As massas são o poder social, ou, pelo menos, a essência desse poder. Mas faltam-lhes duas coisas para se libertarem das condições odiosas que as oprimem: educação e organização. Essas duas coisas representam: hoje, os verdadeiros fundamentos do poder de todo governo.

Para abolir o poder militar e governante do Estado, o proletariado deve se organizar. Mas como a organização não pode existir sem conhecimento, é necessário espalhar entre as massas a educação social real.

Espalhar essa educação social real é o objetivo da Internacional. Consequentemente, no dia em que a internacional conseguir unir em suas fileiras metade, um quarto ou mesmo um décimo dils trabalhadores da Europa, o Estado ou Estados deixarão de existir. A organização da Internacional será completamente diferente da organização Estatal, pois seu objetivo não é criar novos Estados, mas destruir todos os sistemas de governo existentes. Quanto mais artificial, brutal e autoritário for o poder do Estado, mais indiferente e hostil ele for aos desenvolvimentos naturais, interesses e desejos do povo, mais livre e natural deve ser a organização da Internacional. Ela deve tentar se acomodar ainda mais aos instintos naturais e ideais do povo.

Mas o que queremos dizer com organização natural das massas? Queremos dizer uma organização que é fundada na experiência e resultados da vida cotidiana e na diferença de seus trabalhos, ou seja, sua organização industrial. No momento em que todos os ramos da indústria estiverem representados em sua Internacional, a organização das massas será completa.

Mas pode-se dizer que se nós, a Internacional, passarmos a existir com influência organizada sobre as massas: nós estaríamos visando um novo poder igualmente com os políticos dos antigos sistemas estatais. Essa mudança é um grande erro. As influência da Internacional sobre as massas difere de todo poder governamental, pois não são mais do que uma influência natural e não oficial de ideias comuns, sem autoridade.

O Estado é a autoridade, seu domínio e o poder organizado da classe proprietária e dos especialistas de faz-de-conta sobre a vida e a liberdade das massas. O Estado não quer nada além da servidão das massas. Logo, exige sua submissão.

A Internacional, por outro lado, não tem outro objetivo senão a liberdade absoluta das massas. Consequentemente, apela ao instinto rebelde. Para que esse instinto rebelde seja forte e poderoso o suficiente para derrubar o domínio do Estado e da classe privilegiada, a Internacional deve se organizar.

Para atingir esse objetivo, ela tem que empregar duas armas bastante justas:

1. A propagação de suas ideias.

2. A organização natural de seu poder ou autoridade, através da influência de sues adeptes sobre as massas.

Uma pessoa que afirmar que a atividade organizada é um ataque à liberdade das massas, ou uma tentativa de criar uma nova regra, é sofista ou tola. É triste o suficiente para aqueles que não conhecem as regras da solidariedade humana, pensar que a independência individual completa é possível, ou desejável. Tal condição significaria a dissolução de toda a sociedade humana, uma vez que toda a existência social do homem depende da interdependência dos indivíduos e das massas. Cada pessoa, mesmo a mais inteligente e forte – não, especialmente a inteligente e forte – é em todos os momentos, as criaturas como também os criadores desta influência. A liberdade de cada indivíduo é o resultado direto dessas influências materiais, mentais e morais, de todos os indivíduos que o cercam naquela sociedade em que ele vive, se desenvolve e morre. Uma pessoa que busca se libertar dessa influência em nome de uma “liberdade” metafísica, sobre-humana e perfeitamente egoísta visa seu próprio extermínio como ser humano. E aquelus que se recusam a usar essa influência sobre os outros, retiram-se de toda atividade da vida social e, ao não transmitir seus pensamentos e sentimentos, trabalham para sua própria destruição. Portanto, essa chamada "independência", que é pregada com tanta frequência pelos idealistas e metafísicos: essa chamada liberdade individual é apenas a destruição da existência.

Na natureza, assim como na sociedade humana, que nunca é nada além de parte dessa mesma natureza, toda criatura existe sob a condição de que tente, tanto quanto sua individualidade permitir, influenciar a vida dos outros. A destruição dessa influência indireta significaria a morte. E quando desejamos a liberdade das massas, não queremos de forma alguma destruir essa influência natural, que indivíduos ou grupos de indivíduos criam por meio de seu próprio contrato.

O que buscamos é a abolição da influência artificial, privilegiada, legal e oficial. Se a Igreja e o Estado fossem instituições privadas, deveríamos ser, mesmo então, suponho que sues oponentes. Não deveríamos ter protestado contra seu direito de existir. É verdade, em certo sentido, eles são, hoje, instituições privadas, pois existem exclusivamente para conservar os interesses das classes privilegiadas. Ainda assim, nos opomos a eles, porque eles usam todo o poder das massas para forçar seu governo sobre as últimas de uma maneira autoritária, oficial e brutal. Se a Internacional pudesse ter se organizado da maneira do Estado, nós, sues amigues mais entusiasmades, teríamos nos tornado sues inimigues mais ferrenhes. Mas ela não pode se organizar dessa forma. A Internacional não pode reconhecer limites à camaradagem humana e, enquanto o Estado não pode existir a menos que limite, por pretensões territoriais, tal camaradagem e igualdade. A história nos mostrou que a realização de uma liga de todos os Estados do mundo, com a qual todos os déspotas sonharam, é impossível. Portanto, aqueles que falam do Estado, necessariamente pensam e falam de um mundo dividido em diferentes Estados, que são internamente opressores e externamente espoliadores, ou seja, inimigos uns dos outros. O Estado, já que envolve esta divisão, opressão e espoliação da humanidade, representa a negação da humanidade e a destruição da sociedade humana.

Não haveria sentido algum na organização dils trabalhadores, se elus não tivessem como objetivo a derrubada do Estado. A Internacional organiza as massas com esse objetivo em vista, para que elas possam se lembrar desse objetivo. Mas como ela as organiza?

Não de cima para baixo, impondo uma unidade e ordem aparentes na sociedade humana, como o estado tenta, sem considerar as diferenças de interesse decorrentes das diferenças de trabalho. Pelo contrário, a Internacional organiza as massas de baixo para cima, tomando a vida social das massas, suas aspirações reais como ponto de partida, e encorajando-as a se unirem em grupos de acordo com seus interesses reais na sociedade. A Internacional desenvolve uma unidade de propósito e cria um equilíbrio real de objetivo e bem-estar a partir de sua diferença natural na vida e trabalho.

Só porque a Internacional é organizada dessa forma, ela desenvolve um poder real. Portanto, é essencial que cada membre de cada grupo esteja familiarizade completamente com todos os seus princípios. Somente por esses meios elu será ume boe propagandista em tempos de paz e ume verdadeire revolucionárie em tempos de guerra.

Todes nós sabemos que nosso programa é justo. Ele expressa em poucas palavras nobres as demandas justas e humanas do proletariado. Só porque é um programa absolutamente humano, ele contém todos os sintomas da revolução social. Ela proclama a destruição do velho e a criação do novo mundo.

Este é o ponto principal que devemos explicar a todes ils membres da Internacional. Este programa substitui uma nova ciência, uma nova filosofia pela velha religião. E define uma nova política internacional, no lugar da velha diplomacia. Não tem outro objetivo senão a derrubada dos Estados.

Para que ils membres da Internacional preencham cientificamente seus postos, como propagandistas revolucionáries, é necessário que todes sejam imbuídos da nova ciência, filosofia e política: o novo espírito da Internacional. Não basta declarar que queremos a liberdade econômica dils trabalhadores, um retorno total para nosso trabalho, a abolição das classes, o fim da escravidão política, a realização de direitos humanos nulos, deveres iguais e justiça para todes: em uma frase, a unidade da humanidade. Tudo isso é, sem dúvida, muito bom e justo. Mas quando ils trabalhadores da Internacional simplesmente continuam repetindo essas frases, sem compreender sua verdade e significado, elus têm que enfrentar o perigo de reduzir suas justas reivindicações a palavras vazias, hipocrisia que não é nada sem compreensão.

Pode-se responder que nem todes ils trabalhadores, mesmo quando são membres da Internacional, podem ser educades. Não basta, então, que haja na organização um grupo de pessoas que — na medida do possível — se familiarizem novamente com a ciência, filosofia e política do Socialismo? Não pode a grande massa seguir seu “conselho fraternal” para não se desviar do caminho certo, que leva, em última análise, à liberdade do proletariado?

Os comunistas autoritários na Internacional frequentemente fazem uso desses argumentos, embora tenham desejado a coragem de declará-los tão livre e claramente. Elus procuraram esconder sua opinião real sob elogios demagógicos sobre a inteligência e onipotência do povo. Sempre fomos ils inimigues mais amargues dessa opinião. E estamos convencides de que, se a Internacional se dividisse em dois grupos - uma grande maioria e uma pequena minoria de toneladas, vinte ou mais pessoas - de tal forma que a maioria fosse cegamente convencida do sentido teórico e prático da minoria, o resultado seria a redução da Internacional a uma oligarquia - a pior forma de Estado. A minoria educada e capaz exigiria, junto com suas responsabilidades, os direitos de um corpo governante. E esse corpo governante se mostraria mais despótico do que uma autocracia declarada, porque estaria escondido sob uma demonstração de respeito servil pela vontade do povo. A minoria governaria por meio de resoluções, impostas ao povo e, posteriormente, chamadas de "a vontade do povo". Dessa forma, a minoria educada se desenvolveria em um governo que, como todos os outros governos, se tornaria cada dia mais despótico e reacionário.

A Internacional só pode se tornar uma arma para libertar o povo, quando se liberta; quando não se permite ser dividida em dois grupos – uma grande maioria, a ferramenta cega de uma minoria educada. É por isso que seu primeiro dever é imprimir nas mentes de sues membres a ciência, a filosofia e a política do Socialismo.