Título: Poesias e Hinos Libertários
Subtítulo: Hinos Anarco-Comunistas
Data: 2019
Notas: Esse livro de poesias não é o mesmo publicado pela revista anarquista A Sementeira, mas sim um compilado feito por Michel Felipe e Polyana Arenari a partir de diversos hinos e poesias anarquistas extraídos das páginas dos principais jornais da Imprensa Anarquista durante a República Velha até os anos 50, em especial do Jornal "A Plebe", de onde a maioria das poesias foram retiradas.

      Filhos do povo*

      Ser Anarquista

      Aos Operários

      Procissão Trágica

      Ao operário

      Um Conselho…

      Aos poetas - Miséria

      Dúvidas

      Morte… e depois?

      Aquele pobre

      Na Aldeia

      Balanço

      O que minha mãe queria…

      Arrependido

      Rebelião*

      Amor livre

      Primeiro de Maio*

      Maio Proletário*

      Aos heróis de Chicago

      Aos crentes

      Primeiro de Maio

      O Amor

      A Hora

      O Protesto

      A Cidade

      Marselhesa de Fogo*

      Marselhesa Anarquista (A Marselhesa de Fome)*

      A Ronda Heróica

      Anarquia

      Atroz Realidade

      Para um operário

      Liberdade!...

      Miséria

      A Fábrica

      Ululo

      Justiça

      Anarquia

      A nossa fogueira

      A tirania

      Pátria

      A República

      Ferrer

      A Escola Moderna

      Francisco Ferrer

      Dom Quixote

      A Justiça

      Raciocinando

      Um pavoroso milagre

      A um púlpito quebrado

       Barbas de molho

      Pecados

      A um padre

      Cristo-proletário

      Não-Sim Sim-Não

      O mineiro

      O Trabalhador

      O Merecimento

      O Modelo

      Os Seringais

      A Prisão

      Viva o Chefe do Trabalho!

      José Oititica

      Guerrilheiro Órfão

      Anseios

      Escutai, ó povo

      Espanha

      Cocoriqué!

      O Delíquio

      Negrinho do Pastoreio

      O Povo

      Canto Operário*

      A Lanterna Redivida

      Hipocrisia

      (A seguinte poesia não possui nome ou referências)

      Por uma Nova Expulsão dos Padres

      O Confessor

      Aos Coroados

      O Padre

      Aos Padres

      Ébrio

      À Operária

      Pequeno Proletário

      Desgarrão

      A justiça

      Os Grevistas

      O Último Grito

      A ordem dos burgueses

      Meu estandarte

      Prazo aceitável

      Peão da Energia

      Torquemada

      Bordo do Arlanza à Hora da Partida

      O Sol da Nova Ideia

      Exortação

      Tragi-Comédia

      Laus Satan X

      O Fuzilamento de Ferrer (Injustiça)

      No Exílio…

      1º de Maio

      O vampiro

      Abrí! Eu Chamo-me Anarquia

      A caserna

      O Turbilhão

      Proletário

      A BATALHA*

      Um povo livre e feliz

      A Ideia

      Ibéria

      Presos por questões sociais

      Em Nome da Lei…

      Dentro da noite…

      A pátria

      A Velha inutilidade

      A Canalha

      Primeiro de Maio

      Estribilho*

      Era uma vez

      Esqueça Deus

      Contraste

      “Ou crê ou morre!”

      Papai Noel e a Constituinte

      A Volta*

      O Padre

      A Comuna de Paris

      Era a voz da Imortal Comuna de Paris.

      Alvorecer

      Párias…

      1º de Maio

      A Melancia

      O Pelego

      Pão e circo

      Proclamação às tropas de "choca" do exército "galinhas verdes"

      O susto do Gegê

      O que eu odeio

      Amor Rebelde*

      A Revolta*

      Quando a Anarquia chegar*

      O Triunfo da Anarquia

      Addio Lugano Bella*

      Viva a Anarquia*

      Amarrado à Cadeia*

      Juventude Libertária*

      Às mulheres

(Os asteriscos demarcam os hinos anarquistas)

Filhos do povo*

Filhos do povo, sofreis em extremo,
-Lenta agonia, sem luz e sem ar,
Mais vale o esforço dum ato supremo,
Se a vida é pena, mais vale lutar!

Esse vil mundo que atroz vos consome,
Sobre esses ombros, despótico está;
Lançai-o à terra, matai-o de fome,
-Força suprema que o braço nos dá.

Ah, revolução
Abre o porvir!
A exploração
Há de sucumbir!
Levanta-te povo leal
Ao grito de Revolução Social!

Ação, Ação!
Não pedir leis!
Valor e União
Que livre sereis!
Tomai de vez
O bem estar
Contra a burguesia
Lutar! Lutar!

Quando num gesto viril, soberano,
Numa revolta de Ateu produtor,
O homem dissipe a neblina de engano,
Retome a terra, repila o senhor,
Sobre os escombros, a livre Comuna, sem leis nem amos viva surgirá;
Que a liberdade da vida nos una,
Se tudo é de todos, escravos não há!

Ah, revolução
Abre o porvir!
A exploração
Há de sucumbir!
Levanta-te povo leal
Ao grito de Revolução Social!

Ação, Ação!
Não pedir leis!
Valor e União
Que livre sereis!
Tomai de vez
O bem estar
Contra a burguesia
Lutar! Lutar!

Ser Anarquista

Ser anarquista é ser forte,
É refletir a verdade;
É pensar na triste sorte
Desta pobre humanidade!

É ser contra o banditismo
Que se vê por todo mundo
É querer o Comunismo
Por ser humano e fecundo.

O anarquista ultrapujante
Quando fala às multidões,
Parece um astro gigante,
Da luz das constelações!

Incita os povos escravos
A lutar contra os senhores
Criando exércitos de bravos
Combatentes, vingadores.

Demonstra que a Humanidade
Tem de gozar sobre a Terra
Da maior felicidade
Que o raciocínio encerra!

Se o burguês - monstro odioso -
O condena à guilhotina,
Por seu sangue generoso
Se propaga a sã doutrina.

Ser anarquista é ser grande
Não temendo sacrifício,
É querer que ninguém mande
Pela força ou por suplício.

Aos Operários

E agora oh! Produtor, oh! Férvido Operário
Que escravo, sonolento, exausto e moribundo
Num século de luz, sucumbes sem vestuário,
Faminto e obcecado, inerte e gemebundo:

Não esperes jamais que o Estado, teu coveiro,
Te venha defender das garras da riqueza:
O estado é teu verdugo, O estado é carniceiro,
O estado é a burguesia, o Estado é a torpeza!

Os maiores ladrões e os grandes criminosos
Ali vão se acoitar buscando a impunidade!
Só eles são os bons, nós somos “perigosos”
Defendendo a Justiça e exigindo a Verdade!

Os homens do poder impedem que se aspire
A flor da liberdade, a estrela do Anarquismo!
Porque eles vem trazer por certo quem conspire
Contra os crimes senis do falso socialismo!

É por isso que espero e sonho o Povo unido,
Soldado, camponês, doutores e operários
Na mesma inspiração de um Ideal Partido
Que destrua de fato a força dos sicários!

Eu quero ser humano e praticar a Justiça!
E vê-la praticada em todo este universo…
E desejo igualmente a extinção da cobiça
Pela união geral desse povo disperso!

A terra não tem dono! As terras se tranqueiam!
E entretanto ainda existe a tal propriedade!
Pra dividir o Mundo em pátrias que guerreiam
Combatendo o Direito, o amor e a Liberdade!

Abaixo esta justiça iníqua que se vende!
Abaixo às leis do pobre e não dos abastados!
Que tal desigualdade o nosso brio ofende
E nos faz com razão eternos revoltados!

Procissão Trágica

Procissão triste, negra, macábrica.
Eles desfilam. Vem da fábrica,

onde seus braços fecundadores
geram riquezas… para os senhores…

Na minha rua, vejo-os passar
- jaqueta no ombro e a dor no olhar…

Trágicos, sujos, em negro bando,
passam abstratos, rotos, sonhando...

Vêm das fadigas duras, malditas,
que dão tesouros… aos parasitas…

Passam crianças magras, cloróticas,
Vêm das minas atrás, despóticas.

Como entristece, como desola,
ai! ver a infância roubada à escola

e à Natureza materna e santa
- pródiga mater, que ri e canta.

Mulheres tristes e desgrenhadas,
às casas voltam, apressuradas.

Elas, que andaram a enriquecer
gente que nunca viram, sequer,

voltam aos lares, onde os filhinhos,
choram, famintos e sem carinhos…

O vulgo passa, passa a gentalha,
que nos sustenta, sua, trabalha.

Vêm do campo, vem da fábrica.
Procissão triste, negra, macábrica…

Ao operário

Operário ignorante e maltrapilho,
escravo, ilíota da moderna idade
que neste afã perdes a cor e brilho
de olhar, fanando a flor da mocidade,

que vês de fome definhar teu filho
e de teu lar fugir a alacridade,
desperta finalmente e segue o trilho
da rebeldia e da felicidade!

Atenta na objeção em que caíste
a ardente voz dos teus irmãos escuta,
pensa na agrura de teu fado triste

e, sem achares forças que te domem,
quebra os grilhões, instrui-te e altivo luta
por seres livres - para seres “Homem”!

Por que estás assim triste? Vem pugir-me
O peito esse profundo meditar…
Vamos! A fronte erguida! Passo firme!
Não vês o espaço aberto ao teu olhar?

Tens devassado todos os mistérios
À força do teu braço e pensamento,
Poder sozinho derrubar impérios
E tens medo de pôr-te em movimento?

Sacode os membros teus entorpecidos,
Mostra aos que te julgam ver-te moribundo
Que és um leão de tétricos rugidos
Que pode um dia avassalar o mundo!...

Um Conselho…

Donzelas que passais, risonhas para a Igreja,
A ouvir devotamente a voz dum confessor:
Que vos atrai ali? É o riso sedutor,
Que a vossa alma infantil ambiciona e deseja?
Esse antro secular, horrendo, só dardeja
O mal… O padre é negro, é negro seu amor.
Não penses, ó mulher, que o novo redentor,
É aquele que sorri… sorri… mas que te beija!...

Produto da ignorância, e do erro, e da mentira,
A igreja deu ao mundo, ao som da sua lira,
Uma lei - que ironia - a lei da servidão!

Quereis cumprir, mulher, o teu maior dever?
Foge da Igreja, foge! A igreja é um poder
Que traz um Deus na boca e um punhal na mão…

Aos poetas - Miséria

Artista! Se te oprime a esquálida miséria,
Se a grande falta de ouro amarra as tuas asas,
Rojando-te no chão, na lama da matéria,
Mesclando a fome vil ao sonho que te abrasas,

Não te importe o clamor dessas turbas tão rasas,
Não te importe o pungir da carne deletéria;
Num solo de veludo ou num solo de brasas,
Caminha, fito o olhar numa esperança etérea.

Que te importa o banal? A propriedade? O mundo?
Se te negam o pão, usa a força, expropria;
Em vez de te humilhar, faz-te vagabundo!

Vibra o pletro de luz por esse mundo fora,
Mas lega, quando morto, à multidão sombria,
Um grito de revolta e uma estrofe sonora.

Dúvidas

Quanta ilusão!... o céu mostra-se esquivo
E surdo ao brado do universo inteiro…
De dúvidas cruéis prisioneiro
Tomba por terra o pensamento altivo.
Dizem que Cristo, o filho de Deus vivo,
A quem chamam também Deus verdadeiro,
Veio ao mundo remir do Cativeiro,
E vejo o mundo ainda tão cativo!

Se os reis são sempre os reis, se o povo ignaro
Não deixou de provar o duro freio,
Da tirania, da miséria o travo.

Se é sempre o mesmo engodo e falso enleio,
Se o homem chora e continua escravo,
De que foi que Jesus salvar-nos veio?

Morte… e depois?

Que haverá depois da morte? - Em vão hei perguntado
ao Sol, à Terra, à Lua, ao espaço ilimitado.
Haverá, além da campa, acaso, um outro mundo,
onde haja, como aqui, gente de carne e osso?
um mundo vil, perverso, ignóbil, torpe, imundo,
um mundo como o nosso?

Ou um mundo melhor -o ideado pela Crença,
onde os cultores do bem, terão a recompensa,
e os sectários do mal, padecerão o eterno,
horrendo e atroz suplício: -as chamas dum Inferno?
-Mistério?

Pra além da campa, enfim, do túmulo funério
não consegui, ainda, o “sábio” penetrar…

Em vão hei perguntado ao Sol, à Terra, ao mar:
-Morte… e depois?
Mistério!...

Mas a mim sempre me quer parecer,
que além da morte horrenda existe a seiva: o Nada
que faz surgir da terra aos coisas aos milhões,
...e que a matéria humana, a um tempo é transformada
em batatas, arroz, ciprestes ou melões…

Aquele pobre

Aquele pobre que nos pede esmola,
Choramingando uma canção dolente,
Simboliza a miséria incongruente,
A falta de justiça que estiola.

Ele teve a oficina por Escola…
Outrora trabalhou alegremente;
Hoje, morre de fome, horrivelmente,
No meio dum monturo que desola.

Seu esforço viril de proletário:
Tornou inda mais rico o milionário:
-Vampiro inconsolável de ambição.

Às chagas purulentas deste mundo,
Constituindo um mal -o mal profundo-
Tem um remédio só: A revolução…

Na Aldeia

O sol morria ao longe! O sino da capela
Tocava sem cessar, o dobre de finados…
Morrera lá na aldeia uma gracil donzela,
Que nunca confessou, ao padre, seus pecados.

O povo ia rosnando à “louca”, à “falsa” estrela
Que regenera a fé dos antepassados!
Ela queria a vida intensa e tão singela,
Que dá felicidade aos próprios desgraçados…

Quando escutei a voz daquela gente rude,
Daquela gente inculta, então eu soube e pude
Analisar a força, enfim, do missionário:

O padre engana o povo e mata-lhe o sentir;
O fim da religião reside no mentir,
Que leva ao sabujismo o pobre proletário…

Balanço

É duro o sofrimento! A dor é infinita!
Por toda a parte existe um grande mal estar.
O mundo é um vulcão. O grito da desdita
É tão aterrador como a fúria do mar.

Dos lados sobressai uma frase bendita,
Coléria, vibrante, heróica e rutilar.
Quem é que a pronuncia? Essa massa contrita.
Que se ergue num rugido, olhando o seu penar.

Porque tão forte gesto? A senda da revolta,
Donde surgiu feroz? Palavra e pedra solta,
Tem um alvo a atingir, na sua intimidade....

O luxo não tem leis, a miséria é demais.
A luta por dinheiro é luta de chacais,
Que só terá seu fim no reino da igualdade…

O que minha mãe queria…

Minha mãe, que morreu há muitos anos,
Quis, em vida, fazer de mim um crente
Nas “virtudes” de Deus onipotente
E dos padres católicos romanos!

Concebeu, minha mãe, ridentes planos…
Meu futuro, seria certamente,
Obedecer à igreja, cegamente,
Sem descobrir sofismas, nem enganos.

Mas desde que atingi a adolescência,
E vi qual era o fim da religião:
Pregar em toda parte a obediência,

O servilismo, o dogma, a escravidão,
Eu bani do meu cérebro tal demência:
Deus não existe. O padre é um vilão…

Arrependido

O padre Jacinto fazia anos,
Conforme velhos costumes, convidava amigos seus
bons católicos romanos…
Era um jantar… Em queixumes,
dizia ditos sandeus:

“Os tempos andam bicudos!...
Não reparem os guisados
deste modesto jantar.
À sobremesa há canudos,
que, depois dos guisados,
iremos saborear.”

Lá havia autoridades, do delegado aos juízes,
e a Joaninha do arraial…
Falavam em divindades,
sobre ermidas e matrizes
e vida paroquial.

O cura pançudo e velho,
tem a batina ensebada,
ventas sujas de rapé.
Quando ele lê o Evangelho,
sua casa, então fechada,
tresanda em forte chulé.

Para o jantar, com esforços,
ele matou um suíno,
de cuja carne comeu.
Mas, depois, teve remorsos
do fratricídio ferino,
e, cônscio, se arrependeu.

Rebelião*

Com gemidos agoureiros,
Num pavoroso lamento,
Lá fora perpassa o vento
Chicoteando os pinheiros
E à noite caliginosa,
De uma tristeza superna,
É como a boca monstruosa
De uma monstruosa caverna.

Chove. O arvoredo farfalha.
Soturno o trovão ribomba
Como longínqua metralha
Depois o silêncio tomba,
Pávido e trêmulo escuto,
Mergulho a vista lá fora
E vejo a terra de luto,
E ouço uma voz que apavora.

Como um vago murmúrio,
Mansa a princípio, ela ecoa.
Depois é um grito bravio
Que pela noite reboa,
Que para a noite se eleva
Num pavoroso transporte,
Como um soluço da treva,
Como um frêmito da morte.

Essa voz cheia de ameaças,
De imprecações e rugidos
É o clamor das populações,
É a voz dos desprotegidos.
Medonha, relutante e rouca,
Vem desse mundo sombrio
Dos que tiritaram de frio
E não tem pão para a boca.

Vem das lôbregas choupanas
Onde em tarimbas sem nome
Há criaturas humanas
Agonizando com fome;
Vem da cloaca deletéria
Em que a "Justiça" comprime
Esses que a mão da miséria
Pôs no caminho do crime;

Do quarte -açougue enorme-
onde à espera da batalha,
Morta de fadiga dorme
A carne para metralha;
Dos hospitais, dos hospícios,
Das toscas onde ressona,
A grey de todos os vícios
Que a miséria proporciona.

Ah! nesse grito funesto,
Nesse rugido palpita
Um rancoroso protesto;
É o povo, a plebe maldita,
Que sombria, ameaçadora,
Nas vascas do sofrimento,
Mistura aos nivos do vento
A grande voz vingadora.

Tremei, vampiros nojentos,
Tremei, nos vossos dourados
Palacetes opulentos!
O sangue os desgraçados
Sugai, bebei gota a gota,
Não tarda que chegue o instante
Em que a turba se levante
Sedenta, faminta e rota.

E quando comece a luta,
Quando explodir a fomenta,
A sociedade corrupta,
Execrável e violenta,
Iníqua, vil, criminosa,
Há de cair aos pedaços,
Há de voar em estilhaços,
Numa ruína espantosa.

Amor livre

Virgens, erguei o olhar que às sombras do convento
acostumou a andar cerrado para a luz,
Deixai um instante só os êxtasis de cruz,
e enchei-vos deste sol que brilha turbulento.

Virgens: deixai o altar e o solo poeirento
e o frio sepulcral da casa de Jesus
e vinde, erguida a fronte e os lindos seios nus,
para que o sol vos beije e vos abrace o vento.

Deixai na cela áustera a timidez do olhar
e vinde para a vida de rir e cantar
os cânticos do amor, de força e de beleza.

Vinde gozar a vida em toda plenitude
e não faneis assim a vossa juventude
com sonhos infantis duma banal pureza.

A virgindade é quase um crime. Cada seio
deve florir num ser tal como a terra em flores.
Vencei o preconceito e os falsos vãos pudores
em que vos abismais num subitâneo enleio.

Dai-vos altivamente aos beijos, sem receio.
Vida, gerai a vida e procriai amores.
Glória ao túrgido peito! Honra das maternas dores!
Honra ao ventre de mãe abençoada e cheio!

Como na antiga Grécia esteta, redivida,
à virgens desnudas a vossa carne altiva
e fecunda, após, num sopro de energia.

E vós, homens do amor, e vós que a desejais,
arrancardes da fronte as ervas virginais,
beija-as livremente à grande luz do dia.

Primeiro de Maio*

(cantado ao som de Nabucodonosor, de Verdi)

Vem ó Maio, saúdam-te os povos,
em ti colhem viril confiança,
vem trazer-nos cerúlea bonança,
vem, ó Maio, trazer-nos dias novos!

Vibre o hino de esperanças aladas
ao grão verde que o fruto matura,
à capina onde a messe futura
já floriu sobre as negras queimadas!

Desertai, ó falanges de escravos,
da lavoura, da negra oficina;
um momento de trégua é fachina,
ó abelhas, roubadas aos favos!

Levantemos as mãos doloridas,
e formemos um feixe fecundo:
nós queremos remir este mundo
dos senhores da terra e das vidas!

Sofrimentos, ideais, juventudes,
primaveras de túrbido arcano,
verde Maio do gênero humano,
dai coragem aos ânimos rudes!

Implorai ao rebelde caído,
com olhos fixos no nascente,
ao obreiro que luta fremente,
ao poeta gentil, esvaído.

Maio Proletário*

Ó Maio venturoso, ó grande dia!
O teu ardente sol é a alegria
que arpeja nos corações doridos
Da multidão, que espalha os seus gemidos
Na tortuosa e negra escravidão
E na cruenta luta pela redenção.
Saúdo em ti, Ó Maio promissor!
A heroica e sublime proletária dor.

Qual flâmula ao vento esvoaça,
Brilhas assim na escuridão que passa
De ódios, de rancor, de guerra e matanças.
Saúdam-te, Ó Maio, as crianças,
Os velhos, a mãe que chora, o proletário,
O artista, o professor, o visionário,
A juventude ardente onde viceja
A liberdade que a humanidade almeja.

Saúdam-te os povos subjugados
Pela tirania de monstros, renegados,
Trânsfugas da vida, da vida vendilhões
Que aos homens livres deram-lhes grilhões,
Pensando aprisionar o pensamento.
Mas já a revolta ruge o seu lamento,
A tempestade rui a cidadela,
Da liberdade sente-se a procela.

Ó Maio proletário e de esperanças,
O teu hino é um poema de lembranças!
Da histórica missão de quem trabalha
És a rajada de luz que espalha
O mirífico ideal que rumoreja
Na esplendorosa aurora da peleja,
És a primavera da vida que se apresta
Trazer aos povos sua grande festa.

Salve, Maio! Símbolo que traz
a redenção humana da justiça e da paz!
Foste tu do oprimido a fala,
Libertaste o negro da senzala
E da senzala recolheste o grito
De escravo vil, acorrentado e aflito.
E na dolorosa senda proletária
Foste tu que iluminaste o pária.

Eu te saúdo, Maio! Aspiração e luz!
Saúdo o mártir e o povo que produz,
Saúdo o pária, a orfandade aflita,
A jovem esposa onde palpita
A esperança de um porvir melhor.
Ouves de Maio o épico clangor?
Da sociedade velha e agonizante
Surgirá uma nova e livre. AVANTE!

Aos heróis de Chicago

Para corporizar em versos cristalinos
A suprema visão de oito semeadores
Que sobraceiramente uniram seus destinos
Em prol da redenção dos sofredores
Para se causticar a fonte dos tratantes
Que fizeram tolher o passo aos bandeirantes
Paladinos do bem, dos mundos superiores,

-É preciso verter as lágrimas do triste,
Suportar e reagir aos aguilhões da fome;
É preciso enfrentar a causa que persiste
Na missão de manter o mal que nos consome.

É preciso pairar acima da opulência,
Ter nobre sentimento e ser puro altruísta,
É preciso sentir, amar, ter complacência,
Pensar e refletir, ser algo mais que artista;
Definir e mostrar por atos de verdade,
Tudo quanto elevar a causa da igualdade!

Pelos tempos afora
Desde o riso pagão à loucura cristã,
Existiu a pletora
Das leis a constituir uma justiça vã…
Tal como antigamente o mesmo existe agora!
Mas apesar das leis serem frutos da força
Existe uma lei que jamais há quem torça
-É a lei da vontade
O desejo aguilhão da humanidade!

Arautos decididos,
Ousando conquistar nas praças de Chicago,
Oito horas de labor em bem dos oprimidos,
Não poderão gozar do sonho o belo afago.

Presos foram sofrer sem culpa, nas prisões!..

Embora quatro heróis tenham sido enforcados,
Alguém fez prosseguir seus gestos e ações
E disto a prova está nas reivindicações
Que desde 86 são fatos confirmados!
Oito horas de labor para cada operário,
Valem por uma luz na treva dum calvário!
Faz avançar um grau na estrada que conduz,
Ao édem da equidade o povo que produz.

Irmãos que me escutais: se em vossos corações
Arde a chama do amor em novas concepções,
Deixai que se irradie esse calor fecundo
Até se transformar em sol de novo mundo!

Aos crentes

Mortais, crede com fé, com viso de verdade,
Verdade de pureza heroica e irrefutável,
Que a crença que domina a tola humanidade
É uma crença imbecil, corrupta e detestável.

Da solidão astral nos chega a luz vigente
A luz que a nossa treva afugenta e ilumina,
E assim o amotinas vereis incontinente
Na crença virtual a que julgais divina.

Ao histrião e ao pulha e mesmo ao que domine
Símbolos dessa crença infame, e desse mal,
Daremos por lições a ler Kropotkine
E não devemos crer que nossa alma é imortal!

Gozemos com fervor o mundo, esse conjunto
De crenças, de ilusões, de prantos, de maldades;
Exploremos sem pejo a flor do tal assunto
Ao forte despertar arcano das verdades…

Funâmbulos, mastias, assim desta maneira
Irão provavelmente atrás sem freguesia:
Acabam-se os missais, a grande pagodeira.
E o baile religioso ecoando vilania.

Hipócritas de “deus”, palhaços infamantes,
Impudentes cristãos e falsos clericais,
Não mais conseguirão com capas de farsantes
Vestir a humanidade em almas imortais!

Brademos com fervor, mas com fervor imenso,
Fervor que ao deus-natura alegrará por certo:
Como um sábio qualquer a revirar com senso
As folhas colossais de um grande livro aberto.

Primeiro de Maio

Meus irmãos proletários, este dia
Faz de susto tremer a burguesia
De todo mundo, em toda vasta terra,
Que num gesto de medo e de pavor
Vai pelo mundo semeando a dor,
A miséria e o crime, o luto e a Guerra.

De seus crimes horrendos, sanguinários,
Tem receio que nós, os proletários,
Lhe vamos pedir contas algum dia;
Receia ver as turbas despertadas
E ouvir o galopar das cavalgadas
Do ideal, da liberdade, da Anarquia!

Embriagando as massas de prazer,
A canalha dourada quer fazer
Dum protesto um motivo de alegria;
E assim lavar as mãos ensanguentadas
Nas vidas proletárias, arrancadas
Ao sol da liberdade e da anarquia!

Procuram iludir, com vis enganos,
Os burgueses velhacos e tiranos,
À foice, ao camartelo, à enxada e ao malho;
Chamando ao dia Primeiro de Maio,
De propósito, a Festa do Trabalho.

Repudiai esse insulto, proletários!
Respodei aos tiranos salafrários
Cruzando os vossos braços neste dia.
Conquistemos a vida dando a morte
Às colunas sociais da tirania!

Cantando ao som da "Internacional",
Irmanados pelo braço fraternal,
Proclamemos a nossa redenção:
Saudando o sol de Maio que há de vir,
Marchemos à conquista do porvir,
Fazendo os funerais da escravidão.

O Amor

Aí tendes o amor do século pujante,
A potentosa lei que há-de reger o mundo,
Quando o sol, que hoje rompe apenas no levante,
Atingir do zênite o páramo fecundo.

É forçoso que após a morte desastrosa
Das divindades vãs, fantásticas de outrora
Se eleve, como um astro, a crença luminosa
De uma igreja maior, mais forte e duradoura.

Seja pois o universo a Grande Igreja
Onde o novo ritual em pompas de Thabor
se célebre, e cada um sacerdote seja
E cada peito o altar da religião do amor.

A Hora

Eis a Hora, a grande hora da peleja,
Hora de sacrifícios e entusiasmo!
Pulsa meu coração, meu peito arqueja
No momento da ação repleto e pasmo.

É a batalha final! Trovo, troveja,
Além-mar, o canhão; foi-se o marasmo
Da plebe una, e a revolta benfazeja
Move espada e morrão, ódio e sarcasmo.
Levantam-se os escravos contra os amos!
Há um clamor de vitória em toda a Terra…
Somos nós, anarquistas, que clamamos!
Nós que vamos sorrindo e subvertendo,
Arrastando os irmãos à Maior Guerra,
Num rebate de loucos, estupendo!

O Protesto

Protesto contra o mal da força e da justiça:
Um degrada a fraqueza, outro excita à agressão;
Contra a fé que reduz o homem a alma submissa,
Iludindo-o com céus que nunca se abrirão.
Clamo contra o senhor, clamo contra a cobiça,
Inventora de leis, criadora de opressão.
Sou Spártacus e odeio a pátria se esperdiça
Meu sangue e faz, do suor, esforço hostil e vão.
Bradam, no meu protesto, os prantos do passado…
Ira acesa de todo um mundo sofredor;
Mártir do amo, do rei, do padre, do soldado!
Sou a nova intuição contra a lei do Senhor;
Sou a ação que destrói a moral do pecado,
Para erigir o orgulho e libertar o amor.

A Cidade

Sinto a repulsa dos dominadores…
Sou novo, sou ateu, sou anarquista;
Não sigo a mesma norma dos doutores
E ergo, acima das baias, minha vista.
Aperto, entre meus dedos compressores,
A garganta da casta comodista;
Anuncio outra lei e outros valores;
Sou a palavra santa que conquista.
Vou sozinho, arrostando o ódio dos amos…
E em pó, no topo da colina extrema,
Indico ao povo a Sião para onde vamos:
Vamos para a cidade iluminada!
Vejo-a ao longe, a faiscar, como diadema,
Entre a prata e os carmins da madrugada.

Marselhesa de Fogo*

A chama a crepitar! E círculo formai!
Dançai!
Dançai!
De arechole, aceso o mundo iluminai!

Correi, correi, filhos do povo!
Deixai a pena e vinde ver…
Vinde assistir o quadro novo:
O bargo vil, a arder, a arder!
A chama alegre, a crepitar
Anda e corre, entre os casebres;
Arde covil de fome e febres:
A chama heroica sobre o ar…

A chama heroica sobe, voa:
Sobre as pocilgas- rubro vem!:
E o crepitar do fogo entoa:
Uma canção sobre o céu…
Quanta miséria desinfeta:
O burgo é vêlo, o fogo é bom!
A chama sobe em linha reta…

O burgo tudo esboroa,
A chama varre a podridão.
Oh! Como a terra será boa!
Oh! Quantos meses brotarão!
Colhe as panteras no covil,
Queimada vá! Colhe as serpentes!
A chama tem línguas frementes,
E põe no céu o tom febril…

A chama faz cair tugúrios,
E faz ruir prisões também,
Lambe quartéis, mantos purpúreos,
A podridão que a terra tem…
Enquanto o burgo se reduz
A brasas rubras, fumegantes,
Duma potente e nova luz

A chama canta, salta e corre,
O velho burgo tomba enfim,
Oh! Quanto abutre cai e morre!
Oh! Quanto abutre em seu festim!
De face arder- que a chama crésia!
Ó parias nus, vinde dançar
Dançar em rosa, correr, cantar
Que esta fogueira é nossa festa!

Marselhesa Anarquista (A Marselhesa de Fome)*

Eia, rebelde, para a rua,
Formemos todos nós legião!
Nossa alma cheia de ódio estua,
Ruge violenta como um leão!

Chega o momento da vingança,
Basta de fome e de sofrer!
Com a submissão nada se alcança,
Tudo se alcança a combater!

Chega o momento da vindicta,
Vem teu direito reclamar!
Todo esse povo que se agita,
Todo é de irmãos, vai batalhar!

Vamos! A nossa luta que te invida,
Não é de iguais, não, contra-iguais;
Não é a luta fratricida,
Que faz dos homens animais;

Não é a luta repelente
Que entre si fazem as nações,
Em benefício unicamente
Dos financeiros tubarões…

A nossa luta é santa e nobre,
tão sagrada como o ideal,
É o doloroso afã do pobre
Contra a opressão do Capital.

Todos seremos bons soldados,
Sem generais a dirigir;
Todos seremos compensados,
Quando a vitória nos sorrir!

Não são as riquezas que queremos,
Que o ouro é o veneno mais atroz;
As honrarias desprezamos,
Que não há deuses entre nós.

A todos cabe igual direito,
Somos irmãos de igual valor;
Pois, a uma voz negamos preito
Ao que torna-se ostentador.

Vamos! A luta que te fascina,
Que para a rua nos atrai
Não é a vil guerra assassina
Que a toda parte lança um ai!

Escuta bem! Não ouves perto,
Do prélio, o estrépido viril?
Não vês que sopra do deserto
Um furacão torvo e febril?

Pois é coitada espécie humana
Que ora desperta e, com altivez,
Se empunha numa guerra insana,
Contra o inimigo, o vil burguês;

Pois é o simun da alta justiça
Que vem varrer o mundo, enfim,
Das perversões e da injustiça,
Que o fazem tão cruel assim…

Eia, rebelde, se tens fome,
Se estás cansado a sofrer;
Se a tirania te consome
As alegrias do viver,

Ergue-te e vem, torna-te um bravo,
Pelo ideal luta também.
Enquanto fores um escravo,
Somente és digno de desdém!

A Ronda Heróica

Pela santa Anarquia -ideal humano-,
Mais uma vez, o cárcere transpus…
E aqui, neste cubículo tirano,
Aos meus dou perdão, como Jesus.

Sei que através de muito desengano,
Temos de ensanguentar a nossa cruz,
E transformá-la, sós, ano após ano,
De lenho infame em tocha que conduz.

Na Espanha, heroico, o lábaro anarquista
Vejo, em cada trincheira, trapejar…
Aponta ao mundo o rumo da conquista!

De olhos nele, prostemo-me a rezar…
E, aos poucos, vai surgindo, à minha vista,
A ronda dos seus mortos a cantar!

Anarquia

Para a anarquia vai a humanidade
Que da anarquia a humanidade vem!
Vide como esse ideal do acordo invade
As classes todas pelo mundo além!

Que importa que a fração dos ricos brade
Vendo que a antiga lei não se mantém?
Hão de ruir as muralhas da Cidade,
Que não há fortalezas contra o bem.

Façam da ação dos subversivos crime,
Persigam, matem, zombem... tudo em vão…
A ideia, perseguida, é mais sublime,

Pois nos rudes ataques à opressão,
A cada herói que morra ou desanime
Dezenas de outros bravos surgirão.

Atroz Realidade

Fui encontrá-lo em desespero infindo…
A sua casa onde imperava a fome
Abrigo dava a um queribum tão lindo,
Quase a finar-se num sofrer sem nome,
Na enxerga, a um canto, a companheira, rindo,
Num riso louco o existir consome
Sente que a vida, se lhe vai fugindo
Sem forças ter pra que essa fuga dome…

Há dias que essa família exausta
Que forças teve pra um labor atroz
Respira Morte por não ter pão,

Enquanto à porta a humanidade fausta
Passa, fingindo não lhe ouvir a voz
Que em breve cansa de clamar em vão.

Para um operário

Trabalhaste dez lustros e segundo
Mo disseram, morreste foi de fome,
Como a sorte é variável neste mundo!
Como a tua lembrança me consome!

Não sei se tinhas prole, nem se o fundo
Da sua alma era bom, nem qual teu nome,
Porém sei que arrastaste um mal profundo
Para a cova onde a dor se some!

Descansa, lutador, em paz! Descansa!
Tu, que nunca o descanso usufruíste
Sobre a terra onde luz tanta bonança!

Descansa, que o suor do teu trabalho
Há de rolar no teu sepulcro triste
Cristalizado em pérolas de orvalho!

Liberdade!...

De tombo em tombo, a rastejar na lama
Manietada na ideia e de alma baça,
A humanidade vive, geme e passa,
Como se o mundo ardesse em rubra chama!

Clama a justiça… e a dor bem alto clama…
Chora a miséria, nua em plena praça…
E, ao fim, como Jesus à negra taça
De amargura põe termo neste drama!

E o povo? É o triste e humílimo Messias
Acorrentado à lei da iniquidade,
sem revolta, nem queixas às judiarias!

Como ele, aos ombros, com serenidade,
Leva ao calvário a cruz, em nossos dias
Onde aspira bradando: liberdade!

Miséria

Miséria! Um dia tu bateste à minha porta
E ela logo se abriu ante o teu vulto esguio!
Vinha do polo norte a tiritar de frio,
De membros semi-nus, de fome quase morta!

Apiedei-me de ti e dei-te o que te conforta,
Dei-te tudo o quanto tinha: o pão, o vinho, o estio…
E tu sempre faminta, o ventre, o olhar vazio,
O mesmo aspecto nu e a mesma boca torta!...

Depois ficamos sós, em frente à mesa nua…
E a luta se travou, encarniçada e larga,
Entre a minha existência e a destruição da tua!

Ao peso, sucumbi, d'um golpe a toda carga…
E, quando dei por mim… vagava em plena rua,
Envolto e confundido em tua vida amarga!...

A Fábrica

Paro em frente da fábrica maldita
Que se ergue, altiva, a meio d'uma rua
E ao vê-la a alma queda-se contrita,
E o coração, de dor, no peito estua.

Meio dia na torre. O monstro apita.
A legião dos párias tumultua.
Um grande burburinho a rua agita.
Eleva-se e no próprio ar flutua.

Oh! Quanta dor a vida não traduz,
-Penso então- quanto esforço nunca antes visto,
Vivido assim nas fábricas sem luz,

Trabalhador escravo, em face disto,
Eu julgo mais pesada a tua cruz,
Do que a cruz em que foi pregado Cristo!

Ululo

Ai vem o herói. Motim. Entusiasmo. Vitória.
Bocalissimamente o entroniza a canalha.
E o inconsciente, o imbecil, nos enxurros da escória,
A enfunar-se, lá vai de retorno à batalha.

Pilhou. Roubou. Matou. Prostituiu. A oratória
Celebra o vencedor e o vencido atassalha.
A infâmia organizada, a ferro e a palmatória,
A inocência castiga, a velhice metralha.

Horror. Execração. Generais, militares,
Fazeis que o homem, que é bom, se degrade e assassine
Da hiena e do chacal sois vós os avatares.

Herói, é só quem faz que a razão se ilumine,
E, para outrem vivendo, almas apostolares,
É um Proudhon, é um Reclus, é um Pedro Kropotkine!

Justiça

Progredir, melhorar… Esgota-se a ampulheta,
palpita o regular cronômetro. O aeroplano
- abelha solta da colmeia do Planeta -
sobrepaira à charrua, em terra, e à nau, no Oceano.

É a Civilização, A fórmula obsoleta
cede aos novos ideais do Pensamento humano.
Mas o homem… inda arrasta a secular grilheta:
É o mesmo réu, o mesmo algoz, Pobre tirano!

Há séculos, ardendo em sede de justiça,
nem vê que essa justiça é a velha farsa que arma
a Audácia contra a Força inconsciente e submissa!

E o mundo ascende! Mas os dias se consomem
e a Humanidade sofre! E ninguém da o alarma,
vendo o Homem ludibriado entre as mentiras do Homem!

Anarquia

Não me conformo com o que toda-a-gente,
Essa mísera e informe carneirada,
Opina e diz, sanciona, pensa e sente.
Rebelo-me. Protesto. Faço assuada.

Aos deuses não me curvo. Sou descrente.
Juízes, soldadesca, padralhada,
Ministros, deputados, presidente…
Eu odeio de morte esta cambada!

Ferve em meu peito uma revolta santa
Contra toda feição de sacripanta.
Detesto sobretudo a hipocrisia.

E só descansarei da minha lida
Quando o último burguês deixar a vida…
-Como me chamo? -Eu chamo-me Anarquia!

A nossa fogueira

A fim de festejar o nosso dia,
Pois o dia dos míseros não tarda,
Vamos fazer uma vermelha orgia
Para que o mundo das mentiras arda.

Fogo na lei parcial que nos mentia
E que se impunha a tiros de espingarda,
Fogo nos santarrões de sacristia,
Fogo na toga, no burel, na farda!

Fogo nos bairros proletários onde
A vergonha dos míseros se esconde;
Que o conforto pertence a quem trabalha.

A nova máquina social do povo,
precisa ser como um alfange novo
Que sai do coração de uma fornalha.

A tirania

Ergue-se altiva, sobre um tronco d'ossos:
Aure o cheiro de sangue prazer;
Alegra-lhe a alma crua, a morte ver:
Com volúpia lacera os membros nossos.

Nos albergues sem luz, nos fundos fossos,
Onde os povos arrastam seu viver,
Vê, sem prazer, os prantos, o sofrer,
E passa, rindo, sobre seus destroços,

Escraviza, acorrenta a Humanidade,
Forceia por matar a liberdade,
No sangue derramado dos seus crentes!

Susta nas ósseas mãos, férreas cadeias,
Sem dó algema os pulsos e as ideias…
Té que acordem um dia os indiferentes…

Pátria

Nasceu um dia a Pátria a segurar
A esverdeada flor da tirania.
E essa força que a fez assim criar,
É mais um erro aberto à luz do dia!

É mais um erro! - Monstro a vomitar
Ondas de sangue e cólera sombria!...
- Para os famintos - multidão sem lar! -
A Pátria é zero -X- Fantasia…

Por ela sou herói no assassínio!
-Posso matar em ânsias de extermínio,
-Posso roubar altira ou furibundo…

Por ela, o ódio imenso nas fronteiras,
-Simbolizando em todas as bandeiras-
Enche de dor o coração do mundo!

A República

Máscara transparente, que mal cobre
a face da romana ditadura.
Maquiavelismo com que se procura
a revolta contêr que ensala o pobre.

Simples mudança na nomenclatura
política e social, visto que o nobre
da Idade Média ainda hoje se descobre
no tipo de burguês que nos tortura.

Aborto da Revolução Francesa…
Eis a nossa República burguesa.
Uma babel de leis, um hibridismo,

um arremedo de democracia,
que num coito danado consorcia
a Liberdade com o Capitalismo…

Ferrer

Ó Espanha negra e antiga
Oh! Monstro de luto dor…
Fuzilaste o Pensamento
em todo seu esplendor!

Espanha de Torquemada,
Espanha medieval,
tu és pátria brutal
da Reação e da Turturada.
Espanha fanatizada
da ideia Nova inimiga,
velho crime em ti se abriga
cujo sangue mancha, ensopa!
És vergonha da Europa,
Ó Espanha negra e antiga

No Tenebroso castelo
de Montjuich - vil, odioso,
Maura, o bandido p'rigoso
matou o apóstolo do Belo.
o mártir que, com disvelo,
espalhou na Terra, Amor…
O sublime educador
Ferrer - pensador sublime!
Educar! Eis seu crime!
Oh! Monstro de luto e dor!

E supôs quem te governa,
que com tal infâmia iníqua,
matava a Obra profícua,
chamada Escola Moderna!
Oh! Não. A Espanha hodierna
dar-lhe há mais incremento…
-Triunfou teu intento,
Espanha do jesuitismo;
em prol do obscurantismo
Fuzilaste o Pensamento.

Mas qual Fenix fabulosa,
Ferrer não pode morrer
e a Obra há de renascer
mais gentil e grandiosa!

Essa cabeça formosa
do austero Pensador
terá como vingador
a própria obra ideal!
Nova Aurora universal!
em todo seu esplendor.

A Escola Moderna

A grande Instituição, que o velho professor
Fundara, para dar à humanidade nova,
A luz de outro saber, o sol de um outro amor,

Não tinha inda o batismo, a convincente prova
Do seu real valor, da sua alta missão,
Que aos crentes inspirasse a fé que se renova…

Apóstolo tenaz, homem de convicção,
Ferrer se devotara ao bem da humanidade,
-Cavaleiro do Ideal e pioneiro da Ação!
Instruía; e pregava a solidariedade
Entre os homens, iguais no amor, visando um fim:
-Criar um novo tipo à velha sociedade.

E o novo ensino foi se difundindo assim,
Qual luz feral que à treva afugenta e combate,
Ou toque, a despertar, de estrídulo clarim!

Porém, a tão grandiosa e tão profundo embate,
Contra as leis, contra o altar, contra a ordem e a rotina,
A reação se impou de igual força e quilate!

E a espada unida à cruz, a sentença assassina
Traço, na escuridão da “semana sangrenta”,
De imolação ao Justo, à alma sã que ilumina…

...Banhou com sangue o ideal! E o sangue, tumultuário,
Germina e faz-se luz e em mil fontes rebenta!...
E, religião do amor, o Ensino Humanitário
Em batismo de luz as almas dissenta!

Francisco Ferrer

-"Educar para vida a mocidade,
Para uma vida forte e sem mentira?
Que horror! Isto é heresia, isto conspira
Contra o rei, contra Deus e a Sociedade!

Morte ao infiel, ao que à anarquia aspira!
A terra é muito nossa propriedade.
A igreja é a base real da autoridade,
É ela que ao trono ampara e ao trono inspira!
Morte ao infiel!"

E a terra, horrorizada,
Viu a ressurreição da Torquemada
De um mar de sangue tétrico e iracundo.

Num renascer da inquisitória sanha,
Viu Ferrer sucumbir dentro da Espanha,
-Para viver no coração do Mundo!

No universo, nesta hora, ainda ressoa
O estrépito fatal dessa descarga
Que arrebatou a vida doce-amarga
Desse heróico Ferrer de alma tão boa!

O homem morreu… No entanto, nada embarga
Sua obra, que a treva amaldiçoa,
Mas que hoje, enfim, por toda parte ecoa,
Numa explosão de luz fecunda e larga!

A obra forte e vivaz do Pensamento,
Não depende de um homem, de uma vida,
Não se destrói à bala num momento:

Pelo progresso humano é produzida,
Nasce, cresce, floreja do fermento
Da aspiração dos povos reunida!

Ferrer!

Que mal fez aquela alma iluminada e sã?
-Cavaleiro do Livre Pensamento,
era um filho da Humanidade Eleita
era um dos semeadores da colheita,
do amanhã!

Ao disparo homicida
dos mosqueteiros espanhóis,
estampou-se por todo o calabouço,
uma indeterminada, indefinida,
reticência de sóis…

Homem livre e homem puro,
inda me ecoam n'alma e julgo que inda as ouço,
as descargas das régias carabinas,
que pontuaram, à luz das horas matutinas,
A Marselhesa do Futuro!

Dom Quixote

A espada à cinta, a pluma ao vento, a lança em riste,
-Eia meu Rocinante, á conquista da Ideia!
De lutar em lutar, de epopeia em epopeia,
Ora com fúria brava, ora com airoso chiste,

Busquemos o que é lindo e grande entre a colmeia,
Doida da vida, o pletro é insano e triste…
Venceremos, porém: nada, nada resiste
Ao condão que me anima -o amor de Dulcineia.

Sus! É enorme e confusa a vastidão do Verso,
É mesmo um radioso, um fúlgido universo,
Onde brilham, febris, almas, constelações,

A Rima, a Ideia, a Forma… e onde, vaidosa e esquiva,
Reina, domina a musa -um sol de luz tão viva
Que deslumbra e que abate e queima os corações.

A Justiça

Ouves! Retumba a torva tempestade
Que pavorosa envolve a humanidade,
No turbilhão, perene dessa vida,
Que a casta não a vê já dissolvida.

Cultos, deuses, senhores poderosos,
Erguem-se insustantes, vis, jocosos
Defronte à torpe massa que desfila
Sobre uma carga enorme, que aniquila

E que alguém erga a voz debilitada,
Que diga que quer pão, que quer abrigo,
Como na esquina o trôpego mendigo!...

Que invoque a lei sagrada ou a justiça,
Que num leito de vil ouro se espreguiça:
Caprichosa, Cruel, Ensanguentada!...

Raciocinando

Tudo é mentira! Deus, moral e humanidade!
Mentira o céu, mentira a terra, mentira o amor!
Só se vive do mal, da dor, da iniquidade,
E todo esse progresso é morte e despudor!

Há sempre covardia, infâmia, atrocidade,
Canalhas no prazer, canalhas numa dor,
Fingidos que a chorar imploram caridade,
E falsa proteção que imita o benfeitor!

É crime cobiçar os frutos do trabalho,
Pedir junto ao burguês aumento de ordenado,
Alguém que esteja nu não peça um agasalho…

E pobre mortal que queira a Liberdade…
Pois não se vai bolir no cancro alicerçado,
Que se convencionou chamar de propriedade!

Um pavoroso milagre

Se até hoje vivi impenitente,
Tão revolucionário e tão íncreo,
A culpa não foi minha unicamente,
Cabe parte maior ao Deus do céu…

Olhei a terra, as coisas, o alto, ansioso,
Buscando, aflito, o sobrenatural.
Não encontrei sinais do deus famoso,
Tudo que vi, foi tudo material…

A um púlpito quebrado

Estás inofensivo, estás vazio,
Velho caixão malvado.
Que trazias de Roma, consignado
Às multidões beatas,
O preconceito estúpido e sombrio
E o dogma bestial de quatro patas.

Tu nunca foste compassivo e terno:
Ao pobre, quase nu,
Que lhe dizias tu?
Os terrores dramáticos do inferno.

Para todos os teus lados,
Blasfemava feroz contra o "Progresso",
Que foi 93? Um processo,
Crivado de pecados;
A liberdade, um sonho sedicioso;
A ciência, uma cínica atrevida.
Só a religião é que é a vida
E a reza, o largo porto bonançoso.
Da imprensa tu disseste mais horrores,
Do que Mafoma disse do toucinho…
É o pestífero ninho,
Dos abutres do mal e da impiedade,
Covil de pecadores
Que tem de arder por toda eternidade.

Hoje, caída em ruínas a capela,
Estas à chuva e ao vento e ao sol aberto…

Estás melhor, decerto.
Hoje, em lugar do círio, vez a estrela.
Do mau cheiro de incenso desinfeto,
Agora permutou-te
A viva aragem fresca da cantina;
E tens por vasto, radioso teto,
A cúpula divina,
A constelada abóboda da noite.

Em vez do órgão fanhoso, ouves agora
O cântico das aves,
As músicas da aurora
E sobre as tuas traves,
Donde escorria a onda das asneiras,
gemem de amor as pombas forasteiras.

Novo padre jacinto, sacudiste
O teu julgo católico romano
E em vez de velho púlpito tão triste.

És um digno caixão livre e profano,
E, pois, te restituiste,
A grande comunhão da natureza,
Acharás, com certeza,
Um fim mais nobre, donde te provenha
De ser últil a explêndida alegria:

Acabarás em lenha,
Para aquecer de um pobre a noite fria.

Barbas de molho

O vigário da Tapera
-gordo, nédio e rebicundo-
Foi-se um dia deste mundo, berrando como uma fera.

E acudindo aos berros seus,
-Dele que em Deus tanto cria-
Outro pároco dizia:
"Morre na graça de deus"

Mas... qual? Depois do traspasse,
É que o cura mais padece:
Não houve deus… que o salvasse, nem demônio... que o quisesse.

Pecados

Eu era um nada. Um dia, transformado,
Alguma coisa vim a ser, perdida…
Se a pecar eu nasci predestinado,
A culpa vem do autor desa medida!

Só ele consertou o predicado,
Que se resume em mim ou consolida;
Não fui sequer ouvido ou convidado
Visto o não-ser que eu era antes da vida!

Querem agora mistificadores
Que estão como eu estou, na ignorância,
ditar das leis divinas seus furores…

Para mim nada vale esta jactância…
Que culpa eu tive de nascer, senhores?
Por que pedir de Deus a tolerância?

A um padre

Monstro abjeto que envergas a batina
E és da treva a perfeita encarnação,
Satanás te criou para a ruína
E miséria da humana criação!

Tens a espinha maleável e ferina
Língua que só nos fala em maldição,
Iludes de maneira a mais ladina
E és inimigo da ciência e da instrução!

Que irias, sem demora, para o inferno…
Serias tu, sem dúvida, o primeiro
Se, de fato, existisse o "fogo eterno",

Porém, como isso é vã caraminhola,
Tu vives enganando o mundo inteiro
Ó digno descendente de Loyolla!...

Cristo-proletário

É a ti que me dirijo, humilde proletário.
Mártir das opressões sociais, que és hoje em dia
O piedoso judeu que o clero e a burguesia
Arrastam sob a cruz da miséria ao calvário:

Ergue a fronte e abandona esse ar de covardia,
A servil submissão deste Cristo lendário,
Torna-te um revoltado, um ladrão, um incendiário,
Mas lança fora do ombro a cruz que te angustia!

Ouve a voz da razão, contempla a luz da ciência,
Olha a fartura que há, o luxo desbragado,
Vê o opróbrio em que estás nessa negra indigência!
Enfrenta a corja vil que à morte te conduz:

Mais vale ser no ardor da luta aniquilado,
Do que morrer, inerme e triste, numa cruz!

Não-Sim Sim-Não

As luzes da cidade são punhais,
que dançam no ar a dança das serpentes,
prontos a atravessar, indiferentes
o coração de todos os mortais.

A orla das suas saias sensuais
forma no espaço curvas envolventes
que bailam em redor dos inocentes
ao som surdo da música dos ais.

Eles são sempre tristes, desgraçados;
suas "matinas" tocam à "Finados",
das suas bençãos parte maldição.

Eles vivem, assim, discombinados,
a se contraditar, discompassados:
-Dizem sim, quando querem dizer não.

O mineiro

Ó mineiro, meu irmão!
Tua vida é um calvário…
Tu arrancas o carvão,
para dar ao milionário!

Não tens casa, não tens pão;
Careces do necessário.
És a presa do vilão,
Passas fome- é teu fadário.

Os teus filhos, enfessados,
Trazem vincada no rosto,
A dura lei dos forçados…

De madrugada ao sol-posto
Teus trabalhos arriscados,
Só te produzem desgosto…

E és a fonte da riqueza,
Tu, mineiro, heróico e forte…
Não conheces a beleza,
Mas desafias a morte!

Quando desces com destreza
À mina -escura consorte-
Sentes do ar a impureza
E não tremes no teu porte…

Vales mais que um general
Porque és mais preciso à lida
E à sociedade em geral.

Vem pr'a luta decidida:
E combate o capital
Se queres mais graça na vida…

O Trabalhador

Levanta de manhã o bom trabalhador,
Sereno e contrafeito, ao peso da desgraça
Para a oficina vai o nobre lutador,
Olhando com desdém pelo burguês que passa.

Começa a trabalhar e no insano labor
Gasta a força viril herdada de sua raça
Enquanto o seu patrão, o infame explorador,
No luxo e no prazer a vida inútil passa…

E à tarde, quando volta à mísera morada,
E põe-se a refletir na sorte desgraçada
Solta gritos de dor como um leão a rugir.

Desejando fazer, com desejo profundo,
Explodir esse abjeto e miserável mundo
E sobre a ruinaria outro mundo construir.

O Merecimento

Tenho calos nas mãos e searas na alma.
Semeio e colho para os meus irmãos.
Meu prêmio é merecer e minha palma
Ver todos menos dúbios e mais sãos.

Feliz de quem, tateando embora, enxalma
Chagas alheias com piedosas mãos
E, tirando de si, da força e calma,
A inércia e ao mal estar dos homens vãos.

No meio da subida eterna e rude
Bendito o que tem braço para erguer,
Glória ao que me levanta por virtude!

E infeliz do que, vendo alguém sofrer,
Podendo socorrê-lo, não o ajude
E passe, indiferente ao seu dever.

O Modelo

Se querem que outros creiam, crê primeiro,
Faz-te Boa Nova e acende-a em ti.
Só terás gestos e aura de pioneiro
Se tua alma for surto e frenesi.

Quem deseja arrastar a seu outeiro
Tribos sem deus precisa ser David,
Ter uma harpa, ter juntas de guerreiro,
Saber cantar e combater por si.

Sê mais tu, mas alguém, sê punho rude,
O sem par, o sozinho, o último, o herói,
O que põe no melhor toda a virtude.

Torna-te exemplo… o exemplo é que constrói
Finge até que teu sonho não te ilude
E que a tua amargura não te dói.

Os Seringais

Longe, na vastidão do Amazonas enorme,
Crescem, fartas de seiva, as háveas colossais!
Terra grande e ignorada, onde a guariba dorme
E uma raça de heróis percorre os seringais.

Florestas, rios! Sempre o verdor uniforme
De matas e o fulgor de águas plenas e iguais…
E ninguém que proteja essa terra e transforre,
Fazendo-a, terra sã, produzir muito mais.

Escravo da savana, infernado da Hileia,
sem destino, sem pão, sem leis, sem lar, sem trato,
Trabalha o seringueiro, estranho ao seu país.



É o drama silencioso, a remota epopeia
Do povo do Sertão que, no Brasil ingrato,
Viva desamparado, oprimido e infeliz.

A Prisão

As grandes provações tornam as causas grandes!
Nada sofro! Meu sonho há de ser sempre o que é.
Do alto do meu Sinai fito areias e landes
E prossigo a busca de Canaã, como Josué

Tenho orgulho, alma sã, das espadas que brandes!
Vieram todas de heróis que morreram de pé;
E hoje, em prol do teu povo, entre o Altântico e os Andes.
Melhor refulgirão, núncias de tua fé;

Bendita está prisão que anima meu surto,
Faz dessa Via-Sacra o caminho mais curto
E enfeita minha cruz ao toque dos clarins!

Bendita a provação que me ergue aos superiores,
Justifica meu ato, unge meus dissabores
E afirma, em toda a Terra, a glória dos meus fins!

Viva o Chefe do Trabalho!

Viva o chefe do trabalho!
Pessoal, dê uma "viva" ao chefe do trabalho!
Collor merece manifestação:
Deu-vos brida,selim, chinca e vergalho
E uma alfada legal a prestação.

Viva "iô-iô", Lindolfo e seu esgalho:
O Evaristo, o Agripino e o Pimentão!
Eles vos levam, águias, para o talho,
Bem amarrados à legislação.

Gritai, ovacionai, enchei de vento
A empáfia do Lindolfo safardana
Ex-bernardista que vos perseguiu!

Gritai! Com vosso grito uno e violento,
Mandando o claque vil que vos engana
À grandíssima puta que os pariu!

José Oititica

Neste imenso Brasil, tenho certeza,
Não existe sociólogo fecundo
Como tu que resolves bem no fundo
Os contrastes da iníqua lei burguesa.

Na maza, tens rebelde pira acesa,
Na prosa, o dardo firme e furibundo,
Se arremete com força contra o mundo
E para extrair-lhe toda impureza

Lênin brasileiro, te chamaram;
--Parvos! -Se julgam que te melindraram
Mais elevaram teu afoitamento…

Já vem de longe a bulha que moveram
Contra tí, certos mestres, que perderam
Quando os venceste a golpes de talento!

Guerrilheiro Órfão

Guerrilheiro! Teus pais morreram pelo povo!
Esquece a tua dor. Levanta-te de novo!
Eu sei que já não tens a ternura, o carinho
Dum coração de mãe, que murmura baixinho
Uma prece de amor e de angústia suprema
Pelo filho que parte em defesa dum lema.
Já não podes ouvir aquela voz sublime
Que enche a alma de luz e que tudo redime.
Sim, já não te conforma a doce voz dum pai
Que te diga a sorrir: “Luta meu filho...vai!”
Não mais escutarás os contos à lareira…
Mas a tua família é a Humanidade inteira
Esquece a tua dor… Há que vencer o Mal.
Vai juntar tua voz ao côro Universal.
Que a paz estenda enfim, por sobre a Humanidade
As asas de cetim ao sol da Liberdade!

Anseios

"Que belo seria o mundo,
se não houvesse fronteiras,
só uma língua se falasse,
sem divisão de bandeiras!

Maria, às vezes medito
no que este mundo seria,
tão simples e tão bonito,
se nêle reinasse a harmonia!

Que grande, minha Maria,
que orbe formoso e jucundo,
se o Milhão, vampiro imundo,
não imperasse na Terra,
provocando a fome e a guerra
— que belo seria o mundo!
Maria, vem ver passar
legiões de homens úteis, sãos.
A pátria manda-os marchar,
Lá vão chacinar irmãos.
Vão matar jovens e anciãos,
destruir nações inteiras,
violentar mães e solteiras,
noivas como tu, Maria!
Que belo o mundo seria,
se não houvesse fronteiras!

E a vida, então, minha amada,
num mundo de paz, risonho,
seria encanto, alvorada,
dourado e perpétuo sonho.
Que grande o mundo, que eu sonho,
em que a gente se irmanasse
num fratenizante enlace
— mundo sem pátrias, sem guerra!
Que lindo, se em toda a Terra
só uma língua se falasse!

... Escuto na voz do vento
um anátema deletério.
Ouro, Moleque sangrento,
vai desabar teu império!
Vais ter o parto funéreo,
mundo de dor, de sangueiras!
Afinal, sem gargalheiras,
os homens vão dar-se as mãos,
num mundo livre, de irmãos,
sem divisão de bandeiras!

Escutai, ó povo

Escuta bem, ó Povo, ó meu irmão,
criador das maravilhas que há no globo:
Tu, que a vida de todos tens na mão,
és tratado como um leproso cão,
és corrido atrozmente como um lobo.

As veredas da História estão coalhadas
do teu sangue plebeu, vermelho, puro
— sangue das tuas carnes retalhadas,
vertido em tuas épicas jornadas,
na marcha ascensional para o futuro.

Empunha o "knut" das cóleras supremas
e expulsa os vendilhões do teu labor!
Ó Povo, ó meu irmão, a pé, não tremas!
Eia ! Estilhaça as prístinas algemas,
e surge, enfim, redento e redentor!

Salva o Viver do pântano do Vício,
ó sempre ensanguentado e nunca exangue
Seja a Vida prazer e não suplício !
Do ideal Porvir o rútilo edifício
constrói-o, argamassado com teu sangue!

Que o homem do homem seja companheiro,
e não lobo esfaimado, como agora !
Do aúreo plinto destrona o deus Dinheiro
— deus tigre, deus chacal, deus carniceiro,
criador de todo o mal que nos devora !

O Deus tirano e velho do Infinito,
o estulto Autor da feia Criação,
deporta-o, povo, do Orbe ! O velho mito.
Deus, sofrerá, caquético e proscrito,
a vingança dos pósteros de Adão !

Sobre os escombros deste mundo imundo,
nova Sodoma ignábil e sédiça,
que um dilúvio de fogo, alto e profundo,
subverterá — levanta o Novo Mundo,
a Cidade Encantada da Justiça!
Único Deus, ó Povo que amo tanto,
relicário fiel da pura Ideia,
este mundo infernal de luto e pranto,
converte em Céu ! Compõe o último canto
da tua formidável epopeia !

Espanha

Sob o signo feroz da bárbara Falange,
debate-se, convulsa, a Espanha alucinada.
O espectro aterrador da parca Torquemada
anda a brandir na treva o ensanguentado alfange.

É um presídio a Espanha, horrível casamata.
O guarda é um monstro — Franco — o anão inquisidor
gerado por um lobo, em noite de pavor,
num coito espúrio, vil, com sórdida beata.

Prisioneiro da Cruz, da Espada e do Milhão,
definha o triste Povo, em lento paroxismo.
E os anarquistas vão, em lances de heroísmo,
diariamente morrer em frente a um pelotão.

Caçam-nos a Polícia, os padres e os soldados.
Vivem na catacumba, ocultos, quais bandidos.
E vêm, de vez em quando, à rua, destemidos,
justiceiros, vingar os vilipendiados.

E nesta nobre Espanha, imersa em crueldade,
cimentado com o sangue e as lágrimas do Povo,
andam alicerçando um mundo forte e novo
-— o mundo ideal do Amor, da Paz, da Dignidade.

Cocoriqué!

Plínio! Plínio! tu tens mais fôlego que um gato
E arrotas como um velho e fátuo garnizé.
E agora, então, com teu cartaz de candidato,
O teu cocoricô virou cocoriqué!

Na rinha, ante os bonzões, tens ares de gaiato,
De galito bisbórria a fazer rapapé.
De palhaço de feira ou janjão caricato,
A fingir-se de alguém quando nem nada êle é.

Em teu terreiro, há só galos de fancaria
E um galinheiro verde a rodear o patrão
E doido por levar outra pancadaria.

Cuidado! que o pessoal, se carrega na mão,
Te aplica, desta vez, tão alta cirurgia,
Que nunca mais serás, ó Plínio! Nem capão!

O Delíquio

Vejo, em torno, ganância e servilismo.
Almas sem compostura e sem moral;
E eu — poeta ingênuo, anjo anarquista — cismo
Erguer uma nação neste lamal!

Política, interesse, parceirismo.
Dominam tudo e tudo levam mal.
Há protestos sem força neste abismo
E nenhuma repulsa nacional.

Que fazer dessa indigna indiferença.
Desse delíquio, desse despudor,
- Dessa vergonha para o que age e pensa?

Debalde movo o braço agitador…
A inércia brasileira é muito extensa
Para um só coração batalhador!

Negrinho do Pastoreio

Sempre, nos diversos tempos,
Há erros da sociedade,
E isto ainda persiste
Na vida da humanidade.

"Negrinho do Pastoreio"
Retrata escravo e senhor.
É a lenda conhecida,
Que sempre nos causa dor.

A História se repete:
O senhor é industrial,
O negrinho é o proletário,
Que permite o capital.

Com o castigo de seu amo
Muito o negrinho sofreu,
Pois em nome do poder
Mil açoites recebeu.

Houve, porém, um milagre,
Não a favor do mais forte,
Mas recompensa de pobre.
Só mesmo depois da morte…

O Povo

O povo és tu, sou eu: nós somos povo.
E bendigamos a perfeita graça
De pertencer à multidão, à massa.
Diante da qual me inclino e me comovo.

Dela é que há de surgir o mundo novo.
E partícula dessa, população,
Sinto que a prepotência me esperança,
Mas do posto em que estou não me demovo.

Esqueço a Torre de Marfim da lenda.
E, a clarinar, me envolvo na contenda,
Ressangrando às pedradas e aos ápodos
Nada de caridade ou de piedade,
Mas de união ou solidariedade,
Sendo todos por um, sendo um por todos.

Canto Operário*

Neste inferno proletário
nossa vida se consome,
ó escravos do salário;
açoitados pela fome:

Não é livre quem depende
de potentes monstros d'aço.
Não é livre quem se vende,
só dispondo do seu braço.

Vossos braços,
Vosso braços,
fortes laços
sempre vivos
enlaçai!
Vida! vida
decidida!
Eia, uni-vos!
Despertai!

Desprezados,
embalados na esperança,
ficais sós!
Luta! Luta
resoluta!
Confiança
só em, vós!

Tu és sangue, liberdade!
Liberdade, tu és vida!
Mas mentira, falsidade,
quando aos pobres concedida.

Liberdade e alegria
ao trabalho fecundante!
Seja a terra que nos cria
para todos bôa amante!

Vossos braços, etc.

Nossas penas, nossas dores
dão riqueza cumulada.
Nem escravos, nem senhores
sobre a Terra libertada!

Homens todos, produzamos,
nas cidades e nas minas!
Comuns sejam - não dos amos
campos, frutos, oficinas!

Vossos braços, etc.

Tudo, tudo produzimos;
mas dispersos, nada temos!
Separados, sucumbimos

Um só corpo, produtores,
desde os velhos às crianças:
nossas forças, nossas flores,
nossas ternas esperanças.

Vossos braços, etc.

Liberdade! Bem querido,
irmã gêmea da Igualdade!
Só contigo tem nascido
entre os homens a Verdade!

Liberdade, mãe da vida!
na igualdade tens alento.
Só teu seio tem guarida
ao fraterno sentimento!

Vossos braços, etc.

A Lanterna Redivida

Santa gente, que tens o bom costume
De comer hóstias e sugar galhetas,
Foge! procura os cafundós, e as gretas
Do côio calafeta com betume!

Pois, sem temer coroas e caretas,
"A LANTERNA" de novo acende o lume.
Toma do gladio de escaldante gume
E põe-se á frente da hoste dos capetas!

Que o tredo bando clerical se esconda,
Que ele a riqueza se esbarronda,
Com a viva luz que a escuridão desfaz.

Guia-a, a pulsar-lhe vívido, no peito
De desassombroso e de revoltas feito
O coração de mestre Satanás.

Hipocrisia

Ei-la, a donzela cândida e formosa,
Cheia de timidez e de inocência.
Ajoelhada, qual uma criminosa.
Ao pé do negro "altar-da-penitência".

Aquela alma tão casta, cor-de-rosa,
Purifica-se diante da impudencia:
Eis a aurora sublime, esplendorosa,
Pedindo à noite brilho e aurifulgencia!

Triste ao ver esse quadro extraordinário,
A estupidez humana considero,
E ousadia do clero salafrário,

Que, num contraste que o bom senso oprime,
Põe Jesus ajoelhado aos pés de Nero,
A Inocência a adorar o Vício e o Crime!

(A seguinte poesia não possui nome ou referências)

Uma figueira dá figo
E não pôde dar cereja,
Como deu a de que fala
O padre cura da igreja.

No que fala um padre cura
Não se pode acreditar,
Pois ele diz que trabalha
Quando só sabe explorar.
Procurem, descubram sempre
Do milagre a exploração
Se não há nêle metida
Alguma tapeação...

Por uma Nova Expulsão dos Padres

Paulista, hoje como antigamente,
vamos resistir à onda escura
daquela tonsurada e gorda gente
que o mundo expulsa e que o Brasil procura;

Nós deste americano continente,
pelas riquezas nossas e brandura,
atraímos o clero repelente
que nossa pura terra torna impura.

Sigamos do passado o nobre exemplo;
ponhamos um "Fechado" em cada templo,
escrevamos nas hóstias: "É mentira".
Basta de receber homens de saia,
São Paulo nunca foi a Sapucaia;
Fora, o lixo que o mundo nos atira!...

O Confessor

No claro céu brasílico, de novo
O morcego, o vampiro clerical,
Abre as lúbregas asas sobre o povo
— Como na Espanha, como em Portugal
Mosca —morcego onde depõe seu ovo
Fermenta a podriqueira sensual...
Não resiste das almas o renovo
À varejeira, que é o satã papal!
É o mal maior da multidão latina!
Onde o morcego confessar impera,
O despotismo, a corrupção domina.
Demônio da discórdia nas famílias,
É essa refalsada e negra fera
Que inicia a moral das nossas filhas!

Aos Coroados

Faço aqui, (perdoai-me a bárbara heresia)
o elogio da vossa astuta hipocrisia,
como o fez da loucura, outr'ora, o grande Erasmo;
com uma tonelada e meia de sarcasmo,
enterro á estupidez que contra nós pragueja,
Custa-me compreender (confesso esta verdade)
aquilo a que chamais "santíssima trindade",
isto é, o pai, a mãe e o filho de Belém,
que S. Tomás de Aquino explica muito bem
no seu livro imor...ai, a "Soma Teológica",
obra de alta função beata e pedagógica.
E isso ele deduz de operação comum,
pela qual um mais um, mais um, é igual a um.
Que havemos de fazer? Deixemos que assim seja,
já que assim nos ordena a Santa Madre Igreja,
que, por uma inversão de genealogía,
mama nos filhos, desde o batismo na pia
de água-benta, até a morte, isto é, até ao sepulcro
com "carinho" materno e com cinismo pulcro.
Repugna-me também vosso confessionário,
que vós dizeis ser um canal intermediário
que leva a alma aos céus, em passagem direta
com toda a rapidez de um tiro de uma seta.
Mas não discordo não, dessa definição
de sacristía. Ele é também, na opinião
de muita gente honrada e muita gente boa
que não veste sotaina e não usa coroa,
o canal através do qual os bons fiéis
se canal... hizam, como as virgens nos bordeis.
Enfim, "vós sois de um faro enorme e tão astuto,
tendes tal corrupção e tal velhacaria,
que é incrível até que o filho de Maria
não seja inda velhaco e não seja corrupto,
andando, há tanto tempo, em tão má companhia.

O Padre

É para o bem que o teu silêncio eu peço,
padre, inimigo acérrimo da luz!
Tua batina, padre, eu te confesso,
De crimes um rosário ela conduz!

Sempre zombaste da sagrada cruz;
Sempre tolheste a marcha do progresso,
negociante do corpo de Jesus,
tu és a perfeição do retrocesso!

E queres tu que o povo brasileiro,
esse gigante intrépido e altaneiro,
que glórias conquistou de armas na mão,
se curve, humilde e reverentemente,
ante a batina imunda e repelente
que oculta crimes e devassidão!

Aos Padres

Ó famélica turba, ó crápulas nojentos,
que buscais esconder os corpos pestilentos
dentro de um saco imundo e ignóbil — a batina;
Tremei de susto e horror, ó aves de rapina,
Parasitas de Deus, ó estúpidos palhaços,
Pois não podeis deter os gigantescos passos
da civilização. O raciocínio humano
não se deixa prender e, detestando o engano,
já busca pela treva, em férvida ansiedade,
a luz esplendorosa e pura da verdade.
Ele não teme mais a vossa excomunhão,
então eu vos lastimo, ó hipócritas figuras;
O inferno, o purgatório, e todo esse montão
de asneiras, já não cabe, ó corja de cretinos,
nem, na imaginação simplória dos meninos,
e servirá de exemplo às gerações futuras,
Quando surgir o dia esplêndido de glória
que ficará aluminando as páginas da história
Pois banhada na luz da límpida alvorada,
a humanidade, então, exausta e já cansada
de sentir a pressão do vosso ignóbil jugo,
há-de se transformar em vosso atroz verdugo
e vos há-de esmagar com a mesma fúria insana
com que quereis pisar a consciência humana.
Depois para evitar que o cheiro nauseabundo
que vos é peculiar, se espalhe pelo mundo,
a humanidade irá depor vossa carcaça
longo tempo a ferver em banho de potassa.
E após, para evitar a contaminação
Irá desinfectar a justiceira mão…

Ébrio

Caído jaz um ébrio na sarjeta!
O corpo tem inchado e mal vestido;
Expia todo mal de ter bebido
No catre desonroso da valeta.

Cedera das bebidas à veneta
E delas fora a servo reduzida
Agora, num trejeiro divertido,
Às moscas que o farejam faz careta,

-Escravo da bebida! Alguém murmura!
-Como é possível dar-se assim ao vício!
-E ao desgraçado cobre sem censura…

Por que, de pejo assim lhe cobre o rosto?
Se culpa tem, também, no malefício
Quem vende, quem fabrica e cobra imposto?

À Operária

Definhas, carne em dor, nessa estufa doentia
Onde impera o trabalho e reina a trama
Onde a fome, roaz, brama de sol em sol.
Brotaste na miséria e estas predestinada
A sofrer, trabalhar e morrer estiolada,
Sem que brilhe em teu seio a luz de um arrebol.

Neste inferno a que foste atirada -a Oficina-
A burguesia vil, corruptura, assassina
Com sólidos grilhões te enleou e te prendeu.
E o infando Capital o teu suor devora,
Como a águia da Legenda espedaçava outrota
A rija carnação do bravo Prometeu.

Para o mundo atual, tu és, unicamente,
A fonte do dinheiro, a máquina inconsciente,
O ventre fértil que produz, a preço vil,
A carne do prazer para os grandes da terra,
A carne do canhão para dar passo à guerra
E a carne que o industrial devora em seu covil!

Ó mulher infeliz, luta, trabalha, morre!
Mas o sangue, o suor da fonte te escorre
Vai formando esse mar de fúria e indignação
Que há de, enfim, subverter o negro Despotismo
E de onde há de emergir, após o cataclismo,
Um mundo mais feliz e sem falta do pão!

Pequeno Proletário

Tenho pena de ti, pequeno proletário,
Que, de manhã à noite, aí no ofício
Desperdiças, assim, por mísero salário.
Os anos infantis, em troca de um ofício.

Tenho pena de ti, vítima do corsário
Da sociedade vil, por cujo sacrifício
Te arrebanhou, sem dó, à voz do argentário,
Julgando ainda ser isso um grande benefício.

Hás de, amanhã, bem sei, oh pequenino estoico,
Rebelde inveterado, hás de, por certo, ser,
Contra esta malvadez, soldado bom e heróico.

Alguém, então, zombando, esse teu proceder,
Dirá que não és mais que um louco, um paranóico,
Clamando pela luz do Rubro Amanhecer!...

Desgarrão

O operário não tem onde morar
Coitado! E faz de um quarto infeto, imundo,
Aperitivo, nojento, nauseabundo,
O seu divino e sacrossanto lar.

E ali, uma hora a rir, outra a chorar
Ele arrasta a existência, neste mundo,
Como um cachorro, inútil vagabundo,
À procura de um lixo pra fuçar.

É a multidão, este poder eterno,
É esse alimento que o burguês consome
Dando-lhe, em paga, um torturante inferno.

Sempre esta coisa cômica e sem nome:
O povo mata a fome ao governo
E o governo reduz o povo à fome.

A justiça

Ouves! Retumba a torva tempestade
Que pavorosa envolve a humanidade,
No turbilhão perene dessa vida,
Que a casta não a vê já dissolvida.

Cultos, deuses, senhores poderosos,
Erguem-se insustantes, vis, jocosos,
Defronte à torpe massa que desfila,
Sob uma carga enorme, que aniquila…

E que alguém erga a voz debilitada,
Que diga que quer pão, quer abrigo,
Como na esquina o trôpego mendigo!...

Que invoque a lei sagrada, ou a justiça,
Que num leito vil de ouro se espreguiça:
Caprichosa, Cruel, Ensanguentada!...

Os Grevistas

São operários, andrajosa gente
que a enterondade inexorável mina
e a miséria acorrenta, impeninte,
aos horrores da vida da oficina.

Na luta, desigual que os extermina,
cada um, reconhecendo-se impotente,
une-se ao seu irmão, na ancia supina,
em solidariedade comovente.

E unida, estuante ao fulvo sol da praça.
Direito à vida -exora a população,
Pede mais pão a turba sofredora.

E tem como resposta, nesse abalo,
o argumento da pata do cavalo
e as eloquencias da metralhadora!

O Último Grito

Arvoras-te em juiz oh!... velha desdentada,
Ignóbil sociedade!... Um crime existe?... É teu!
Teu aim, que só desprezo em ti achei, mais nada!...
Madrasta foste tu, e engeitado eu!...

Quem te pediu a vida?... A vida desgraçada,
Negra como um desterro, infâmia e labeu?
Que mão me acalentou na hora atribulada?...
Quem me ensinou o bem?... Quem me apontou o céu?

Nunca o calor dum beijo, um riso de candura,
Tudo que é santo e bom, e prende a criatura,
Nada disso encontrei na vida peregrina!...

Um crime deu-me o ser, do crime fui amigo:
No mundo vil, entrei da roda p’lo postigo…
Saio p’lo alçapão dum monstro: -A guilhotina!

A ordem dos burgueses

Problema social! gritam por toda parte;
É a negra inscrição que trazem no estandarte.
Soldados, resolvei este problema escuro!
Prendei-lhe bem as mãos, colai-as contra o muro,
E da-lhe uma descarga. Os cínicos farsantes!

Obrigam a fechar cafés e restaurantes,
Atiram-nos à cara os nomes mais imundos,
Encarecem o pão, fazem baixar os fundos
E não deixam dormir no leito a burguesia!

Meu estandarte

Eu mesmo nada sou… fragmento. bolha… sopro.
Ser humilde… rapaz ingênuo… moço fraco…
Mas o que há de estupendo é esta minha alma- escôpro
Que lavra na alma vil do Pária a alma de um Graccho.

Minha alma é de vidente, apóstolo ou profeta.
Herói, reformador, rebelde, visionário.
Guia das multidões, cultor do Gênio, poeta.
Cinzelador de um novo e altivo lampadário.

Minha bandeira é contra escravos, contra leis,
Contra a inércia, a lisonja, a fraude, a letargia,
Contra o açambarcamento, o crime a covardia,
Cristos e vendilhões, messias e sandeus,
Contra o erro, contra o mal e contra o velho Deus.

Deus -mentira pregada à triste Humanidade.
Sombrio inquisidor das trágicas alturas,
Afirmação do mal, a treva, a iniquidade,
-Deus que nunca sentiste as nossas amarguras!

Meu estandarte quer e anseia a abolição
Do monopólio infame e das fatais violências
A extinção dos cardeais, papas, de eminencias.
E quer a universal desapropriação!

Brado de um canto vivo, extranho, singular,
Sinto em mim o tropel das multidões, dos povos.
E é previsto que em minha orquestra de mar,
Há vibrações astrais, deslumbramentos novos.
Vagabundo através dos tempos, das idades,
Meu verbo só palpita em meio às tempestades

Revelador do Ritmo e brunidor da Rima,
Voa o aeroplano céus abaixo, céus acima,

Quer meu verbo o auditório a fim dos vendavais,
Verbo -aeronave a alçar-se aos intersiderais!

Sentinela do meu torrão primaveril.
Marco o roteiro ideal ao povo heróico e impávido.
Sou terrível tufão oposto ao banqueiro ávido
E macio terral ao pobre ou pária humil.

Desejo levantar a Plebe miserável.
Quero a aristocracia astral de multidão.
E anseio apenas meu designio formidável.
Elevação, elevação, elevação.

Prazo aceitável

Por estrada soturna, certa vez,
Muito pachorrentamente,
Ruminando o jantar farto e excelente,
Passeava o rico de um burguês.

A horas tantas, de súbito, um ladrão,
Pondo o arcabuz à cara, em tom grosseiro,
Pede-lhe a bolsa do dinheiro.
Cheio de indignação
Ia o burguês recriminar
Aquela irreverência.
Mas notou o arcabuz e, com prudência,
Achou melhor calar
E passar logo o cobre.

O ladrão, entretanto,
Era um ladrão correto e nobre,
Que errara a vocação
Podia ser um santo
Em vez de ser ladrão:
Pois o patife apenas retirou,
Da carteira roubada,
Uma parte, e a outra parte avolumada,
Ao burguês entregou!

Este, porém, à falta de um gendarme,
Para recompensar a gentileza
Do “colega” lhe disse com rudeza:
-No juízo final hás de pagar-me
Estes cobres que levas e são meus,
Com os juros bem contados
E capitalizados
Pelo usurário que se chama Deus!

Irônico, responde então o honesto
Bandoleiro: -A tal me obrigo.
Se um prazo longo assim me dás, amigo,
Passa pra cá o resto…
E assim, dessa maneira,
Levou toda carteira.

Peão da Energia

Minha alma que se faz através dos incêndios,
Que tem dynos e ergs dentro em seu calor astral,
Senti um horror profundo ao ver os vilipêndios
Desta era de abastarmento Universal.

Meu ser onde lateja intensa força viva,
Onde a energia potencial quer estourar,
Despreza a gente vil, covarde, que se esquiva
A cantar, a sofrer,a bramir, a lutar!

Torquemada

Da negra inquisição
As sinistras fogueiras ateaste!
E em nome da “santa” religião,
De Deus em nome, às chamas atiraste
De vítimas milhares!... Monstro horrendo!
Teu nome, truculento inquisidor,
Este nome, “que as vítimas tremendo
Ouviam com horror”,
Foi para a espavorida humanidade
A mais lúgubre e atroz calamidade!
Tua excial passagem pela terra
Foi pior do que a peste e do que a guerra!...
Enfim jazes aqui,
Sob o peso de eterna execração!
Maldição sobre ti!
Maldição! Maldição!

Bordo do Arlanza à Hora da Partida

O transatlântico penadamente,
No afã protocolar da despedida,
Rumo da barra, avança, finalmente.

Monstro – a Justiça – de armas embaladas,
O Cais deixou, e apenas certa gente
ali ficou pelas balaustradas
a comentar o caso simplesmente
Lenços se agitam num adeus final;
Palpitam corações angustiados...
já se não houve a Internacional.

Repete o Estado a negreganda prova,
Mais irmãos nossos seguem deportados
- O Estado aduba a sementeira nova.

O Sol da Nova Ideia

As imagens dos célicos devassos
Em negro pó desfeitas o ar semeiam;
Levadas para o vento revolteiam

Os deuses já morreram nos espaços
Os altivos e os templos bamboleiam;
Os tronos d’ouro estalavam ou baqueiam
e fogem dos reis trêmulos dos paços.

Dos credos sem sentido as densas brumas
Se dissolvem na noite, quais espumas
Na areia da praia que reluz!

O mundo velho dorme em longa treva
Entanto ao longe vejo que se eleva
O sol da nova ideia a branca luz!

Exortação

Homem, livre serás, passados anos
De lutas féras e de rebeldias
E terás, afinal, teus belos dias
De luz, de glórias, de prazer, de enganos.

Livre, ao cabo de esforços sobrehumanos,
Nesse futuro olheio de alegrias,
Terás eliminado as vis, sombrias
Pravidades de deuses e tiranos.

Livre, aure então as celicas delicias
Da vida livre, sorve-lhe as primicias,
Sem mais temer dos lobos a alcateia.

E, salvo enfim da escuridão noturna,
Guarda em teu peito a gratidão diurna
Para todos os mártires da Ideia!

Tragi-Comédia

Nos muros de Verdun, cravejados de balas,
Tombam as multidões audazes e guerreiras;
Ceifam-se as divisões e falanges inteiras
Por sobre as povoações do Mosa, a ensanguentá-las…

Os obuzes letais, varejando as trincheiras,
Com deletério gás do bojo a envenená-las,
Aniquilam no fogo as últimas fileiras
Na insana decisão raivosa de assaltá-las…

Vai a guerra feroz no seu período agudo
E esses homens chacais esquecem-se de tudo
Que diz respeito ao bem… na fúria da metralha…

Correm do rio afora as águas encarnadas
E, as almas, sem razão, combatem dementadas
Na viva insensatez macabra da batalha…

Laus Satan X

Entre Deus e Satan -eu prefiro Satan…
Jeová quer a lisonja, a submissa humildade,
Mas Satan simboliza a revolta, o Amanhã,
A independência, a rebeldia, a liberdade.

Deus, a exigir salamaleques sem iguais,
Castiga os que não o adulam, cumprimentam:
Pois isto, a intimidade, o convívio, os umbrais
Deste grão César não me induzem, nem me tentam.

Satan foi a única alma ampla daquelas eras,
O glorioso rebelde entre tantos escravos,
Sublime sonhador de trágicas quimeras,
Herói, batalhador no meio de mil bravos!

O Fuzilamento de Ferrer (Injustiça)

Ferrer -O pensador foi fuzilado
Por levantar escolas -o libertário
Sua vida fuzila-se na Praça!
O governo não foi humanitário!

Porque a monarquia jesuítica,
(Duas coroas vis sem coração)
Voltou aos tempos idos das fogueiras,
Contra Deus e a civilização!

Diz-se hipocritamente Cristã,
Mentira da infame inquisição,
Que neste século tenta inda imperar,
Embora a universal reprovação.

Pátria Castelar, infeliz Pátria
Que fuzila seus filhos generosos,
Filhos amantes, puros do progresso
Nos mostrando horizontes luminosos!

E essa pátria ingrata tenebrosa
Não quer luz, mas sim a escuridão,
Pois bem o século XX do progresso
Escreve-lhe na fonte maldição!!

Assim no Paraná grande injustiça
Partida lá do Excelso Tribunal!!!
Onde o baixo suborno e a irreflexão
Decidem sem critério afinal!!!

E a Lei, o Direito Secular?
Nada prova? Ah! Só prova o improvável!
-- O interesse baixo dos mandões
Que defraudam de modo miserável!

No Exílio…

Na negra solidão deste degredo infindo,
Neste recanto agreste onde a malária impera
Numa angústia ferina e atroz desespera,
A vida a pouco e pouco se vai, além, sumindo.

Em meio da mata brava a Razão prolifera,
Medra se concretiza e, alegre, vai florindo,
O vergel do futuro, esperançoso e lindo
C’os frutos da Verdade acena a quem espera.

Bondoso e revoltado, o coração ferido
Prosseguirei na luta heróico destemido
Brandando altivamente: -Abaixo à tirania!

Além já a divisa o Sol da Redenção
Que um passo marcará a humana evolução.
É o sol da liberdade, a sublime Anarquia!

1º de Maio

Qual imenso vulcão em rubra efervescência,
Sinto ter o meu peito em ódio fremitoso,
-- Ora manifestado em viva incandescência,
ora em fermentações de lance vaporoso.

E no peso brutal dessa rude existência,
No contínuo lutar da vida sem repouso,
Correm-me pelo sangue indômito e raivoso
Anseios de abrasar-me à luz da independência…

E como aquela plêiade e temerária raça
com rara impassidez clamara a tirania
do burgo prepotente em tempos que lá vão,

tu, ó Maio de luz e dor que agora passa,
dá-me forças também, para com ardentia,
proclamar do Porvir o sol da Redenção.

O vampiro

A crença popular afirma que de noite,
Na hora em que o vento é frio e corta como açoite
E, aproveitando a paz, tudo em silêncio dorme,
O vampiro, esfaimado, horripilante, informe,
Sai do seio feral de negra sepultura
E pelo mundo afora atira-se, em procura
Da criança que dorme a sorrir, inocente.
Suga-lhe o sangue novo em fúria, avidamente
E só deixa, refarto, a presa inanimada
Quando desponta, ao longe, a estrela da alvorada!

A burguesia é como o vampiro: com ansia,
Aproveita da noite atroz da ignorância
E há séculos exaure a pobre humanidade,
E dorme pachorrenta e calma como um frade
Que acabou de comer a ceia suculenta,
Regada de Bordeaux, picada de pimenta…
Lá no Oriente, porém, marcando um novo dia,
A estrela alviçareira e bela da Anarquia
Começa a despontar, resplendente e risonha.
O vampiro, que à luz tem aversão medonha,
Quando o astro cintilar, as trevas espancando,
Buscará, com pavor, o seu covil nefando!

Livres, enfim, do trasgo infame que os devora,
Os homens gozarão a luz da Nova Aurora!

Abrí! Eu Chamo-me Anarquia

Eu sou o Turbilhão colérico e profundo,
que vem varrer a terra, o ralo nunca antes visto
Venho cheio de pó, cansado, todo imundo,
Em toda parte o mal! Em toda parte o Cristo!
Sou quem trago a sentença escrita contra o mundo,
e que açoita o cavalo com sangue do anti-Cristo!

Sou quem trago comigo os rotos esquadrões
da plebe esguedelhada, anônima, assassina.
Sou quem hei de varrer reis e religiões,
a indignação de baixo, a cólera ferina
Já chegou a Justiça, o sangue das Nações!
-A pé, a pé, a pé! A cotovia trina!

Papas, bispos e reis, peitos de diamante!
como não chorareis ouvindo o grande abalo
Alemanha, arremassa ao Reno o teu guante
Tu, Igreja, renega antes que cante o galo,
-Justiça, mostra já teu dedo flamejante!
-Vingança, vei selar o teu feroz cavalo!

A caserna

Uma caserna que é? Um antro de assassinos
Prontos a desbancar os tigres e as panteras
Em chacinas brutais, impróprias destas eras…
Que o povo já não é rebanho de suínos!
Escola da maldade, ela ministra ensinos
Tem dentes a fazer dos homens bestas-feras…
Por isso ei-los matando, em trágicas esperas,
Os pais mais os irmãos, embora pequeninos!

Seu lema é ser passivo, automato, obediente;
É ter o pensamento acorrentado à terra;
É imolar à pátria o bem-estar e a vida;

É ser um manequim de aspecto repilante;
É ter no coração uma crueza seva;
É ter a consciência, enfim, sempre oprimida!

O Turbilhão

Praça de Budapeste, ao badalar das duas,
A neve esvoaça e cai, bocejam sentinelas.
Nas torres de São Pedro à luz das arandelas,
Espiam dois vitrais ardentes como luas.

Silêncio e solidão. Mas eis que pelas ruas
Ouve-se o regougar das humanas procelas,
Massas de homens abrindo as ressecadas goelas,
De mulheres sem pão, esfarrapadas, nuas!

O escuro mar humano invade a velha praça,
Rodamoinha, envolve, estronda, ulula, passa
E quando no horizonte as hordas já se somem,

Vê-se que alguém que ficou como vive centelha,
Mantendo sobre a praça a bandeira vermelha,
Na glória de existir, no orgulho de ser homem!

Proletário

Homem da gleba e do trabalho: A vida
E o mundo te pertencem; ergue o porte
Curvado ao peso da penosa lida,
E vencerás a luta enorme e forte!...

Estuda e aprende que verás vencida
A presunção dos grandes, cuja sorte
Não é melhor que a tua, enaltecida
Numa vitória certa como a morte!

Quem é mais do que tu na sociedade?...
O luxo fátuo?... mescla de vaidade,
Da fantasia, orgulho e ostentação?!...

A BATALHA*

Surgindo vem ao longe a nova aurora
Que os povos há de unir e liberar
Desperta rude, escravo, sem demora,
Não leves toda a vida a meditar.
Destroi as cruas leis da sujeição
E quebra as vis algemas patronais!
O mundo vai ter nova rotação,
Os homens hão de ser todos iguais.
É justo aos parasitas dar batalha,
A terra só pertence a quem trabalha...
Labutas atrelado ao cruel jugo,
Em troca da miséria por desdouro
Enquanto o teu patrão, o teu verdugo,
Aumenta à tua custa o seu tesouro.
É tempo já de erguer bem alta a voz,
bradar ao causador do teu sofrer:
A terra foi legada a todos nós;
Trabalha tu também, é teu dever.
É justo aos parasitas dar batalha,
A terra só pertence a quem trabalha...
Terrível convulsão sacode a terra
Sedenta de Justiça e Liberdade.
À guerra de opressão sucede a guerra
Que tende a redimir a Humanidade.
Saudemos, pois, o facho do porvir,
Das hostes comunais suprema luz.
O lema do futuro é produzir;
Dos lucro só partilha quem produz.
É justo aos parasitas dar batalha,
A terra só pertence a quem trabalha...

Um povo livre e feliz

Um povo livre e feliz.
Sem dúvida e sem temor;
Foi esse o Ideal que fiz
De um mundo superior.

Uma jovem se desvia...
Seja entregue ao Bom-Pastor
Para ensinar-lhe (ó ironia!)
Que é pecado amar o Amor.

Afirmara, com razão,
Uma sábia autoridade,
Que não há religião
Superior á Verdade.

Tomem nota!
É coisa séria.
E não será contestada:
— Tudo que existe é matéria,
— Leve, sutil, ou pesada.

A Igreja, ao vir, a República,
Do Estado foi separada,
Mas, se há uma festa pública
Ela está representada.

De joelhos põe-se a mulher,
E diz ao desconhecido
Segredos que ela não quer
Dizer ao próprio marido

Embora por mau me tomem
Os simples e os fariseus,
Eu indago: — Deus fez o Homem?
Ou foi o Homem quem fez Deus?

A Ideia

Lá! Mas onde é lá? Aonde? -Espera,
Coração indomado! O céu, que anseia
A alma fiel, o céu da ideia,
Em vão a buscas nessa imensa esfera!

O espaço é mudo: a imensidade austera
Debalde noite e dia se incendeia…
Em nenhum astro, em nenhum sol se alteira
A rosa ideal da eterna primavera!

O paraíso e o templo da Verdade,
Ó mundos, astros, sóis, constelações!
Nenhum de vós o tem na imensidade…

A ideia, o sumo Bem, o verbo, a essência,
Só se revela aos homens e às nações
No céu incorruptível da Consciência!

Ibéria

Terra.
Quanto a palavra der, e nada mais.
Só assim a não erra
Quem a repara dos pensadores da serra,
Carregada de sol e de pinhais.

Terra -tumor de angústia de saber
Se o mar é fundo e ao fim deixa passar…
Uma antena da Europa a receber
A voz do Longe que lhe quer falar…

Presos por questões sociais

Porque ousam defender princípios generosos
Em contraposição a falsos preconceitos,
Encerram-se em prisões os homens sem defeitos
E deixam-se à vontade os grandes criminosos.

Mas quem pode impedir os raios luminosos
Do sol fecundador, em seus vitais efeitos?
Ninguém tente afrontar legítimos direitos
Pois só conseguirá torná-los mais viçosos!

E vós que hoje rendes, num gesto bem sublime,
O preito da justiça ao órgão A Batalha,
Lembrai vossos irmãos a quem a dor oprime.

Valei, pois, a quem sofre o sigma de canalha,
E jaz numa prisão por cometer o crime
De agir contra os vilões que roubam quem trabalha.

Em Nome da Lei…

Fui presa sem razão, em nome de uma lei…
Dizei qual foi meu crime?... dizei-me, que eu não sei…
Sou criminosa, infames, por defender-me?... Então,
Devia consentir a minha desonra?...Não!...
O infame sedutor não pode ter direito
Como exige os meus braços, exigir o meu leito…
Não basta já que eu viva curvada sobre o tear.
Desde o romper da Aurora, sempre a trabalhar:
A tecer… a tecer… a tecer-lhe a riqueza?!
Não basta produzir e viver na pobreza?!
Sou uma pobre mulher, mas tenho dignidade!
Matai-me a trabalhar, matai-me à fome… há-de
A mulher porventura, como aluga os braços,
E em nome de uma lei, alugar aos ricaços,
O coração e a alma? Tiranos! o que eu valho.
Não o paga o vosso ouro como pode pagar o trabalho!
Tirai-me o pão, porém… deixai-me o sentimento.
Pedir a vós é o mesmo que suplicar ao vento…
Oh! Mães, matei as vossas filhas num sacrário:
Que não as veja o rico… Ao pobre, ao proletário
Nem ao menos lhe deixam o único tesouro,
-A honra: tudo usurpam os canalhas do ouro!
-É em nome de uma lei… A lei do ferro e fogo
A lei do quero e mando… é uma questão de jogo
A honra proletária… Olhai quem me condena:
São todos de sangue azul: Eu não lhes causo pena.
Nem mesmo se comovem com o meu sofrer atroz.
A responsabilidade desta injustiça feita
No tribunal da Fé - um antro de suspeita.
Quereis que confesse o crime?Pois bem, senhores, matei!
E vós, matai-me agora, em nome dessa lei!

Dentro da noite…

Ia a noite avançada. Exposta ao vento,
Escondida na ponta do portal
Estava a pobre mãe já sem alento,
Passando a fria noite de Natal.

Buscando-a, dois filhinos se amparavam
no tronco dessa mãe desventurada;
Ao colo onde os seios ressecavam
Estava o mais novinho…
Desgraçada!...
A vida é bem pesada para quem passa
O dia a mendigar pelos caminhos,
E a noite vai pousar com a desgraça
À porta do burguês com seus filhinhos…

Radiantes de alegria e de esperanças,
Do que estas mais felizes e mais prendadas,
Lá dentro, a voz alegre das crianças
Soltará cristalinas gargalhadas…

Que singular contraste oferece a vida!
Lá dentro, a opulência a rir, contente,
A miséria la fora, em plena lida,
Destruindo e matando cruelmente.

A pátria

Rafeiro que trabalhas, te consomes
Na fértil produção de toda a vida,
E morres sem amparo; nem guarida,
Mirrado p’la tortura de mil fomes:

É vil, infame, a dor por ti carpida
Pois que lutas p’la glória dos Renomes;
É certo que trabalhas e não comes,
Mas enches o Tesouro à Pátria querida.

Que maior alegria e mais ventura
Queres para ti, povo ignaro e rude,
Que abrir em terra- pátria a sepultura?

Das-me ouro; e em troca dou-te ataúde
(Teu braço alugas tu com muita usura!)
Trabalha, pois, e… Deus te dê saúde.

A Velha inutilidade

Há mil anos, dois mil, eu sei lá quantos,
que o templo eleva à luz a frontaria
imperturbável, rijida, sombria,
na placidez marmórea dos seus santos.

Mil gerações banharam com seus prantos
os puidos degraus da escadaria,
mas toda a humana dor, toda a agonia
jamais acorda os ecos nos recantos.

Impassível e calma, a catedral
vê ante de si passar a infernal,
macabra procissão dos dolorosos,

e em vez de pão, de luz, de amor e abrigo,
dá-lhes mentira, infernos e castigo
e os braços duma cruz, silenciosos.

A Canalha

Ínfima escória humana, ò raça impertinente,
Que pelo mundo andas gemendo quase nua:
É estranha a tua alma, nessa dor fremente,
Que de vezes a rugir, estoura pela rua…

Nas rudes convulsões, é brazeada e quente
Como um leão ensanguentado à luz da lua,
Que ao ver a própria sombra a rastejar à frente,
Avança para ela, escava e não recua.

Mas triste multidão, ò multidão descalça,
Aos teus gritos de fome atiram com metralha
E adormeces ao som da caridade falsa…

És no fundo dos tempos a ralé esquecida,
E nem sabes, talvez, ó cega e vil canalha,
Como é maior ainda, o teu direito à vida!

Primeiro de Maio

Quem vem lá?... Quem os mistérios
rasga da noite e o pavor?...
Quem faz caixões aos Impérios,
com raboas de Fome e Dor?
Que enorme exército inteiro
se aproxima, e que rumor!
Quem é o torvo carpinteiro?...
Quem é o torvo rachador?...

Hurrah! Hurrah! -volvem mil ecos,
Hurrah! Hurrah! - o Trabalhador!

Quem chorando, fia, fia…
magros filhos em redor,
a toalha para a Orgia,
o lençol ao Imperador?
Quem seus filhos nós enterra,
mortos sem pão, cavador?
Quem melhor reza na terra
a ladainha da Dor!...

Hurrar! hurrah! -volvem mil lágrimas.
Hurrah! hurrar! -o Trabalhador!

Faz hoje anos que na França,
oh que luto de rigor!
numa lutuosa matança,
correu sangue de valor…
Este sangue ao orbe inteiro
brada Justiça! em clamor,
Quem será o Justiceiro?...
Qual o braço vingador?...

Hurrah! hurrah! -acenam braços.
Hurrah! hurrah! -o Trabalhador!

Quem vem lá no nevoeiro,
com tão rico esplendor?
Que estranho exército inteiro!...
diz, com medo, o Imperador.
Quem faz turbar meus saraus?
brada o rico mau senhor,
Quem vem subindo os degraus?...
Quem me fez mudar de cor?...

Hurrah! hurrah! - volvem mil gritos.
Hurrah! Hurrah! - o Trabalhador!

Estribilho*

Seja o mundo liberto da guerra,
Sem fronteiras, prisões, potentados:
2x (Vivemos felizes na terra, Pelo amor e na paz irmanados)

É mistér procedermos ao certo,
Um por todos e todos por um!
Seja o braço da paga liberto,
Repartindo o labor comum!

Não é justo ver nossos produtos
Sobre a mesa de quem não produz…
Aos obreiros pertenças os frutos,
Seja o barco de quem conduz!

A natura não faz explorados
Nem aos ricos deu lauto festim…
-Ou seremos na posse igualados
Ou a lacta jamais terá fim!

Era uma vez

Assim começa a história;
O rosário de cenas vai passando:
Roubos, guerras e fome amontoando,
No Deve e Haver sangrento da vitória.

Do "câmbio negro" segue a trajetória
O pançudo burguês que, transformando
As migalhas do pobre, vai somando
O ouro que lhe ofusca a vil memória.

"Ao Lampeão" - era o grito popular
Da França em convulsão de 89:
E creio que o burguês isto conheça.

Mas se, acaso, não quer se recordar,
Aqui deixo cair, para que prove,
Este pingo de cera na cabeça…

Esqueça Deus

Desperta humano Ser, e destemido
propaga sem temor a liberdade;
constrói sobre este mundo pervertido
uma vida de mais fraternidade!

Esquece esse fantasma desmentido
que amedronta esta pobre humanidade,
cujo amor pelos pobres é vendido
na torpeza brutal da falsidade!

Esse deus que desdenha dos aflitos
que consente os banquetes desta orgia,
que habita sempre em todos os malditos

Que é amigo e protetor da burguesia,
tão surdo que não ouve nossos gritos
e quer matar-nos pela idolatria!

Contraste

Vamos! basta de farsas e basta de farsantes:
Mil bombas à vapor jorrem desinfetantes
Nesse velho bordel da igreja -O Vaticano.
Cólera! faz-te mar Justiça! faz-te oceano,
E inundai, submergir o Versalhes maldito
De Jeová - O Rei- sol macábrio do infinito.
Vamos, fogo ao covil! E enquanto salteadores,
Nuncios, bispos, cardeais, cônegos, monsenhores,
-Truculenta manada obesa de hipopótamos-
Virgem-mãe dos heróis, ó Liberdade!
E faze-nos transpôr, a grunhir, sem demoras,
As fronteiras do globo em vinte e quatro horas!

“Ou crê ou morre!”

Religião! Religião! És só loucura!
Bruxa que sugas o sangue à humanidade
Tens agentes sublis Oh! crueldade!
Espalham pelo mundo um mal sem cura!

Também nos dobras da sotaina escura
O bacilo da dor e da maldade!
E propagam sem dó e sem piedade
A mentira cruel, covarde, impura!

Infeliz quem da malta se aproxima,
Confiado na promessa que lhe ocorre!
-Maldição infinita cai-lhe em cima.

Da boca onde a peçonha em baba escorre
Se ouve sempre o calor, que tudo intima:
Há de crer no que eu quero… ou crê ou morre!

Papai Noel e a Constituinte

Estão reunidos os “papais” da gente,
Empenhados na luta nacional
Da escolha do raríssimo presente
Que nos vão dar pras festas de Natal.

Há discussões e insultos; certamente,
Procurando escolher-nos, cada qual,
O brinquedo mais fino e resistente,
Alguma coisa nova, sem igual.

E o genial concilio discutiu
Mas por fim, meus amigos, descobriu
Um presente de grego bonitinho

Vão dar ao povo a Lei e a ordem, tudo
Num calhamaço austero, cabeludo,
Um cabresto e um frade capuchinho…

A Volta*

Velhos, mas duros de morrer, voltamos
como partimos. -Não mudamos nada-
diremos aos que virmos pela estrada.

E ajuntaremos: -Meu irmão, cá estamos
junto a ti para o bom trabalho;
nossa fé, temperada pelo malho
do exílio duro, descansar desdenha.

O mundo escravo despertou agora
depois de fundo sono e, à nova aurora,
o interrompido afã recomeçamos.

O velho amigo, abaixando o fronte,
responderá que o furacão sem brida
por vinte anos rugiu na Europa mestra,
que toda nossa obra foi perdida
e de quanto fizemos nada resta.

Replicaremos: -Não temer, passada
é para nós a trágica jornada,
a tirania cega já não reina.

Tudo tombou? Ergamos novamente.
Vê o caipira: a terra devastada,
queimado o milharal, morta a semente,
que importa? Assim que o furacão amaina,
ele volta depressa para a faina.
Ajunta as pedras soltas, como se elas
fossem de ouro e, tomando-as uma a uma,
põe-se a reconstruir toda a tapera.
Afofa a terra com as mãos, apruma
as cercas, cava o polo, desterra
o chão vidrado, planta, trata, espera.
Recompõe a tarimba, os filhos cria,
sabendo embora que outra guerra, um dia,
uma noite, há de vir para levá-los…

Não desesperes, não demonstres ira.
Nós passaremos todos, mas o povo
renasce. Faze, pois, como o caipira
sábio, que começa de novo.

Mas quando o sol ressurge e a luz dourada
bate na terra, volta a bicharada;
por entre os mortos recomeça a Vida.

A vida não deserta, não descura
sua obra de eterna construção,
seja nos picos de perene altura,
ou entre as coisas ínfimas do chão.

Plantações e consciência abrem flores
para quem as cultiva com trabalho,
não há parte que não conheça dores;
não há treva que não fuja de espanto
ao sol, nem gota trêmula de orvalho
que não seja, também, gota de pranto.

Tudo é luta; nada se perde, nada;
o erro na experiência se compraz.

Reforçamos a terra devastada;
olhando só para frente, não para traz.

-A cruz da servidão seja partida-
diga-se a quem ela curvou a espinha;
e a quem a vã espera em si amarra
uma vontade, diga-se: Ergue-te e caminha…

Mas não se diga nunca: A estrada é incerta
a quem de moça ardes já não sente.
Ferido, o veterano vai pra frente,
tomba no campo, morre. E não deserta!

O Padre

Quem usa chapeu "sui generia"?
quem veste saia comprida
com larga faixa à cintura?
-Padre… cura!

Quem vive à custa do povo,
sem produzir coisa alguma?
quem não tem pátria e família?
mas não dispensa a comadre?
-O padre!

Quem passa por puritano,
mas vive na hipocrisia?
Quem furta p'ra Vaticano
sem cão achar que lhe ladre?
-O padre!

Quem empobrece o país
e produz calamidade?
Quem sonha viver feliz
à nossa custa, ó compadre?
-O padre!

A Comuna de Paris

Funde-se em sombra o gênio… O imortal francês
Que deslumbrou o mundo após noventa e três,
O que depois de ser César e Usurpador
Foi, oh destino vário, o grande semeador
Da Liberdade em voo ousado de águia leva
O alento germinal que o pópulo subleva
Na Europa, em toda a parte;
Esse que a História mais absolve que condena
Napoleão Bonaparte,
Tombará como um astro, ao largo, em Santa Helena.

Funde-se em sobra o gênio… E mal a luz se cerra
A Reação que já aduncas garras ferra
No corpo virginal da nívea Liberdade
Requinta-se no mal, redobra em crueldade,
Um lúgubre poente agoniza na França,
As almas mais viris enublam-se sem esperança,
As águias imperiais fogem da luz -morcegos.
Os dragões de Austerlitze adomam-se -borregos.
E os vinte anos banais do outro Napoleão,
Em que Quarenta e oito é semente um clarão,
Calcam na sua marcha idiota de elefante
A sementeira ideal lançada pelo gigante.

Mas sob a cinza opaca, um dia, de repente,
Ergue-se toda a branca e bela resplendente
A alma da velha Gália audaz e subversiva,
Fênix recém-nascida a ardem em chama viva.
Paria acorda, vibra, e em rubra efervescência
Desbrocha ao livre sol a sua florescência
De homéricos heróis, e louca de emoção
Despedaça o Império em plena insurreição
A alma de Prometeu expande-se porém
E livre de grilhões avança, vai além,
No ilimitado anseio igualitário e puro.
Um horizonte novo abre-se no futuro.
A revolta acha enfim sólido fundamento,
Noventa e três vai ter seu justo complemento,
A mão que despedaça a opressão feudal
E faz luzir na treva o tríplice fanal
E grava em letras de ouro os direitos do homem,
Cujo brilho perene os anos não consomem,
A mesma mão levanta o facho da Igualdade
E clama em bronzea voz: És livre, Humanidade
Une-te pelo amor; trabalha e sê feliz!

Era a voz da Imortal Comuna de Paris.

Mas ai, a grande Luz extingue-se depressa,
Os espectros do crime em legião compressa
Toldam-lhe o brilho intenso e na sombra maldita
Em fúria, a Reação atroz se precipita,
Sobrevivências más abatam-se em cardume
Como abutres cruéis sobre avezinha implume.
E a Comuna baqueia em cafreal massacre
Afogada no sangue ardente e rubro e acre
De milhares de heróis varados pelo crime.

Mas este sangue é bom, porque o sangue redime…

A sociedade é como um matagal cerrado,
Onde a raiz só cede à ponta do arado.
As lutas sociais não são(creiam, não erro)
Simples torneios, são epopeias de ferro.
Que o diga lá ao longe a gloriosa Moscou,
A cidade imortal que já Roma ofuscou,
Cuja espada brilhando em fulgurantes lumes,
Arrasa o cárcere e ergue a escola à Luz que vem,
Castiga o mal e rasga a ampla estrada ao Bem.

Pioneiros do Progresso e da Civilização
Ser pelo Trabalho é ser pela Revolução.
Quer com a pena quer empunhando uma espada,
Numa proclamação ou numa barricada,
É sempre a mesma heróica e épica labuta.
Onde o coração bate aí é que se luta.

Saudamos-te, Comuna, esforço intermerato,
A quem o coração de todos nós é grato.
Se em sangue te afundaste, oh sol do Ocidente
Raias [mais belo já nos céus do Oriente.

... Mas neste aniversário,
Que atrai a chama aqui o revolucionário,
Alguma coisa mais nos emociona e prende:
É uma aureola de ouro, uma auréola que explende
E desta bela terra a Luz ideal espalha,
Nome que só dizê-lo é um repto: A Batalha!

Alvorecer

Não sabes que és o mais forte,
Que a tua mão dolorida
Na missão de dar a vida
Também pode dar a morte?
Não sabes, pobre doente,
Que num gesto, num gesto só,
Esse poder que te prende
Pode ficar todo em pó?...

Repara, filho do povo,
Que desponta um novo dia
Clareando um mundo novo
Sem patrão, sem burguesia.
A oficina em que trabalhas
É tua - de mais ninguém! -
As bocas destas fornalhas
Dizem - "Apressa-te! Vem!" -

As campinas verdejantes
Na gestão de três meses
São as floridas amantes
Dos fecundos camponeses.
Cessa a luta fratricida
Ante uma frase de luz:
-Pois só tem direito à vida
Quem para a vida produz!-

A mulher, a triste escrava
Dos caprichos masculinos,
Deixa a prisão que estava
E desafia os destinos;
Tu serás seu companheiro
E nunca mais seu senhor
Pois todo Código, inteiro,
Só tem uma lei: o Amor!

Heróico filho do povo,
Tu que sem tréguas trabalhas
Tirando um mundo mais novo
Da placenta das fornalhas,
Dá teu braço, vem comigo,
Sob a bandeira triunfal,
Protestas contra o inimigo
Da família universal!

Párias…

Negro, de uma escuridão horripilante,
Escuro o corpo: cegando de luz à infância,
Cobrindo a terra de ódio e ignorância,
Anda o cura, firme, sereno, perseverante,
A fazer dos homens uma miséria ambulante.

Ele, freio incessante do progresso humano;Sentinela incansável do despotismo,
Da a seu próximo corpo abrigo um abismo,
Dizendo-lhe hipocritamente: "ouve mano"
Mostra branda bondade, sendo feroz tirano.

João Huss, vítima do cura da antiguidade,
Francisco Ferrer, mártir do padre moderno,
Hão de gritar para o futuro eterno,
Perguntando ao mundo em nome de que santidade,
Foi neles morto, o grito sagrado da Liberdade.

Verdugo da civilização, carrasco da ciência;
Amigo da ignorância, protetor da indignidade,
Contagiando o mundo de sua ferocidade,
Semeando onde pisa, a fome e a violência,
Chegou apoiando-se em falho dogma, a decadência.

O fim de seu poderio está chegando;
A verdade e a virtude o aniquilam!
A justiça e o direito o exterminam!
E está a ralar o momento desejado,
Em que se dirá com alegria e ironismo:
Padre? Cura? Vaticano? Clericalismo?
-Felizmente já é vergonha do passado!!!

1º de Maio

Maio. Mês da Esperança, As alvoradas
São lâminas azuis, ensanguentadas,
De imensas guilhotinas.

A terra canta. O céu se arqueia. Tudo
É forte, luminoso, ardente, agudo,
Nos céus e nas campinas.

Maio do amor, do Ódio e da Vingança,
Maio de Redenção e da Esperança,
Tudo germina e cria;

Que o teu seio materno, docemente
Fecunde e frutifique esta semente
De brasas: a Anarquia!

A Melancia

Há na fauna diretora,
Dos modernos sindicatos,
Tipos quietos e pacatos
Que, com lábia sedutora
E com pose redentora,
Repletos de pacifismo,
Lendo até no catecismo,
Procuram, dessa maneira.
Resguardar na piolheira
Seu feroz estalinismo…

O seu grande idealismo
É só para uso interno,
Com agasalho de inverno
Recoberto a sinapismo.
Praticam paraquedismo.
Escondendo, noite e dia,
O interesse que os guia.
Mas na aparência enganosa,
Na casca toda verdosa.
Vê-se logo a melancia…

O Pelego

O Pelego é um produto
De criação do varguismo.
Do ventre do trabalhismo
Saiu o líder astuto
Que arrecada em bruto
Os proventos sindicais.
Nos "desvios" ilegais,
De todos os exercícios.
Está o pão de seus vícios,
Que cada dia são mais.

O Pelego teme a luta,
A carranca do patrão,
E do ministro, o "sabão"
Que, todo contrito, escuta.
Só se desvela e matuta
Pra encher o embornal.
Toda greve lhe faz mal
E, para viver contente,
Gordinho e reluzente,
só quer a paz social…

Bancando sempre o sabido,
com espinha genuflexa
E ladainha convexa,
Que serve a qualquer partido,
Afirma estar imbuído
Da mais santa intenção.
— Mas, trabalhador irmão,
O pelego é um vigarista
Que deve fazer a pista
Na primeira ocasião…

Pão e circo

Era assim na Roma antiga
Dos Cesares onipotentes!
O povo, preso às correntes,
Trazia cheia a barriga…

"Panen et circens" era a nota
Daquela gente atrasada
Para escapar da ruassada
De ver o povo em revolta.

Mas hoje são coisas mortas
Os aforismos de então.
Padeiros fechas as portas
E deixam o povo sem pão!...

E que tal, se o povo, irado,
As padarias tomasse
E o próprio pão fabricasse
Mandando às favas o Estado!...

Proclamação às tropas de "choca" do exército "galinhas verdes"

Soldados "verdes", malhados,
nas refregas integrais,
ide contar aos "papais"
vossos feitos sublimados!

Tendes sido derrotados,
isso, porém, não faz mal,
O vosso chefe integral
consola os desconsolados…

Há "massa" para as "petizas"
e não vos faltam "camiras",
hão cama e bom farnel;

E para assaltos de fato,
há pernas, é grande o mato,
e há resmas de bom papel…

O susto do Gegê

(Getúlio Vargas foi atirado ao chão e pisoteado por populares)

Ir-se daqui com tanta galhardia,
Brindando aos deuses qual famoso Agripa,
Em grossa farra, da qual o que participa
Nobre, vistosa e áurea companhia…

É por certo mentira o que antecipa
A agência irreverente e pouco pia,
Onde é que já se viu tal heresia!
Ver o Gegê relando assim sem ser pipa…

Povo de heróicas, largas concepções,
Ariel a quem a morte não conturba,
Sempre em busca de novas emoções,

Sabendo que o Gegê não se perturba,
Quis conhecer estranhas sensações
Vendo um sorriso dos pontapés da turba…

O que eu odeio

Odeio o imperador, o rei, o presidente,
Trindade que resume apenas opressão
E para quem o Povo é tudo menos gente
Motivo por que o faz ser pasto de canhão!

Odeio o magistrado, o bonzo da justiça,
Que tem por Evangelho o Código Penal…
Sepulta nas prisões quem ousa vir à liça
Cuspir na face alvar do monstro Capital!

Odeio o soatarrão de zero na cabeça
E albardando no lombo as vestes de Loyola;
Inimigo da luz, vive entre a treva espessa
Erguendo o Mal -a igreja, em vez do Bem -a Escola!

Odeio o militar obeso de arrogância
Quando de espada à cinta e farda com galões…
Cérebro do poder, mantém-se em vigiância
Para matar irmãos ao mando de ladrões!

Odeio o grau-senhor, devasso impenitente,
Sempre esbanjando o ouro em torpes bacanais;
Enquanto de lazeira estoura tanta gente
Depois de mui fazer em catres de hospitais!

Odeio o usurário, aborto da matéria,
Que empresta o seu dinheiro a troco de valores,
Enriquecendo assim à custa da miséria
De tantas legiões de escravos produtores!

Odeio do negocio o homem sem entranhas,
Vendendo no balcão o que é de todos nós;
A lei dá-lhe direito a todas artimanhas…
Tornando-o da rapina o vulto mais feroz.

Odeio o patriota, o estulto defensor
Dos privilégios vãos que a Pátria sintetiza;
Por causa dele é que não há no mundo Amor,
Justiça, Liberdade -a mais alta divisa!

Odeio o vil burguês, o parasita imundo
larápio do suor de quem geme e trabalha
se nada ele produz, que faz então no mundo?
Pra que deixar viver tão pérfido canalha?

Odeio tudo, enfim, que é causa da pobreza
sofrer muito infortúnio e muita privação;
contém esse preceito as leis da natureza
-todas tem jus igual à liberdade e ao pão.

Amor Rebelde*

(Primeira tradução em língua portuguesa)

Ao teu amor, jovem menina
outro amor eu preferia.
Minha amante é uma ideia,
a quem dedico meus braços e coração.

Meu coração aborrece e desafia
Aos poderosos da terra,
e meus braços declaram guerra
ao covarde opressor.

Porque amamos a igualdade,
nos chamam de malfeitores.
Mas somos trabalhadores
que não querem mais autoridades.

Rebeldes, acenamos nossas
bandeiras ensangrentadas.
e derrubamos as muralhas
que nos separam da liberdade.

Se você quiser, minha querida menina
Aqui embaixo os combateremos
E no dia em que venceremos,
Te devolverei meus braços e coração!

A Revolta*

(Primeira tradução em língua portuguesa)

Nós somos os perseguidos
De todos os tempos e todas as raças
Nós sempre fomos oprimidos
Por tiranos e raptores
Mas não queremos ceder mais
à secular grilheta que explorava nossos pais
Porque queremos nos libertar
Daqueles que causam nossas dores.

Religiões,
Capitalismo, Estado, Magistratura
Patrões e Governantes,
Vamos nos libertar dessa podridão
A liberdade é o nosso arguilhão,
Vamos invadir o mundo autoritário
E com nossos corações fraternos
Fazer triunfar o ideal libertário!

Trabalhador ou agricultor
Trabalhador do chão ou da fábrica
Somos desde nossa juventude
Reduzidos ao trabalho de máquina
De um extremo ao outro
Somos nós que criamos abundância
Todos nós produzimos tudo
E nós vivemos na mendicância

Religiões,
Capitalismo, Estado, Magistratura
Patrões e Governantes,
Vamos nos libertar dessa podridão
A liberdade é o nosso arguilhão,
Vamos invadir o mundo autoritário
E com nossos corações fraternos
Fazer triunfar o ideal libertário!

O estado nos esmaga com altos impostos
Temos de prestar contas aos juízes,
E se protestarmos muito alto
Somos alvejados por patifes
Apesar de mudarem cem vezes os reis
Ainda são os mesmos quem faz as leis
Ainda é a mesma camarilha

Religiões,
Capitalismo, Estado, Magistratura
Patrões e Governantes,
Vamos nos libertar dessa podridão
A liberdade é o nosso arguilhão,
Vamos invadir o mundo autoritário
E com nossos corações fraternos
Fazer triunfar o ideal libertário!

A engrenagem ainda vai nos torcer:
O capital triunfante;
Faz sofrer a turba errante
Cortando a mulher e a criança.
Desgastando sua seiva
Em nossos cadáveres queimados
Greve dos salários
É a greve dos assassinados.

Religiões,
Capitalismo, Estado, Magistratura
Patrões e Governantes,
Vamos nos libertar dessa podridão
A liberdade é o nosso arguilhão,
Vamos invadir o mundo autoritário
E com nossos corações fraternos
Fazer triunfar o ideal libertário!

Em nome dos interesses da grande indústria
Somos ordenados a estar prontos para matança
Morrer pela nossa pátria sem esperança
Mesmo não possuindo nada.
Nós odiamos a guerra
Aos ladrões que defendam sua terra
Cabe a nós somente a liberdade.

Religiões,
Capitalismo, Estado, Magistratura
Patrões e Governantes,
Vamos nos libertar dessa podridão
A liberdade é o nosso arguilhão,
Vamos invadir o mundo autoritário
E com nossos corações fraternos
Fazer triunfar o ideal libertário!

Quando a Anarquia chegar*

(Primeira tradução em lingua portuguesa)

Quando a anarquia chegar
Todo mundo será transformado
e o governo então será
a lembrança de um infame passado.

O cárcere abominável desaparecerá
assim como padres e soldados
e no mundo só permanecerá
o ideal que somos libertados.

E então
no coração
pensando na vida futura
cessará
a agonia e a amargura.

A ajuda mútua trará
progresso ao nosso labor
e a burguesia não mais explorará
Em busca de luxo e esplendor

E então
no coração
pensando na vida futura
cessará
a agonia e a amargura.

O Triunfo da Anarquia

Queremos construir cidades ideais,
Destruir as monstruosidades
Governos, quartéis, catedrais,
Causas de toda iniquidade.
Sem mais delongas, triunfará o comunismo
Nos uniremos por afinidades
Nossa felicidade nascerá do altruísmo
Que nossos desejos são já realidades.

De pé, de pé, companheiros de miséria
Chegou a hora, devemos nos revoltar
Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra
Que seja a hora de nos libertar!
Ponhamos fim ao infame egoismo
A Plebe unida, pronta pra lutar
Da pé, de pé, oh revolucionário
E a anarquia enfim triunfará!

Camaradas, saiam da fábrica
Do Capital, torne-se o coveiro
Sua vida é melhor do que ser uma máquina
Tudo é todos, nada é para o explorador
Sem preconceito, siga as leis da natureza
E produza somente por necessidade
Seja fácil ou difícil o labor
São valiosos apenas em sua utilidade

De pé, de pé, companheiros de miséria
Chegou a hora, devemos nos revoltar
Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra
Que seja a hora de nos libertar!
Ponhamos fim ao infame egoismo
A Plebe unida, pronta pra lutar
Da pé, de pé, oh revolucionário
E a anarquia enfim triunfará!

Sonhamos amor além das fronteiras
Um mundo de paz, amor e liberdade
Sonhamos amor entre nações inteiras
O erro abre caminho para a realidade
Sim, a pátria é teu verdugo
Um sentimento duplicado pela covardia
Em quarteis se abatem o sentimento puro
Jovem recruta, deserta em rebeldia

De pé, de pé, companheiros de miséria
Chegou a hora, devemos nos revoltar
Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra
Que seja a hora de nos libertar!
Ponhamos fim ao infame egoismo
A Plebe unida, pronta pra lutar
Da pé, de pé, oh revolucionário
E a anarquia enfim triunfará!

Todos os eleitos enlouquecem na forca
Aos sofredores, dedicam-se a punir
Ao povo se abate pela força
A rebeldia tentam reprimir
Fique longe da política maldita
Porque na lei há apenas punição
Chega a hora de nossa vindicta
Fazer florir a humana criação

De pé, de pé, companheiros de miséria
Chegou a hora, devemos nos revoltar
Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra
Que seja a hora de nos libertar!
Ponhamos fim ao infame egoismo
A Plebe unida, pronta pra lutar
Da pé, de pé, oh revolucionário
E a anarquia enfim triunfará!

Pois há lugar para todos no banquete da vida
Na nova máquina social
Para todos, a mesa é servida
Ao triunfo de nosso ideal
Não mais patrões, nem leis que nos oprimem
Acesa a chama humana e fraternal
Libertos, oh escravos do crime
Na grande marcha da revolução social

De pé, de pé, companheiros de miséria
Chegou a hora, devemos nos revoltar
Deixe que o sangue flua e avermelhe a terra
Que seja a hora de nos libertar!
Ponhamos fim ao infame egoismo
A Plebe unida, pronta pra lutar
Da pé, de pé, oh revolucionário
E a anarquia enfim triunfará!

Addio Lugano Bella*

(adaptação)

Adeus minha linda terra,
ó doce terra piedosa,
expulsos sem qualquer culpa,
os anarquistas vão embora…
E partem cantando,
com esperança no coração
E partem cantando,
com esperança em cor.

E é por vocês, explorados,
vocês trabalhadores
que estamos algemados,
em face aos malfeitores;
no entanto, a nossa ideia,
é uma ideia do amor,
no entanto a nossa ideia,
é uma ideia de amor

Camaradas no anonimato,
amigos que aqui ficam,
as verdades que temos pregado:
É vindicta, que pedimos.
e esta é a vingança,
que pedimos a você.
e esta é a vingança,
que pedimos a você.

E tu que nos persegue
com uma vil mentira,
República burguesa,
temente da anarquia,
temente do futuro,
livre da opressão
temente do futuro,
livre da opressão.

Deportado de terra em terra,
por pregar a paz,
e condenar a guerra:
paz entre os oprimidos;
e guerra contra os opressores,
funerais da escravidão.
e guerra contra os opressores,
funerais da escravidão.

Adeus minha linda terra,
ó doce terra piedosa,
expulsos sem qualquer culpa,
os anarquistas vão embora…
E partem cantando,
com esperança no coração
E partem cantando,
com esperança em cor.

E é por vocês, explorados,
vocês trabalhadores
que estamos algemados,
em face aos malfeitores;
no entanto, a nossa ideia,
é uma ideia do amor,
no entanto a nossa ideia,
é uma ideia de amor

Camaradas no anonimato,
amigos que aqui ficam,
as verdades que temos pregado:
É vindicta, que pedimos.
e esta é a vingança
que pedimos a você.
e esta é a vingança
que pedimos a você.

E tu que nos persegue
com uma vil mentira,
República burguesa,
temente da anarquia,
Temente do futuro,
livre da opressão,
Temente do futuro,
livre da opressão.

Deportado de terra em terra,
por pregar a paz,
e condenar a guerra:
paz entre os oprimidos;
e guerra aos opressores,
funerais da escravidão.
e guerra aos opressores,
funerais da escravidão.

Viva a Anarquia*

Viva, viva a Anarquia
não mais o jugo sofrer,
vamos ser coroados de glória,
Ou juremos com glória morrer.

Ouça, mortais, o choro sagrado
de anarquia e solidariedade,
ouça o barulho de bombas explodindo
em defesa da liberdade.
O trabalhador que sofre proclama
Ao mundo todo ANARQUIA
coroou seu templo de louros
e aos seus planos prestados à burguesia.
Dos novos mártires a glória
Seus carrascos ousam invejar.
Em seus seios a grandeza se aninhar,
Suas palavras guiam à vitória.

Viva a anarquia ...

Para o choro da criança que grita:
"Dá-me pão",
a terra responde tremendo,
jogando sua lava no vulcão.
Guerra até a morte, os trabalhadores querem,
guerra à morte do infame burguês,
guerra à morte, os heróis repetem
de Chicago, Paris e Jerez.
De um pólo para outro,
ressoa esse grito que aterroriza os burgueses,
e as crianças repetem em coro:
"Nosso país, burguês, é a terra"

Viva a anarquia …

Amarrado à Cadeia*

Amarrado à cadeia
da iníqua exploração
com amor caminha o pária
Rumo à revolução.

Marcha para a Anarquia,
e o jugo deve ter fim
com amor, paz e alegria
de uma existência feliz.

Onde os homens sejam livres,
livres como a luz do sol
onde tudo seja beleza
liberdade, flores e amor.

Liberdade, amada
tu és meu único anseio
tu és meu sonho
és meu amor!

Trás a cela do presídio,
de número quatro
guardas nos levam detidos
presos e incomunicados.

Sem delito cometido,
nos levam para a prisão,
debilitam nossas forças
e aumentam nosso valor.

Já estou cansado do jugo,
obreiros, não mais sofrer,
que o burguês é um verdugo,
defendido pela polícia.

Liberdade, amada,
tu és meu único anseio
tu és meu sonho,
és meu amor.

Os cárceres e castelos
Nós devemos derrubar,
Nos enganam os caudilhos,
roubam nossa liberdade.

Juventude Libertária*

Anarquista fiel e generoso,
esforçado lutador
a quem nem o tempo, nem o martírio
o entusiasmo apagou.
As juventudes te recordam,
E aprenderam teu valor.
Viva sempre a Anarquia que é o sol,
Sol da Revolução Social!

Juventude de luta proletária,
ilusão do porvir,
bela esperança libertária
que ilumina nosso subsistir.
Nosso lema é a Anarquia
nosso escudo de verdade,
damos o peito se preciso até morrer,
morrer pela liberdade.

Anarquista fiel e generoso,
esforçado lutador
a quem nem o tempo, nem o martírio
o entusiasmo apagou.
As juventudes te recordam,
E aprenderam teu valor.
Viva sempre a Anarquia que é o sol,
Sol da Revolução Social!

Juventude de luta proletária,
ilusão do porvir,
bela esperança libertária
que ilumina nosso subsistir.
Nosso lema é a Anarquia
nosso escudo de verdade,
damos o peito se preciso até morrer,
morrer pela liberdade.

Às mulheres

As mulheres devem colaborar,
na linda obra da humanidade;
mulheres, mulheres, necessitamos vossa união
No dia em que rebente nossa grande revolução.

Irmãs que amam com fé a liberdade
Devem criar a nova sociedade…
O sol de glória que tem de nos cobrir,
a todo no doce existir.

Há de ser obra da juventude
romper as cadeias da servitude.
Em busca duma vida melhor
onde os seres humanos
gozem do amor.

As mulheres devem colaborar,
na linda obra da humanidade;
mulheres, mulheres, necessitamos vossa união
No dia em que rebente nossa grande revolução.

Irmãs que amam com fé a liberdade
Devem criar a nova sociedade…
O sol de glória que tem de nos cobrir,
a todo no doce existir.

Há de ser obra da juventude
romper as cadeias da servitude.
Em busca duma vida melhor
onde os seres humanos
gozem do amor.

Por uma ideia lutamos,
a qual defendemos
com muita razão.
Acabam-se os tiranos,
guerras, que não queremos,
e a exploração.

Todos nascemos iguais
A natureza não faz distinções;
comunistas libertárias
luta com firmeza
pela revolução.

As mulheres devem colaborar,
na linda obra da humanidade;
mulheres, mulheres, necessitamos vossa união
No dia em que rebente nossa grande revolução.