Não pretendo escrever um livro extenso tratando de falar apenas daquilo que deveria ser muito óbvio ao saber dos ditos anarquistas, comunistas, coletivistas, sindicalistas e, em geral, pessoas que afirmam "combater" os preconceitos da sociedade, como: Racismo, xenofobia, LGBTfobia e transfobia, capacitismo, antissemitismo, psicofobia, misoginia, gordofobia, etc.

O que eu estou insinuando exatamente?

Muitas pessoas tratam da violência simbólica e do racismo estrutural (bem como outras formas de preconceito estruturais), puramente, como uma "toalha de banho".

Sabe quando uma pessoa branca privilegiada é exposta por uma fala ou ação propositalmente racista e, após o furdunço tomar proporções significativamente grandes, culpar o "racismo estrutural" para tentar se esquivar da responsabilidade de seu ato? É exatamente disso que estou falando. Mas não falo apenas do racismo, e sim, de todas as formas de preconceito que estão internalizados na organização da sociedade capitalista.

Violência simbólica existe, e tomar consciência deste fato para, então, passar a esforçar-se em evitar a manifestação dos seus preconceitos internalizados é de suma importância. Entretanto, há uma grande armadilha envolvendo essa atitude pautada no discurso da emancipação dos povos e da militância de esquerda: Quando a violência simbólica torna-se mero escudo contra quaisquer acusação válida e honesta que as pessoas adotam contra àquelas que, de fato, demonstram atitudes nocivas e pautadas em discurso de ódio.

É muito fácil, por exemplo, um homem agir de maneira sexista para com uma mulher e, quando as pessoas apontarem o dedo para ele, o homem culpar a "cultura" do patriarcado que estrutura a nossa sociedade há mais de um século. Mas, após isso, passar a errar da mesma forma e até mesmo pior que antes. Mostrando que ele apenas limpou a própria barra com a "toalha de banho" e se sujou novamente, da mesma maneira – podendo, assim, entrar em um ciclo de: 1) Errar; 2) Não procurar mudança; 3) Desviar de sua responsabilização; 4) Voltar a cometer o mesmo erro, posteriormente.

Eu sei, não é fácil ser uma pessoa "polida" o tempo inteiro, estando ainda em uma sociedade desigual e autoritária. O importante é, de fato, se esforçar para pensar, analisar, rever e melhorar os seus conceitos. Afinal: Um pedido de desculpas que não carrega consigo uma faísca sequer de mudança, não passa de manipulação barata.

E quando o sujeito utiliza de pautas e causas sociais importantíssimas – como: A luta feminista, antirracista, antifascista e entre outras – como se fossem uma "estética", sem absorver para si a essência daquilo tudo, sempre continuarão estagnadas no mesmo lugar em que estiveram antes de sua radicalização, e vão vestir uma "estampa" progressista para sentir cômodo em propagar violência simbólica.

Em resumo: Racismo estrutural não é um conceito para trazer conforto aos ditos antirracistas. Feminismo não é um movimento para trazer conforto aos homens cisgênero que se posicionam contra o machismo. Nenhuma luta é confortável, apesar de buscarem uma finalidade muito reconfortante e digna aos oprimidos. É preciso ter isto em mente, antes de falar a respeito desses temas.

E isso, também, vale para aqueles que se apropriam de movimentos sociais que não condizem à sua posição sociocultural, brincando de "protagonistas". Se você é branco, não tente brincar de salvador no movimento antirracista; se você é heterossexual e cisgênero, não tente brincar de salvador no movimento queer.

O tal do "conforto" em se posicionar contra o preconceito, e a sensação de pertencimento e de "finalmente estar do lado certo" não existe na prática. Sabe o que seria confortável? Estar pouco se fodendo para as questões do racismo, misoginia e etc.; tratar isso tudo como "mi-mi-mi" e afirmar que essas coisas não existem. Se alienar nesta realidade fantasiosa, estamentada a partir de retóricas reacionárias, que é um conforto. Lutar nunca foi confortável, isso sempre causar dor física e psicológica ao sujeito que está disposto a construir um mundo melhor com outras pessoas.