Círculo de Debates Anarquistas do Piauí

O Clubismo - suas causas e solução

06.09.2015

É comum que em formações políticas, o credo da homogeneidade anarquista seja proferido com tanta frequência que se torna argumentação incontestável entre estes. Desejamos por meio deste texto, apontar algumas contradições na defesa desta homogeneidade, e suas implicações na realidade.

Anarquistas aceitam e reconhecem facilmente as divergências de outras correntes socialistas. Trotskystas e Stalinistas, Autonomistas e Maoístas, dentre outros. Mesmo com esta análise, sustentam a teoria da homogeneidade anarquista, o que é dúbio e obscurantista para outros militantes em formação.

Esta premissa tem origem de duas formas: 1. Da falta de conhecimento do desenvolvimento teórico-político do anarquismo, geralmente reproduzido por outros anarquistas que também não o conhecem, formados na escola dos “anarcologistas” acríticos, como Horowitz, Arvon, Woodcock e Moriyón ou 2. que não desejam que outros saibam de suas lutas, dissidências, erros e conflitos internos para manter a paz e a boa aparência entre os anarquistas e seus opositores de outras organizações e teorias políticas, mesmo que o preço seja caro, como a História nos mostra.

O que notamos é que os que partilham desta ideia, ou estão enganando ou estão sendo enganados.

A palavra chave (e que reduz o debate ao nível pueril) é “sectarismo”.

Neste panorama, “sectário” é aquele que reconhece e expõe as contradições do anarquismo em nome de uma autocrítica que anseia em romper com suas degenerações internas e construir uma militância que busque coerência entre teoria e prática; “Não sectário” é aquele deseja a “união dos anarquistas” a nível político e organizacional independente de sua corrente teórica (sendo por vezes admitidos liberais radicais que se autointitulam anarquistas, baseados na obra de outros liberais radicais que, com o auxílio dos anarcologistas, passaram a ser tratados como anarquistas, como Thoreau, Stirner, Nietzsche dentre outros).

Na abstração é possível unir as correntes do anarquismo em um só “movimento”. Mas no plano real, onde a lógica do capital e as contradições de classe exigem de todos os militantes revolucionários o compromisso fundamental com sua organização, com seus companheiros e companheiras, com sua linha e atuação política, a ideia esbarra no vazio, na ineficácia e em debates estéreis, que por sua vez produzem ações vazias, ineficazes e estéreis.

Não há o que temer em combater o mito da homogeneidade. Admitir falhas auxilia na evolução teórica e política do anarquismo. Negá-las, em nome do “movimento anarquista” retarda, confunde e degenera as ações feitas a partir dessa leitura.

Da mesma forma que admitimos as dissidências em outras correntes do socialismo, admitamos as nossas; não somente isto: Tomemos partido. Façamos. Denunciemos. O mito da homogeneidade oculta o fato de que cada uma das correntes anarquistas possui inimigos, métodos e programas distintos, e sendo a prática o critério da verdade, a História mostrará qual o caminho correto a se tomar para a tarefa que recai sobre nossos ombros: A organização do povo para a derrubada violenta do capitalismo e do Estado, objetivando a construção de uma nova lógica organizacional da sociedade.