#title Poesias e Hinos Libertários #subtitle Hinos Anarco-Comunistas #author José Oiticica, Pedro Catallo, Edgard Leuenroth, Neno Vasco, etc. #SORTauthors José Oiticica, Edgard Leuenroth, Pedro Catallo, Neno Vasco. #SORTtopics Cultura, Poesia, Neno Vasco, José Oiticica #date 2019 #lang pt #pubdate 2019-12-08T23:00:00 #notes Esse livro de poesias não é o mesmo publicado pela revista anarquista A Sementeira, mas sim um compilado feito por Michel Felipe e Polyana Arenari a partir de diversos hinos e poesias anarquistas extraídos das páginas dos principais jornais da Imprensa Anarquista durante a República Velha até os anos 50, em especial do Jornal "A Plebe", de onde a maioria das poesias foram retiradas. (Os asteriscos demarcam os hinos anarquistas) *** Filhos do povo*
Filhos do povo, sofreis em extremo, -Lenta agonia, sem luz e sem ar, Mais vale o esforço dum ato supremo, Se a vida é pena, mais vale lutar! Esse vil mundo que atroz vos consome, Sobre esses ombros, despótico está; Lançai-o à terra, matai-o de fome, -Força suprema que o braço nos dá. Ah, revolução Abre o porvir! A exploração Há de sucumbir! Levanta-te povo leal Ao grito de Revolução Social! Ação, Ação! Não pedir leis! Valor e União Que livre sereis! Tomai de vez O bem estar Contra a burguesia Lutar! Lutar! Quando num gesto viril, soberano, Numa revolta de Ateu produtor, O homem dissipe a neblina de engano, Retome a terra, repila o senhor, Sobre os escombros, a livre Comuna, sem leis nem amos viva surgirá; Que a liberdade da vida nos una, Se tudo é de todos, escravos não há! Ah, revolução Abre o porvir! A exploração Há de sucumbir! Levanta-te povo leal Ao grito de Revolução Social! Ação, Ação! Não pedir leis! Valor e União Que livre sereis! Tomai de vez O bem estar Contra a burguesia Lutar! Lutar! *** Ser Anarquista
Ser anarquista é ser forte, É refletir a verdade; É pensar na triste sorte Desta pobre humanidade! É ser contra o banditismo Que se vê por todo mundo É querer o Comunismo Por ser humano e fecundo. O anarquista ultrapujante Quando fala às multidões, Parece um astro gigante, Da luz das constelações! Incita os povos escravos A lutar contra os senhores Criando exércitos de bravos Combatentes, vingadores. Demonstra que a Humanidade Tem de gozar sobre a Terra Da maior felicidade Que o raciocínio encerra! Se o burguês - monstro odioso - O condena à guilhotina, Por seu sangue generoso Se propaga a sã doutrina. Ser anarquista é ser grande Não temendo sacrifício, É querer que ninguém mande Pela força ou por suplício. *** Aos Operários E agora oh! Produtor, oh! Férvido Operário Que escravo, sonolento, exausto e moribundo Num século de luz, sucumbes sem vestuário, Faminto e obcecado, inerte e gemebundo: Não esperes jamais que o Estado, teu coveiro, Te venha defender das garras da riqueza: O estado é teu verdugo, O estado é carniceiro, O estado é a burguesia, o Estado é a torpeza! Os maiores ladrões e os grandes criminosos Ali vão se acoitar buscando a impunidade! Só eles são os bons, nós somos “perigosos” Defendendo a Justiça e exigindo a Verdade! Os homens do poder impedem que se aspire A flor da liberdade, a estrela do Anarquismo! Porque eles vem trazer por certo quem conspire Contra os crimes senis do falso socialismo! É por isso que espero e sonho o Povo unido, Soldado, camponês, doutores e operários Na mesma inspiração de um Ideal Partido Que destrua de fato a força dos sicários! Eu quero ser humano e praticar a Justiça! E vê-la praticada em todo este universo… E desejo igualmente a extinção da cobiça Pela união geral desse povo disperso! A terra não tem dono! As terras se tranqueiam! E entretanto ainda existe a tal propriedade! Pra dividir o Mundo em pátrias que guerreiam Combatendo o Direito, o amor e a Liberdade! Abaixo esta justiça iníqua que se vende! Abaixo às leis do pobre e não dos abastados! Que tal desigualdade o nosso brio ofende E nos faz com razão eternos revoltados! *** Procissão Trágica Procissão triste, negra, macábrica. Eles desfilam. Vem da fábrica, onde seus braços fecundadores geram riquezas… para os senhores… Na minha rua, vejo-os passar - jaqueta no ombro e a dor no olhar… Trágicos, sujos, em negro bando, passam abstratos, rotos, sonhando... Vêm das fadigas duras, malditas, que dão tesouros… aos parasitas… Passam crianças magras, cloróticas, Vêm das minas atrás, despóticas. Como entristece, como desola, ai! ver a infância roubada à escola e à Natureza materna e santa - pródiga mater, que ri e canta. Mulheres tristes e desgrenhadas, às casas voltam, apressuradas. Elas, que andaram a enriquecer gente que nunca viram, sequer, voltam aos lares, onde os filhinhos, choram, famintos e sem carinhos… O vulgo passa, passa a gentalha, que nos sustenta, sua, trabalha. Vêm do campo, vem da fábrica. Procissão triste, negra, macábrica… *** Ao operário Operário ignorante e maltrapilho, escravo, ilíota da moderna idade que neste afã perdes a cor e brilho de olhar, fanando a flor da mocidade, que vês de fome definhar teu filho e de teu lar fugir a alacridade, desperta finalmente e segue o trilho da rebeldia e da felicidade! Atenta na objeção em que caíste a ardente voz dos teus irmãos escuta, pensa na agrura de teu fado triste e, sem achares forças que te domem, quebra os grilhões, instrui-te e altivo luta por seres livres - para seres “Homem”! Por que estás assim triste? Vem pugir-me O peito esse profundo meditar… Vamos! A fronte erguida! Passo firme! Não vês o espaço aberto ao teu olhar? Tens devassado todos os mistérios À força do teu braço e pensamento, Poder sozinho derrubar impérios E tens medo de pôr-te em movimento? Sacode os membros teus entorpecidos, Mostra aos que te julgam ver-te moribundo Que és um leão de tétricos rugidos Que pode um dia avassalar o mundo!... *** Um Conselho… Donzelas que passais, risonhas para a Igreja, A ouvir devotamente a voz dum confessor: Que vos atrai ali? É o riso sedutor, Que a vossa alma infantil ambiciona e deseja? Esse antro secular, horrendo, só dardeja O mal… O padre é negro, é negro seu amor. Não penses, ó mulher, que o novo redentor, É aquele que sorri… sorri… mas que te beija!... Produto da ignorância, e do erro, e da mentira, A igreja deu ao mundo, ao som da sua lira, Uma lei - que ironia - a lei da servidão! Quereis cumprir, mulher, o teu maior dever? Foge da Igreja, foge! A igreja é um poder Que traz um Deus na boca e um punhal na mão… *** Aos poetas - Miséria Artista! Se te oprime a esquálida miséria, Se a grande falta de ouro amarra as tuas asas, Rojando-te no chão, na lama da matéria, Mesclando a fome vil ao sonho que te abrasas, Não te importe o clamor dessas turbas tão rasas, Não te importe o pungir da carne deletéria; Num solo de veludo ou num solo de brasas, Caminha, fito o olhar numa esperança etérea. Que te importa o banal? A propriedade? O mundo? Se te negam o pão, usa a força, expropria; Em vez de te humilhar, faz-te vagabundo! Vibra o pletro de luz por esse mundo fora, Mas lega, quando morto, à multidão sombria, Um grito de revolta e uma estrofe sonora. *** Dúvidas Quanta ilusão!... o céu mostra-se esquivo E surdo ao brado do universo inteiro… De dúvidas cruéis prisioneiro Tomba por terra o pensamento altivo. Dizem que Cristo, o filho de Deus vivo, A quem chamam também Deus verdadeiro, Veio ao mundo remir do Cativeiro, E vejo o mundo ainda tão cativo! Se os reis são sempre os reis, se o povo ignaro Não deixou de provar o duro freio, Da tirania, da miséria o travo. Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio, Se o homem chora e continua escravo, De que foi que Jesus salvar-nos veio? *** Morte… e depois? Que haverá depois da morte? - Em vão hei perguntado ao Sol, à Terra, à Lua, ao espaço ilimitado. Haverá, além da campa, acaso, um outro mundo, onde haja, como aqui, gente de carne e osso? um mundo vil, perverso, ignóbil, torpe, imundo, um mundo como o nosso? Ou um mundo melhor -o ideado pela Crença, onde os cultores do bem, terão a recompensa, e os sectários do mal, padecerão o eterno, horrendo e atroz suplício: -as chamas dum Inferno? -Mistério? Pra além da campa, enfim, do túmulo funério não consegui, ainda, o “sábio” penetrar… Em vão hei perguntado ao Sol, à Terra, ao mar: -Morte… e depois? Mistério!... Mas a mim sempre me quer parecer, que além da morte horrenda existe a seiva: o Nada que faz surgir da terra aos coisas aos milhões, ...e que a matéria humana, a um tempo é transformada em batatas, arroz, ciprestes ou melões… *** Aquele pobre Aquele pobre que nos pede esmola, Choramingando uma canção dolente, Simboliza a miséria incongruente, A falta de justiça que estiola. Ele teve a oficina por Escola… Outrora trabalhou alegremente; Hoje, morre de fome, horrivelmente, No meio dum monturo que desola. Seu esforço viril de proletário: Tornou inda mais rico o milionário: -Vampiro inconsolável de ambição. Às chagas purulentas deste mundo, Constituindo um mal -o mal profundo- Tem um remédio só: A revolução… *** Na Aldeia O sol morria ao longe! O sino da capela Tocava sem cessar, o dobre de finados… Morrera lá na aldeia uma gracil donzela, Que nunca confessou, ao padre, seus pecados. O povo ia rosnando à “louca”, à “falsa” estrela Que regenera a fé dos antepassados! Ela queria a vida intensa e tão singela, Que dá felicidade aos próprios desgraçados… Quando escutei a voz daquela gente rude, Daquela gente inculta, então eu soube e pude Analisar a força, enfim, do missionário: O padre engana o povo e mata-lhe o sentir; O fim da religião reside no mentir, Que leva ao sabujismo o pobre proletário… *** Balanço É duro o sofrimento! A dor é infinita! Por toda a parte existe um grande mal estar. O mundo é um vulcão. O grito da desdita É tão aterrador como a fúria do mar. Dos lados sobressai uma frase bendita, Coléria, vibrante, heróica e rutilar. Quem é que a pronuncia? Essa massa contrita. Que se ergue num rugido, olhando o seu penar. Porque tão forte gesto? A senda da revolta, Donde surgiu feroz? Palavra e pedra solta, Tem um alvo a atingir, na sua intimidade.... O luxo não tem leis, a miséria é demais. A luta por dinheiro é luta de chacais, Que só terá seu fim no reino da igualdade… *** O que minha mãe queria… Minha mãe, que morreu há muitos anos, Quis, em vida, fazer de mim um crente Nas “virtudes” de Deus onipotente E dos padres católicos romanos! Concebeu, minha mãe, ridentes planos… Meu futuro, seria certamente, Obedecer à igreja, cegamente, Sem descobrir sofismas, nem enganos. Mas desde que atingi a adolescência, E vi qual era o fim da religião: Pregar em toda parte a obediência, O servilismo, o dogma, a escravidão, Eu bani do meu cérebro tal demência: Deus não existe. O padre é um vilão… *** Arrependido O padre Jacinto fazia anos, Conforme velhos costumes, convidava amigos seus bons católicos romanos… Era um jantar… Em queixumes, dizia ditos sandeus: “Os tempos andam bicudos!... Não reparem os guisados deste modesto jantar. À sobremesa há canudos, que, depois dos guisados, iremos saborear.” Lá havia autoridades, do delegado aos juízes, e a Joaninha do arraial… Falavam em divindades, sobre ermidas e matrizes e vida paroquial. O cura pançudo e velho, tem a batina ensebada, ventas sujas de rapé. Quando ele lê o Evangelho, sua casa, então fechada, tresanda em forte chulé. Para o jantar, com esforços, ele matou um suíno, de cuja carne comeu. Mas, depois, teve remorsos do fratricídio ferino, e, cônscio, se arrependeu. *** Rebelião* Com gemidos agoureiros, Num pavoroso lamento, Lá fora perpassa o vento Chicoteando os pinheiros E à noite caliginosa, De uma tristeza superna, É como a boca monstruosa De uma monstruosa caverna. Chove. O arvoredo farfalha. Soturno o trovão ribomba Como longínqua metralha Depois o silêncio tomba, Pávido e trêmulo escuto, Mergulho a vista lá fora E vejo a terra de luto, E ouço uma voz que apavora. Como um vago murmúrio, Mansa a princípio, ela ecoa. Depois é um grito bravio Que pela noite reboa, Que para a noite se eleva Num pavoroso transporte, Como um soluço da treva, Como um frêmito da morte. Essa voz cheia de ameaças, De imprecações e rugidos É o clamor das populações, É a voz dos desprotegidos. Medonha, relutante e rouca, Vem desse mundo sombrio Dos que tiritaram de frio E não tem pão para a boca. Vem das lôbregas choupanas Onde em tarimbas sem nome Há criaturas humanas Agonizando com fome; Vem da cloaca deletéria Em que a "Justiça" comprime Esses que a mão da miséria Pôs no caminho do crime; Do quarte -açougue enorme- onde à espera da batalha, Morta de fadiga dorme A carne para metralha; Dos hospitais, dos hospícios, Das toscas onde ressona, A grey de todos os vícios Que a miséria proporciona. Ah! nesse grito funesto, Nesse rugido palpita Um rancoroso protesto; É o povo, a plebe maldita, Que sombria, ameaçadora, Nas vascas do sofrimento, Mistura aos nivos do vento A grande voz vingadora. Tremei, vampiros nojentos, Tremei, nos vossos dourados Palacetes opulentos! O sangue os desgraçados Sugai, bebei gota a gota, Não tarda que chegue o instante Em que a turba se levante Sedenta, faminta e rota. E quando comece a luta, Quando explodir a fomenta, A sociedade corrupta, Execrável e violenta, Iníqua, vil, criminosa, Há de cair aos pedaços, Há de voar em estilhaços, Numa ruína espantosa. *** Amor livre Virgens, erguei o olhar que às sombras do convento acostumou a andar cerrado para a luz, Deixai um instante só os êxtasis de cruz, e enchei-vos deste sol que brilha turbulento. Virgens: deixai o altar e o solo poeirento e o frio sepulcral da casa de Jesus e vinde, erguida a fronte e os lindos seios nus, para que o sol vos beije e vos abrace o vento. Deixai na cela áustera a timidez do olhar e vinde para a vida de rir e cantar os cânticos do amor, de força e de beleza. Vinde gozar a vida em toda plenitude e não faneis assim a vossa juventude com sonhos infantis duma banal pureza. A virgindade é quase um crime. Cada seio deve florir num ser tal como a terra em flores. Vencei o preconceito e os falsos vãos pudores em que vos abismais num subitâneo enleio. Dai-vos altivamente aos beijos, sem receio. Vida, gerai a vida e procriai amores. Glória ao túrgido peito! Honra das maternas dores! Honra ao ventre de mãe abençoada e cheio! Como na antiga Grécia esteta, redivida, à virgens desnudas a vossa carne altiva e fecunda, após, num sopro de energia. E vós, homens do amor, e vós que a desejais, arrancardes da fronte as ervas virginais, beija-as livremente à grande luz do dia. *** Primeiro de Maio* (cantado ao som de Nabucodonosor, de Verdi) Vem ó Maio, saúdam-te os povos, em ti colhem viril confiança, vem trazer-nos cerúlea bonança, vem, ó Maio, trazer-nos dias novos! Vibre o hino de esperanças aladas ao grão verde que o fruto matura, à capina onde a messe futura já floriu sobre as negras queimadas! Desertai, ó falanges de escravos, da lavoura, da negra oficina; um momento de trégua é fachina, ó abelhas, roubadas aos favos! Levantemos as mãos doloridas, e formemos um feixe fecundo: nós queremos remir este mundo dos senhores da terra e das vidas! Sofrimentos, ideais, juventudes, primaveras de túrbido arcano, verde Maio do gênero humano, dai coragem aos ânimos rudes! Implorai ao rebelde caído, com olhos fixos no nascente, ao obreiro que luta fremente, ao poeta gentil, esvaído. *** Maio Proletário* Ó Maio venturoso, ó grande dia! O teu ardente sol é a alegria que arpeja nos corações doridos Da multidão, que espalha os seus gemidos Na tortuosa e negra escravidão E na cruenta luta pela redenção. Saúdo em ti, Ó Maio promissor! A heroica e sublime proletária dor. Qual flâmula ao vento esvoaça, Brilhas assim na escuridão que passa De ódios, de rancor, de guerra e matanças. Saúdam-te, Ó Maio, as crianças, Os velhos, a mãe que chora, o proletário, O artista, o professor, o visionário, A juventude ardente onde viceja A liberdade que a humanidade almeja. Saúdam-te os povos subjugados Pela tirania de monstros, renegados, Trânsfugas da vida, da vida vendilhões Que aos homens livres deram-lhes grilhões, Pensando aprisionar o pensamento. Mas já a revolta ruge o seu lamento, A tempestade rui a cidadela, Da liberdade sente-se a procela. Ó Maio proletário e de esperanças, O teu hino é um poema de lembranças! Da histórica missão de quem trabalha És a rajada de luz que espalha O mirífico ideal que rumoreja Na esplendorosa aurora da peleja, És a primavera da vida que se apresta Trazer aos povos sua grande festa. Salve, Maio! Símbolo que traz a redenção humana da justiça e da paz! Foste tu do oprimido a fala, Libertaste o negro da senzala E da senzala recolheste o grito De escravo vil, acorrentado e aflito. E na dolorosa senda proletária Foste tu que iluminaste o pária. Eu te saúdo, Maio! Aspiração e luz! Saúdo o mártir e o povo que produz, Saúdo o pária, a orfandade aflita, A jovem esposa onde palpita A esperança de um porvir melhor. Ouves de Maio o épico clangor? Da sociedade velha e agonizante Surgirá uma nova e livre. AVANTE! *** Aos heróis de Chicago Para corporizar em versos cristalinos A suprema visão de oito semeadores Que sobraceiramente uniram seus destinos Em prol da redenção dos sofredores Para se causticar a fonte dos tratantes Que fizeram tolher o passo aos bandeirantes Paladinos do bem, dos mundos superiores, -É preciso verter as lágrimas do triste, Suportar e reagir aos aguilhões da fome; É preciso enfrentar a causa que persiste Na missão de manter o mal que nos consome. É preciso pairar acima da opulência, Ter nobre sentimento e ser puro altruísta, É preciso sentir, amar, ter complacência, Pensar e refletir, ser algo mais que artista; Definir e mostrar por atos de verdade, Tudo quanto elevar a causa da igualdade! Pelos tempos afora Desde o riso pagão à loucura cristã, Existiu a pletora Das leis a constituir uma justiça vã… Tal como antigamente o mesmo existe agora! Mas apesar das leis serem frutos da força Existe uma lei que jamais há quem torça -É a lei da vontade O desejo aguilhão da humanidade! Arautos decididos, Ousando conquistar nas praças de Chicago, Oito horas de labor em bem dos oprimidos, Não poderão gozar do sonho o belo afago. Presos foram sofrer sem culpa, nas prisões!.. Embora quatro heróis tenham sido enforcados, Alguém fez prosseguir seus gestos e ações E disto a prova está nas reivindicações Que desde 86 são fatos confirmados! Oito horas de labor para cada operário, Valem por uma luz na treva dum calvário! Faz avançar um grau na estrada que conduz, Ao édem da equidade o povo que produz. Irmãos que me escutais: se em vossos corações Arde a chama do amor em novas concepções, Deixai que se irradie esse calor fecundo Até se transformar em sol de novo mundo! *** Aos crentes Mortais, crede com fé, com viso de verdade, Verdade de pureza heroica e irrefutável, Que a crença que domina a tola humanidade É uma crença imbecil, corrupta e detestável. Da solidão astral nos chega a luz vigente A luz que a nossa treva afugenta e ilumina, E assim o amotinas vereis incontinente Na crença virtual a que julgais divina. Ao histrião e ao pulha e mesmo ao que domine Símbolos dessa crença infame, e desse mal, Daremos por lições a ler Kropotkine E não devemos crer que nossa alma é imortal! Gozemos com fervor o mundo, esse conjunto De crenças, de ilusões, de prantos, de maldades; Exploremos sem pejo a flor do tal assunto Ao forte despertar arcano das verdades… Funâmbulos, mastias, assim desta maneira Irão provavelmente atrás sem freguesia: Acabam-se os missais, a grande pagodeira. E o baile religioso ecoando vilania. Hipócritas de “deus”, palhaços infamantes, Impudentes cristãos e falsos clericais, Não mais conseguirão com capas de farsantes Vestir a humanidade em almas imortais! Brademos com fervor, mas com fervor imenso, Fervor que ao deus-natura alegrará por certo: Como um sábio qualquer a revirar com senso As folhas colossais de um grande livro aberto. *** Primeiro de Maio Meus irmãos proletários, este dia Faz de susto tremer a burguesia De todo mundo, em toda vasta terra, Que num gesto de medo e de pavor Vai pelo mundo semeando a dor, A miséria e o crime, o luto e a Guerra. De seus crimes horrendos, sanguinários, Tem receio que nós, os proletários, Lhe vamos pedir contas algum dia; Receia ver as turbas despertadas E ouvir o galopar das cavalgadas Do ideal, da liberdade, da Anarquia! Embriagando as massas de prazer, A canalha dourada quer fazer Dum protesto um motivo de alegria; E assim lavar as mãos ensanguentadas Nas vidas proletárias, arrancadas Ao sol da liberdade e da anarquia! Procuram iludir, com vis enganos, Os burgueses velhacos e tiranos, À foice, ao camartelo, à enxada e ao malho; Chamando ao dia Primeiro de Maio, De propósito, a Festa do Trabalho. Repudiai esse insulto, proletários! Respodei aos tiranos salafrários Cruzando os vossos braços neste dia. Conquistemos a vida dando a morte Às colunas sociais da tirania! Cantando ao som da "Internacional", Irmanados pelo braço fraternal, Proclamemos a nossa redenção: Saudando o sol de Maio que há de vir, Marchemos à conquista do porvir, Fazendo os funerais da escravidão. *** O Amor Aí tendes o amor do século pujante, A potentosa lei que há-de reger o mundo, Quando o sol, que hoje rompe apenas no levante, Atingir do zênite o páramo fecundo. É forçoso que após a morte desastrosa Das divindades vãs, fantásticas de outrora Se eleve, como um astro, a crença luminosa De uma igreja maior, mais forte e duradoura. Seja pois o universo a Grande Igreja Onde o novo ritual em pompas de Thabor se célebre, e cada um sacerdote seja E cada peito o altar da religião do amor. *** A Hora Eis a Hora, a grande hora da peleja, Hora de sacrifícios e entusiasmo! Pulsa meu coração, meu peito arqueja No momento da ação repleto e pasmo. É a batalha final! Trovo, troveja, Além-mar, o canhão; foi-se o marasmo Da plebe una, e a revolta benfazeja Move espada e morrão, ódio e sarcasmo. Levantam-se os escravos contra os amos! Há um clamor de vitória em toda a Terra… Somos nós, anarquistas, que clamamos! Nós que vamos sorrindo e subvertendo, Arrastando os irmãos à Maior Guerra, Num rebate de loucos, estupendo! *** O Protesto Protesto contra o mal da força e da justiça: Um degrada a fraqueza, outro excita à agressão; Contra a fé que reduz o homem a alma submissa, Iludindo-o com céus que nunca se abrirão. Clamo contra o senhor, clamo contra a cobiça, Inventora de leis, criadora de opressão. Sou Spártacus e odeio a pátria se esperdiça Meu sangue e faz, do suor, esforço hostil e vão. Bradam, no meu protesto, os prantos do passado… Ira acesa de todo um mundo sofredor; Mártir do amo, do rei, do padre, do soldado! Sou a nova intuição contra a lei do Senhor; Sou a ação que destrói a moral do pecado, Para erigir o orgulho e libertar o amor. *** A Cidade Sinto a repulsa dos dominadores… Sou novo, sou ateu, sou anarquista; Não sigo a mesma norma dos doutores E ergo, acima das baias, minha vista. Aperto, entre meus dedos compressores, A garganta da casta comodista; Anuncio outra lei e outros valores; Sou a palavra santa que conquista. Vou sozinho, arrostando o ódio dos amos… E em pó, no topo da colina extrema, Indico ao povo a Sião para onde vamos: Vamos para a cidade iluminada! Vejo-a ao longe, a faiscar, como diadema, Entre a prata e os carmins da madrugada. *** Marselhesa de Fogo* A chama a crepitar! E círculo formai! Dançai! Dançai! De arechole, aceso o mundo iluminai! Correi, correi, filhos do povo! Deixai a pena e vinde ver… Vinde assistir o quadro novo: O bargo vil, a arder, a arder! A chama alegre, a crepitar Anda e corre, entre os casebres; Arde covil de fome e febres: A chama heroica sobre o ar… A chama heroica sobe, voa: Sobre as pocilgas- rubro vem!: E o crepitar do fogo entoa: Uma canção sobre o céu… Quanta miséria desinfeta: O burgo é vêlo, o fogo é bom! A chama sobe em linha reta… O burgo tudo esboroa, A chama varre a podridão. Oh! Como a terra será boa! Oh! Quantos meses brotarão! Colhe as panteras no covil, Queimada vá! Colhe as serpentes! A chama tem línguas frementes, E põe no céu o tom febril… A chama faz cair tugúrios, E faz ruir prisões também, Lambe quartéis, mantos purpúreos, A podridão que a terra tem… Enquanto o burgo se reduz A brasas rubras, fumegantes, Duma potente e nova luz A chama canta, salta e corre, O velho burgo tomba enfim, Oh! Quanto abutre cai e morre! Oh! Quanto abutre em seu festim! De face arder- que a chama crésia! Ó parias nus, vinde dançar Dançar em rosa, correr, cantar Que esta fogueira é nossa festa! *** Marselhesa Anarquista (A Marselhesa de Fome)* Eia, rebelde, para a rua, Formemos todos nós legião! Nossa alma cheia de ódio estua, Ruge violenta como um leão! Chega o momento da vingança, Basta de fome e de sofrer! Com a submissão nada se alcança, Tudo se alcança a combater! Chega o momento da vindicta, Vem teu direito reclamar! Todo esse povo que se agita, Todo é de irmãos, vai batalhar! Vamos! A nossa luta que te invida, Não é de iguais, não, contra-iguais; Não é a luta fratricida, Que faz dos homens animais; Não é a luta repelente Que entre si fazem as nações, Em benefício unicamente Dos financeiros tubarões… A nossa luta é santa e nobre, tão sagrada como o ideal, É o doloroso afã do pobre Contra a opressão do Capital. Todos seremos bons soldados, Sem generais a dirigir; Todos seremos compensados, Quando a vitória nos sorrir! Não são as riquezas que queremos, Que o ouro é o veneno mais atroz; As honrarias desprezamos, Que não há deuses entre nós. A todos cabe igual direito, Somos irmãos de igual valor; Pois, a uma voz negamos preito Ao que torna-se ostentador. Vamos! A luta que te fascina, Que para a rua nos atrai Não é a vil guerra assassina Que a toda parte lança um ai! Escuta bem! Não ouves perto, Do prélio, o estrépido viril? Não vês que sopra do deserto Um furacão torvo e febril? Pois é coitada espécie humana Que ora desperta e, com altivez, Se empunha numa guerra insana, Contra o inimigo, o vil burguês; Pois é o simun da alta justiça Que vem varrer o mundo, enfim, Das perversões e da injustiça, Que o fazem tão cruel assim… Eia, rebelde, se tens fome, Se estás cansado a sofrer; Se a tirania te consome As alegrias do viver, Ergue-te e vem, torna-te um bravo, Pelo ideal luta também. Enquanto fores um escravo, Somente és digno de desdém! *** A Ronda Heróica Pela santa Anarquia -ideal humano-, Mais uma vez, o cárcere transpus… E aqui, neste cubículo tirano, Aos meus dou perdão, como Jesus. Sei que através de muito desengano, Temos de ensanguentar a nossa cruz, E transformá-la, sós, ano após ano, De lenho infame em tocha que conduz. Na Espanha, heroico, o lábaro anarquista Vejo, em cada trincheira, trapejar… Aponta ao mundo o rumo da conquista! De olhos nele, prostemo-me a rezar… E, aos poucos, vai surgindo, à minha vista, A ronda dos seus mortos a cantar! *** Anarquia Para a anarquia vai a humanidade Que da anarquia a humanidade vem! Vide como esse ideal do acordo invade As classes todas pelo mundo além! Que importa que a fração dos ricos brade Vendo que a antiga lei não se mantém? Hão de ruir as muralhas da Cidade, Que não há fortalezas contra o bem. Façam da ação dos subversivos crime, Persigam, matem, zombem... tudo em vão… A ideia, perseguida, é mais sublime, Pois nos rudes ataques à opressão, A cada herói que morra ou desanime Dezenas de outros bravos surgirão. *** Atroz Realidade Fui encontrá-lo em desespero infindo… A sua casa onde imperava a fome Abrigo dava a um queribum tão lindo, Quase a finar-se num sofrer sem nome, Na enxerga, a um canto, a companheira, rindo, Num riso louco o existir consome Sente que a vida, se lhe vai fugindo Sem forças ter pra que essa fuga dome… Há dias que essa família exausta Que forças teve pra um labor atroz Respira Morte por não ter pão, Enquanto à porta a humanidade fausta Passa, fingindo não lhe ouvir a voz Que em breve cansa de clamar em vão. *** Para um operário Trabalhaste dez lustros e segundo Mo disseram, morreste foi de fome, Como a sorte é variável neste mundo! Como a tua lembrança me consome! Não sei se tinhas prole, nem se o fundo Da sua alma era bom, nem qual teu nome, Porém sei que arrastaste um mal profundo Para a cova onde a dor se some! Descansa, lutador, em paz! Descansa! Tu, que nunca o descanso usufruíste Sobre a terra onde luz tanta bonança! Descansa, que o suor do teu trabalho Há de rolar no teu sepulcro triste Cristalizado em pérolas de orvalho! *** Liberdade!... De tombo em tombo, a rastejar na lama Manietada na ideia e de alma baça, A humanidade vive, geme e passa, Como se o mundo ardesse em rubra chama! Clama a justiça… e a dor bem alto clama… Chora a miséria, nua em plena praça… E, ao fim, como Jesus à negra taça De amargura põe termo neste drama! E o povo? É o triste e humílimo Messias Acorrentado à lei da iniquidade, sem revolta, nem queixas às judiarias! Como ele, aos ombros, com serenidade, Leva ao calvário a cruz, em nossos dias Onde aspira bradando: liberdade! *** Miséria Miséria! Um dia tu bateste à minha porta E ela logo se abriu ante o teu vulto esguio! Vinha do polo norte a tiritar de frio, De membros semi-nus, de fome quase morta! Apiedei-me de ti e dei-te o que te conforta, Dei-te tudo o quanto tinha: o pão, o vinho, o estio… E tu sempre faminta, o ventre, o olhar vazio, O mesmo aspecto nu e a mesma boca torta!... Depois ficamos sós, em frente à mesa nua… E a luta se travou, encarniçada e larga, Entre a minha existência e a destruição da tua! Ao peso, sucumbi, d'um golpe a toda carga… E, quando dei por mim… vagava em plena rua, Envolto e confundido em tua vida amarga!... *** A Fábrica Paro em frente da fábrica maldita Que se ergue, altiva, a meio d'uma rua E ao vê-la a alma queda-se contrita, E o coração, de dor, no peito estua. Meio dia na torre. O monstro apita. A legião dos párias tumultua. Um grande burburinho a rua agita. Eleva-se e no próprio ar flutua. Oh! Quanta dor a vida não traduz, -Penso então- quanto esforço nunca antes visto, Vivido assim nas fábricas sem luz, Trabalhador escravo, em face disto, Eu julgo mais pesada a tua cruz, Do que a cruz em que foi pregado Cristo! *** Ululo Ai vem o herói. Motim. Entusiasmo. Vitória. Bocalissimamente o entroniza a canalha. E o inconsciente, o imbecil, nos enxurros da escória, A enfunar-se, lá vai de retorno à batalha. Pilhou. Roubou. Matou. Prostituiu. A oratória Celebra o vencedor e o vencido atassalha. A infâmia organizada, a ferro e a palmatória, A inocência castiga, a velhice metralha. Horror. Execração. Generais, militares, Fazeis que o homem, que é bom, se degrade e assassine Da hiena e do chacal sois vós os avatares. Herói, é só quem faz que a razão se ilumine, E, para outrem vivendo, almas apostolares, É um Proudhon, é um Reclus, é um Pedro Kropotkine! *** Justiça Progredir, melhorar… Esgota-se a ampulheta, palpita o regular cronômetro. O aeroplano - abelha solta da colmeia do Planeta - sobrepaira à charrua, em terra, e à nau, no Oceano. É a Civilização, A fórmula obsoleta cede aos novos ideais do Pensamento humano. Mas o homem… inda arrasta a secular grilheta: É o mesmo réu, o mesmo algoz, Pobre tirano! Há séculos, ardendo em sede de justiça, nem vê que essa justiça é a velha farsa que arma a Audácia contra a Força inconsciente e submissa! E o mundo ascende! Mas os dias se consomem e a Humanidade sofre! E ninguém da o alarma, vendo o Homem ludibriado entre as mentiras do Homem! *** Anarquia Não me conformo com o que toda-a-gente, Essa mísera e informe carneirada, Opina e diz, sanciona, pensa e sente. Rebelo-me. Protesto. Faço assuada. Aos deuses não me curvo. Sou descrente. Juízes, soldadesca, padralhada, Ministros, deputados, presidente… Eu odeio de morte esta cambada! Ferve em meu peito uma revolta santa Contra toda feição de sacripanta. Detesto sobretudo a hipocrisia. E só descansarei da minha lida Quando o último burguês deixar a vida… -Como me chamo? -Eu chamo-me Anarquia! *** A nossa fogueira A fim de festejar o nosso dia, Pois o dia dos míseros não tarda, Vamos fazer uma vermelha orgia Para que o mundo das mentiras arda. Fogo na lei parcial que nos mentia E que se impunha a tiros de espingarda, Fogo nos santarrões de sacristia, Fogo na toga, no burel, na farda! Fogo nos bairros proletários onde A vergonha dos míseros se esconde; Que o conforto pertence a quem trabalha. A nova máquina social do povo, precisa ser como um alfange novo Que sai do coração de uma fornalha. *** A tirania Ergue-se altiva, sobre um tronco d'ossos: Aure o cheiro de sangue prazer; Alegra-lhe a alma crua, a morte ver: Com volúpia lacera os membros nossos. Nos albergues sem luz, nos fundos fossos, Onde os povos arrastam seu viver, Vê, sem prazer, os prantos, o sofrer, E passa, rindo, sobre seus destroços, Escraviza, acorrenta a Humanidade, Forceia por matar a liberdade, No sangue derramado dos seus crentes! Susta nas ósseas mãos, férreas cadeias, Sem dó algema os pulsos e as ideias… Té que acordem um dia os indiferentes… *** Pátria Nasceu um dia a Pátria a segurar A esverdeada flor da tirania. E essa força que a fez assim criar, É mais um erro aberto à luz do dia! É mais um erro! - Monstro a vomitar Ondas de sangue e cólera sombria!... - Para os famintos - multidão sem lar! - A Pátria é zero -X- Fantasia… Por ela sou herói no assassínio! -Posso matar em ânsias de extermínio, -Posso roubar altira ou furibundo… Por ela, o ódio imenso nas fronteiras, -Simbolizando em todas as bandeiras- Enche de dor o coração do mundo! *** A República Máscara transparente, que mal cobre a face da romana ditadura. Maquiavelismo com que se procura a revolta contêr que ensala o pobre. Simples mudança na nomenclatura política e social, visto que o nobre da Idade Média ainda hoje se descobre no tipo de burguês que nos tortura. Aborto da Revolução Francesa… Eis a nossa República burguesa. Uma babel de leis, um hibridismo, um arremedo de democracia, que num coito danado consorcia a Liberdade com o Capitalismo… *** Ferrer Ó Espanha negra e antiga Oh! Monstro de luto dor… Fuzilaste o Pensamento em todo seu esplendor! Espanha de Torquemada, Espanha medieval, tu és pátria brutal da Reação e da Turturada. Espanha fanatizada da ideia Nova inimiga, velho crime em ti se abriga cujo sangue mancha, ensopa! És vergonha da Europa, Ó Espanha negra e antiga No Tenebroso castelo de Montjuich - vil, odioso, Maura, o bandido p'rigoso matou o apóstolo do Belo. o mártir que, com disvelo, espalhou na Terra, Amor… O sublime educador Ferrer - pensador sublime! Educar! Eis seu crime! Oh! Monstro de luto e dor! E supôs quem te governa, que com tal infâmia iníqua, matava a Obra profícua, chamada Escola Moderna! Oh! Não. A Espanha hodierna dar-lhe há mais incremento… -Triunfou teu intento, Espanha do jesuitismo; em prol do obscurantismo Fuzilaste o Pensamento. Mas qual Fenix fabulosa, Ferrer não pode morrer e a Obra há de renascer mais gentil e grandiosa! Essa cabeça formosa do austero Pensador terá como vingador a própria obra ideal! Nova Aurora universal! em todo seu esplendor. *** A Escola Moderna A grande Instituição, que o velho professor Fundara, para dar à humanidade nova, A luz de outro saber, o sol de um outro amor, Não tinha inda o batismo, a convincente prova Do seu real valor, da sua alta missão, Que aos crentes inspirasse a fé que se renova… Apóstolo tenaz, homem de convicção, Ferrer se devotara ao bem da humanidade, -Cavaleiro do Ideal e pioneiro da Ação! Instruía; e pregava a solidariedade Entre os homens, iguais no amor, visando um fim: -Criar um novo tipo à velha sociedade. E o novo ensino foi se difundindo assim, Qual luz feral que à treva afugenta e combate, Ou toque, a despertar, de estrídulo clarim! Porém, a tão grandiosa e tão profundo embate, Contra as leis, contra o altar, contra a ordem e a rotina, A reação se impou de igual força e quilate! E a espada unida à cruz, a sentença assassina Traço, na escuridão da “semana sangrenta”, De imolação ao Justo, à alma sã que ilumina… ...Banhou com sangue o ideal! E o sangue, tumultuário, Germina e faz-se luz e em mil fontes rebenta!... E, religião do amor, o Ensino Humanitário Em batismo de luz as almas dissenta! *** Francisco Ferrer -"Educar para vida a mocidade, Para uma vida forte e sem mentira? Que horror! Isto é heresia, isto conspira Contra o rei, contra Deus e a Sociedade! Morte ao infiel, ao que à anarquia aspira! A terra é muito nossa propriedade. A igreja é a base real da autoridade, É ela que ao trono ampara e ao trono inspira! Morte ao infiel!" E a terra, horrorizada, Viu a ressurreição da Torquemada De um mar de sangue tétrico e iracundo. Num renascer da inquisitória sanha, Viu Ferrer sucumbir dentro da Espanha, -Para viver no coração do Mundo! No universo, nesta hora, ainda ressoa O estrépito fatal dessa descarga Que arrebatou a vida doce-amarga Desse heróico Ferrer de alma tão boa! O homem morreu… No entanto, nada embarga Sua obra, que a treva amaldiçoa, Mas que hoje, enfim, por toda parte ecoa, Numa explosão de luz fecunda e larga! A obra forte e vivaz do Pensamento, Não depende de um homem, de uma vida, Não se destrói à bala num momento: Pelo progresso humano é produzida, Nasce, cresce, floreja do fermento Da aspiração dos povos reunida! Ferrer! Que mal fez aquela alma iluminada e sã? -Cavaleiro do Livre Pensamento, era um filho da Humanidade Eleita era um dos semeadores da colheita, do amanhã! Ao disparo homicida dos mosqueteiros espanhóis, estampou-se por todo o calabouço, uma indeterminada, indefinida, reticência de sóis… Homem livre e homem puro, inda me ecoam n'alma e julgo que inda as ouço, as descargas das régias carabinas, que pontuaram, à luz das horas matutinas, A Marselhesa do Futuro! *** Dom Quixote A espada à cinta, a pluma ao vento, a lança em riste, -Eia meu Rocinante, á conquista da Ideia! De lutar em lutar, de epopeia em epopeia, Ora com fúria brava, ora com airoso chiste, Busquemos o que é lindo e grande entre a colmeia, Doida da vida, o pletro é insano e triste… Venceremos, porém: nada, nada resiste Ao condão que me anima -o amor de Dulcineia. Sus! É enorme e confusa a vastidão do Verso, É mesmo um radioso, um fúlgido universo, Onde brilham, febris, almas, constelações, A Rima, a Ideia, a Forma… e onde, vaidosa e esquiva, Reina, domina a musa -um sol de luz tão viva Que deslumbra e que abate e queima os corações. *** A Justiça Ouves! Retumba a torva tempestade Que pavorosa envolve a humanidade, No turbilhão, perene dessa vida, Que a casta não a vê já dissolvida. Cultos, deuses, senhores poderosos, Erguem-se insustantes, vis, jocosos Defronte à torpe massa que desfila Sobre uma carga enorme, que aniquila E que alguém erga a voz debilitada, Que diga que quer pão, que quer abrigo, Como na esquina o trôpego mendigo!... Que invoque a lei sagrada ou a justiça, Que num leito de vil ouro se espreguiça: Caprichosa, Cruel, Ensanguentada!... *** Raciocinando Tudo é mentira! Deus, moral e humanidade! Mentira o céu, mentira a terra, mentira o amor! Só se vive do mal, da dor, da iniquidade, E todo esse progresso é morte e despudor! Há sempre covardia, infâmia, atrocidade, Canalhas no prazer, canalhas numa dor, Fingidos que a chorar imploram caridade, E falsa proteção que imita o benfeitor! É crime cobiçar os frutos do trabalho, Pedir junto ao burguês aumento de ordenado, Alguém que esteja nu não peça um agasalho… E pobre mortal que queira a Liberdade… Pois não se vai bolir no cancro alicerçado, Que se convencionou chamar de propriedade! *** Um pavoroso milagre Se até hoje vivi impenitente, Tão revolucionário e tão íncreo, A culpa não foi minha unicamente, Cabe parte maior ao Deus do céu… Olhei a terra, as coisas, o alto, ansioso, Buscando, aflito, o sobrenatural. Não encontrei sinais do deus famoso, Tudo que vi, foi tudo material… *** A um púlpito quebrado Estás inofensivo, estás vazio, Velho caixão malvado. Que trazias de Roma, consignado Às multidões beatas, O preconceito estúpido e sombrio E o dogma bestial de quatro patas. Tu nunca foste compassivo e terno: Ao pobre, quase nu, Que lhe dizias tu? Os terrores dramáticos do inferno. Para todos os teus lados, Blasfemava feroz contra o "Progresso", Que foi 93? Um processo, Crivado de pecados; A liberdade, um sonho sedicioso; A ciência, uma cínica atrevida. Só a religião é que é a vida E a reza, o largo porto bonançoso. Da imprensa tu disseste mais horrores, Do que Mafoma disse do toucinho… É o pestífero ninho, Dos abutres do mal e da impiedade, Covil de pecadores Que tem de arder por toda eternidade. Hoje, caída em ruínas a capela, Estas à chuva e ao vento e ao sol aberto… Estás melhor, decerto. Hoje, em lugar do círio, vez a estrela. Do mau cheiro de incenso desinfeto, Agora permutou-te A viva aragem fresca da cantina; E tens por vasto, radioso teto, A cúpula divina, A constelada abóboda da noite. Em vez do órgão fanhoso, ouves agora O cântico das aves, As músicas da aurora E sobre as tuas traves, Donde escorria a onda das asneiras, gemem de amor as pombas forasteiras. Novo padre jacinto, sacudiste O teu julgo católico romano E em vez de velho púlpito tão triste. És um digno caixão livre e profano, E, pois, te restituiste, A grande comunhão da natureza, Acharás, com certeza, Um fim mais nobre, donde te provenha De ser últil a explêndida alegria: Acabarás em lenha, Para aquecer de um pobre a noite fria. *** Barbas de molho O vigário da Tapera -gordo, nédio e rebicundo- Foi-se um dia deste mundo, berrando como uma fera. E acudindo aos berros seus, -Dele que em Deus tanto cria- Outro pároco dizia: "Morre na graça de deus" Mas... qual? Depois do traspasse, É que o cura mais padece: Não houve deus… que o salvasse, nem demônio... que o quisesse. *** Pecados Eu era um nada. Um dia, transformado, Alguma coisa vim a ser, perdida… Se a pecar eu nasci predestinado, A culpa vem do autor desa medida! Só ele consertou o predicado, Que se resume em mim ou consolida; Não fui sequer ouvido ou convidado Visto o não-ser que eu era antes da vida! Querem agora mistificadores Que estão como eu estou, na ignorância, ditar das leis divinas seus furores… Para mim nada vale esta jactância… Que culpa eu tive de nascer, senhores? Por que pedir de Deus a tolerância? *** A um padre Monstro abjeto que envergas a batina E és da treva a perfeita encarnação, Satanás te criou para a ruína E miséria da humana criação! Tens a espinha maleável e ferina Língua que só nos fala em maldição, Iludes de maneira a mais ladina E és inimigo da ciência e da instrução! Que irias, sem demora, para o inferno… Serias tu, sem dúvida, o primeiro Se, de fato, existisse o "fogo eterno", Porém, como isso é vã caraminhola, Tu vives enganando o mundo inteiro Ó digno descendente de Loyolla!... *** Cristo-proletário É a ti que me dirijo, humilde proletário. Mártir das opressões sociais, que és hoje em dia O piedoso judeu que o clero e a burguesia Arrastam sob a cruz da miséria ao calvário: Ergue a fronte e abandona esse ar de covardia, A servil submissão deste Cristo lendário, Torna-te um revoltado, um ladrão, um incendiário, Mas lança fora do ombro a cruz que te angustia! Ouve a voz da razão, contempla a luz da ciência, Olha a fartura que há, o luxo desbragado, Vê o opróbrio em que estás nessa negra indigência! Enfrenta a corja vil que à morte te conduz: Mais vale ser no ardor da luta aniquilado, Do que morrer, inerme e triste, numa cruz! *** Não-Sim Sim-Não As luzes da cidade são punhais, que dançam no ar a dança das serpentes, prontos a atravessar, indiferentes o coração de todos os mortais. A orla das suas saias sensuais forma no espaço curvas envolventes que bailam em redor dos inocentes ao som surdo da música dos ais. Eles são sempre tristes, desgraçados; suas "matinas" tocam à "Finados", das suas bençãos parte maldição. Eles vivem, assim, discombinados, a se contraditar, discompassados: -Dizem sim, quando querem dizer não. *** O mineiro Ó mineiro, meu irmão! Tua vida é um calvário… Tu arrancas o carvão, para dar ao milionário! Não tens casa, não tens pão; Careces do necessário. És a presa do vilão, Passas fome- é teu fadário. Os teus filhos, enfessados, Trazem vincada no rosto, A dura lei dos forçados… De madrugada ao sol-posto Teus trabalhos arriscados, Só te produzem desgosto… E és a fonte da riqueza, Tu, mineiro, heróico e forte… Não conheces a beleza, Mas desafias a morte! Quando desces com destreza À mina -escura consorte- Sentes do ar a impureza E não tremes no teu porte… Vales mais que um general Porque és mais preciso à lida E à sociedade em geral. Vem pr'a luta decidida: E combate o capital Se queres mais graça na vida… *** O Trabalhador Levanta de manhã o bom trabalhador, Sereno e contrafeito, ao peso da desgraça Para a oficina vai o nobre lutador, Olhando com desdém pelo burguês que passa. Começa a trabalhar e no insano labor Gasta a força viril herdada de sua raça Enquanto o seu patrão, o infame explorador, No luxo e no prazer a vida inútil passa… E à tarde, quando volta à mísera morada, E põe-se a refletir na sorte desgraçada Solta gritos de dor como um leão a rugir. Desejando fazer, com desejo profundo, Explodir esse abjeto e miserável mundo E sobre a ruinaria outro mundo construir. *** O Merecimento Tenho calos nas mãos e searas na alma. Semeio e colho para os meus irmãos. Meu prêmio é merecer e minha palma Ver todos menos dúbios e mais sãos. Feliz de quem, tateando embora, enxalma Chagas alheias com piedosas mãos E, tirando de si, da força e calma, A inércia e ao mal estar dos homens vãos. No meio da subida eterna e rude Bendito o que tem braço para erguer, Glória ao que me levanta por virtude! E infeliz do que, vendo alguém sofrer, Podendo socorrê-lo, não o ajude E passe, indiferente ao seu dever. *** O Modelo Se querem que outros creiam, crê primeiro, Faz-te Boa Nova e acende-a em ti. Só terás gestos e aura de pioneiro Se tua alma for surto e frenesi. Quem deseja arrastar a seu outeiro Tribos sem deus precisa ser David, Ter uma harpa, ter juntas de guerreiro, Saber cantar e combater por si. Sê mais tu, mas alguém, sê punho rude, O sem par, o sozinho, o último, o herói, O que põe no melhor toda a virtude. Torna-te exemplo… o exemplo é que constrói Finge até que teu sonho não te ilude E que a tua amargura não te dói. *** Os Seringais Longe, na vastidão do Amazonas enorme, Crescem, fartas de seiva, as háveas colossais! Terra grande e ignorada, onde a guariba dorme E uma raça de heróis percorre os seringais. Florestas, rios! Sempre o verdor uniforme De matas e o fulgor de águas plenas e iguais… E ninguém que proteja essa terra e transforre, Fazendo-a, terra sã, produzir muito mais. Escravo da savana, infernado da Hileia, sem destino, sem pão, sem leis, sem lar, sem trato, Trabalha o seringueiro, estranho ao seu país. É o drama silencioso, a remota epopeia Do povo do Sertão que, no Brasil ingrato, Viva desamparado, oprimido e infeliz. *** A Prisão As grandes provações tornam as causas grandes! Nada sofro! Meu sonho há de ser sempre o que é. Do alto do meu Sinai fito areias e landes E prossigo a busca de Canaã, como Josué Tenho orgulho, alma sã, das espadas que brandes! Vieram todas de heróis que morreram de pé; E hoje, em prol do teu povo, entre o Altântico e os Andes. Melhor refulgirão, núncias de tua fé; Bendita está prisão que anima meu surto, Faz dessa Via-Sacra o caminho mais curto E enfeita minha cruz ao toque dos clarins! Bendita a provação que me ergue aos superiores, Justifica meu ato, unge meus dissabores E afirma, em toda a Terra, a glória dos meus fins! *** Viva o Chefe do Trabalho! Viva o chefe do trabalho! Pessoal, dê uma "viva" ao chefe do trabalho! Collor merece manifestação: Deu-vos brida,selim, chinca e vergalho E uma alfada legal a prestação. Viva "iô-iô", Lindolfo e seu esgalho: O Evaristo, o Agripino e o Pimentão! Eles vos levam, águias, para o talho, Bem amarrados à legislação. Gritai, ovacionai, enchei de vento A empáfia do Lindolfo safardana Ex-bernardista que vos perseguiu! Gritai! Com vosso grito uno e violento, Mandando o claque vil que vos engana À grandíssima puta que os pariu! *** José Oititica Neste imenso Brasil, tenho certeza, Não existe sociólogo fecundo Como tu que resolves bem no fundo Os contrastes da iníqua lei burguesa. Na maza, tens rebelde pira acesa, Na prosa, o dardo firme e furibundo, Se arremete com força contra o mundo E para extrair-lhe toda impureza Lênin brasileiro, te chamaram; --Parvos! -Se julgam que te melindraram Mais elevaram teu afoitamento… Já vem de longe a bulha que moveram Contra tí, certos mestres, que perderam Quando os venceste a golpes de talento! *** Guerrilheiro Órfão Guerrilheiro! Teus pais morreram pelo povo! Esquece a tua dor. Levanta-te de novo! Eu sei que já não tens a ternura, o carinho Dum coração de mãe, que murmura baixinho Uma prece de amor e de angústia suprema Pelo filho que parte em defesa dum lema. Já não podes ouvir aquela voz sublime Que enche a alma de luz e que tudo redime. Sim, já não te conforma a doce voz dum pai Que te diga a sorrir: “Luta meu filho...vai!” Não mais escutarás os contos à lareira… Mas a tua família é a Humanidade inteira Esquece a tua dor… Há que vencer o Mal. Vai juntar tua voz ao côro Universal. Que a paz estenda enfim, por sobre a Humanidade As asas de cetim ao sol da Liberdade! *** Anseios "Que belo seria o mundo, se não houvesse fronteiras, só uma língua se falasse, sem divisão de bandeiras! Maria, às vezes medito no que este mundo seria, tão simples e tão bonito, se nêle reinasse a harmonia! Que grande, minha Maria, que orbe formoso e jucundo, se o Milhão, vampiro imundo, não imperasse na Terra, provocando a fome e a guerra — que belo seria o mundo! Maria, vem ver passar legiões de homens úteis, sãos. A pátria manda-os marchar, Lá vão chacinar irmãos. Vão matar jovens e anciãos, destruir nações inteiras, violentar mães e solteiras, noivas como tu, Maria! Que belo o mundo seria, se não houvesse fronteiras! E a vida, então, minha amada, num mundo de paz, risonho, seria encanto, alvorada, dourado e perpétuo sonho. Que grande o mundo, que eu sonho, em que a gente se irmanasse num fratenizante enlace — mundo sem pátrias, sem guerra! Que lindo, se em toda a Terra só uma língua se falasse! ... Escuto na voz do vento um anátema deletério. Ouro, Moleque sangrento, vai desabar teu império! Vais ter o parto funéreo, mundo de dor, de sangueiras! Afinal, sem gargalheiras, os homens vão dar-se as mãos, num mundo livre, de irmãos, sem divisão de bandeiras! *** Escutai, ó povo Escuta bem, ó Povo, ó meu irmão, criador das maravilhas que há no globo: Tu, que a vida de todos tens na mão, és tratado como um leproso cão, és corrido atrozmente como um lobo. As veredas da História estão coalhadas do teu sangue plebeu, vermelho, puro — sangue das tuas carnes retalhadas, vertido em tuas épicas jornadas, na marcha ascensional para o futuro. Empunha o "knut" das cóleras supremas e expulsa os vendilhões do teu labor! Ó Povo, ó meu irmão, a pé, não tremas! Eia ! Estilhaça as prístinas algemas, e surge, enfim, redento e redentor! Salva o Viver do pântano do Vício, ó sempre ensanguentado e nunca exangue Seja a Vida prazer e não suplício ! Do ideal Porvir o rútilo edifício constrói-o, argamassado com teu sangue! Que o homem do homem seja companheiro, e não lobo esfaimado, como agora ! Do aúreo plinto destrona o deus Dinheiro — deus tigre, deus chacal, deus carniceiro, criador de todo o mal que nos devora ! O Deus tirano e velho do Infinito, o estulto Autor da feia Criação, deporta-o, povo, do Orbe ! O velho mito. Deus, sofrerá, caquético e proscrito, a vingança dos pósteros de Adão ! Sobre os escombros deste mundo imundo, nova Sodoma ignábil e sédiça, que um dilúvio de fogo, alto e profundo, subverterá — levanta o Novo Mundo, a Cidade Encantada da Justiça! Único Deus, ó Povo que amo tanto, relicário fiel da pura Ideia, este mundo infernal de luto e pranto, converte em Céu ! Compõe o último canto da tua formidável epopeia ! *** Espanha Sob o signo feroz da bárbara Falange, debate-se, convulsa, a Espanha alucinada. O espectro aterrador da parca Torquemada anda a brandir na treva o ensanguentado alfange. É um presídio a Espanha, horrível casamata. O guarda é um monstro — Franco — o anão inquisidor gerado por um lobo, em noite de pavor, num coito espúrio, vil, com sórdida beata. Prisioneiro da Cruz, da Espada e do Milhão, definha o triste Povo, em lento paroxismo. E os anarquistas vão, em lances de heroísmo, diariamente morrer em frente a um pelotão. Caçam-nos a Polícia, os padres e os soldados. Vivem na catacumba, ocultos, quais bandidos. E vêm, de vez em quando, à rua, destemidos, justiceiros, vingar os vilipendiados. E nesta nobre Espanha, imersa em crueldade, cimentado com o sangue e as lágrimas do Povo, andam alicerçando um mundo forte e novo -— o mundo ideal do Amor, da Paz, da Dignidade. *** Cocoriqué! Plínio! Plínio! tu tens mais fôlego que um gato E arrotas como um velho e fátuo garnizé. E agora, então, com teu cartaz de candidato, O teu cocoricô virou cocoriqué! Na rinha, ante os bonzões, tens ares de gaiato, De galito bisbórria a fazer rapapé. De palhaço de feira ou janjão caricato, A fingir-se de alguém quando nem nada êle é. Em teu terreiro, há só galos de fancaria E um galinheiro verde a rodear o patrão E doido por levar outra pancadaria. Cuidado! que o pessoal, se carrega na mão, Te aplica, desta vez, tão alta cirurgia, Que nunca mais serás, ó Plínio! Nem capão! *** O Delíquio Vejo, em torno, ganância e servilismo. Almas sem compostura e sem moral; E eu — poeta ingênuo, anjo anarquista — cismo Erguer uma nação neste lamal! Política, interesse, parceirismo. Dominam tudo e tudo levam mal. Há protestos sem força neste abismo E nenhuma repulsa nacional. Que fazer dessa indigna indiferença. Desse delíquio, desse despudor, - Dessa vergonha para o que age e pensa? Debalde movo o braço agitador… A inércia brasileira é muito extensa Para um só coração batalhador! *** Negrinho do Pastoreio Sempre, nos diversos tempos, Há erros da sociedade, E isto ainda persiste Na vida da humanidade. "Negrinho do Pastoreio" Retrata escravo e senhor. É a lenda conhecida, Que sempre nos causa dor. A História se repete: O senhor é industrial, O negrinho é o proletário, Que permite o capital. Com o castigo de seu amo Muito o negrinho sofreu, Pois em nome do poder Mil açoites recebeu. Houve, porém, um milagre, Não a favor do mais forte, Mas recompensa de pobre. Só mesmo depois da morte… *** O Povo O povo és tu, sou eu: nós somos povo. E bendigamos a perfeita graça De pertencer à multidão, à massa. Diante da qual me inclino e me comovo. Dela é que há de surgir o mundo novo. E partícula dessa, população, Sinto que a prepotência me esperança, Mas do posto em que estou não me demovo. Esqueço a Torre de Marfim da lenda. E, a clarinar, me envolvo na contenda, Ressangrando às pedradas e aos ápodos Nada de caridade ou de piedade, Mas de união ou solidariedade, Sendo todos por um, sendo um por todos. *** Canto Operário* Neste inferno proletário nossa vida se consome, ó escravos do salário; açoitados pela fome: Não é livre quem depende de potentes monstros d'aço. Não é livre quem se vende, só dispondo do seu braço. Vossos braços, Vosso braços, fortes laços sempre vivos enlaçai! Vida! vida decidida! Eia, uni-vos! Despertai! Desprezados, embalados na esperança, ficais sós! Luta! Luta resoluta! Confiança só em, vós! Tu és sangue, liberdade! Liberdade, tu és vida! Mas mentira, falsidade, quando aos pobres concedida. Liberdade e alegria ao trabalho fecundante! Seja a terra que nos cria para todos bôa amante! Vossos braços, etc. Nossas penas, nossas dores dão riqueza cumulada. Nem escravos, nem senhores sobre a Terra libertada! Homens todos, produzamos, nas cidades e nas minas! Comuns sejam - não dos amos campos, frutos, oficinas! Vossos braços, etc. Tudo, tudo produzimos; mas dispersos, nada temos! Separados, sucumbimos ; só unidos, venceremos! Um só corpo, produtores, desde os velhos às crianças: nossas forças, nossas flores, nossas ternas esperanças. Vossos braços, etc. Liberdade! Bem querido, irmã gêmea da Igualdade! Só contigo tem nascido entre os homens a Verdade! Liberdade, mãe da vida! na igualdade tens alento. Só teu seio tem guarida ao fraterno sentimento! Vossos braços, etc. *** A Lanterna Redivida Santa gente, que tens o bom costume De comer hóstias e sugar galhetas, Foge! procura os cafundós, e as gretas Do côio calafeta com betume! Pois, sem temer coroas e caretas, "A LANTERNA" de novo acende o lume. Toma do gladio de escaldante gume E põe-se á frente da hoste dos capetas! Que o tredo bando clerical se esconda, Que ele a riqueza se esbarronda, Com a viva luz que a escuridão desfaz. Guia-a, a pulsar-lhe vívido, no peito De desassombroso e de revoltas feito O coração de mestre Satanás. *** Hipocrisia Ei-la, a donzela cândida e formosa, Cheia de timidez e de inocência. Ajoelhada, qual uma criminosa. Ao pé do negro "altar-da-penitência". Aquela alma tão casta, cor-de-rosa, Purifica-se diante da impudencia: Eis a aurora sublime, esplendorosa, Pedindo à noite brilho e aurifulgencia! Triste ao ver esse quadro extraordinário, A estupidez humana considero, E ousadia do clero salafrário, Que, num contraste que o bom senso oprime, Põe Jesus ajoelhado aos pés de Nero, A Inocência a adorar o Vício e o Crime! *** (A seguinte poesia não possui nome ou referências) Uma figueira dá figo E não pôde dar cereja, Como deu a de que fala O padre cura da igreja. No que fala um padre cura Não se pode acreditar, Pois ele diz que trabalha Quando só sabe explorar. Procurem, descubram sempre Do milagre a exploração Se não há nêle metida Alguma tapeação... *** Por uma Nova Expulsão dos Padres Paulista, hoje como antigamente, vamos resistir à onda escura daquela tonsurada e gorda gente que o mundo expulsa e que o Brasil procura; Nós deste americano continente, pelas riquezas nossas e brandura, atraímos o clero repelente que nossa pura terra torna impura. Sigamos do passado o nobre exemplo; ponhamos um "Fechado" em cada templo, escrevamos nas hóstias: "É mentira". Basta de receber homens de saia, São Paulo nunca foi a Sapucaia; Fora, o lixo que o mundo nos atira!... *** O Confessor No claro céu brasílico, de novo O morcego, o vampiro clerical, Abre as lúbregas asas sobre o povo — Como na Espanha, como em Portugal Mosca —morcego onde depõe seu ovo Fermenta a podriqueira sensual... Não resiste das almas o renovo À varejeira, que é o satã papal! É o mal maior da multidão latina! Onde o morcego confessar impera, O despotismo, a corrupção domina. Demônio da discórdia nas famílias, É essa refalsada e negra fera Que inicia a moral das nossas filhas! *** Aos Coroados Faço aqui, (perdoai-me a bárbara heresia) o elogio da vossa astuta hipocrisia, como o fez da loucura, outr'ora, o grande Erasmo; com uma tonelada e meia de sarcasmo, enterro á estupidez que contra nós pragueja, Custa-me compreender (confesso esta verdade) aquilo a que chamais "santíssima trindade", isto é, o pai, a mãe e o filho de Belém, que S. Tomás de Aquino explica muito bem no seu livro imor...ai, a "Soma Teológica", obra de alta função beata e pedagógica. E isso ele deduz de operação comum, pela qual um mais um, mais um, é igual a um. Que havemos de fazer? Deixemos que assim seja, já que assim nos ordena a Santa Madre Igreja, que, por uma inversão de genealogía, mama nos filhos, desde o batismo na pia de água-benta, até a morte, isto é, até ao sepulcro com "carinho" materno e com cinismo pulcro. Repugna-me também vosso confessionário, que vós dizeis ser um canal intermediário que leva a alma aos céus, em passagem direta com toda a rapidez de um tiro de uma seta. Mas não discordo não, dessa definição de sacristía. Ele é também, na opinião de muita gente honrada e muita gente boa que não veste sotaina e não usa coroa, o canal através do qual os bons fiéis se canal... hizam, como as virgens nos bordeis. Enfim, "vós sois de um faro enorme e tão astuto, tendes tal corrupção e tal velhacaria, que é incrível até que o filho de Maria não seja inda velhaco e não seja corrupto, andando, há tanto tempo, em tão má companhia. *** O Padre É para o bem que o teu silêncio eu peço, padre, inimigo acérrimo da luz! Tua batina, padre, eu te confesso, De crimes um rosário ela conduz! Sempre zombaste da sagrada cruz; Sempre tolheste a marcha do progresso, negociante do corpo de Jesus, tu és a perfeição do retrocesso! E queres tu que o povo brasileiro, esse gigante intrépido e altaneiro, que glórias conquistou de armas na mão, se curve, humilde e reverentemente, ante a batina imunda e repelente que oculta crimes e devassidão! *** Aos Padres Ó famélica turba, ó crápulas nojentos, que buscais esconder os corpos pestilentos dentro de um saco imundo e ignóbil — a batina; Tremei de susto e horror, ó aves de rapina, Parasitas de Deus, ó estúpidos palhaços, Pois não podeis deter os gigantescos passos da civilização. O raciocínio humano não se deixa prender e, detestando o engano, já busca pela treva, em férvida ansiedade, a luz esplendorosa e pura da verdade. Ele não teme mais a vossa excomunhão, então eu vos lastimo, ó hipócritas figuras; O inferno, o purgatório, e todo esse montão de asneiras, já não cabe, ó corja de cretinos, nem, na imaginação simplória dos meninos, e servirá de exemplo às gerações futuras, Quando surgir o dia esplêndido de glória que ficará aluminando as páginas da história Pois banhada na luz da límpida alvorada, a humanidade, então, exausta e já cansada de sentir a pressão do vosso ignóbil jugo, há-de se transformar em vosso atroz verdugo e vos há-de esmagar com a mesma fúria insana com que quereis pisar a consciência humana. Depois para evitar que o cheiro nauseabundo que vos é peculiar, se espalhe pelo mundo, a humanidade irá depor vossa carcaça longo tempo a ferver em banho de potassa. E após, para evitar a contaminação Irá desinfectar a justiceira mão… *** Ébrio Caído jaz um ébrio na sarjeta! O corpo tem inchado e mal vestido; Expia todo mal de ter bebido No catre desonroso da valeta. Cedera das bebidas à veneta E delas fora a servo reduzida Agora, num trejeiro divertido, Às moscas que o farejam faz careta, -Escravo da bebida! Alguém murmura! -Como é possível dar-se assim ao vício! -E ao desgraçado cobre sem censura… Por que, de pejo assim lhe cobre o rosto? Se culpa tem, também, no malefício Quem vende, quem fabrica e cobra imposto? *** À Operária Definhas, carne em dor, nessa estufa doentia Onde impera o trabalho e reina a trama Onde a fome, roaz, brama de sol em sol. Brotaste na miséria e estas predestinada A sofrer, trabalhar e morrer estiolada, Sem que brilhe em teu seio a luz de um arrebol. Neste inferno a que foste atirada -a Oficina- A burguesia vil, corruptura, assassina Com sólidos grilhões te enleou e te prendeu. E o infando Capital o teu suor devora, Como a águia da Legenda espedaçava outrota A rija carnação do bravo Prometeu. Para o mundo atual, tu és, unicamente, A fonte do dinheiro, a máquina inconsciente, O ventre fértil que produz, a preço vil, A carne do prazer para os grandes da terra, A carne do canhão para dar passo à guerra E a carne que o industrial devora em seu covil! Ó mulher infeliz, luta, trabalha, morre! Mas o sangue, o suor da fonte te escorre Vai formando esse mar de fúria e indignação Que há de, enfim, subverter o negro Despotismo E de onde há de emergir, após o cataclismo, Um mundo mais feliz e sem falta do pão! *** Pequeno Proletário Tenho pena de ti, pequeno proletário, Que, de manhã à noite, aí no ofício Desperdiças, assim, por mísero salário. Os anos infantis, em troca de um ofício. Tenho pena de ti, vítima do corsário Da sociedade vil, por cujo sacrifício Te arrebanhou, sem dó, à voz do argentário, Julgando ainda ser isso um grande benefício. Hás de, amanhã, bem sei, oh pequenino estoico, Rebelde inveterado, hás de, por certo, ser, Contra esta malvadez, soldado bom e heróico. Alguém, então, zombando, esse teu proceder, Dirá que não és mais que um louco, um paranóico, Clamando pela luz do Rubro Amanhecer!... *** Desgarrão O operário não tem onde morar Coitado! E faz de um quarto infeto, imundo, Aperitivo, nojento, nauseabundo, O seu divino e sacrossanto lar. E ali, uma hora a rir, outra a chorar Ele arrasta a existência, neste mundo, Como um cachorro, inútil vagabundo, À procura de um lixo pra fuçar. É a multidão, este poder eterno, É esse alimento que o burguês consome Dando-lhe, em paga, um torturante inferno. Sempre esta coisa cômica e sem nome: O povo mata a fome ao governo E o governo reduz o povo à fome. *** A justiça Ouves! Retumba a torva tempestade Que pavorosa envolve a humanidade, No turbilhão perene dessa vida, Que a casta não a vê já dissolvida. Cultos, deuses, senhores poderosos, Erguem-se insustantes, vis, jocosos, Defronte à torpe massa que desfila, Sob uma carga enorme, que aniquila… E que alguém erga a voz debilitada, Que diga que quer pão, quer abrigo, Como na esquina o trôpego mendigo!... Que invoque a lei sagrada, ou a justiça, Que num leito vil de ouro se espreguiça: Caprichosa, Cruel, Ensanguentada!... *** Os Grevistas São operários, andrajosa gente que a enterondade inexorável mina e a miséria acorrenta, impeninte, aos horrores da vida da oficina. Na luta, desigual que os extermina, cada um, reconhecendo-se impotente, une-se ao seu irmão, na ancia supina, em solidariedade comovente. E unida, estuante ao fulvo sol da praça. Direito à vida -exora a população, Pede mais pão a turba sofredora. E tem como resposta, nesse abalo, o argumento da pata do cavalo e as eloquencias da metralhadora! *** O Último Grito Arvoras-te em juiz oh!... velha desdentada, Ignóbil sociedade!... Um crime existe?... É teu! Teu aim, que só desprezo em ti achei, mais nada!... Madrasta foste tu, e engeitado eu!... Quem te pediu a vida?... A vida desgraçada, Negra como um desterro, infâmia e labeu? Que mão me acalentou na hora atribulada?... Quem me ensinou o bem?... Quem me apontou o céu? Nunca o calor dum beijo, um riso de candura, Tudo que é santo e bom, e prende a criatura, Nada disso encontrei na vida peregrina!... Um crime deu-me o ser, do crime fui amigo: No mundo vil, entrei da roda p’lo postigo… Saio p’lo alçapão dum monstro: -A guilhotina! *** A ordem dos burgueses Problema social! gritam por toda parte; É a negra inscrição que trazem no estandarte. Soldados, resolvei este problema escuro! Prendei-lhe bem as mãos, colai-as contra o muro, E da-lhe uma descarga. Os cínicos farsantes! Obrigam a fechar cafés e restaurantes, Atiram-nos à cara os nomes mais imundos, Encarecem o pão, fazem baixar os fundos E não deixam dormir no leito a burguesia! *** Meu estandarte Eu mesmo nada sou… fragmento. bolha… sopro. Ser humilde… rapaz ingênuo… moço fraco… Mas o que há de estupendo é esta minha alma- escôpro Que lavra na alma vil do Pária a alma de um Graccho. Minha alma é de vidente, apóstolo ou profeta. Herói, reformador, rebelde, visionário. Guia das multidões, cultor do Gênio, poeta. Cinzelador de um novo e altivo lampadário. Minha bandeira é contra escravos, contra leis, Contra a inércia, a lisonja, a fraude, a letargia, Contra o açambarcamento, o crime a covardia, Cristos e vendilhões, messias e sandeus, Contra o erro, contra o mal e contra o velho Deus. Deus -mentira pregada à triste Humanidade. Sombrio inquisidor das trágicas alturas, Afirmação do mal, a treva, a iniquidade, -Deus que nunca sentiste as nossas amarguras! Meu estandarte quer e anseia a abolição Do monopólio infame e das fatais violências A extinção dos cardeais, papas, de eminencias. E quer a universal desapropriação! Brado de um canto vivo, extranho, singular, Sinto em mim o tropel das multidões, dos povos. E é previsto que em minha orquestra de mar, Há vibrações astrais, deslumbramentos novos. Vagabundo através dos tempos, das idades, Meu verbo só palpita em meio às tempestades Revelador do Ritmo e brunidor da Rima, Voa o aeroplano céus abaixo, céus acima, Quer meu verbo o auditório a fim dos vendavais, Verbo -aeronave a alçar-se aos intersiderais! Sentinela do meu torrão primaveril. Marco o roteiro ideal ao povo heróico e impávido. Sou terrível tufão oposto ao banqueiro ávido E macio terral ao pobre ou pária humil. Desejo levantar a Plebe miserável. Quero a aristocracia astral de multidão. E anseio apenas meu designio formidável. Elevação, elevação, elevação. *** Prazo aceitável Por estrada soturna, certa vez, Muito pachorrentamente, Ruminando o jantar farto e excelente, Passeava o rico de um burguês. A horas tantas, de súbito, um ladrão, Pondo o arcabuz à cara, em tom grosseiro, Pede-lhe a bolsa do dinheiro. Cheio de indignação Ia o burguês recriminar Aquela irreverência. Mas notou o arcabuz e, com prudência, Achou melhor calar E passar logo o cobre. O ladrão, entretanto, Era um ladrão correto e nobre, Que errara a vocação Podia ser um santo Em vez de ser ladrão: Pois o patife apenas retirou, Da carteira roubada, Uma parte, e a outra parte avolumada, Ao burguês entregou! Este, porém, à falta de um gendarme, Para recompensar a gentileza Do “colega” lhe disse com rudeza: -No juízo final hás de pagar-me Estes cobres que levas e são meus, Com os juros bem contados E capitalizados Pelo usurário que se chama Deus! Irônico, responde então o honesto Bandoleiro: -A tal me obrigo. Se um prazo longo assim me dás, amigo, Passa pra cá o resto… E assim, dessa maneira, Levou toda carteira. *** Peão da Energia Minha alma que se faz através dos incêndios, Que tem dynos e ergs dentro em seu calor astral, Senti um horror profundo ao ver os vilipêndios Desta era de abastarmento Universal. Meu ser onde lateja intensa força viva, Onde a energia potencial quer estourar, Despreza a gente vil, covarde, que se esquiva A cantar, a sofrer,a bramir, a lutar! *** Torquemada Da negra inquisição As sinistras fogueiras ateaste! E em nome da “santa” religião, De Deus em nome, às chamas atiraste De vítimas milhares!... Monstro horrendo! Teu nome, truculento inquisidor, Este nome, “que as vítimas tremendo Ouviam com horror”, Foi para a espavorida humanidade A mais lúgubre e atroz calamidade! Tua excial passagem pela terra Foi pior do que a peste e do que a guerra!... Enfim jazes aqui, Sob o peso de eterna execração! Maldição sobre ti! Maldição! Maldição! *** Bordo do Arlanza à Hora da Partida O transatlântico penadamente, No afã protocolar da despedida, Rumo da barra, avança, finalmente. Monstro – a Justiça – de armas embaladas, O Cais deixou, e apenas certa gente ali ficou pelas balaustradas a comentar o caso simplesmente Lenços se agitam num adeus final; Palpitam corações angustiados... já se não houve a Internacional. Repete o Estado a negreganda prova, Mais irmãos nossos seguem deportados - O Estado aduba a sementeira nova. *** O Sol da Nova Ideia As imagens dos célicos devassos Em negro pó desfeitas o ar semeiam; Levadas para o vento revolteiam Os deuses já morreram nos espaços Os altivos e os templos bamboleiam; Os tronos d’ouro estalavam ou baqueiam e fogem dos reis trêmulos dos paços. Dos credos sem sentido as densas brumas Se dissolvem na noite, quais espumas Na areia da praia que reluz! O mundo velho dorme em longa treva Entanto ao longe vejo que se eleva O sol da nova ideia a branca luz! *** Exortação Homem, livre serás, passados anos De lutas féras e de rebeldias E terás, afinal, teus belos dias De luz, de glórias, de prazer, de enganos. Livre, ao cabo de esforços sobrehumanos, Nesse futuro olheio de alegrias, Terás eliminado as vis, sombrias Pravidades de deuses e tiranos. Livre, aure então as celicas delicias Da vida livre, sorve-lhe as primicias, Sem mais temer dos lobos a alcateia. E, salvo enfim da escuridão noturna, Guarda em teu peito a gratidão diurna Para todos os mártires da Ideia! *** Tragi-Comédia Nos muros de Verdun, cravejados de balas, Tombam as multidões audazes e guerreiras; Ceifam-se as divisões e falanges inteiras Por sobre as povoações do Mosa, a ensanguentá-las… Os obuzes letais, varejando as trincheiras, Com deletério gás do bojo a envenená-las, Aniquilam no fogo as últimas fileiras Na insana decisão raivosa de assaltá-las… Vai a guerra feroz no seu período agudo E esses homens chacais esquecem-se de tudo Que diz respeito ao bem… na fúria da metralha… Correm do rio afora as águas encarnadas E, as almas, sem razão, combatem dementadas Na viva insensatez macabra da batalha… *** Laus Satan X Entre Deus e Satan -eu prefiro Satan… Jeová quer a lisonja, a submissa humildade, Mas Satan simboliza a revolta, o Amanhã, A independência, a rebeldia, a liberdade. Deus, a exigir salamaleques sem iguais, Castiga os que não o adulam, cumprimentam: Pois isto, a intimidade, o convívio, os umbrais Deste grão César não me induzem, nem me tentam. Satan foi a única alma ampla daquelas eras, O glorioso rebelde entre tantos escravos, Sublime sonhador de trágicas quimeras, Herói, batalhador no meio de mil bravos! *** O Fuzilamento de Ferrer (Injustiça) Ferrer -O pensador foi fuzilado Por levantar escolas -o libertário Sua vida fuzila-se na Praça! O governo não foi humanitário! Porque a monarquia jesuítica, (Duas coroas vis sem coração) Voltou aos tempos idos das fogueiras, Contra Deus e a civilização! Diz-se hipocritamente Cristã, Mentira da infame inquisição, Que neste século tenta inda imperar, Embora a universal reprovação. Pátria Castelar, infeliz Pátria Que fuzila seus filhos generosos, Filhos amantes, puros do progresso Nos mostrando horizontes luminosos! E essa pátria ingrata tenebrosa Não quer luz, mas sim a escuridão, Pois bem o século XX do progresso Escreve-lhe na fonte maldição!! Assim no Paraná grande injustiça Partida lá do Excelso Tribunal!!! Onde o baixo suborno e a irreflexão Decidem sem critério afinal!!! E a Lei, o Direito Secular? Nada prova? Ah! Só prova o improvável! -- O interesse baixo dos mandões Que defraudam de modo miserável! *** No Exílio… Na negra solidão deste degredo infindo, Neste recanto agreste onde a malária impera Numa angústia ferina e atroz desespera, A vida a pouco e pouco se vai, além, sumindo. Em meio da mata brava a Razão prolifera, Medra se concretiza e, alegre, vai florindo, O vergel do futuro, esperançoso e lindo C’os frutos da Verdade acena a quem espera. Bondoso e revoltado, o coração ferido Prosseguirei na luta heróico destemido Brandando altivamente: -Abaixo à tirania! Além já a divisa o Sol da Redenção Que um passo marcará a humana evolução. É o sol da liberdade, a sublime Anarquia! *** 1º de Maio Qual imenso vulcão em rubra efervescência, Sinto ter o meu peito em ódio fremitoso, -- Ora manifestado em viva incandescência, ora em fermentações de lance vaporoso. E no peso brutal dessa rude existência, No contínuo lutar da vida sem repouso, Correm-me pelo sangue indômito e raivoso Anseios de abrasar-me à luz da independência… E como aquela plêiade e temerária raça com rara impassidez clamara a tirania do burgo prepotente em tempos que lá vão, tu, ó Maio de luz e dor que agora passa, dá-me forças também, para com ardentia, proclamar do Porvir o sol da Redenção. *** O vampiro A crença popular afirma que de noite, Na hora em que o vento é frio e corta como açoite E, aproveitando a paz, tudo em silêncio dorme, O vampiro, esfaimado, horripilante, informe, Sai do seio feral de negra sepultura E pelo mundo afora atira-se, em procura Da criança que dorme a sorrir, inocente. Suga-lhe o sangue novo em fúria, avidamente E só deixa, refarto, a presa inanimada Quando desponta, ao longe, a estrela da alvorada! A burguesia é como o vampiro: com ansia, Aproveita da noite atroz da ignorância E há séculos exaure a pobre humanidade, E dorme pachorrenta e calma como um frade Que acabou de comer a ceia suculenta, Regada de Bordeaux, picada de pimenta… Lá no Oriente, porém, marcando um novo dia, A estrela alviçareira e bela da Anarquia Começa a despontar, resplendente e risonha. O vampiro, que à luz tem aversão medonha, Quando o astro cintilar, as trevas espancando, Buscará, com pavor, o seu covil nefando! Livres, enfim, do trasgo infame que os devora, Os homens gozarão a luz da Nova Aurora! *** Abrí! Eu Chamo-me Anarquia Eu sou o Turbilhão colérico e profundo, que vem varrer a terra, o ralo nunca antes visto Venho cheio de pó, cansado, todo imundo, Em toda parte o mal! Em toda parte o Cristo! Sou quem trago a sentença escrita contra o mundo, e que açoita o cavalo com sangue do anti-Cristo! Sou quem trago comigo os rotos esquadrões da plebe esguedelhada, anônima, assassina. Sou quem hei de varrer reis e religiões, a indignação de baixo, a cólera ferina Já chegou a Justiça, o sangue das Nações! -A pé, a pé, a pé! A cotovia trina! Papas, bispos e reis, peitos de diamante! como não chorareis ouvindo o grande abalo Alemanha, arremassa ao Reno o teu guante Tu, Igreja, renega antes que cante o galo, -Justiça, mostra já teu dedo flamejante! -Vingança, vei selar o teu feroz cavalo! *** A caserna Uma caserna que é? Um antro de assassinos Prontos a desbancar os tigres e as panteras Em chacinas brutais, impróprias destas eras… Que o povo já não é rebanho de suínos! Escola da maldade, ela ministra ensinos Tem dentes a fazer dos homens bestas-feras… Por isso ei-los matando, em trágicas esperas, Os pais mais os irmãos, embora pequeninos! Seu lema é ser passivo, automato, obediente; É ter o pensamento acorrentado à terra; É imolar à pátria o bem-estar e a vida; É ser um manequim de aspecto repilante; É ter no coração uma crueza seva; É ter a consciência, enfim, sempre oprimida! *** O Turbilhão Praça de Budapeste, ao badalar das duas, A neve esvoaça e cai, bocejam sentinelas. Nas torres de São Pedro à luz das arandelas, Espiam dois vitrais ardentes como luas. Silêncio e solidão. Mas eis que pelas ruas Ouve-se o regougar das humanas procelas, Massas de homens abrindo as ressecadas goelas, De mulheres sem pão, esfarrapadas, nuas! O escuro mar humano invade a velha praça, Rodamoinha, envolve, estronda, ulula, passa E quando no horizonte as hordas já se somem, Vê-se que alguém que ficou como vive centelha, Mantendo sobre a praça a bandeira vermelha, Na glória de existir, no orgulho de ser homem! *** Proletário Homem da gleba e do trabalho: A vida E o mundo te pertencem; ergue o porte Curvado ao peso da penosa lida, E vencerás a luta enorme e forte!... Estuda e aprende que verás vencida A presunção dos grandes, cuja sorte Não é melhor que a tua, enaltecida Numa vitória certa como a morte! Quem é mais do que tu na sociedade?... O luxo fátuo?... mescla de vaidade, Da fantasia, orgulho e ostentação?!... *** A BATALHA* Surgindo vem ao longe a nova aurora Que os povos há de unir e liberar Desperta rude, escravo, sem demora, Não leves toda a vida a meditar. Destroi as cruas leis da sujeição E quebra as vis algemas patronais! O mundo vai ter nova rotação, Os homens hão de ser todos iguais. É justo aos parasitas dar batalha, A terra só pertence a quem trabalha... Labutas atrelado ao cruel jugo, Em troca da miséria por desdouro Enquanto o teu patrão, o teu verdugo, Aumenta à tua custa o seu tesouro. É tempo já de erguer bem alta a voz, bradar ao causador do teu sofrer: A terra foi legada a todos nós; Trabalha tu também, é teu dever. É justo aos parasitas dar batalha, A terra só pertence a quem trabalha... Terrível convulsão sacode a terra Sedenta de Justiça e Liberdade. À guerra de opressão sucede a guerra Que tende a redimir a Humanidade. Saudemos, pois, o facho do porvir, Das hostes comunais suprema luz. O lema do futuro é produzir; Dos lucro só partilha quem produz. É justo aos parasitas dar batalha, A terra só pertence a quem trabalha... *** Um povo livre e feliz Um povo livre e feliz. Sem dúvida e sem temor; Foi esse o Ideal que fiz De um mundo superior. Uma jovem se desvia... Seja entregue ao Bom-Pastor Para ensinar-lhe (ó ironia!) Que é pecado amar o Amor. Afirmara, com razão, Uma sábia autoridade, Que não há religião Superior á Verdade. Tomem nota! É coisa séria. E não será contestada: — Tudo que existe é matéria, — Leve, sutil, ou pesada. A Igreja, ao vir, a República, Do Estado foi separada, Mas, se há uma festa pública Ela está representada. De joelhos põe-se a mulher, E diz ao desconhecido Segredos que ela não quer Dizer ao próprio marido Embora por mau me tomem Os simples e os fariseus, Eu indago: — Deus fez o Homem? Ou foi o Homem quem fez Deus? *** A Ideia Lá! Mas onde é lá? Aonde? -Espera, Coração indomado! O céu, que anseia A alma fiel, o céu da ideia, Em vão a buscas nessa imensa esfera! O espaço é mudo: a imensidade austera Debalde noite e dia se incendeia… Em nenhum astro, em nenhum sol se alteira A rosa ideal da eterna primavera! O paraíso e o templo da Verdade, Ó mundos, astros, sóis, constelações! Nenhum de vós o tem na imensidade… A ideia, o sumo Bem, o verbo, a essência, Só se revela aos homens e às nações No céu incorruptível da Consciência! *** Ibéria Terra. Quanto a palavra der, e nada mais. Só assim a não erra Quem a repara dos pensadores da serra, Carregada de sol e de pinhais. Terra -tumor de angústia de saber Se o mar é fundo e ao fim deixa passar… Uma antena da Europa a receber A voz do Longe que lhe quer falar… *** Presos por questões sociais Porque ousam defender princípios generosos Em contraposição a falsos preconceitos, Encerram-se em prisões os homens sem defeitos E deixam-se à vontade os grandes criminosos. Mas quem pode impedir os raios luminosos Do sol fecundador, em seus vitais efeitos? Ninguém tente afrontar legítimos direitos Pois só conseguirá torná-los mais viçosos! E vós que hoje rendes, num gesto bem sublime, O preito da justiça ao órgão A Batalha, Lembrai vossos irmãos a quem a dor oprime. Valei, pois, a quem sofre o sigma de canalha, E jaz numa prisão por cometer o crime De agir contra os vilões que roubam quem trabalha. *** Em Nome da Lei… Fui presa sem razão, em nome de uma lei… Dizei qual foi meu crime?... dizei-me, que eu não sei… Sou criminosa, infames, por defender-me?... Então, Devia consentir a minha desonra?...Não!... O infame sedutor não pode ter direito Como exige os meus braços, exigir o meu leito… Não basta já que eu viva curvada sobre o tear. Desde o romper da Aurora, sempre a trabalhar: A tecer… a tecer… a tecer-lhe a riqueza?! Não basta produzir e viver na pobreza?! Sou uma pobre mulher, mas tenho dignidade! Matai-me a trabalhar, matai-me à fome… há-de A mulher porventura, como aluga os braços, E em nome de uma lei, alugar aos ricaços, O coração e a alma? Tiranos! o que eu valho. Não o paga o vosso ouro como pode pagar o trabalho! Tirai-me o pão, porém… deixai-me o sentimento. Pedir a vós é o mesmo que suplicar ao vento… Oh! Mães, matei as vossas filhas num sacrário: Que não as veja o rico… Ao pobre, ao proletário Nem ao menos lhe deixam o único tesouro, -A honra: tudo usurpam os canalhas do ouro! -É em nome de uma lei… A lei do ferro e fogo A lei do quero e mando… é uma questão de jogo A honra proletária… Olhai quem me condena: São todos de sangue azul: Eu não lhes causo pena. Nem mesmo se comovem com o meu sofrer atroz. A responsabilidade desta injustiça feita No tribunal da Fé - um antro de suspeita. Quereis que confesse o crime?Pois bem, senhores, matei! E vós, matai-me agora, em nome dessa lei! *** Dentro da noite… Ia a noite avançada. Exposta ao vento, Escondida na ponta do portal Estava a pobre mãe já sem alento, Passando a fria noite de Natal. Buscando-a, dois filhinos se amparavam no tronco dessa mãe desventurada; Ao colo onde os seios ressecavam Estava o mais novinho… Desgraçada!... A vida é bem pesada para quem passa O dia a mendigar pelos caminhos, E a noite vai pousar com a desgraça À porta do burguês com seus filhinhos… Radiantes de alegria e de esperanças, Do que estas mais felizes e mais prendadas, Lá dentro, a voz alegre das crianças Soltará cristalinas gargalhadas… Que singular contraste oferece a vida! Lá dentro, a opulência a rir, contente, A miséria la fora, em plena lida, Destruindo e matando cruelmente. *** A pátria Rafeiro que trabalhas, te consomes Na fértil produção de toda a vida, E morres sem amparo; nem guarida, Mirrado p’la tortura de mil fomes: É vil, infame, a dor por ti carpida Pois que lutas p’la glória dos Renomes; É certo que trabalhas e não comes, Mas enches o Tesouro à Pátria querida. Que maior alegria e mais ventura Queres para ti, povo ignaro e rude, Que abrir em terra- pátria a sepultura? Das-me ouro; e em troca dou-te ataúde (Teu braço alugas tu com muita usura!) Trabalha, pois, e… Deus te dê saúde. *** A Velha inutilidade Há mil anos, dois mil, eu sei lá quantos, que o templo eleva à luz a frontaria imperturbável, rijida, sombria, na placidez marmórea dos seus santos. Mil gerações banharam com seus prantos os puidos degraus da escadaria, mas toda a humana dor, toda a agonia jamais acorda os ecos nos recantos. Impassível e calma, a catedral vê ante de si passar a infernal, macabra procissão dos dolorosos, e em vez de pão, de luz, de amor e abrigo, dá-lhes mentira, infernos e castigo e os braços duma cruz, silenciosos. *** A Canalha Ínfima escória humana, ò raça impertinente, Que pelo mundo andas gemendo quase nua: É estranha a tua alma, nessa dor fremente, Que de vezes a rugir, estoura pela rua… Nas rudes convulsões, é brazeada e quente Como um leão ensanguentado à luz da lua, Que ao ver a própria sombra a rastejar à frente, Avança para ela, escava e não recua. Mas triste multidão, ò multidão descalça, Aos teus gritos de fome atiram com metralha E adormeces ao som da caridade falsa… És no fundo dos tempos a ralé esquecida, E nem sabes, talvez, ó cega e vil canalha, Como é maior ainda, o teu direito à vida! *** Primeiro de Maio Quem vem lá?... Quem os mistérios rasga da noite e o pavor?... Quem faz caixões aos Impérios, com raboas de Fome e Dor? Que enorme exército inteiro se aproxima, e que rumor! Quem é o torvo carpinteiro?... Quem é o torvo rachador?... Hurrah! Hurrah! -volvem mil ecos, Hurrah! Hurrah! - o Trabalhador! Quem chorando, fia, fia… magros filhos em redor, a toalha para a Orgia, o lençol ao Imperador? Quem seus filhos nós enterra, mortos sem pão, cavador? Quem melhor reza na terra a ladainha da Dor!... Hurrar! hurrah! -volvem mil lágrimas. Hurrah! hurrar! -o Trabalhador! Faz hoje anos que na França, oh que luto de rigor! numa lutuosa matança, correu sangue de valor… Este sangue ao orbe inteiro brada Justiça! em clamor, Quem será o Justiceiro?... Qual o braço vingador?... Hurrah! hurrah! -acenam braços. Hurrah! hurrah! -o Trabalhador! Quem vem lá no nevoeiro, com tão rico esplendor? Que estranho exército inteiro!... diz, com medo, o Imperador. Quem faz turbar meus saraus? brada o rico mau senhor, Quem vem subindo os degraus?... Quem me fez mudar de cor?... Hurrah! hurrah! - volvem mil gritos. Hurrah! Hurrah! - o Trabalhador! *** Estribilho* Seja o mundo liberto da guerra, Sem fronteiras, prisões, potentados: 2x (Vivemos felizes na terra, Pelo amor e na paz irmanados) É mistér procedermos ao certo, Um por todos e todos por um! Seja o braço da paga liberto, Repartindo o labor comum! Não é justo ver nossos produtos Sobre a mesa de quem não produz… Aos obreiros pertenças os frutos, Seja o barco de quem conduz! A natura não faz explorados Nem aos ricos deu lauto festim… -Ou seremos na posse igualados Ou a lacta jamais terá fim! *** Era uma vez Assim começa a história; O rosário de cenas vai passando: Roubos, guerras e fome amontoando, No Deve e Haver sangrento da vitória. Do "câmbio negro" segue a trajetória O pançudo burguês que, transformando As migalhas do pobre, vai somando O ouro que lhe ofusca a vil memória. "Ao Lampeão" - era o grito popular Da França em convulsão de 89: E creio que o burguês isto conheça. Mas se, acaso, não quer se recordar, Aqui deixo cair, para que prove, Este pingo de cera na cabeça… *** Esqueça Deus Desperta humano Ser, e destemido propaga sem temor a liberdade; constrói sobre este mundo pervertido uma vida de mais fraternidade! Esquece esse fantasma desmentido que amedronta esta pobre humanidade, cujo amor pelos pobres é vendido na torpeza brutal da falsidade! Esse deus que desdenha dos aflitos que consente os banquetes desta orgia, que habita sempre em todos os malditos Que é amigo e protetor da burguesia, tão surdo que não ouve nossos gritos e quer matar-nos pela idolatria! *** Contraste Vamos! basta de farsas e basta de farsantes: Mil bombas à vapor jorrem desinfetantes Nesse velho bordel da igreja -O Vaticano. Cólera! faz-te mar Justiça! faz-te oceano, E inundai, submergir o Versalhes maldito De Jeová - O Rei- sol macábrio do infinito. Vamos, fogo ao covil! E enquanto salteadores, Nuncios, bispos, cardeais, cônegos, monsenhores, -Truculenta manada obesa de hipopótamos- Virgem-mãe dos heróis, ó Liberdade! E faze-nos transpôr, a grunhir, sem demoras, As fronteiras do globo em vinte e quatro horas! *** “Ou crê ou morre!” Religião! Religião! És só loucura! Bruxa que sugas o sangue à humanidade Tens agentes sublis Oh! crueldade! Espalham pelo mundo um mal sem cura! Também nos dobras da sotaina escura O bacilo da dor e da maldade! E propagam sem dó e sem piedade A mentira cruel, covarde, impura! Infeliz quem da malta se aproxima, Confiado na promessa que lhe ocorre! -Maldição infinita cai-lhe em cima. Da boca onde a peçonha em baba escorre Se ouve sempre o calor, que tudo intima: Há de crer no que eu quero… ou crê ou morre! *** Papai Noel e a Constituinte Estão reunidos os “papais” da gente, Empenhados na luta nacional Da escolha do raríssimo presente Que nos vão dar pras festas de Natal. Há discussões e insultos; certamente, Procurando escolher-nos, cada qual, O brinquedo mais fino e resistente, Alguma coisa nova, sem igual. E o genial concilio discutiu Mas por fim, meus amigos, descobriu Um presente de grego bonitinho Vão dar ao povo a Lei e a ordem, tudo Num calhamaço austero, cabeludo, Um cabresto e um frade capuchinho… *** A Volta* Velhos, mas duros de morrer, voltamos como partimos. -Não mudamos nada- diremos aos que virmos pela estrada. E ajuntaremos: -Meu irmão, cá estamos junto a ti para o bom trabalho; nossa fé, temperada pelo malho do exílio duro, descansar desdenha. O mundo escravo despertou agora depois de fundo sono e, à nova aurora, o interrompido afã recomeçamos. O velho amigo, abaixando o fronte, responderá que o furacão sem brida por vinte anos rugiu na Europa mestra, que toda nossa obra foi perdida e de quanto fizemos nada resta. Replicaremos: -Não temer, passada é para nós a trágica jornada, a tirania cega já não reina. Tudo tombou? Ergamos novamente. Vê o caipira: a terra devastada, queimado o milharal, morta a semente, que importa? Assim que o furacão amaina, ele volta depressa para a faina. Ajunta as pedras soltas, como se elas fossem de ouro e, tomando-as uma a uma, põe-se a reconstruir toda a tapera. Afofa a terra com as mãos, apruma as cercas, cava o polo, desterra o chão vidrado, planta, trata, espera. Recompõe a tarimba, os filhos cria, sabendo embora que outra guerra, um dia, uma noite, há de vir para levá-los… Não desesperes, não demonstres ira. Nós passaremos todos, mas o povo renasce. Faze, pois, como o caipira sábio, que começa de novo. Mas quando o sol ressurge e a luz dourada bate na terra, volta a bicharada; por entre os mortos recomeça a Vida. A vida não deserta, não descura sua obra de eterna construção, seja nos picos de perene altura, ou entre as coisas ínfimas do chão. Plantações e consciência abrem flores para quem as cultiva com trabalho, não há parte que não conheça dores; não há treva que não fuja de espanto ao sol, nem gota trêmula de orvalho que não seja, também, gota de pranto. Tudo é luta; nada se perde, nada; o erro na experiência se compraz. Reforçamos a terra devastada; olhando só para frente, não para traz. -A cruz da servidão seja partida- diga-se a quem ela curvou a espinha; e a quem a vã espera em si amarra uma vontade, diga-se: Ergue-te e caminha… Mas não se diga nunca: A estrada é incerta a quem de moça ardes já não sente. Ferido, o veterano vai pra frente, tomba no campo, morre. E não deserta! *** O Padre Quem usa chapeu "sui generia"? quem veste saia comprida com larga faixa à cintura? -Padre… cura! Quem vive à custa do povo, sem produzir coisa alguma? quem não tem pátria e família? mas não dispensa a comadre? -O padre! Quem passa por puritano, mas vive na hipocrisia? Quem furta p'ra Vaticano sem cão achar que lhe ladre? -O padre! Quem empobrece o país e produz calamidade? Quem sonha viver feliz à nossa custa, ó compadre? -O padre! *** A Comuna de Paris Funde-se em sombra o gênio… O imortal francês Que deslumbrou o mundo após noventa e três, O que depois de ser César e Usurpador Foi, oh destino vário, o grande semeador Da Liberdade em voo ousado de águia leva O alento germinal que o pópulo subleva Na Europa, em toda a parte; Esse que a História mais absolve que condena Napoleão Bonaparte, Tombará como um astro, ao largo, em Santa Helena. Funde-se em sobra o gênio… E mal a luz se cerra A Reação que já aduncas garras ferra No corpo virginal da nívea Liberdade Requinta-se no mal, redobra em crueldade, Um lúgubre poente agoniza na França, As almas mais viris enublam-se sem esperança, As águias imperiais fogem da luz -morcegos. Os dragões de Austerlitze adomam-se -borregos. E os vinte anos banais do outro Napoleão, Em que Quarenta e oito é semente um clarão, Calcam na sua marcha idiota de elefante A sementeira ideal lançada pelo gigante. Mas sob a cinza opaca, um dia, de repente, Ergue-se toda a branca e bela resplendente A alma da velha Gália audaz e subversiva, Fênix recém-nascida a ardem em chama viva. Paria acorda, vibra, e em rubra efervescência Desbrocha ao livre sol a sua florescência De homéricos heróis, e louca de emoção Despedaça o Império em plena insurreição A alma de Prometeu expande-se porém E livre de grilhões avança, vai além, No ilimitado anseio igualitário e puro. Um horizonte novo abre-se no futuro. A revolta acha enfim sólido fundamento, Noventa e três vai ter seu justo complemento, A mão que despedaça a opressão feudal E faz luzir na treva o tríplice fanal E grava em letras de ouro os direitos do homem, Cujo brilho perene os anos não consomem, A mesma mão levanta o facho da Igualdade E clama em bronzea voz: És livre, Humanidade Une-te pelo amor; trabalha e sê feliz! *** Era a voz da Imortal Comuna de Paris. Mas ai, a grande Luz extingue-se depressa, Os espectros do crime em legião compressa Toldam-lhe o brilho intenso e na sombra maldita Em fúria, a Reação atroz se precipita, Sobrevivências más abatam-se em cardume Como abutres cruéis sobre avezinha implume. E a Comuna baqueia em cafreal massacre Afogada no sangue ardente e rubro e acre De milhares de heróis varados pelo crime. Mas este sangue é bom, porque o sangue redime… A sociedade é como um matagal cerrado, Onde a raiz só cede à ponta do arado. As lutas sociais não são(creiam, não erro) Simples torneios, são epopeias de ferro. Que o diga lá ao longe a gloriosa Moscou, A cidade imortal que já Roma ofuscou, Cuja espada brilhando em fulgurantes lumes, Arrasa o cárcere e ergue a escola à Luz que vem, Castiga o mal e rasga a ampla estrada ao Bem. Pioneiros do Progresso e da Civilização Ser pelo Trabalho é ser pela Revolução. Quer com a pena quer empunhando uma espada, Numa proclamação ou numa barricada, É sempre a mesma heróica e épica labuta. Onde o coração bate aí é que se luta. Saudamos-te, Comuna, esforço intermerato, A quem o coração de todos nós é grato. Se em sangue te afundaste, oh sol do Ocidente Raias [mais belo já nos céus do Oriente. ... Mas neste aniversário, Que atrai a chama aqui o revolucionário, Alguma coisa mais nos emociona e prende: É uma aureola de ouro, uma auréola que explende E desta bela terra a Luz ideal espalha, Nome que só dizê-lo é um repto: A Batalha! *** Alvorecer Não sabes que és o mais forte, Que a tua mão dolorida Na missão de dar a vida Também pode dar a morte? Não sabes, pobre doente, Que num gesto, num gesto só, Esse poder que te prende Pode ficar todo em pó?... Repara, filho do povo, Que desponta um novo dia Clareando um mundo novo Sem patrão, sem burguesia. A oficina em que trabalhas É tua - de mais ninguém! - As bocas destas fornalhas Dizem - "Apressa-te! Vem!" - As campinas verdejantes Na gestão de três meses São as floridas amantes Dos fecundos camponeses. Cessa a luta fratricida Ante uma frase de luz: -Pois só tem direito à vida Quem para a vida produz!- A mulher, a triste escrava Dos caprichos masculinos, Deixa a prisão que estava E desafia os destinos; Tu serás seu companheiro E nunca mais seu senhor Pois todo Código, inteiro, Só tem uma lei: o Amor! Heróico filho do povo, Tu que sem tréguas trabalhas Tirando um mundo mais novo Da placenta das fornalhas, Dá teu braço, vem comigo, Sob a bandeira triunfal, Protestas contra o inimigo Da família universal! *** Párias… Negro, de uma escuridão horripilante, Escuro o corpo: cegando de luz à infância, Cobrindo a terra de ódio e ignorância, Anda o cura, firme, sereno, perseverante, A fazer dos homens uma miséria ambulante. Ele, freio incessante do progresso humano;Sentinela incansável do despotismo, Da a seu próximo corpo abrigo um abismo, Dizendo-lhe hipocritamente: "ouve mano" Mostra branda bondade, sendo feroz tirano. João Huss, vítima do cura da antiguidade, Francisco Ferrer, mártir do padre moderno, Hão de gritar para o futuro eterno, Perguntando ao mundo em nome de que santidade, Foi neles morto, o grito sagrado da Liberdade. Verdugo da civilização, carrasco da ciência; Amigo da ignorância, protetor da indignidade, Contagiando o mundo de sua ferocidade, Semeando onde pisa, a fome e a violência, Chegou apoiando-se em falho dogma, a decadência. O fim de seu poderio está chegando; A verdade e a virtude o aniquilam! A justiça e o direito o exterminam! E está a ralar o momento desejado, Em que se dirá com alegria e ironismo: Padre? Cura? Vaticano? Clericalismo? -Felizmente já é vergonha do passado!!! *** 1º de Maio Maio. Mês da Esperança, As alvoradas São lâminas azuis, ensanguentadas, De imensas guilhotinas. A terra canta. O céu se arqueia. Tudo É forte, luminoso, ardente, agudo, Nos céus e nas campinas. Maio do amor, do Ódio e da Vingança, Maio de Redenção e da Esperança, Tudo germina e cria; Que o teu seio materno, docemente Fecunde e frutifique esta semente De brasas: a Anarquia! *** A Melancia Há na fauna diretora, Dos modernos sindicatos, Tipos quietos e pacatos Que, com lábia sedutora E com pose redentora, Repletos de pacifismo, Lendo até no catecismo, Procuram, dessa maneira. Resguardar na piolheira Seu feroz estalinismo… O seu grande idealismo É só para uso interno, Com agasalho de inverno Recoberto a sinapismo. Praticam paraquedismo. Escondendo, noite e dia, O interesse que os guia. Mas na aparência enganosa, Na casca toda verdosa. Vê-se logo a melancia… *** O Pelego O Pelego é um produto De criação do varguismo. Do ventre do trabalhismo Saiu o líder astuto Que arrecada em bruto Os proventos sindicais. Nos "desvios" ilegais, De todos os exercícios. Está o pão de seus vícios, Que cada dia são mais. O Pelego teme a luta, A carranca do patrão, E do ministro, o "sabão" Que, todo contrito, escuta. Só se desvela e matuta Pra encher o embornal. Toda greve lhe faz mal E, para viver contente, Gordinho e reluzente, só quer a paz social… Bancando sempre o sabido, com espinha genuflexa E ladainha convexa, Que serve a qualquer partido, Afirma estar imbuído Da mais santa intenção. — Mas, trabalhador irmão, O pelego é um vigarista Que deve fazer a pista Na primeira ocasião… *** Pão e circo Era assim na Roma antiga Dos Cesares onipotentes! O povo, preso às correntes, Trazia cheia a barriga… "*Panen et circens*" era a nota Daquela gente atrasada Para escapar da ruassada De ver o povo em revolta. Mas hoje são coisas mortas Os aforismos de então. Padeiros fechas as portas E deixam o povo sem pão!... E que tal, se o povo, irado, As padarias tomasse E o próprio pão fabricasse Mandando às favas o Estado!... *** Proclamação às tropas de "choca" do exército "galinhas verdes" Soldados "verdes", malhados, nas refregas integrais, ide contar aos "papais" vossos feitos sublimados! Tendes sido derrotados, isso, porém, não faz mal, O vosso chefe integral consola os desconsolados… Há "massa" para as "petizas" e não vos faltam "camiras", hão cama e bom farnel; E para assaltos de fato, há pernas, é grande o mato, e há resmas de bom papel… *** O susto do Gegê (Getúlio Vargas foi atirado ao chão e pisoteado por populares) Ir-se daqui com tanta galhardia, Brindando aos deuses qual famoso Agripa, Em grossa farra, da qual o que participa Nobre, vistosa e áurea companhia… É por certo mentira o que antecipa A agência irreverente e pouco pia, Onde é que já se viu tal heresia! Ver o Gegê relando assim sem ser pipa… Povo de heróicas, largas concepções, Ariel a quem a morte não conturba, Sempre em busca de novas emoções, Sabendo que o Gegê não se perturba, Quis conhecer estranhas sensações Vendo um sorriso dos pontapés da turba… *** O que eu odeio Odeio o imperador, o rei, o presidente, Trindade que resume apenas opressão E para quem o Povo é tudo menos gente Motivo por que o faz ser pasto de canhão! Odeio o magistrado, o bonzo da justiça, Que tem por Evangelho o Código Penal… Sepulta nas prisões quem ousa vir à liça Cuspir na face alvar do monstro Capital! Odeio o soatarrão de zero na cabeça E albardando no lombo as vestes de Loyola; Inimigo da luz, vive entre a treva espessa Erguendo o Mal -a igreja, em vez do Bem -a Escola! Odeio o militar obeso de arrogância Quando de espada à cinta e farda com galões… Cérebro do poder, mantém-se em vigiância Para matar irmãos ao mando de ladrões! Odeio o grau-senhor, devasso impenitente, Sempre esbanjando o ouro em torpes bacanais; Enquanto de lazeira estoura tanta gente Depois de mui fazer em catres de hospitais! Odeio o usurário, aborto da matéria, Que empresta o seu dinheiro a troco de valores, Enriquecendo assim à custa da miséria De tantas legiões de escravos produtores! Odeio do negocio o homem sem entranhas, Vendendo no balcão o que é de todos nós; A lei dá-lhe direito a todas artimanhas… Tornando-o da rapina o vulto mais feroz. Odeio o patriota, o estulto defensor Dos privilégios vãos que a Pátria sintetiza; Por causa dele é que não há no mundo Amor, Justiça, Liberdade -a mais alta divisa! Odeio o vil burguês, o parasita imundo larápio do suor de quem geme e trabalha se nada ele produz, que faz então no mundo? Pra que deixar viver tão pérfido canalha? Odeio tudo, enfim, que é causa da pobreza sofrer muito infortúnio e muita privação; contém esse preceito as leis da natureza -todas tem jus igual à liberdade e ao pão. *** Amor Rebelde* (Primeira tradução em língua portuguesa) Ao teu amor, jovem menina outro amor eu preferia. Minha amante é uma ideia, a quem dedico meus braços e coração. Meu coração aborrece e desafia Aos poderosos da terra, e meus braços declaram guerra ao covarde opressor. Porque amamos a igualdade, nos chamam de malfeitores. Mas somos trabalhadores que não querem mais autoridades. Rebeldes, acenamos nossas bandeiras ensangrentadas. e derrubamos as muralhas que nos separam da liberdade. Se você quiser, minha querida menina Aqui embaixo os combateremos E no dia em que venceremos, Te devolverei meus braços e coração! *** A Revolta* (Primeira tradução em língua portuguesa) Nós somos os perseguidos De todos os tempos e todas as raças Nós sempre fomos oprimidos Por tiranos e raptores Mas não queremos ceder mais à secular grilheta que explorava nossos pais Porque queremos nos libertar Daqueles que causam nossas dores. Religiões, Capitalismo, Estado, Magistratura Patrões e Governantes, Vamos nos libertar dessa podridão A liberdade é o nosso arguilhão, Vamos invadir o mundo autoritário E com nossos corações fraternos Fazer triunfar o ideal libertário! Trabalhador ou agricultor Trabalhador do chão ou da fábrica Somos desde nossa juventude Reduzidos ao trabalho de máquina De um extremo ao outro Somos nós que criamos abundância Todos nós produzimos tudo E nós vivemos na mendicância Religiões, Capitalismo, Estado, Magistratura Patrões e Governantes, Vamos nos libertar dessa podridão A liberdade é o nosso arguilhão, Vamos invadir o mundo autoritário E com nossos corações fraternos Fazer triunfar o ideal libertário! O estado nos esmaga com altos impostos Temos de prestar contas aos juízes, E se protestarmos muito alto Somos alvejados por patifes Apesar de mudarem cem vezes os reis Ainda são os mesmos quem faz as leis Ainda é a mesma camarilha Religiões, Capitalismo, Estado, Magistratura Patrões e Governantes, Vamos nos libertar dessa podridão A liberdade é o nosso arguilhão, Vamos invadir o mundo autoritário E com nossos corações fraternos Fazer triunfar o ideal libertário! A engrenagem ainda vai nos torcer: O capital triunfante; Faz sofrer a turba errante Cortando a mulher e a criança. Desgastando sua seiva Em nossos cadáveres queimados Greve dos salários É a greve dos assassinados. Religiões, Capitalismo, Estado, Magistratura Patrões e Governantes, Vamos nos libertar dessa podridão A liberdade é o nosso arguilhão, Vamos invadir o mundo autoritário E com nossos corações fraternos Fazer triunfar o ideal libertário! Em nome dos interesses da grande indústria Somos ordenados a estar prontos para matança Morrer pela nossa pátria sem esperança Mesmo não possuindo nada. Nós odiamos a guerra Aos ladrões que defendam sua terra Cabe a nós somente a liberdade. Religiões, Capitalismo, Estado, Magistratura Patrões e Governantes, Vamos nos libertar dessa podridão A liberdade é o nosso arguilhão, Vamos invadir o mundo autoritário E com nossos corações fraternos Fazer triunfar o ideal libertário! *** Quando a Anarquia chegar* (Primeira tradução em lingua portuguesa) Quando a anarquia chegar Todo mundo será transformado e o governo então será a lembrança de um infame passado. O cárcere abominável desaparecerá assim como padres e soldados e no mundo só permanecerá o ideal que somos libertados. E então no coração pensando na vida futura cessará a agonia e a amargura. A ajuda mútua trará progresso ao nosso labor e a burguesia não mais explorará Em busca de luxo e esplendor E então no coração pensando na vida futura cessará a agonia e a amargura. *** O Triunfo da Anarquia Queremos construir cidades ideais, Destruir as monstruosidades Governos, quartéis, catedrais, Causas de toda iniquidade. Sem mais delongas, triunfará o comunismo Nos uniremos por afinidades Nossa felicidade nascerá do altruísmo Que nossos desejos são já realidades. De pé, de pé, companheiros de miséria Chegou a hora, devemos nos revoltar Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra Que seja a hora de nos libertar! Ponhamos fim ao infame egoismo A Plebe unida, pronta pra lutar Da pé, de pé, oh revolucionário E a anarquia enfim triunfará! Camaradas, saiam da fábrica Do Capital, torne-se o coveiro Sua vida é melhor do que ser uma máquina Tudo é todos, nada é para o explorador Sem preconceito, siga as leis da natureza E produza somente por necessidade Seja fácil ou difícil o labor São valiosos apenas em sua utilidade De pé, de pé, companheiros de miséria Chegou a hora, devemos nos revoltar Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra Que seja a hora de nos libertar! Ponhamos fim ao infame egoismo A Plebe unida, pronta pra lutar Da pé, de pé, oh revolucionário E a anarquia enfim triunfará! Sonhamos amor além das fronteiras Um mundo de paz, amor e liberdade Sonhamos amor entre nações inteiras O erro abre caminho para a realidade Sim, a pátria é teu verdugo Um sentimento duplicado pela covardia Em quarteis se abatem o sentimento puro Jovem recruta, deserta em rebeldia De pé, de pé, companheiros de miséria Chegou a hora, devemos nos revoltar Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra Que seja a hora de nos libertar! Ponhamos fim ao infame egoismo A Plebe unida, pronta pra lutar Da pé, de pé, oh revolucionário E a anarquia enfim triunfará! Todos os eleitos enlouquecem na forca Aos sofredores, dedicam-se a punir Ao povo se abate pela força A rebeldia tentam reprimir Fique longe da política maldita Porque na lei há apenas punição Chega a hora de nossa vindicta Fazer florir a humana criação De pé, de pé, companheiros de miséria Chegou a hora, devemos nos revoltar Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra Que seja a hora de nos libertar! Ponhamos fim ao infame egoismo A Plebe unida, pronta pra lutar Da pé, de pé, oh revolucionário E a anarquia enfim triunfará! Pois há lugar para todos no banquete da vida Na nova máquina social Para todos, a mesa é servida Ao triunfo de nosso ideal Não mais patrões, nem leis que nos oprimem Acesa a chama humana e fraternal Libertos, oh escravos do crime Na grande marcha da revolução social De pé, de pé, companheiros de miséria Chegou a hora, devemos nos revoltar Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra Que seja a hora de nos libertar! Ponhamos fim ao infame egoismo A Plebe unida, pronta pra lutar Da pé, de pé, oh revolucionário E a anarquia enfim triunfará! *** Addio Lugano Bella* (adaptação) Adeus minha linda terra, ó doce terra piedosa, expulsos sem qualquer culpa, os anarquistas vão embora… E partem cantando, com esperança no coração E partem cantando, com esperança em cor. E é por vocês, explorados, vocês trabalhadores que estamos algemados, em face aos malfeitores; no entanto, a nossa ideia, é uma ideia do amor, no entanto a nossa ideia, é uma ideia de amor Camaradas no anonimato, amigos que aqui ficam, as verdades que temos pregado: É vindicta, que pedimos. e esta é a vingança, que pedimos a você. e esta é a vingança, que pedimos a você. E tu que nos persegue com uma vil mentira, República burguesa, temente da anarquia, temente do futuro, livre da opressão temente do futuro, livre da opressão. Deportado de terra em terra, por pregar a paz, e condenar a guerra: paz entre os oprimidos; e guerra contra os opressores, funerais da escravidão. e guerra contra os opressores, funerais da escravidão. Adeus minha linda terra, ó doce terra piedosa, expulsos sem qualquer culpa, os anarquistas vão embora… E partem cantando, com esperança no coração E partem cantando, com esperança em cor. E é por vocês, explorados, vocês trabalhadores que estamos algemados, em face aos malfeitores; no entanto, a nossa ideia, é uma ideia do amor, no entanto a nossa ideia, é uma ideia de amor Camaradas no anonimato, amigos que aqui ficam, as verdades que temos pregado: É vindicta, que pedimos. e esta é a vingança que pedimos a você. e esta é a vingança que pedimos a você. E tu que nos persegue com uma vil mentira, República burguesa, temente da anarquia, Temente do futuro, livre da opressão, Temente do futuro, livre da opressão. Deportado de terra em terra, por pregar a paz, e condenar a guerra: paz entre os oprimidos; e guerra aos opressores, funerais da escravidão. e guerra aos opressores, funerais da escravidão. *** Viva a Anarquia* Viva, viva a Anarquia não mais o jugo sofrer, vamos ser coroados de glória, Ou juremos com glória morrer. Ouça, mortais, o choro sagrado de anarquia e solidariedade, ouça o barulho de bombas explodindo em defesa da liberdade. O trabalhador que sofre proclama Ao mundo todo ANARQUIA coroou seu templo de louros e aos seus planos prestados à burguesia. Dos novos mártires a glória Seus carrascos ousam invejar. Em seus seios a grandeza se aninhar, Suas palavras guiam à vitória. Viva a anarquia ... Para o choro da criança que grita: "Dá-me pão", a terra responde tremendo, jogando sua lava no vulcão. Guerra até a morte, os trabalhadores querem, guerra à morte do infame burguês, guerra à morte, os heróis repetem de Chicago, Paris e Jerez. De um pólo para outro, ressoa esse grito que aterroriza os burgueses, e as crianças repetem em coro: "Nosso país, burguês, é a terra" Viva a anarquia … *** Amarrado à Cadeia* Amarrado à cadeia da iníqua exploração com amor caminha o pária Rumo à revolução. Marcha para a Anarquia, e o jugo deve ter fim com amor, paz e alegria de uma existência feliz. Onde os homens sejam livres, livres como a luz do sol onde tudo seja beleza liberdade, flores e amor. Liberdade, amada tu és meu único anseio tu és meu sonho és meu amor! Trás a cela do presídio, de número quatro guardas nos levam detidos presos e incomunicados. Sem delito cometido, nos levam para a prisão, debilitam nossas forças e aumentam nosso valor. Já estou cansado do jugo, obreiros, não mais sofrer, que o burguês é um verdugo, defendido pela polícia. Liberdade, amada, tu és meu único anseio tu és meu sonho, és meu amor. Os cárceres e castelos Nós devemos derrubar, Nos enganam os caudilhos, roubam nossa liberdade. *** Juventude Libertária* Anarquista fiel e generoso, esforçado lutador a quem nem o tempo, nem o martírio o entusiasmo apagou. As juventudes te recordam, E aprenderam teu valor. Viva sempre a Anarquia que é o sol, Sol da Revolução Social! Juventude de luta proletária, ilusão do porvir, bela esperança libertária que ilumina nosso subsistir. Nosso lema é a Anarquia nosso escudo de verdade, damos o peito se preciso até morrer, morrer pela liberdade. Anarquista fiel e generoso, esforçado lutador a quem nem o tempo, nem o martírio o entusiasmo apagou. As juventudes te recordam, E aprenderam teu valor. Viva sempre a Anarquia que é o sol, Sol da Revolução Social! Juventude de luta proletária, ilusão do porvir, bela esperança libertária que ilumina nosso subsistir. Nosso lema é a Anarquia nosso escudo de verdade, damos o peito se preciso até morrer, morrer pela liberdade. *** Às mulheres As mulheres devem colaborar, na linda obra da humanidade; mulheres, mulheres, necessitamos vossa união No dia em que rebente nossa grande revolução. Irmãs que amam com fé a liberdade Devem criar a nova sociedade… O sol de glória que tem de nos cobrir, a todo no doce existir. Há de ser obra da juventude romper as cadeias da servitude. Em busca duma vida melhor onde os seres humanos gozem do amor. As mulheres devem colaborar, na linda obra da humanidade; mulheres, mulheres, necessitamos vossa união No dia em que rebente nossa grande revolução. Irmãs que amam com fé a liberdade Devem criar a nova sociedade… O sol de glória que tem de nos cobrir, a todo no doce existir. Há de ser obra da juventude romper as cadeias da servitude. Em busca duma vida melhor onde os seres humanos gozem do amor. Por uma ideia lutamos, a qual defendemos com muita razão. Acabam-se os tiranos, guerras, que não queremos, e a exploração. Todos nascemos iguais A natureza não faz distinções; comunistas libertárias luta com firmeza pela revolução. As mulheres devem colaborar, na linda obra da humanidade; mulheres, mulheres, necessitamos vossa união No dia em que rebente nossa grande revolução.