Pierre Joseph Proudhon
Novas Proposições Demonstradas na Prática das Revoluções
1- Os interesses estabelecidos pela sociedade são móveis, sujeitos a uma mudança constante e fundamentalmente instáveis.
2- A fixidez, permanência ou perpetuidade nas relações de interesses é uma abominação.
3- Esta mobilidade de interesses é a principal fonte das revoluções.
4- Um interesse, por mais injusto que seja, só pode ser abolido sob a condição de ser substituído por outro, que por sua vez poderá mais tarde parecer igualmente totalmente injusto.
5- A mente humana tem horror ao vazio; ela não aceita a negação pura, mesmo que seja a negação do maior dos crimes.
6- As nações nada fazem por puro amor ou por pura justiça; há sempre um motivo egoísta para cada reforma.
7- A adoração da verdade por si mesma é pura bobagem na revolução.
8- Todas as religiões, todas as instituições políticas, toda a economia da sociedade é uma modificação sucessiva do canibalismo.
9- As ideias que governam a sociedade, juntamente com os interesses, são móveis como esses próprios interesses, passíveis de aumentar e diminuir, sujeitas naturalmente a conflitos e contradições, perpetuamente alteradas.
10- A consistência nas ideias é o oposto da Mente social; a imutabilidade dos símbolos e das profissões de fé, na sociedade, é uma abominação.
11- Esta oscilação fundamental de ideias é a segunda causa das revoluções.
12- Uma ideia, por mais absurda que seja, nunca pode ser totalmente abolida, exceto quando substituída por outra, que mais tarde poderá parecer igualmente absurda.
13- A mobilidade das ideias e interesses não é suficiente para explicar as Revoluções.
14- A natureza humana permanece a mesma, no que diz respeito a dignidade e à indignidade; - o bem estar aumenta, a soma do conhecimento é multiplicada: a quantidade de virtude permanece a mesma.
15- O mal, o vício, a mesquinharia e a tristeza são elementos essenciais da humanidade.
16- O antagonismo de poderes cria toda a nossa vida: o status quo, o pão, o absoluto, felicidade, santidade. A perfeição é o nada, a morte.
17- O conhecimento íntimo dessa verdade é o princípio da resistência às revoluções.
18- O sentimento do belo e do sublime, o fascínio pelo absoluto, é a causa que desequilibra a balança e incita revoluções.
19- O belo, o sublime, o absoluto, o perfeito, o verdadeiro e o ideal são infinitos no pensamento.
20- Este sentimento produz aquilo que é maravilhoso na Humanidade; é a causa suprema, a ultima ratio das revoluções.
21- A ideia de Deus não é a concepção de um Ser Supremo, mas de um Ideal Supremo.
22- O ideal supremo não é real: não existe Deus.
23- Uma sociedade não pode existir sem um ideal transcendente: sem religião, a sociedade moderna corre o risco de morrer.
24- Todo ideal tem uma base real e inteligível: toda realidade e toda ideia é suscetível de idealização.
25- A mente tende inevitavelmente a realizar o seu ideal, na natureza, no trabalho, pessoalmente, no governo, na religião: é por isso que decide fazer uma revolução.
26- A sociedade necessitando de um ideal, e esse ideal necessitando pertencer a um ser real, devemos procurar um complemento à ideia de Deus.
27- A Verdade, assim como a Justiça, é essencialmente móvel e histórica; não há nada de absoluto ou eterno nela.
28- Somente as leis do movimento são absoluta e eternamente verdadeiras.
29- O estado de revolução é o estado normal das sociedades.
30- Toda manifestação supõe um sujeito: assim, a série de revoluções nos leva a supor um sujeito revolucionário.
31- As Revoluções são as Transições [Passagens] da Humanidade
32- Houve alguns pressentimentos dessa ideia; os Povos, os Poetas, os Escritores tiveram intuição disso.
33- Os fenômenos da revolução só podem ser explicados e compreendidos com a ajuda desta hipótese.
34- A hipótese de um sujeito revolucionário é tão racional e mais legítima que a de Deus e a da Providência.
35- Um ser não é uma coisa simples, mas um grupo.
36- Todos os seres, vivos e desorganizados, são grupos.
37- Tudo o que forma um grupo é realidade ou tem poder de realização.
38- A velha ontologia se desviou no quê definiu o Ser como uma substância simples.
39- A substância simples, mente ou matéria, é uma abominação.
40- Um homem é um grupo organizado, no qual a mente surge da organização.
41- O Povo são um grupo organizado: assim, o Povo é um ser real, dotado de Vida, Personalidade, Vontade, Inteligência e presciência.
42- A definição de homem de Bonald é, na base, a mesma de Cabanis: – uma simples transposição de termos fez toda a diferença.
43- A família, o grupo familiar, é um Ser Complexo, que tem o seu Eu, como o Povo e o Indivíduo.
44- A velha ontologia, em sua forma materialista, conduz a esta proposição: a matéria não existe.
45- Em sua forma espiritualista, leva a esta outra proposição: a mente não existe.
46- Deixar de lado a noção de substância e Causa e passar para o terreno dos Fenômenos e da Lei, ou do Grupo.