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Resumo: Esse trabalho teve como objetivo analisar a militância do italiano Pedro Baptista Matera (1872-1934) com o movimento operário e anarquista no início do século XX, no Rio de Janeiro, mais especificamente, no bairro de Vila Isabel. Aproximando-nos de sua história, também, resgatamos a história da Escola Operária 1º de Maio (1903-1934) e sua atuação na formação dos operários e seus filhos em Vila Isabel, suas propostas para a organização dos trabalhadores locais do bairro e seu incentivo à Educação Popular. Consideramos importante o resgate histórico dessa experiência e das demais experiências vividas pelo sindicalismo revolucionário brasileiro, que trataram a Educação Popular como instrumento de luta e transformação social. O resgate histórico dessa escola nos leva a observar as estratégias dos anarquistas no Brasil, enquanto colaboradores revolucionários nos meios sociais, suas proposições para a formação proletária e como utilizam a Educação Popular como meio para a emancipação do proletariado.

INTRODUÇÃO[1]

Recentemente tem se produzido uma série de pesquisas no campo da história social sobre o anarquismo, principalmente, com a colaboração de militantes inseridos no anarquismo que se propõe a fomentar esse ramo da história que se encontra, ainda, um tanto esquecida. Um fato que faz dessa afirmação uma realidade é a formação do ITHA (Instituto Teoria e História do Anarquismo) que tem contribuído para o desenvolvimento da história do anarquismo. Contudo, dentro dos estudos que analisam esse campo, algumas temáticas têm sido pouco desenvolvidas, ou tem se pesquisado de maneira restrita.

Estudos sobre as correntes que estão inseridas dentro da ideologia anarquista e se diferenciam pelos seus métodos de luta, como no caso do anarcosindicalismo e o sindicalismo revolucionário, tem sido desenvolvidas na história social, porém temáticas como educação e cultura não têm sido correlacionadas com essa análise sobre os métodos de luta dos anarquistas, que utilizavam a educação e a cultura como ferramenta de inserção social e manutenção do vetor social. Nesse caso, nos propomos a realizar essa análise a partir da militância de Pedro Baptista Matera, militante anarquista e sindicalista revolucionário, que fundou a Escola Operária 1° de Maio no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, e a manteve por mais de trinta anos.

Para não se tornar uma crônica sobre Pedro Matera e seus feitos pelo anarquismo e educação popular, nos atemos em uma análise a partir dos métodos da “história vista de baixo” (THOMPSON, 2004) que nos traz duas possibilidades concretas: a oposição da história escrita a partir de uma visão da elite; e a leitura da realidade de forma mais complexa, não isolando a história em perspectivas específicas, nos aproximando de fontes historiográficas pouco utilizadas como atas de reuniões, livros literários, periódicos, panfletos, diários pessoais, documentos sindicais e etc. Segundo Sharpe:

"(...) a história vista de baixo preenche comprovadamente duas funções importantes. A primeira é servir como um corretivo à história da elite (...) A segunda é que, oferecendo esta abordagem alternativa, a história vista de baixo abre a possibilidade de uma síntese mais rica da compreensão histórica, de uma fusão da história da experiência do cotidiano das pessoas com a temática dos tipos mais tradicionais da história (SHARPE, 1992, p. 53-54)."

Além disso, analisando as fontes que se encontravam a nossa disposição, entendemos a necessidade de conceituarmos sindicalismo revolucionário, categoria onde se encontrava a militância de Pedro Matera, para melhor compreendermos os seus métodos de militância sindical e pedagógico na Escola 1° de Maio.

Segundo Corrêa, “o sindicalismo que sustentava a neutralidade, a independência e a autonomia dos sindicatos, ou seja, sua não vinculação a qualquer corrente política e ideológica constitui o sindicalismo revolucionário” (CORRÊA, 2011, p. 83) que ainda defendia a ação direta, antimilitarismo, boicote, sabotagem, greve geral, federalismo e antinacionalismo (SAMIS, 2009, p. 194). Samis (2009) destaca que após a defesa dos princípios do sindicalismo revolucionário no 1º Congresso Operário Brasileiro de 1906 “o assistencialismo, marca do reformismo, caía derrotado” (SAMIS, 2009, p. 195), ou seja, os sindicatos reformistas viam-se em declínio e a prática da ação direta dentro dos sindicatos estava sendo estimulada pelos anarquistas.

O sindicalismo revolucionário foi aceito pelos anarquistas organizacionistas[2] aqui no Brasil durante a Primeira República. Diferente das estratégias anarcosindicalistas que compreendiam o processo revolucionário ideologizando os meios sociais, nesse caso o sindicato é considerado anarquista e associam-se apenas anarquistas que buscam a transformação social para o socialismo libertário. Os adeptos do sindicalismo revolucionário compreendiam a transformação social por meio da potencialização das forças sociais a partir das lutas de categorias específicas. Esse preceito tem como fundamento a relação de diversas correntes ideológicas inseridas no sindicato buscando os seguintes objetivos da classe trabalhadora: oito horas de trabalho, melhores condições etc., enquanto os anarquistas incentivavam princípios libertários dentro dos sindicatos como: ação direta, autogestão, entre outros, fomentando a luta de curto prazo e definindo um trajeto de longo prazo encontrando a revolução social. Utilizaremos o conceito de sindicalismo revolucionário nessa pesquisa, pois esta concepção melhor compreende a experiência exercida por Pedro Matera.

MILITÂNCIA DE PEDRO MATERA: EDUCAÇÃO POPULAR E SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO

Desembarca em 1881 no porto do Rio de Janeiro, oriunda da Itália, a família Matera, cujo sobrenome vem de uma pequena província no sul da Itália (MATERA, 1917, p. 45). A família viajou por cerca de um mês, a chegada foi impactante ao avistar o exuberante morro do Pão de Açúcar e as belezas naturais na Baía de Guanabara. Nesse momento o Brasil passava por transformações econômicas e sociais, saía de um modelo escravista para o uso do trabalho assalariado, como maior impacto após a assinatura da Lei Áurea em 1888. Era necessária uma mão de obra que se adequasse ao novo mercado, assim o país incentiva a vinda de estrangeiros com as promessas de altos salários, comodidade, casa etc. (CARONE, 1975, p. 11). Dentre esses imigrantes, os italianos representavam a grande maioria que chegou aos portos brasileiros. Do ano de 1884 a 1903 mais de um milhão de italianos chegaram ao país (DULLES, 1877, p. 17).

Diferente da maioria dos italianos que chegavam ao Brasil e se instalavam na cidade de São Paulo, a família Matera permanece no Rio e logo se instala no bairro de Vila Isabel, localizado na zona norte da cidade. Entre os integrantes dessa família estava um menino com apenas cinco anos de idade, franzino, de cor típica dos moradores do sul da Itália e que atendia pelo nome de “Pietro”. A formação no bairro operário de Vila Isabel o transformará em uma das figuras mais significativas do anarquismo brasileiro e do sindicalismo revolucionário, ficou conhecido entre seus companheiros e seus adversários como Pedro Matera.

“Desde a minha meninice, portanto, mourejo e honradamente para adquirir os meios de subsistência” (MATERA, 1917, p 45). Essas são palavras do próprio Pedro Matera ao descrever sua trajetória como trabalhador no bairro de Vila Isabel que se iniciou ainda em sua infância. Em 1888, com cerca de 12 anos de idade, Matera começa a trabalhar na Padaria e Confeitaria Sul Americana que localizava-se na esquina da Rua Silva Pinto com a Av. 28 de Setembro e, posteriormente, emprega-se na Padaria Central, outra padaria do bairro (ibidem).

O bairro de Vila Isabel abrigou vários empreendimentos, o primeiro foi a Companhia de Ferro e Carril de Vila Isabel, em 1873, criada pelo Barão de Drumond (BORGES e BORGES, p. 25), o que facilitou o povoamento do bairro. Assim, “(...) o movimento anual de passageiros era entorno de 700.000, em 1876, passando para mais de dois milhões e meio no ano seguinte” (TERRA, 2012, p. 67). Pedro Matera trabalhou por quatro anos como cocheiro dos bondes de Vila Isabel (MATERA, 1917, p. 45) e é provável que tenha participado das duas principais revoltas dessa classe em 1898 e 1900.

A greve dos cocheiros na madrugada de 15 para 16 de março de 1898 parece ter sido a primeira participação dos anarquistas em mobilizações proletárias. Esta greve era para reivindicar um aumento salarial para os trabalhadores (TERRA, 2012, p. 205). A greve foi dizimada pela força policial. Em janeiro de 1900, houve outra greve que contou com mais de 25.000 grevistas, fato que foi noticiado pelo periódico anarquista O Protesto, dirigido pelo anarquista Mota Assunção (SAMIS, 2009, p.186), que também participou desta greve. Ela foi considerada “a maior greve do Brasil” (LOPES, 2004, pp. 51-65).

O segundo empreendimento, em Vila Isabel, foi a Fábrica de Tecidos Confiança, criada em 1878, situada na Rua Maxwell, tornou-se fundamental para a vida econômica do bairro, sua importância ficou marcada pela música “Os três apitos” do poeta Noel Rosa. No ano de sua fundação possuía cerca de 400 teares, seu crescimento ocorre rapidamente e, no ano de 1905 tinha cerca 1500 teares, tornando-se uma das mais significativas empresas no cenário industrial do país (BORGES e BORGES, 1987, p. 82). Os operários dessa fábrica realizaram mobilizações importantes, com reivindicações de melhores condições de trabalho, carga horária de trabalho de 8 horas diárias, melhores salários e denuncias sobre maus tratos, violência, inclusive com mulheres e crianças.

Em 1903, tivemos uma das maiores greves gerais ocorridas no país com a participação de diversos operários de diferentes classes, cerca de 40.000 trabalhadores cruzaram os braços reivindicando uma carga horária de 8 horas diárias e o aumento dos salários. Essa mobilização, segundo Samis (2009), decreta a inserção dos anarquistas nas insurgências populares. A greve é instaurada em agosto daquele ano pela Federação dos Trabalhadores em Fábricas de Tecido, como explica Samis (2009):

"A conjuntura grevista de 1903, que tivera início com a paralisação das atividades da indústria têxtil carioca, decretada pela Federação dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, marcaria a entrada em cena dos anarquistas nas grandes mobilizações operárias no Distrito Federal. Em colaboração com alguns socialistas, eles organizaram um movimento que lograria envolver as associações de classe dos carpinteiros, pintores, chapeleiros, alfaiates e estivadores (SAMIS, 2009, pp. 186-187)."

Seu estopim ocorre com uma mobilização na Fábrica de Tecido Cruzeiro, no Andaraí Grande, devido à forma de exploração dos industriais, que cobravam a utilização das ferramentas de trabalho.

"Desde o dia 8 de agosto, um sábado, os trabalhadores começaram a protestar com tal hábito da venda dos instrumentos necessários à realização do trabalho por parte da empresa (...). Estes eram cerca de 200 trabalhadores, na maioria menores de idade e, dentre eles, havia muitas mulheres (GOLDMACHER, 2012, p. 124)."

Esse acontecimento vai motivar outras mobilizações, sendo cada uma por motivos diferentes: maus tratos, aumento salarial, diminuição da carga horária de trabalho, porém a da Fábrica de Tecido Aliança, criada em 1880, na Rua General Glicério, em Laranjeiras, o motivo foi outro.

"Na Fábrica de Tecido Aliança, das laranjeiras, a greve teve início após o diretor da fábrica ter-se negado a readmitir uma operária dispensada pelo mestre dos teares. A operária demitida, uma viúva polaca, havia sofrido abuso sexual por parte do mestre dos teares, de nome Ferreira da Silva, e fora por ele abandonada, e demitida, após o nascimento da criança (GOLDMACHER, 2012, p. 125)."

Cerca de 3000 operários dessa fábrica uniram-se aos da Fábrica de Tecido Carioca, criada em 1890, no bairro Jardim Botânico. Após algumas assembleias iniciadas pela Federação dos Trabalhadores em Fábricas de Tecido surgiu a adesão de outras fábricas, entre elas a da Fábrica Confiança, de Vila Isabel, a partir de 17 de agosto de 1903, posterior a um piquete realizado pelos trabalhadores têxteis no local (GOLDMACHER, 2012, p. 128). A greve termina com violência policial, pois os empresários concluíram que não poderiam cumprir as reivindicações dos operários. As revoltas dos trabalhadores têxteis do Rio de Janeiro tiveram significativas contribuições dos operários da Fábrica Confiança, em Vila Isabel. Este fato é importante, porque influencia a trajetória e militância de Pedro Matera. Alguns anos mais tarde, após essa greve geral de 1903, Matera escreve vários artigos em jornais operários, que defendem os trabalhadores têxteis e participa dos círculos operários, no bairro de Vila Isabel, principalmente os da Fábrica de Tecidos Confiança.

Talvez, esse possa ser o ponto que Pedro Matera torna-se anarquista. Tomando contato com algumas mobilizações grevistas na passagem do século XIX para o XX, com clara participação de figuras anarquistas, entre militantes e periódicos, não é difícil afirmar que durante esse período venha se formar como militante sindical e conhecer a ideologia anarquista. Isso será melhor observado quando tomamos como referência seus escritos nos periódicos sociais a partir desse ano, principalmente os operários, e sua insistente participação nos movimentos sindicais e nos círculos de educação popular, onde observaremos mais a frente.

Sobre esse último, Matera demonstrava a sua preocupação com o ensino do proletariado e considerava as escolas laicas como ferramentas de emancipação. Assim, em 1903, na Rua Souza Franco, nº 64, em Vila Isabel, funda a Escola Operária 1º de Maio com o apoio do operariado manteve uma instituição de interesses para os trabalhadores, e suas primeiras ações são em favor a educação elementar (ler, escrever e contar), laica e ao ensino primário (Escola Operária 1º de Maio, O CLARIM, Ano I, Nº 1, 01-06-1913). As aulas eram noturnas e diurnas, de dia Matera lecionava para os filhos dos operários e a noite para os próprios trabalhadores.

A escola praticava a coeducação dos sexos, aceitava meninos e meninas. O aparecimento destas escolas nos meios operários seria importante para as conquistas na luta de classe, pois proporcionaria um ensino racionalista e não alienante. A Escola Operária 1º de Maio surgiu para proporcionar aos operários e seus filhos uma educação que os fizessem refletir sobre sua realidade social, possibilitando o acesso à ciência e a educação integral. Destacava ainda as perseguições que a Escola Operária 1º de Maio sofria por parte da burguesia do bairro de Vila Isabel, esta escola era laica, proporcionava uma educação crítica e autônoma. Matera argumentava: “Não obstante aos ataques que esta [a Escola Operária 1º de Maio] há sofrido por parte da burguesia do bairro de Vila Isabel, aqui se continua a ensinar, a preparar os homens para que cada um seja o seu próprio defensor” (MATERA, A Organização, VOZ DO TRABALHADOR, Ano II, Nº 19, 30-10-1909).

O desenvolvimento industrial do bairro de Vila Isabel se efetivou principalmente a partir da instalação da Fábrica de Tecidos Confiança, uma das primeiras e mais importantes indústrias do país, mas concomitantemente este desenvolvimento trouxe questões significativas para a discussão da classe trabalhadora, sua remuneração, as condições de trabalho, o processo de exploração, sua educação, etc.. Segundo Matera, o trabalhador,

"Esta eterna vítima, que continua a ser tosquiada pela casta privilegiada é mantido afastado da sua verdadeira rota emancipadora, que com uma educação prejudicial e mística tem sido impossível de alcançar o verdadeiro entendimento desta engrenagem viciada e mal sã, que se chama sociedade burguesa (Trabalhador, A VERDADE, Ano I, nº 1, 01-06-1923)."

De acordo com Matera, a educação era fundamental para o operariado, por isso dever-se-ia combater uma educação que não fosse emancipadora e impossibilitasse o desenvolvimento da consciência crítica. Por isso, vai trabalhar em prol de uma educação que proporcionasse o entendimento dos fatos sociais a partir da ciência e que conduzisse a emancipação do trabalhador. Nesse mesmo texto ele enfatizou a necessidade da organização operária, para que o operariado, a partir dos princípios da ação direta, lutasse pelos seus direitos (idem); lembrava que a educação não era a redentora do proletariado carioca, mas um instrumento importante para sua formação e luta sindical

Essa escola tinha como princípio educativo o ensino integral, não havia a divisão cartesiana de conhecimento em prático e teórico, por isso Matera vai promover inúmeras saídas de campo para pesquisa e desenvolvimento do conhecimento com as crianças. A sua atuação no bairro, facilitou a aproximação de alguns empreendimentos que auxiliavam a Escola, como o Cinema Smart que se encontrava na Boulevard 28 de Setembro e, Matera realizou festas de propaganda e levava as crianças para assistir sessões de filmes nesse local (Festa de Propaganda, VOZ DO TRABALHADOR, Ano VI, Nº 24, 01-02-1913), realizou também passeios ao Jardim Zoológico do bairro, com a presença de um estudante de medicina que explicou todas as dúvidas das crianças (A LANTERNA, São Paulo, Ano XI, nº 114, 25-11- 1911, p. 2).

Outra proposta da Escola Operária 1º de Maio era a realização de festas de propaganda da escola, como meio de angariar recursos e divulgar o ensino racionalista praticado por Pedro Matera. Em 31 de agosto de 1911, Matera promoveu uma reunião sobre a educação racionalista, estiveram presentes diversos operários e delegados das federações ligadas à Federação Operária do Rio de Janeiro (FORJ), inclusive Antônio Domingues que foi representando a Associação das Escolas Modernas no Rio de Janeiro (Reunião de Propaganda, A GUERRA SOCIAL, Ano I, nº 7, 15-10-1911). “Todos os oradores falaram sobre a necessidade do ensino racionalista, o engrandecimento da Escola Moderna (de Barcelona), saudando a Escola 1º de Maio” (idem, ibidem).

Matera incentivou a participação de grupos com diferentes posições ideológicas presentes nas correntes anarquistas. Destacamos a importante iniciativa proporcionada pela Liga Anticlerical como os meetings e comemorações em memória de Francisco Ferrer y Guardia, que geralmente ocorriam no dia 13 de outubro, data do seu fuzilamento. Após dois anos de sua morte, no salão do Grêmio Republicano Português, ocorreu uma reunião solene em memória do assassinato de Francisco Ferrer y Guardia, com a participação de diversos anarquistas, anticlericais, intelectuais do Rio de Janeiro e São Paulo, além da presença de Pedro Matera representando a Escola Operária 1º de Maio (A Comemoração do Dia 13, A LANTERNA, ano X, nº 109, 21-10-1911, p. 1). No ano seguinte ocorreu a mesma comemoração com o apoio da FORJ, no Teatro Carlos Gomes, com uma grande frequência. Matera participou dessa solenidade representando a Escola Operária 1° de Maio, este evento contou com a presença de outros anarquistas, como por exemplo: José Oiticica (Ecos da Comemoração do Dia 13, A LANTERNA, ano XII, nº 161, 19-10-1912, p. 1).

Em 1912, foi realizada uma série de festas de propaganda na sede da Escola, que teve como principal orador o professor José Oiticica. A primeira festa ocorreu em agosto de 1912, em comemoração à fundação da Escola. A abertura foi realizada com o coro da Escola que canta o hino Marselhesa de Fogo. Em seguida falou José Oiticica sobre “A Missão da Escola Racionalista”, que segundo os redatores do periódico A Guerra Social, “agradou francamente o auditório” (Noticias e..., A GUERRA SOCIAL, Ano II, nº 26, 04-09-1912). Ao final, os alunos da Escola recitaram algumas poesias. No mês seguinte foi realizada nova festa de propaganda, novamente com o professor Oiticica (Escola Operária 1º de Maio, A ÉPOCA, Ano I, nº 34, 02-09-1912). Provavelmente o período escolhido para essas conferências devia-se a memória do fuzilamento de Francisco Ferrer, que foi em 13 de outubro de 1909. Percebemos que o teor dos discursos que ocorriam na Escola era para relembrar as experiências ferreristas, inclusive a utilização do termo ‘ensino racionalista’, que foi utilizado diversas vezes por Ferrer y Guardia.

Pedro Matera esteve presente, como representante do periódico O Clarim e da Escola Operária 1º de Maio, no evento promovido pela Liga Anticlerical do Rio de Janeiro, na sede da FORJ, para lembrar o 6º ano de aniversário do fuzilamento de Ferrer y Guardia. Abriu a sessão Carlos Lacerda, que discursou sobre a história de Ferrer e o porquê ele foi perseguido pelo governo maurista, logo em seguida afirmou que todos deveriam fazer “esforço no Rio de Janeiro, afim de que mais breve possível, abramos a nossa escola racionalista” (Treze de Outubro, A VOZ DO TRABALHADOR, Ano VIII, nº 64, 01-11-1914).

Pedro Matera defendia os princípios da educação racionalista desenvolvidos por Ferrer y Guardia, em Barcelona. Em várias atividades recordava e enaltecia a memória do pedagogo espanhol, por isso a Escola Operária 1º de Maio praticava: a coeducação dos sexos, educação integral, acesso à ciência pelo operariado etc. Estes princípios foram importantes para desenvolver as propostas de educação popular defendidas por Matera. Assim, podemos afirmar que a experiência da Escola Operária 1º de Maio teve uma significativa influência dos escritos e das experiências que chegavam até Matera.

Outro aspecto pedagógico da Escola Operária 1º de Maio era a participação em festas de comemoração de datas solenes como 1º de maio e o fuzilamento de Ferrer y Guardia. No 1º de Maio de 1909, a Escola participou com o seu grupo de fanfarra, da manifestação organizada pela FORJ no Largo do S. Francisco. “As crianças da Escola Livre 1º de Maio, de Vila Isabel, incorporaram-se à manifestação entoando em coro o hino A Internacional” (Ecos do 1º de Maio, VOZ DO TRABALHADOR, Ano I, nº 11, 17-05-1909). No relatório da FORJ sobre essa manifestação foi esclarecido que por falta de recursos não puderam ter uma banda oficial na manifestação, porém foi cedido por Pedro Matera um grupo da Escola que assim resumiram à sua participação

"Desta forma reduzido orçamento, e como nos fosse oferecido pelo companheiro Matera concurso da Escola Primeiro de Maio, sob a condição de arranjarmos a condução dos seus alunos de Vila Isabel para a sede da Federação, resolvemos aceitar o oferecimento nesse sentido entramos com 25$000 para o aluguel de um bonde especial. É-nos agradável referir que foi devéras importante o concurso dos alunos do camarada Matera, que com a melhor boa vontade se incorporaram a Federação, proporcionando-nos pela primeira vez o prazer de ouvi A Internacional cantada em coro pelas ruas da cidade. Pôde-se, pois, dizer que o concurso dos alunos da Escola Primeiro de Maio supriu com vantagem a falta da banda de música, que exigia, só para 15 figuras 130$000” (idem, Federação Operária do Rio de Janeiro)."

Em 1913, a Escola participa de outro 1º de maio promovido pela FORJ no Largo do S. Francisco com a apresentação de um dos alunos, Ernesto de Souza, que com apenas 9 anos “expandiu sua opinião sobre essa gloriosa campanha da reivindicação dos direitos do operariado no Brasil” (O Meeting no Largo S. Francisco, A ÉPOCA, Ano II, nº 276, 02-05- 1913).

O Jardim Zoológico do bairro de Vila Isabel foi muito frequentado pela Escola Operária 1º de Maio, em 1920 realizou-se uma campanha para a fundação de escolas racionalistas, na qual essa escola teve participação. Houve um grande festival para a arrecadação de dinheiro para essa iniciativa, promovido pela União dos Operários na Construção Civil, no dia 12 de setembro de 1920, quando ocorreu “match de foot-ball, corridas de obstáculos, jogos ao ar livre, um torneio de jogo de pão, conferências, representação de uma desopilante comédia pelo corpo cênico do Grupo 1º de Maio, cançonetas, etc, etc” (Festival no Jardim Zoológico, VOZ DO POVO, Ano I, nº 183, 10-08- 1920).

Entretanto a militância de Matera não limitava-se a Escola e alertava os trabalhadores para a necessidade imprescindível da união e organização dentro dos sindicatos: “A vós, pois, companheiros, que aqui lutais junto a nossa renda, eu faço o apelo de vos unirdes em sindicatos e que cada um seja valente propagandista dos direitos de cada um, e não se fiem nas falsas promessas dos nossos detratores” (idem, ibidem). Ele escrevia na Voz do Trabalhador, periódico da COB e também participou da Federação Operária de Rio de Janeiro (FORJ) até a segunda metade da década de 1920.

Em 1911, na ponte das Taboas, no Jardim Botânico, próximo a Fábrica Carioca de tecidos, é realizada “uma conferência de propaganda emancipadora” (Mundo Operário, A GUERRA SOCIAL, ano I, nº 4, 20-08-1911, p. 3) que teve a presença de Pedro Matera, o que demonstra a sua participação em atividades operárias e em conferências dos trabalhadores têxteis. A conferência reuniu representantes de classe como o secretário dos tecelões de Deodoro e anarquistas como o espanhol Caralâmpio Trillas. De acordo com o relato dos redatores do jornal A Guerra Social a conferência foi ótima, apesar da pouca frequência de operários daquela fábrica, também ressaltaram o receio que os operários tinham de comparecer a esse tipo de evento por suspeitar da presença de policiais infiltrados nos mesmos, o que poderia provocar a retaliação dos patrões, assim “muitos dos operários se dedicam mais aos jogos, especialmente ao futebol, para agradar aos patrões, do que a instruir-se e a lutar para defender os seus direitos” (idem, ibidem). A educação dos trabalhadores nos meetings, conferências, palestras ao ar livre era importante para a propaganda das ideias sindicalistas e a adesão do proletário à luta sindical.

Também em 1911, no bairro de Vila Isabel, onde atuava Pedro Matera, o anarquismo se fazia presente nos círculos operários. Nesse período fundou-se o Centro Libertário de Estudos Sociais Amor à Liberdade com o objetivo de realizar a propaganda anarquista no bairro (Pelo Campo Anarquista, A GUERRA SOCIAL, ano I, nº 6, 27-09-1911, p. 4). Nesse período, como podemos perceber, Matera já tinha uma participação significativa nos meios sindicais e anarquistas. É provável que ele tenha tido uma participação e incentivado a criação desse grupo no bairro.

Antecedendo a data do 2º Congresso Operário Brasileiro (COB), em 12 de outubro de 1912, fundou-se no bairro de Vila Isabel a Associação Operaria Independente, na Rua Souza Franco n º 64, local onde funcionava a Escola Operária 1º de Maio, o objetivo dessa Associação era aglutinar os operários que estavam desorganizados e precisavam de uma instituição que representasse a sua classe. Pedro Matera foi o primeiro secretário e, seu irmão, João Matera tesoureiro dessa Associação (Associação Operaria Independente, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, 21-10-1912, ano I, nº 83). A Associação Operaria Independente fez diversas reuniões na sede da Escola Operária 1º de Maio, com o intuito de discutir as pautas que deveriam ser levadas para o 2º COB (Associação Operária Independente, VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, 15-04-1913, ano VI, nº 29 e Associação Operaria Independente, VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, 15-05-1913, ano VI, nº 31).

Outro fato que ressaltamos é a fundação do Centro de Estudos Sociais, na sede da Escola Operária 1º de Maio (Centro de Estudos Sociais em Vila Isabel, A VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, 01-06-1913, ano VI, nº 32). Esse Centro tinha como objetivo divulgar as ideias anarquistas, ele era uma ramificação do Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro que funcionava no Centro Cosmopolita (LOPES, 2011, p. 23).

Em 1912, as atividades da COB são interrompidas, a partir de 1913 instalou-se uma crise industrial, há uma forte elevação nos preços dos produtos essenciais. A FORJ iniciou no Distrito Federal uma campanha contra a carestia da vida, o seu primeiro comício foi no bairro de Vila Isabel, em fevereiro de 1913, na Rua Souza Franco, onde ficava a sede da Escola Operária 1º de Maio (Contra a Carestia da Vida, A VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, ano VI, nº 26, 01-03-1913, p. 1). O segundo comício, também neste bairro, foi no dia 02 de março de 1913, na Praça Barão de Drumond, neste comício Pedro Matera representou a FORJ. As falas dos oradores enfatizavam a necessidade do operariado se organizar em sindicatos, em busca de melhores salários, pois os preços dos produtos alimentícios subiam mais do que os salários dos trabalhadores (Revolução pela Fome, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, ano I, nº 216, 03-03-1913, p. 3)

No dia 16 de março de 1913, ocorreu uma grande conferência no Largo do São Francisco, próximo à sede da FORJ. Entretanto, Matera não participou, pois na manhã do mesmo dia ele foi intimado pela polícia a comparecer na delegacia central para prestar esclarecimentos. De acordo com notícia do jornal A Época, os operários da FORJ ao saber da prisão de Matera fizeram uma enorme agitação naquela noite para pressionar o chefe de polícia, dr. Belisário Távora, a soltar Matera. O interrogatório sofrido por Matera demonstra o quanto sua proposta educacional preocupava aos dirigentes, o chefe de polícia pergunta a Matera: - “porque não acaba com aquela escola?”. Matera responde: - “Não sendo forçado a isso, por forma alguma deixarei de instruir meus companheiros e os filhos destes, pois tenho grande amor ao ensino”. (Como Pedro Matera relata sua prisão, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, ano I, nº 234, 21-03- 1913, p. 3). Matera foi liberado no dia seguinte retornando ao comitê, criado pela FORJ, para as agitações contra a carestia da vida, fazendo-se presente no comício de 20 de março de 1913, no Largo de São Francisco (idem).

As manifestações nesse período tinham como temas: a campanha contra a carestia e contra a lei de expulsão dos estrangeiros (Lei Adolfo Gordo[3]). Em diferentes estados surgiram manifestações com estes temas, assim como a COB conduziu as discussões no segundo congresso, pautadas neles. Aconteceram vários ‘meetings’ na sede da FORJ, ao longo de 1913, Pedro Matera esteve presente como orador e representante da federação na maioria deles (Agitação contra a carestia, VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, ano VI, nº 30, 01-05-1913, p. 5 e Agitação contra a crise do trabalho, A VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, ano VI, nº 45, 15-12- 1913, p. 2).

A recessão econômica no país se intensifica com o início da Primeira Guerra Mundial. A campanha contra carestia da vida continua sendo realizada pela COB, mas também surge o debate sobre a guerra. O Centro de Estudos Sociais realiza em 26 de março de 1915 uma grande reunião “cujo fim é organizar, no Brasil, entorno do célebre manifesto de Faure, uma agitação contra a guerra” (Pela Paz, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, ano IV, nº 945, 27-03-1915, p. 2). Ao final dessa reunião foi criada a Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra com diversos delegados representando as instituições de classe, a COB e a FORJ, Pedro Matera compõe essa comissão representando o periódico O Clarim (ibidem). A mesma comissão propõe uma grande manifestação no dia 1º de maio de 1915, esta ocorreu no Largo São Francisco, no Rio de Janeiro. Esta comissão redigiu e distribuiu uma moção contra a guerra, enfatizando a necessidade do proletariado de todo o mundo se organizar contra a guerra (Pela Paz, A VOZ DO TRABALHADOR, Rio de Janeiro, ano VIII, nº 71, 08-06-1915).

A COB convocou, no mês de outubro de 1915, o Congresso Internacional da Paz com o objetivo de reunir sindicalistas, socialistas, anarquistas etc., com o intuito de debater as consequências da guerra para o operariado de todo o mundo. Tentou-se realizar esse congresso na Espanha, a partir da convocação do Ateneu Sindicalista del Ferrol, mas o governo espanhol o impediu (Congresso Internacional da Paz, NA BARRICADA, Rio de Janeiro, ano I, nº 17, 30-09-1915, p. 3). O congresso foi realizado nos dias 14, 15 e 16 de outubro, na sede da FORJ, na Praça Tiradentes n° 71. O congresso teve a adesão de diversas associações operárias e revolucionárias do país, com delegados da Argentina, Uruguai e Portugal representando suas associações de classe (Congresso Internacional da Paz, NA BARRICADA, Rio de Janeiro, ano I, nº 19, 14-10-1915, p. 2). Este congresso apresentou uma moção contra a guerra e ainda planejou um comício no Largo do S. Francisco com representantes da COB e de associações internacionais (Ibidem).

Como podemos observar temas candentes aos trabalhadores movem a discussão nos Congressos e para aproveitar a presença dos delegados internacionais e de outros estados que estavam no Congresso da Paz, ocorreu nos dias 18, 19 e 20 de setembro de 1915, o Congresso Anarquista Sul Americano, na sede do Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro, na verdade este Congresso deveria ter ocorrido em 1914, mas não foi possível (Congresso anarquista Sul-Americano, NA BARRICADA, Rio de Janeiro, ano I, nº 19). Dos diversos temas debatidos nesse congresso destacamos o 13º: “Criação de escolas pelos grupos anarquistas nos lugares em que atuam”, de modo que o “o Congresso aconselhasse aos anarquistas a conveniência da criação de escolas nos lugares em que atuam” (idem, p. 1). Devemos destacar a atuação dos anarquistas que participaram desses congressos, a maioria dos participantes é adepta das teses do sindicalismo revolucionário, entre eles: José Oiticica, Orlando Corrêa Lopes, Leal Junior, José Caiazzo, Valentim de Britto etc. (ibidem), o destaque no Congresso da Paz foram discussões sobre o proletariado e a guerra, já no Congresso Anarquista Sul Americano, a intenção era deliberar objetivos e estratégias políticas para atuar na organização política anarquista, apontando meios e fins para se chegar ao socialismo libertário na América do Sul

Do final de 1915 e em 1916, Pedro Matera dedicou-se ao jornal O Clarim, além de sua atuação, como professor, na Escola Operária 1º de Maio. Contudo, em 1917, se inseriu novamente nos meios sindicais, pois sua descrença com relação ao sindicalismo revolucionário durou um curto período de tempo de sua vida.

A campanha contra a carestia da vida, realizada pela COB, continuou mobilizando o operariado carioca. No início do ano de 1917 são convocados diversos ‘meetings’ em diversos bairros da antiga capital federal, estes foram uma preparação para o 1º de maio daquele ano (BANDEIRA et al, 1967, p. 39). Em 28 de janeiro de 1917, são realizados quatro ‘meetings’ nos bairros de Madureira, Engenho de Dentro, Gávea e Vila Isabel, neste último, na Praça Sete de Março, estava presente Pedro Matera junto com o anarquista Paschoal Gravina que fez “um belíssimo discurso” (Um dia de Meeting, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, ano VI, nº 1663, 29-01-1917). Em 4 de fevereiro de 1917, ocorre outro ‘meeting’ no Catumbi e em Vila Isabel, com a presença de Matera (Uma Tarde de Meeting, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, Ano VI, Nº 1670, 05- 02-1917).

Sua presença é ativa nos meios operários, inclusive nas campanhas convocadas pela FORJ, COB e pelos sindicalistas revolucionários. Outra evidencia que comprova essa afirmação é a reportagem realizada com o então secretário da COB, Joaquim Campos, sobre o crescimento organizativo das associações operárias.

"O desenvolvimento da propaganda associativa entre as classes operárias desta capital está, dia a dia, assumindo as proporções merecedoras de atenção dos que fitam, com justo interesse, todos os eventos em prol do progresso da grande população de trabalhadores (Propaga-se a Ideia Associativa no Seio Operário, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 80, p.1,08-03-1917)."

Assim, Joaquim Campos inicia a reportagem, destacando a importância do crescimento orgânico dos sindicatos no Rio de Janeiro. Indica alguns números sobre a quantidade de associações e sócios nos sindicatos, ele afirma que “o bairro de Vila Isabel tem uma população operária de perto de 40.000 labutadores, que, sob ação de Pedro Matera, estão em via de se organizarem, formando uma possante sociedade” (ibidem). Essa afirmação nos indica que Matera tinha um papel importante na organicidade dos trabalhadores do bairro em que atuava, era um elo fundamental da relação entre a COB/ FORJ e os trabalhadores de Vila Isabel.

No mês de março de 1917, a COB convoca mais três ‘meetings’ pela campanha contra a carestia da vida, um no dia 10 que aconteceu na Ponte das Taboas na Gávea, onde estiveram presente Paschoal Gravina, Joaquim Campos e Pedro Matera (O Comício de Ontem, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, Ano VI, Nº 1703, 11-03-1917), outro no dia seguinte que ocorreu em Niterói e em Vila Isabel, na Praça Sete de Março, também com a presença de Matera (A Agitação Operária Contra a Carestia da Vida, A ÉPOCA, Rio de Janeiro, Ano VI, Nº 1704, 12-03-1917) e outros no dia 18 em Paracambi, Ramos e Laranjeiras (Continua a Grande Agitação Operária Contra a Carestia da Vida, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 91, 19-03-1917). Nesse último ‘meeting’, Matera esteve presente abrindo o comício e indo como representante da FORJ, segundo os redatores do jornal A Razão. Nesses encontros, Matera fez seu discurso em prol da organização operária, incentivando os trabalhadores a se organizarem nos sindicatos, porém destacamos o discurso realizado no comício de Laranjeiras, onde enfatizou os princípios da ação direta com um tom anticapitalista ao relatar as condições de exploração dos trabalhadores nas oficinas e fábricas cariocas (ibidem).

Nossa hipótese sobre a possível inserção de Matera no sindicato dos trabalhadores têxteis do bairro de Vila Isabel é confirmada pela sua entrevista ao jornal carioca A Razão. Nessa entrevista, os redatores do jornal relatam, novamente, a importância da campanha contra a carestia da vida como um instrumento mobilizador dos operários, incentivando-os a se associarem aos sindicatos de classe. Pedro Matera é identificado como o redator do O Clarim, além de “um dos grandes paladinos do movimento associativo e o atual organizador do grande sindicato dos tecelões” (O Progresso do Movimento Associativo das Classes Operárias, A RAZÃO, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 133, p. 3, 30-04-1917). Matera explica a quantidade de associações que estão organizadas e o número de associados, indicando ainda as associações que estavam em processo de organização. Ao final conclui com bastante otimismo, “mas fique certo que dentro em pouco todo o operariado do Rio de Janeiro estará organizado” (ibidem).

Em maio, após alguns ‘meetings’, inicia-se uma greve dos trabalhadores têxteis da Fábrica Corcovado, na Gávea (Continua a Agitação Operária Contra a Carestia da Vida, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 140, 07-05-1917). Alguns dias depois ocorreu um grande comício no mesmo bairro em apoio aos grevistas, Matera participa e informa sobre o apoio e a mobilização dos operários da Fábrica Confiança de Vila Isabel (O Grande Movimento Grevista da Fábrica Corcovado Continua, A RAZÃO, ano II, nº 144, 11-05-1917). No dia 11 de maio de 1917, aconteceu um novo comício na Ponte das Taboas na Gávea, com a presença de operários de diversas indústrias têxteis, inclusive os de Vila Isabel. O destaque ficou com a violência policial aos operários grevistas, que foram agredidos pela polícia do Dr. Aurelino Leal. Após o ‘meeting’ ocorreu uma reunião com operários na FORJ, a policia, a mando de Aurelino Leal, prende alguns, entre eles: Valentim de Brito, Bento Alonso, Joaquim Campos, José Madeira e José Caiazzo (Um Grande Conflito na Ponte das Taboas, A RAZÃO, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 145, 12-05-1917) e após o ‘meeting’ realizado em Vila Isabel, Paschoal Gravina e Pedro Matera (Movimento Grevista da Fábrica Corcovado, A RAZÃO, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 149, 16-05-1917).

O chefe de polícia do Rio de Janeiro proíbe a realização de ‘meetings’ e comícios de rua pelos operários, coloca boletins na porta das fábricas informando a nova imposição devido às mobilizações na Gávea, por isso fizeram “uma vigilância intensa junto aos raros anarquistas da cidade, que estão levando a desordem ao seio do operariado honesto” (O Chefe de Policia Proíbe a Realização de Meeting, A RAZÃO, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 146, p. 3,13-05-1917). Com a perseguição aos anarquistas, os estrangeiros que fossem presos sem profissão seriam considerados “vagabundos” e podiam ser penalizados de acordo com a Lei Adolfo Gordo (1907, reformulada em 1921). O chefe de policia colocou dois sentinelas na porta da FORJ para proibir as reuniões operárias (ibidem).

Os anarquistas presos no dia 11 de maio de 1917, na saída da reunião da FORJ, ficaram encarcerados durante três dias (Movimento Grevista na Gávea, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 148, 15-05-1917), eles foram proibidos de promover os comícios de rua. Essa imposição do Chefe de Polícia carioca demonstrava a preocupação que os dirigentes tinham com a prática da ação direta realizada pelos anarquistas. Seu incentivo às greves, boicotes, conferências de rua etc. era um exemplo de atos que precisavam ser controlados pelo governo, pois este tipo de ação operária poderia demonstrar organização e força. Os anarquistas entraram com um habeas-corpus para ter o direito de realizar manifestações na rua. Este documento tinha mais de sessenta páginas, com argumentos contra a acusação, além de uma pequena biografia de cada um dos militantes, inclusive de Matera.

Os comícios voltam a acontecer na Gávea com a presença de Pedro Matera e os outros indiciados, de modo discreto, pois eles estavam proibidos de participar dos ‘meetings’ (Agitação Operária Contra a Carestia da Vida, A RAZÃO, Rio de Janeiro, Ano II, Nº 166, 04-06-1917). Matera, então, se dedica ao periódico O Clarim, entretanto continua sendo perseguido pela polícia, o que o impedia de continuar ajudando nas atividades da paralisação, que as operárias da Fábrica Carioca fizeram no mês de junho de 1917 (A Greve da Fábrica Carioca, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 195, 02-07- 1917).

A recém-fundada União Operária das Fábricas de Tecido (UOFT) realiza, na Gávea, uma grande assembleia com a presença de representantes de diversas fábricas de tecido, incluindo Pedro Matera. Muitos oradores se preocuparam em abordar a questão da greve da Fábrica Corcovado, entretanto também enfatizaram os acontecimentos na Rússia, que desencadeou a revolução bolchevique. Matera destacou a necessidade dos tecelões se organizar, lembrando: “Se vós estivesses organizados não tereis perdido está última greve, que tão triste recordação nos deixou” (MATERA, Pedro. A Grande Assembleia de Ontem na União Operária das Fábricas de Tecido da Gávea, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 180, p. 5, 17-06-1917), também assinalou os conflitos com a policia e as inúmeras prisões. E fazendo alusão aos acontecimentos na Rússia, Matera diz que “a revolução russa é um exemplo para o povo do Brasil que está sujeito a mesma prepotência e autoritarismo a que estava antes dessa grande revolução o povo da Rússia” (ibidem).

Percebe-se que a revolução Russa desperta o interesse do proletariado no Rio de Janeiro. Essa motivação acarretou diversas atividades até novembro de 1918, período em que aconteceu a insurreição anarquista no Rio de Janeiro, incentivada pelos operários a partir da Greve Geral. Em julho de 1917, inicia-se uma greve geral que segundo Addor (1986)

"A partir de uma assembleia geral realizada na sede da FORJ, no dia 17, o movimento se inicia e rapidamente se generaliza. Formada por um conjunto de greves de várias categorias profissionais, cada uma delas constituindo em si mesma um movimento distinto (...) nitidamente um caráter ofensivo e um resultado abrangente (ADDOR, 1986, p. 122)."

No dia 25 de julho as associações foram às ruas realizar um grande comício no centro da cidade do Rio de Janeiro, que foi reprimido com tiros e pancadas pelo chefe de policia Aurelino Leal. O jornal A Razão estampa em sua primeira página o artigo “Governo Sanguinário” (Governo Sanguinário, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano II, nº 218, p. 7, 26-07-1917), com uma charge do presidente da República, Wenceslau Brás, retratando o seu autoritarismo e a crise da carestia da vida (ibidem). Nesse período há diversos conflitos no centro da cidade, com inúmeros operários feridos, o Centro Cosmopolita e a sede da FORJ foram saqueados e fechados pela polícia e alguns operários presos, entre eles, Mario Limoeiro, Bento Alonso e Pedro Matera (ibidem).

A greve geral demonstra que o proletariado carioca estava se organizando, a fundação da UOFT (União Operária das Fábricas de Tecido da Gávea) é um exemplo disso, pois os operários das Fábricas de Tecido estavam precisando criar uma organização consistente. E como salienta Addor (1986) a greve geral de 1917 tem uma importante função, “a profunda transformação no perfil organizacional da classe trabalhadora local” (ADDOR, 1986, p. 122).

No início de 1918, surgem algumas greves no Rio de Janeiro, mesmo que de maneira modesta, os gráficos, sapateiros e carroceiros fazem “paredes” exigindo 8 horas de trabalho (BANDEIRA et al, 1967, p. 119). No mês de março de 1918, devido ao fechamento da FORJ, os sindicalistas revolucionários, em assembleia geral fundam as bases de sua sucessora, a UGTRJ (União Geral dos Trabalhadores do Rio de Janeiro). Nesta estavam mais de quinze associações, dentre elas a UOFT, União Geral dos Trabalhadores de Calçados, Centro dos Marmoristas, Centro Cosmopolita e etc. (ADDOR, 1986, p. 136).

Em agosto de 1918, eclode a greve dos trabalhadores da Companhia Cantareira e Viação Fluminense, que operava as barcas na Baía de Guanabara e os serviços de bonde na cidade do Rio de Janeiro. A origem da greve são os reflexos da carestia da vida, os trabalhadores exigiam aumento de salário e a diminuição da carga horária de trabalho para oito horas.

"O movimento acaba adquirindo nuances insurrecionais, a partir de um violento conflito na Rua da Conceição entre operários e populares, de um lado, e forças da polícia estadual, do outro. O fato novo, inesperado e importante é a adesão à causa dos grevistas de alguns soldados do Exercito, do 58º Batalhão de Caçadores, que participam da luta ao lado da multidão contra as forças da milícia estadual (ADDOR, 1986, p. 124)."

No dia 18 de novembro de 1918, inicia-se o plano de insurreição na capital federal, aproveitando a preocupação das autoridades com a epidemia da Gripe Espanhola (BANDEIRA et al., 1967, p. 122). Às quatro horas da tarde “os tecelões do distrito federal se declararam em greve; seis mil operários deixaram seus empregos em Bangu (...). Os metalúrgicos e os operários em construção civil aderiram à greve logo em seguida” (DULLES, 1977, p. 68). Os operários em greve se dirigiram para o Campo de São Cristóvão, principal palco dos acontecimentos insurrecionais. Houve troca de tiros entre policiais e operários, sendo lançada uma dinamite, por populares que derrubaram duas torres da Ligth. Também, os insurretos conseguiram tomar a delegacia do 10º Distrito Policial (BANDEIRA et al, 1967, p. 125).

Aurelino Leal exigiu reforços policiais e do Exercito no local e um grupamento de cavalaria expulsou os populares da delegacia (DULLES, 1977, p. 69). Às cinco e meia da tarde os ânimos já haviam se acalmado e o Campo de São Cristóvão estava tomado de policiais e soldados do exército. Foram realizadas mais de duzentas prisões e os anarquistas eram o principal alvo. Antes desses acontecimentos, às duas horas da tarde, os líderes da insurreição foram detidos, entre eles encontrava-se: José Oiticica, Carlos Dias, Astrogildo Pereira, entre outros (ADDOR, 1986, p. 172).

O Dr. Aurelino Leal proíbe as reuniões operárias e é expedido uma nota oficial de seu gabinete.

(...) A autoridade pública está, pois, lutando com anarquistas, quase todos estrangeiros que querem implantar o maximalismo entre nós, e para homens dessa espécie, bem como para os maus brasileiros que os acompanham, todo rigor é pouco. Para defender a ordem pública, além das medidas já tomadas, a polícia não consentira em ‘meeting’, qualquer que seja a sua natureza (idem, p. 173).

No decorrer da semana outros anarquistas foram presos por suspeita de participação da insurreição do dia 18 de novembro. No dia 29 de novembro, Matera estava nos fundos de sua casa, na Rua Silva Pinto, nº 6, quando foi surpreendido por cinco agentes da policia que vieram lhe prender. São apreendidos alguns exemplares do periódico Liberdade, cuja redação era em sua própria casa. O exemplar de nº 25 vinha com alguns artigos bem humorados e uma longa conferência do anarquista Fábio Luz, segundo os redatores do jornal A Razão (Está Salvo o Brasil..., A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano III, nº 708, 30-11-1918). Matera é encarcerado pela sua participação nos meios anarquista e sindicais, entretanto ele não participou efetivamente da insurreição do dia 18 de novembro, foi ameaçado de expulsão do país, por ser anarquista e estrangeiro.

Pedro Matera (o da direita) saindo da prisão após dois meses de detenção (Ver Imagem).

Matera somente é solto em janeiro de 1919 (A Última Revolução Posta a Nu Pelas Vítimas do Trepoff[4], A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano IV, nº 747, 07-01-1919), sua família passou por dificuldades para pagar o aluguel e se alimentar, por isso os operários decidiram ajudar os operários presos, criaram um comitê pró-presos que recebia contribuições financeiras para auxiliar as famílias dos operários encarcerados (Comitê Central Pro-presos, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano IV, nº 743, 03-01-1919). Durante sua prisão, os redatores do A Razão fazem uma reportagem com os alunos de Matera da Escola Operária 1º de Maio, onde a manchete era “Sem chefe, sem pão e sem teto”, destacando que seus alunos estavam sem aula devido a sua prisão e sua família passando por dificuldades financeiras (Sem chefe, sem pão e sem teto!, A RAZÃO, Rio de Janeiro, ano III, nº 732, 23-12-1918).

Matera vai permanecer nos meios operários ao longo de 1920, quando podíamos encontra-lo em reuniões de várias associações de classe (Centro dos Operários Marmoristas, VOZ DO POVO, Rio de Janeiro, ano I, nº 162, 20-07-1920 e União dos empregados em Padaria, VOZ DO POVO, Rio de Janeiro, ano I, nº 20, 26-02-1920). Sua atuação maior é na União dos Empregados em Padarias, onde era tesoureiro (União dos Empregados em Padarias, VOZ DO POVO, Rio de Janeiro, ano I, nº 41, 18-03- 1920) e na União Operária Fabril de São Cristóvão, onde ele permaneceu como delegado do 3º COB. No início de 1920, a perseguição aos anarquistas e as instituições de classe permanece, Matera é preso novamente numa invasão da polícia a sede dos sapateiros (Em Defesa do Governicho, VOZ DO POVO, Rio de Janeiro, ano I, nº 49, 26-03-1920), permanecendo preso durante três dias.

Em maio de 1920, novamente foi preso, a polícia o prende saindo de casa para realizar as cobranças dos sócios da União dos Padeiros (Policia Demasiadamente Zelosa, VOZ DO POVO, Rio de Janeiro, ano I, nº 109, 28-05-1920). O chefe de policia apreendeu os exemplares da brochura “A Luta Sindicalista”, que Matera carregava, considerando–a perigosa e, depois, o libertou. Cansado das perseguições da polícia, Matera decide se mudar com a família para o bairro de Olaria e dedicar-se apenas à educação e à Escola Operária 1º de Maio

Após a tentativa de insurreição de 1918, Matera foi preso e sua Escola fechada por meses. Sua reabertura ocorre em 5 de dezembro de 1919, na antiga sede da Escola na Rua Souza Franco, 64 em Vila Isabel (União Operária Fabril de São Cristovão, A RAZÃO, Ano IV, nº 1076, 05-12-1919). Entretanto as perseguições continuaram e após algumas detenções, Matera decide estabelecer-se com a sua família no bairro de Olaria.

A Escola Operária 1º de Maio também foi transferida para a Rua Drummond n° 51, no mesmo bairro, sua reinauguração foi no dia 25 de outubro de 1921. Ela mantém suas atividades normais com saraus culturais, atividades teatrais etc.. Encontramos informações sobre a existência desta escola até 1932, suas atividades continuavam, promoviam ações políticas no bairro, exigiam asfaltamento, luz, água, saneamento básico, inclusive existe uma entrevista com Matera, em maio de 1932, sobre os problemas do bairro de Olaria, no periódico A Batalha (Através dos subúrbios, A BATALHA, Ano IV, nº 735, 24-05-1932).

Segundo Edgard Rodrigues, Pedro Matera faleceu em 1934, na Santa Casa da Misericórdia e não aceitou a presença de um padre antes de sua morte. Apesar dessa referência ser plausível, não encontramos a fonte de onde ele tira esta informação, assim consideramos que Matera possa ter falecido nesse período, entretanto com ressalvas (RODRIGUES, 1998, P. 20).

Considerações finais

Ao longo da nossa pesquisa procuramos destacar o quanto a Educação Popular fez parte de um aparato estratégico elaborado e defendido pelos anarquistas, a partir das teses do Sindicalismo Revolucionário nesse período. Na atuação da Escola Operária 1º de Maio encontramos os princípios da democracia direta e destacamos que nela não se ensinava o anarquismo, o objetivo era proporcionar a educação elementar, ensinar o operariado a ler, escrever e contar, possibilitando as reflexões sobre a conjuntura daquele período, mostrando as mazelas do capitalismo e as possibilidades de luta. As crianças e seus pais que estudavam na escola não se formavam a partir da ideologia anarquista, mas a partir de princípios que enfatizavam a autonomia. O interesse não era a formação de anarquistas, mas a formação de seres críticos e atuantes na sociedade, esse sempre foi o objetivo principal da pedagogia libertária como pilar da Educação Popular.

Percebemos a estreita relação entre o sindicalismo revolucionário e a educação popular desenvolvida pelos anarquistas nesse período. Os princípios e os métodos de atuação se confundem, assim não podemos desagregar uma coisa da outra. Acreditamos que a Educação Popular é mais uma vertente estratégica da atuação anarquista no meio social. Porém, os sindicalistas revolucionário não foram os únicos a proporem a educação popular como meio de luta, vale destacar que também ocorreram experiências envolvendo os anarcosindicalistas (as Escolas Modernas 1 e 2) e seria de má fé se não ressaltássemos isso.

A Educação Popular serviu como ferramenta de organização operária. A realização de reuniões, conferências e meetings na Escola Operária 1º de Maio mostra como ela foi um espaço de organicidade, planejamento e construção de objetivos para a luta dos movimentos operários e sindicais desse período.

Esta pesquisa nos possibilitou resgatar a história de um militante não muito conhecido, inclusive nos círculos anarquistas. Sua atuação como anarquista organizacionista, sindicalista revolucionário e professor defensor da pedagogia libertária e, consequentemente, da Educação Popular, reforça as teses já pesquisadas e defendidas por outros pesquisadores do campo do anarquismo e do movimento operário brasileiro. Desejamos que esse trabalho possa fortalecer a história do anarquismo e da pedagogia libertária, destacando uma corrente socialista pouco divulgada e mal compreendida na atuação da classe operária brasileira e na luta pela Educação Popular.

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[1] Pedro Henrique Prado da Silva. Membro do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa (NPMC) e Núcleo de Estudo e Pesquisa da História da Educação Brasileira (NEPHEB/UNIRIO). Mestre em Educação pela UNIRIO.

[2] Para entender o conceito de anarquistas organizacionistas e antiorganizacionistas ver: CORRÊA, Felipe. Rediscutindo o Anarquismo: Uma Abordagem Teórica. 2012. 275 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política, Escola de Artes, Ciência e Humanidade. USP, São Paulo, 2012.

[3] A Lei Adolfo Gordo é o decreto nº 1.641, de 7 de Janeiro de 1907, proposta pelo Deputado Adolfo Gordo, que expulsava qualquer estrangeiro que comprometesse a segurança nacional, na verdade, a lei visava especialmente reprimir militantes anarquistas e sindicalistas revolucionários.

[4] Trepoff era o modo irônico que o jornal se referia ao chefe de polícia, Aurelino Leal, como o inspetor de polícia bolcheviques.