragem e não queijo ralado, mas dá ao estômago a ilusão de que está sendo alimentado; pode ser uma abdicação total dos auto-poderes, um auto-aniquilamento, mas cria a ilusão de auto-realização, de reapropriação dos auto-poderes perdidos.

Esse algo é a Visão Contada que pode ser assistida no tempo livre, e preferencialmente o tempo todo.

Ao escolher ser um Voyeur, o indivíduo pode assistir a tudo que ele não é mais.

Todos os auto-poderes que ele não mais possui, Isso tem, e Isso possui ainda mais poderes; Isso tem poderes que nenhum indivíduo jamais teve; Isso tem o poder de transformar desertos em florestas e florestas em desertos; Isso tem o poder de aniquilar povos e culturas que sobreviveram desde o princípio do tempo e não deixar traço algum de que já existiram; Isso tem ainda o poder de ressuscitar os povos e culturas desaparecidos e dotá-los de vida eterna sob o ar condicionado dos museus.

No caso do leitor ainda não ter adivinhado, Isso é o conjunto tecnológico, o processo industrial, o Messias chamado Progresso. É a América.

O indivíduo privado de significado decide dar o salto final para a falta de significado ao se identificar com o próprio processo que o priva deste. Ele se torna Nós o explorado se identificando com o explorador. Daí em diante, seus poderes são Nossos poderes, os poderes do conjunto, os poderes da aliança de trabalhadores com seus próprios chefes conhecida como Nação Desenvolvida. O indivíduo sem poder se torna uma engrenagem essencial no Deus todo poderoso que tudo conhece e tudo vê, o computador central; ele se torna um com a máquina.

Sua imersão se torna uma orgia durante as cruzadas contra aqueles que ainda se encontram fora da máquina: árvores intocadas, lobos, Primitivos.

Durante essas cruzadas, ele se torna um dos últimos Pioneiros; ele dá as mãos ao longo dos séculos aos Conquistadores da parte Sul e aos Pioneiros da parte Norte deste continente duplo; ele dá as mãos aos odiadores de Indígenas e aos Descobridores e Cruzados; ele ao menos sente a América correndo nas suas veias, a América que já fermentara nos caldeirões dos Alquimistas Europeus muito antes de Colon (o Converso) alcançar os Caribs, Raleigh os Algonquinos ou Cartier os Iroqueses; ele dá o coup de grâce à sua humanidade restante ao se identificar com o processo de extermínio da cultura, natureza e humanidade.

Se eu continuasse provavelmente chegaria a resultados já encontrados por W. Reich no seu estudo da psicologia de massa do Fascismo. Irrita-me que um novo Fascismo opte por usar a experiência das vítimas do Fascismo anterior entre as suas justificativas.