Título: O Campo Brasileiro Não Esvaziou
Subtítulo: A falsa narrativa do Brasil Vazio
Data: 12/11/2024

Existe uma tentativa de implantação de um pensamento no senso comum que se trata da ideia de que houve um esvaziamento demográfico do campo brasileiro. Costumam repetir isso em um tom inocente de norte a sul no Brasil, mas, nas doces palavras do cordeiro, esconde um lobo sedento para impedir e fazer você desacreditar da inevitável Reforma Agrária que, finalmente, trará a redistribuição igualitária da terra a quem hoje não possuem terra, se possuem, é pouquíssimo comparado aos latifundiários. Bom, vejamos o quão verdadeira é essa narrativa.

Eles querem fazer você acreditar quantitativamente que não existem almas o suficiente para que uma Reforma Agrária haja êxito usando os dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): ‘’Considera-se o Brasil um país urbanizado, uma vez que uma parcela maior do que a metade dos seus habitantes vive na zona urbana, sendo esse valor mais precisamente de 84,72%, de acordo com o IBGE. A população rural, que vive nas áreas não urbanizadas, é equivalente a 15,28% do total de habitantes do país.’’. Uma ideia simples, supostamente inofensiva como o cordeiro. Será?

Isso empurra o processo revolucionário anarquista diretamente e principalmente para as cidades, claro, onde que existem mais pessoas? O Agrário é secundário ou irrelevante partindo dessa perspectiva. Porém, pensando no anarquismo nesse momento, é essencial que a revolução social tome do interior do Brasil às cidades urbanas. Para que isso ocorra, é bom esclarecer essa noção errônea.


O IBGE não parte de uma análise clara e uniforme com critérios bem estabelecidos para que seja feita essa análise campo x urbano. A priori, os municípios delimitam as suas áreas urbanas e rurais, sendo assim, há um grande jogo de interesses baseado no IPTU (Imposto Territorial Urbano) E ITR (Imposto Territorial Rural). O IPTU é mais rentável que o ITR, o que abre caminho para esses municípios superestimarem o tamanho da área urbana em prol de uma maior cobrança de impostos. Se por um lado cobram mais impostos, por outro estabelecem métricas incorretas para definirmos a real população rural do Brasil. Podemos dizer que o grande responsável pela noção errônea do campo x urbano é o Decreto-lei 311, de 2 de março de 1938. Da época do Estado Novo, definiu-se através deste Decreto, que tanto as sedes municipais quanto as sedes distritais passariam a ser caracterizadas como zonas urbanas, as primeiras enquadradas como cidades e as segundas, como vilas. As áreas rurais, por sua vez, definidas por exclusão àquelas zonas, compreendem o restante do território.

O índice oficial de urbanização do Brasil é tão exagerado atualmente (85%) que é superior até mesmo ao índice dos EUA (81%)! Tudo por causa da distorção oriunda desse decreto, isto porque inflou as populações urbanas em lugares que claramente não poderiam ser classificados como urbanos.


Não é nada difícil refutar esse absurdo de que o Brasil é mais urbanizado que os Estados Unidos. Basta observar imagens por satélite dos dois países para efeito de comparação através do velho e bom empirismo: Procure agora mesmo um mapa dos Estados Unidos visto do espaço e um do Brasil. Agora, compare por vocês mesmos a diferença de luzes noturnas dos dois países.

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Não convencido por esse método? Acha mesmo que exista alguma possibilidade do Brasil ser mais ou tão urbanizado quanto os Estados Unidos? Gosto do otimismo. Confia na chance que o Brasil possui uma concentração/dispersão similar aos americanos? Então vejamos algumas conclusões que os pesquisadores tiraram do Brasil usando a metodologia da OCDE.

Existem três classificações para a OCDE:

Predominantemente Rural: seria aquela em que mais de 50% da população vive em áreas de densidade inferior a 150 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km²)

Intermediário: seria aquela em que entre 75% e 85% da população vive em áreas com densidade acima de 150 hab/km²

Predominantemente Urbano: seria aquela em que mais de 85% da população vive em áreas com densidade superior a 150 hab/km²

Predominantemente Rural: Se em uma região caracterizada como predominantemente rural há um centro urbano com mais de 200.000 habitantes, esta região passa a caracterizada como intermediária;

Intermediária: Se em uma região intermediária há um centro urbano com mais de 500.000 habitantes, esta região passa a ser caracterizada como predominantemente urbana, para estes casos a população do referido centro urbano deve ter, pelo menos, 25% da população total da região.


O critério da OCDE é fundamentado no grau de concentração/dispersão da população, sendo este o critério geralmente aceito para as análises. O IBGE se baseia basicamente em ‘’Porque eu quero que seja assim!’’ dos municípios, claramente com interesses por trás como já apontado. Os últimos decidem e delimitam politicamente a demografia baseado em um ato com apoio do Decreto-lei 331 que foi citado anteriormente nesse texto.


Num estudo realizado recentemente, um grupo de pesquisadores, tentando aplicar os critérios da OCDE ao Brasil, chegaram nessa conclusão:

- 55,6% dos municípios do país (3.095) são intermediários;

- 20,6% (1.114) são predominantemente rurais;

- 23,8% (1.326) são predominantemente urbanos.

Por fim, 87,5% da população do país viveria em áreas consideradas urbanas, mas isso não significa que o país seja predominantemente urbano como o Governo maquia para parecer que o campo é vazio. Perceba a quantidade de áreas rurais que não se levam em conta na análise do IBGE quando comparadas com a metodologia da OCDE.

Ou seja, usando a metodologia da OCDE, ela apresenta um índice até maior que o próprio IBGE clama, desmentindo a análise do IBGE e favorecendo uma percepção: existem muitos mais áreas rurais do que aparenta. O Campo está vivo, ele pulsa forte, clamando pela mudança. Sendo assim, é totalmente falacioso afirmar que o Brasil é um país pouco rural, que é um país muuuito mais urbano que rural no ponto que poderia ameaçar o nível de urbanização dos Estados Unidos ou mesmo que o campo brasileiro esvaziou. É uma narrativa mentirosa para deslegitimar as lutas do campo. A Revolução Agrária não só é bastante atual, ele é uma necessidade extrema do povo brasileiro que já está cansado de tantas mentiras.


A Vitória da Revolução Social e do Anarquismo Brasileiro passam pela luta pela Reforma Agrária, da forte conexão do interior para fora, da implosão do intestino para o resto do corpo.