Renzo Novatore
Do Individualismo e da Rebelião
Há quem diga que o ser humano é, por natureza, um ser social. Outros afirmam que ele é, por natureza, anti-social.
Confesso que nunca compreendi claramente o que querem dizer com esse “por natureza”, mas compreendi que ambos os lados estão equivocados. O ser humano é, simultaneamente, social e antissocial.
Necessidade, desejo, afeto, amor e empatia são os elementos que o impulsionam à sociabilidade e à união.
Por outro lado, o desejo de independência e a ânsia por liberdade o levam à solidão e ao individualismo.
Contudo, enquanto o individualismo opera e se realiza contra a sociedade, esta se defende de seus ataques. A guerra entre o “societarismo” e o “individualismo” é, portanto, uma guerra fértil de vitalidade e energia. Apesar disso, assim como o indivíduo é necessário para a sociedade, esta também é indispensável para ele.
O individualismo não poderia existir se não houvesse uma sociedade contra a qual pudesse se afirmar, viver, expandir-se e alegrar-se.
Entre os seres humanos, apenas o rebelde é a figura mais bela e o ser mais completo. Ele sabe ser a ferramenta potencial de sua vontade desejante. Sabe obedecer a si mesmo e comandar-se, preservar-se e destruir-se. Porque o rebelde é aquele que aprendeu o segredo de viver e a arte de morrer.
Aquele que cai rebelando-se contra todos e cada um prevalece, mesmo ao cair.
E prevalecer significa incutir a chama de seu pensamento e impor a luz de suas ideias aos outros.
Mas o verdadeiro seguidor do rebelde caído é aquele que, ao cair, sabe como se rebelar até mesmo contra a “rebelião” do herói já caído.
Qualquer um que deseje que o espírito de rebelião seja eterno deve querer que a rebeldia da criança não se transforme na tirania do pai.
Se meu pai se rebelou contra meu avô para não ser escravo da fé paterna, eu me rebelo contra meu pai para não ser escravo da fé que o fez se rebelar por sua vez.
Como isso poderia fazer de meu filho, no futuro, o que sou hoje?
Somente das ruínas de tudo o que o rebelde destruiu pode nascer o gênio criativo.
Mas o que a criação do gênio prepara, senão uma nova rebelião?
Concordo com Nietzsche ao acreditar que nunca houve necessidade de questionar um mártir para se descobrir a verdade. A força desejante, a audácia ousada e a vontade criativa são tesouros herdados apenas pelo gênio, pelo rebelde, pelo herói.
Eu vi um gênio “roubar” e vi outro lançar uma bomba mortal contra um ministro de Estado.
O primeiro roubou para viver de forma independente e criar em liberdade. O segundo matou por ódio pessoal oculto e por desejo de morrer.
O primeiro cometeu um “crime vulgar e comum” e é considerado um “criminoso comum”. O segundo cometeu um “crime político” e é considerado um “nobre e generoso criminoso político”. Pergunto agora a todos os subversivos, políticos em geral, e anarquistas em particular: será que, ao enfrentar tal fato, é justo elevar outro “crime político” ao esplendor da glória e das celebrações, enquanto lançam o “crime comum” à lama?
Infelizmente, muitos ainda cultuam o trabalho. Mas antes de olhar para o trabalho, eu olho para o criador. Contudo, até mesmo entre muitos anarquistas, parece que o indivíduo pouco importa.
A maioria deles ainda está entre a ralé que afirma: “Os seres humanos não contam. Eventos e ideias contam.” Por isso, mesmo entre nós, muitos seres superiores e sublimes foram lançados na lama, enquanto outros tantos foram erguidos ao sol.
Nego a qualquer pessoa o direito de me julgar, exceto àquela que compreende a voz dos meus anseios, o uivo das minhas necessidades, os voos do meu espírito, a tristeza da minha mente, a emoção das minhas ideias e a angústia do meu pensamento. Mas apenas eu entendo tudo isso. Quer me julgar? Muito bem! Mas nunca julgará o meu verdadeiro eu. Julgará, sim, o “eu” que você mesmo inventou. Quando acreditar que me tem entre os dedos para me esmagar, estarei lá em cima, rindo à distância.
Il Proletario,
vol. 1, nº 4,
Pontremoli,
17 de setembro de 1922.