Errico Malatesta
Mikhail Bakunin (20/05/1814 – 01/07/1876)
É hoje o quinquagésimo aniversário da morte de Bakunin: os anarquistas do mundo inteiro comemoram, como as circunstâncias permitem-no, o grande revolucionário, aquele que consideramos todos como nosso pai espiritual.
Eu gostaria de reproduzir aqui algumas de suas mais eficazes e características páginas. Seria a mais útil e a melhor homenagem. Mas essas páginas, ardentes de fé e esperança, seriam decerto apreendidas tendo em vista os tempos atuais, e eu as teria reimprimido em vão.
Os leitores deverão, portanto, contentar-se com minha magra prosa, tão indigna para evocar tal homem.
Bakunin morreu há cinquenta anos; há quase cinquenta anos vi-o pela última vez em Lugano, já mortalmente golpeado pela enfermidade e reduzido à sombra de si mesmo (ele dizia-me meio sério, meio irônico: “Meu caro, assisto à minha dissolução”). Contudo, o simples fato de pensar nele ainda reconforta meu coração e preenche-o de jovem entusiasmo.
Tal foi, antes de tudo, o grande valor de Bakunin: dar a fé, dar a febre da ação e do sacrifício a todos aqueles que tinham a felicidade de sua companhia. Ele próprio tinha o hábito de dizer que é preciso ter “o diabo no corpo”. E ele tinha-o, verdadeiramente, no corpo e no espírito, o Satã rebelde da mitologia, que não conhece deus, que não conhece senhores, e que jamais se detém na luta contra tudo o que entrava o pensamento e a ação.
Eu fui bakuninista, como todos os camaradas de minha geração, infelizmente, doravante distante. Hoje, desde há longos anos, não me direi tal.
Minhas ideias desenvolveram-se e evoluíram. Hoje, creio que Bakunin foi demasiado marxista na economia política e na interpretação histórica. Creio que sua filosofia debatia-se, sem poder liberar-se, em uma contradição entre a concepção mecanicista do universo e a fé na eficácia da vontade sobre os destinos do homem e da humanidade. Mas tudo isso importa pouco. As teorias são conceitos incertos e cambiantes. A filosofia faz geralmente hipóteses embasadas em nuvens e, em substância, tem pouca ou nenhuma influência sobre a vida. Eis por que Bakunin continua a ser, malgrado todos os desacordos possíveis, nosso grande exemplo e inspirador.
A crítica radical do princípio da autoridade e do Estado, que ele encarna, está bem viva. Sempre viva é a luta contra as mentiras políticas, a crítica das duas formas pelas quais oprimem e exploram as massas: a democracia e a ditadura. A reputação desse falso socialismo que ele denominava adormecedor continua viva, e, conscientemente ou não, ela tende a consolidar a dominação dos privilegiados embalando os trabalhadores com vãs esperanças. E, sobretudo, o intenso ódio contra tudo o que degrada e humilha o homem, o amor ilimitado por sua liberdade, toda a liberdade, continuam vivos.
Que os camaradas pensem na vida de Bakunin, que foi plena de lutas ideais e práticas, que foi um exemplo de devotamento pela causa da revolução. Que eles busquem – e todos nós também! – seguir suas gloriosas pegadas, mesmo de longe, cada um segundo suas forças e suas possibilidades!